quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Frase desta manhã

Frase ouvida esta manhã, à saída de casa, em tom indignado:

«Mas o que é que abrir os pulmões tem a ver com a minha tosse?!».

The Tigers Have Spoken

A Neko Case tem um belo álbum ao vivo chamado The Tigers Have Spoken. Como grande defensora dos direitos animais que é, naquele seu disco os bichos abrem a bocarra para dizer coisas pouco simpáticas sobre os homens (a mesma temática - tensão Natureza vs Homem - é o foco do magnífico Fox Confessor Brings The Flood, que se lhe seguiu).

Pelos vistos, também em Portugal os tigres decidiram falar. Neste caso, terão dito qualquer coisa como: «Bora dar uma volta enquanto os gajos do Circo Chen não nos apanham».

Confesso que é refrescante ir para a cama com a notícia de uma mini-remodelação do Governo (e de uma vaca que provocou o pânico numa auto-estrada australiana, agora que penso nisso) e acordar com a notícia de uns quantos tigres à solta para os lados da Azambuja / do Cartaxo. E pensar que já andei meia perdida para aqueles lados.

Boa Noite e um Queijo

Amanhã ou pouco depois, no sítio do costume.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Heath Ledger

Não sei o que é que nos atrai de forma tão irremediável para a morte. Para a ideia de morte, a notícia de morte. Imagino que tenha alguma coisa a ver com a certeza de esta, a morte, ser a única coisa que todos, sem excepção, temos por garantida. Ou com o seu carácter definitivo: morreu, morreu. Não é uma notícia que possamos ler mais tarde ou que escolhamos contornar. Despida de dúvida, incerteza, oferece-se ali, crua («nude as the news», diria a Cat Power). São sempre as notícias mais lidas, as que anunciam mortes - mesmo que o morto seja um actor e a notícia seja dada num site de música.



Era um bom actor. Percebi-o da segunda vez que vi o Brokeback Mountain, ou seja, quando deixei de babar pelo coleguinha Jake Gyllenhaal. Tinha muita ciência, aquela contenção dolorosa e auto-imposta.

Promessa

Promessa: não entrar em histeria até estar completa, inequivoca e irremediavelmente confirmado.



Mas ontem foi dia 27 de Janeiro - não faz mal festejar ouvindo isto, pois não?


Enguiço

A semana passada não me correu de feição. E a culpa, agora que penso nisso, deve ter sido da vizinha - da velha sinistra que nunca abre a boca, e não da pobre Anne Martens - que me apanhou a sair de casa e proferiu a catastrófica sentença:

«Essa planta vai-lhe morrer aí».

Referia-se ela à bela palmeirinha que a Célia me deu e que - não acredites na velha, amiga - até tem deitado umas belas folhinhas novas, de um verde claro e promissor. Tentei explicar isso à velha.

«Ela vai-lhe morrer aí», continuou ela a insistir, ainda por cima nunca se esquecendo do mórbido reflexo - a planta não vai morrer, vai-ME morrer. Porque precisa de luz e ali não a tem. Lá desabafei que dentro de casa a gata me come tudo o que seja vegetal, mas a morte da planta foi a única perspectiva que a mulher avistou durante três lances de escadas. Cheguei a pensar empurrá-la para que chegasse mais depressa ao rés-do-chão e se calasse com o raio da lenga-lenga.

Este fim-de-semana marcou uma mudança de ares: no Sábado à noite encontrei um pedaço de Verão no quintal da Mary-John, que fica paredes meias com o meu, onde horas antes andara a apanhar limões com a Dona Conceição. «Eu até já lhos tinha dado mais cedo, menina, mas pensei: se calhar ela nem sabe o que são», explicou ela. Definitivamente, tenho de trabalhar no meu charme de «country girl».

Do próximo fim-de-semana não passa: tenho de ir fotografar as amendoeiras em flor que a Menina Alice também já topou em Monsanto.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

O Queijo de regresso

As saudades já eram muitas. Ontem à noite, eu e a Ana Martins desafiámos chuva e sono para voltarmos aos faustosos estúdios da Rádio Zero. A primeira emissão do Boa Noite e um Queijo em 2008 pode ouvir-se aqui (é seguir o linque do post mais recente).

domingo, 13 de janeiro de 2008

Londres no Inverno

Mais imagens de um Inverno muito acolhedor (Londres, Dezembro de 2007).



















