segunda-feira, junho 30, 2008

Asclépio e o Santuário de Epidauro


Quando surgiram teorias para explicar o funcionamento do corpo humano e as doenças na Grécia Antiga, Hipócrates se tornou o médico mais famoso. Mas a medicina grega mais antiga era baseada na mitologia e na religião, e associava as curas a diversas divindades. Havia vários santuários dedicados às divindades médicas, onde os devotos se encaminhavam à procura de ajuda divina para problemas de saúde. O mais popular centro de cura era o santuário de Asclépio.

Asclépio era considerado filho de Apolo com a mortal Corônis. A jovem traiu Apolo durante a gravidez e foi morta por uma flecha de Ártemis, a pedido do deus. O filho foi retirado do ventre da mãe e levado ao centauro Quíron, o grande educador dos heróis e médico magnífico. Com o melhor mestre, Asclépio se tornou tão capaz na arte de curar que passou a ressuscitar os mortos. Hades se queixou com Zeus, pois seu reino ficaria vazio. Por tentar alterar a ordem natural do mundo, Zeus fulminou Asclépio com seu raio, mas em reconhecimentos ao seu trabalho, consagrou-o entre as divindades.

(...)

Solange Firmino


Texto completo - e foto de Asclépio tirada por mim no museu em Epidauro - na coluna Mito em Contexto, em Blocos online.


Imagem: Eu no Teatro de Epidauro.

domingo, junho 15, 2008

Memória e esquecimento


"A memória viaja leve. Não leva bagagem desnecessária."

[Rubem Alves]

Entre os antigos gregos, a memória era um dom. Mnemósine, a Memória personificada, permitia ao Poeta lembrar do passado, resgatar fatos e transmiti-los aos simples mortais por meio da poesia e do canto. A narrativa oral permitia que a memória fosse compartilhada através das gerações. Assim, os grupos que não tinham registro escrito mantiveram suas culturas.

Com o advento da escrita, os fatos não dependiam da memória humana para preservar informações. Suportes de escrita como pergaminho e papel representaram uma extensão da nossa memória. Desenvolvemos meios mais sofisticados para guardar e reproduzir a memória em textos e imagens com a invenção da imprensa, que alterou novamente a memória do indivíduo e dos grupos. Registramos os conhecimentos nos livros, que passaram a desempenhar também o papel de memória coletiva.

Através da memória coletiva, sabemos que pertencemos a um grupo com um passado em comum. Nossa identidade se constitui da mistura de experiências vividas e memórias compartilhadas no grupo. Rearranjamos, estudamos, vivenciamos novas experiências e esquecemos outras. Esquecemos para dar espaço a outras informações. Num processo natural, novas informações se misturam às mais antigas e se transmutam. Isso gera mais informações e novos conhecimentos. Assim, o passado vai construindo o presente. Aprendemos e lembramos.

Para nos ajudar a lembrar, reunimos ao longo dos séculos objetos e variados registros, criamos espaços específicos para armazenamento da memória coletiva, como museus, arquivos públicos e bibliotecas. Mas a memória nunca deixou de ser estudada. A partir do século XX, as ciências ganharam novas teorias sobre o funcionamento da memória, e esses estudos repensaram conceitos como retenção, seleção e esquecimento. A retenção nos incomoda, pois preservamos apenas parte de nossas vivências. A memória é seletiva, não é simplesmente um acúmulo de tudo o que vivemos. É preciso esquecer para não sobrecarregar a memória.

Cada vez mais arranjamos  meios para registrar e preservar a memória fora de nós. O computador e as novas tecnologias aumentaram esta possibilidade.  Podemos gravar e consultar em arquivos digitais toda a informação produzida pela humanidade. Conseguimos que os computadores tivessem mais memória que nós. Mas também temos medo deles, já que fazemos filmes e escrevemos livros o tempo todo falando sobre o domínio dos homens pelas máquinas. Desconfiamos das nossas criações, mas confiamos na inesgotável memória delas. Não mais memorizamos números de telefones, e-mails e datas importantes. Tememos catástrofes naturais, mas uma catástrofe digital seria igualmente lamentável.

internet facilitou o acesso global à informação. Os dados disponíveis nos milhões de páginas representam uma parcela bem grande da nossa memória social, agora dinâmica e navegável. O que parece ser muita informação pode se resumir a pouca, os milhões de títulos disponíveis não significam necessariamente ganho em sabedoria. A memória humana permite não somente conservar, mas filtrar, e isso a memória da internet não faz.  Também é questionável a preservação do conhecimento no ambiente virtual, pois não há garantias de que a informação ficará lá sempre.  

