A minha avó Laura nunca teve uma conta de Facebook, não sabia o que era um e-mail e duvido que alguma vez tenha visto um computador à frente. Também nunca esteve em Londres, no Rio de Janeiro ou em Nova Iorque: viveu sempre em Entre-os-Rios, a tempo de ver a ponte cair, os oito filhos crescerem, um deles morrer (ainda que nunca lho tenham dito).
Usava sempre um lenço na cabeça e tinha os olhos azuis, que não passou à filha nem à filha desta, que sou eu. Quando era miúda chamava-lhe, na minha parolice citadina de quem achava que Penafiel ficava no fim do mundo, «a avó da aldeia». Uma vez pedi para ficar com um coelho dos dela para brincar e ela mandou logo o meu avô António ir buscar uma sachola. Deixei de comer coelho.
A última vez que me viu já não estava toda cá; ouvia as conversas dos outros sempre com o mesmo sorriso beatífico e as mesmas duas frases: «Obrigada» e «Deus te abençoe». Talvez me tenha reconhecido, pois, apesar de me perguntar coisas que fariam mais sentido se eu fosse a minha irmã, disse-me: «Agora tão cedo não tornas cá». Não tornei.
A minha avó há muito que não falava e não devia sentir a falta de escrever. Mas poucos de nós vamos deixar tanta vida (e um nome tão bonito) neste planeta como a Dona Laura.
Há 13 anos