Improváveis bestsellers

Durante muito tempo, boa parte dos visitantes deste blog vinham ao engano, pesquisando no «google images» por Justin Timberlake. Em tempos pus aqui um boneco dele, com o único intento de comparar a sua carinha à de um koala, e a clicagem que essa ideia (estúpida, reconheço) não me valeu.

Duas tendências recentes: gente à procura de imagens do Dempsey e Makepeace (vêm da República Checa, Hungria e Holanda, o que me leva a crer que a série estará em reposição a Leste de nós) e Matt Berninger. Sim, há gente dos Estados Unidos, de Itália e do Japão (!) à procura de fotos do Sr. National (felizmente o google mostra uma que em tempos postei, dele com duas fãs, e não a minha a entrevistá-lo. Do mal o menos).

Francamente...

Este governo já deixava de mexer nas placas tectónicas para assustar/distrair os cidadãos.

Lembro-me muitíssimo bem que, antes do sismo que se fez sentir esta semana, horas após o anúncio da localização do novo aeroporto, o mais recente abalo por estas bandas aconteceu no dia a seguir ao referendo do aborto (o segundo, o vinculativo).

Não me peçam para acreditar em coincidências.

Idade

Reflectia a SR ali ao lado sobre os sinais da provecta idade que começa a pesar-nos nos ombros.

Pessoalmente, sinto-me velha quando chego a Paço de Arcos e, perante um cenário de céu azul quase fluorescente e árvores verdejantes, em Janeiro!, a primeira coisa que me ocorre é:

«Devia ter deixado uma máquina a lavar, hoje».

Por outro lado, neste Natal uns amigos do meu padrinho perguntaram-me o que é que eu gostava de fazer além de (ainda) estudar. Espero que uma mão continue a lavar a outra.

Só para desenjoar

Só para desenjoar de tanto texto, aqui vai uma imagem que é, simultaneamente, um quebra-cabeças: onde acaba o chapéu do senhor e começa a barraca da laranjada?



(foto tirada à má fé num Domingo à tarde em Camden, Londres)

Uma simples pergunta

Na passada Sexta-feira ao fim da tarde, levanto-me do banco do comboio para sair na Estação de Algés. Uma rapariga - bastante agasalhada, ar menineiro, uma prancha de bodyboard debaixo do braço - prepara-se para fazer o mesmo. Nisto, é abordada por um velho. Quem o visse ao longe, ou escutasse apenas a entoação da pergunta e não as palavras que a constituíam, pensaria que ele lhe perguntava se era aquela a estação que pretendia. Mas eu, que estava bem perto deles e até registei a cena nos rascunhos do telemóvel, para não me esquecer, posso afiançar que o que o velho - educadamente, é certo - perguntou à rapariga foi:

«Desculpe, é aí que a menina se prostitui?»

Perante a muda estupefacção da moça, insistiu, sempre no mesmo tom solene.

«A menina vai-se prostituir?»

A rapariga não conseguiu dizer nada e saiu, tal como eu e outra mulher, em Algés. Olhou para nós - expressão entre o riso e a vergonha - e cada uma seguiu o seu caminho.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

A vida e os autocarros

Hoje tive um belo dia de transportes. Logo pela manhã, ouvi a seguinte conclusão de conversa a dois estudantes (suponho que de Veterinária, visto que seguiam no autocarro que passa pela respectiva faculdade):

«Quando acabam Anatomia I, as pessoas ficam mais carnívoras. Ou então vegetarianas».

Ao descer o túnel da estação de comboios, cruzo-me com uma mulher francamente feia e desequilibrada, que me aborda de forma condizente com a seguinte frase: «Tens um cigarro?». Respondo que não e continuo o meu caminho, encontrando três ou quatro passos adiante um senhor de idade, curvado sobre si mesmo e com a esperada boina na cabeça, que me brinda com a punch line: «Quem não tem dinheiro não tem vícios».

No regresso a casa, já à noite, os revisores do 50, que por motivos que me escapam envergam fardas que mais parecem de seguranças privados do que propriamente da Carris, decidem embirrar com um velhote. Aparentemente, o bilhete dele tinha sido validado às 15h e qualquer coisa, e não naquela viagem das 19h e pico.

