Sementes
A nossa TV não me deixa de surpreender. Normalmente, eu diria que é uma boa coisa surpreender-me, mas neste caso... O fosso do mau gosto continua a escavar-se sem nenhum respeito pelos recordes anteriores. A TVI esmaga-nos com o seu poder criativo de produzir telenovelas atrás de telenovelas e de misturar anúncios com notícias e ficções. A SIC arrasta um conjunto de programas de mau gosto (onde se inclui o Herman) que servem de viveiro para a criação de personagens inarráveis misturas de misticismo e de "espectáculo". A RTP1, mesmo assim, tem-se aguentado numa profundidade aceitável desse mau gosto. Esta TV que nos dão (será que a merecemos?) numa mistura subtil de estupidez e de seriedade, onde nos levará? Ou melhor, onde queremos nós ir com ela? Com a capacidade formativa sem igual aliada à gestão progressivamente uniformizadora dos conteúdos televisivos, faz com que a sua importância como "fábrica" de cultura das massas seja imensa! ("Marx ainda não tinha visto nada" - diz-se num cartoon do Calvin&Hobbes). Ela deixa na mente colectiva de um povo (ou povos, se pensarmos que no resto do Ocidente a coisa está na mesma) potenciais sementes nada agradáveis. Quem referiu que quanto maior a simplificação do discurso, mais amplo é o público que o assimila e que nele se revê?