As novas tecnologias expandiram nossa capacidade para comunicar com mais rapidez, bilhões de páginas de informações continuam crescendo a cada segundo na internet. É uma memória infindável onde se coloca tudo. O excesso de informação nos confunde, e sua quantidade excede nossa capacidade de absorção.

Não adianta tanta informação sobre o presente se não refletimos sobre o passado. As incontáveis páginas concentram-se no presente imediato. Se procurarmos informações antigas sobre assuntos que não sejam tão populares, faremos um longo trabalho de pesquisa. Isso ajuda a distorcer a visão do mundo para os que usam a internet como única fonte de referência, pois essa grande memória parece não ter passado longínquo.

Para as novas gerações, a Escola hoje tem o papel fundamental de trazer à tona o passado, com o qual teremos lições que nos permitirão repensar o presente. Para lembrar, precisamos aprender; não há memória sem aprendizagem. E o nosso maior problema na Educação é a aprendizagem. A “Era tecnológica” pode se tornar a “Era do Esquecimento”, e toda a memória do computador de nada valerá sem a memória humana como interação. Se não aprendermos a usar as tecnologias de forma eficiente, podemos perder nossa memória coletiva. É preciso preservá-la para nós e os que virão.

Solange Firmino

Leia o texto em Blocos online, nesse link.


Imagem: Mnemosyne, Lord F. Leighton

domingo, junho 08, 2008

Oceano e Tétis: fecundidade aquática


Após a união de Urano e Gaia, na primeira fase do Cosmos, seguiu-se uma numerosa descendência com o surgimento dos Titãs, Titânidas, Hecatonquiros, Ciclopes, etc. Os Titãs representam as manifestações elementares em evolução. Uma dessas indomáveis forças era Oceano. Concebido inicialmente como um rio-serpente em torno da Terra, Oceano era a água personificada que rodeava o mundo, o rio cósmico original. Quando os conhecimentos geográficos se tornaram mais precisos, Oceano passou a designar o Oceano Atlântico.

A esposa de Oceano era a titânida Tétis (diferente da nereida Tétis, mãe de Aquiles). Tétis simbolizava o poder e da fecundidade feminina do mar, e fez de Oceano o pai de todos os rios, contados como mais de três mil na Teogonia do poeta Hesíodo. Era pai também das Oceânidas (ninfas dos mares), que personificavam riachos, fontes e nascentes. As Oceânidas se uniram a deuses e mortais e também foram responsáveis por uma descendência numerosa.

(...)

Solange Firmino

Leia o texto completo na coluna Mito em Contexto em Blocos online.


Imagem: Mosaico da cabeça de Oceano.

quinta-feira, junho 05, 2008

Ártemis e Hécate, divindades lunares / Mito em Contexto comemorando 2 anos



Durante muito tempo os mitos foram o principal instrumento de compreensão do mundo. A sociedade moderna se afastou dos seus ensinamentos, o que não significa que tenhamos encontrado o sentido da existência ou que a vida na Terra pareça menos ameaçadora. Mas o que é atemporal resiste, e as narrativas míticas ainda fazem sentido para muitos, sejam pesquisadores ou simples curiosos; pessoas que acreditam em várias formas de se investigar o mundo. Pessoas como Leila Míccolis, a quem agradeço o convite há dois anos para escrever sobre "mito em contexto" - S.F.

Ártemis e Hécate, divindades lunares

Eos, a Aurora, abria a porta do Céu para o carro de Hélio, o Sol, que enchia o mundo de luz. Selene, a Lua, completava a tríade das antigas divindades siderais. Selene começava seu trabalho num carro de prata, ao entardecer, quando Hélio terminava sua viagem. Selene não teve culto especial, somente quando se identificou com Ártemis, cujo culto foi mais elaborado. Depois, Ártemis suplantou Selene, como Apolo a Hélio.

A Ártemis grega resulta do sincretismo da Ártemis oriental com a ocidental. Após a ocupação da Grécia, Creta e parte da Ásia Menor pelos helenos, Ártemis de Éfeso, a deusa asiática da fecundidade, acabou transformada em virgem caçadora. Sua mãe ficou grávida depois de uma aventura com Zeus e foi perseguida pela ciumenta esposa dele. Recebida na ilha de Delos, Leto deu à luz Ártemis, que em seguida ajudou no nascimento do irmão gêmeo Apolo. Assustada com o sofrimento da mãe durante o parto, quis ficar sempre virgem. As mulheres do seu cortejo deviam permanecer virgens como ela. Mas isso não impediu sua associação com a fecundidade feminina .

(...)

Solange Firmino

Leia o texto completo na coluna Mito em Contexto em Blocos online.


Imagem: Hécate, William Blake.