O senhor explica-se de forma calma e educada e imediatamente o meu coração fica do seu lado (além da farda de segurança, o «pica» tinha cabelo à Quaresma. A decisão não foi complicada). Ficam naquilo uma eternidade e acabam por pedir os dados pessoais ao homem - até a profissão, como se houvesse dúvida de que era reformado - instruindo-no para, no prazo de cinco dias, aparecer na sede da Carris, em Santo Amaro, para esclarecer a sua «situação».

Espero que o homem não vá ou, pelo menos, não tenha de pagar nada.

Demagogicamente falando, acho uma certa graça que os autocarros de Lisboa estejam cheios de mitralhada a ouvir batucada no telemóvel, ameaçar-se uns aos outros («Eu quebro-te todo!», ouvi eu outro dia a dois completos desconhecidos), fazer lixo malcheiroso e incomodar toda a gente, e as «autoridades» se preocupem com um velhote que diz que «picou» a senha e é contrariado pela porcaria da maquineta que faz o controlo das entradas.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

«Uma soldadora mecânica!»

Hoje apanhei um táxi da estação dos comboios para o trabalho. À chegada, a já habitual «equipa» de fumadores aguardava-me à porta do edifício, acompanhada daqueles que, não fumando, sempre acham que também têm direito à pausa para apanhar ar e pôr a conversa em dia.

O taxista achou muita graça ao cenário e vai de contar-me que «faz agora um ano, em Fevereiro» que deixou de fumar.

Não tomou nada nem foi ao médico; simplesmente achou que era um vício «estúpido, caríssimo» e decidiu livrar-se dele.

Agora, todos os dias pôe cinco euros de parte (diz isto mostrando-me um molho de notas) e de três em três meses fica com «100 contos para gastar».

Como é muito «engenhocas», só compra maquinetas (e só da Bosch, que são «as mais caras mas também as melhores»). «Sabe o que é que eu comprei agora, menina? Uma soldadora mecânica, que tenho lá na garagem!».

Ao almoço, ia a contar esta história ao meu colega e ele já a conhecia. Aparentemente, apanhou o mesmo taxista que eu e, ao chegar ao edifício, a fila de fumadores voltou a divertir o senhor. «O meu último serviço também foi para aqui e o que eu e a senhora nos rimos disto!», explicou-lhe ele.

Discutir faz mal (à ortografia)

O Destak de hoje alerta: discussões e «conflictos» no geral fazem mal à saúde, podendo mesmo causar «úlçeras».

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Moral

Ao segundo álbum (que não é o que se segue ao "Alligator", antes o que o antecede), os National eram moralistas. Mas diga-se em abono da verdade que esta letra assenta como uma luva (tenho de me controlar para não escrever «de pelica» sempre que escrevo «luva»; Freud deve saber explicar porquê) a tanta e tanta gente que se vê a braços com responsabilidades não desejadas ou mal articuladas, antes ou fora do tempo.

«You coulda been a legend
But you became a father
That's what you are today
That's what you are today»

O resto, que também está muito bem mas com o qual não vos quero aborrecer, pode ler-se aqui.

No final da música, fica confirmadíssima a minha teoria de que há um elo invisível mas palpável entre os National, os American Music Club e os Afghan Whigs (só por acaso, três das minhas bandas favoritas de sempre).

«Don't forget the alcohol, ooh baby», geme o nosso amigo, citando directamente a canção «Miles Iz Ded» dos Afghan Whigs (!). Não podia ser mais claro, o Matt Berninger. Aliás, este álbum ("Sad Songs For Dirty Lovers"), que eu ignobilmente desprezei às primeiras audições, aproxima-se muitíssimo, em certas canções, de uma versão desacelerada - não diria sóbria, mas sim dolorosamente ressacada - dos Afghan Whigs. Só coisas boas.

Agora sim

Agora sim, posso dizer que tive um Natal conforme ditado pela Norma do Ano de 2007.




(podem começar a fazer fila à porta do 3ºA, amiguinhos. Se foram hoje ainda há bolo de maçã, caseiro.)

House

Sente-se que alguma coisa está muito certa quando, no primeiro dia do ano, temos 1) chuva lá fora 2) meias quentes 3) um episódio novo do House (!!!). É preocupante mas verdadeiro: tanto cinismo já me fazia falta.

Dia 1, às 11h da manhã

Ponto da situação no Dia 1 da Nova Lei do Tabaco, à porta do meu local de trabalho: dois funcionários a fumar, quatro a fazer-lhes companhia / trocar impressões / discutir como será feita a fiscalização das novas regras.

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