Deu vontade de falar sobre isso. Já falei que minha irmã é professora e me conta diversas coisas do universo infantil - coisas que eu acho o máximo.
Quando ela ainda fazia estágio, pegou uma turma de uma escolinha municipal. Aí notou como era diferente da turma da escola particular onde ela trabalha. Só pra ter uma idéia, na escola municipal nenhum dos alunos havia ido no hipermercado da cidade. "Minha mãe já foi uma vez, tia, mas não me levou".
Daí que um dos meninos fez aniversário e ela levou bolo e um carrinho da HotWheels, daqueles de R$ 4,50. Nem preciso dizer da alegria do menino e das outras crianças com a festinha. O que me fez pensar foi o que o menino fez do presente.
"Não vou tirar do plástico, tia. Vou levar assim pra casa, pra mostrar pra minha mãe que é novo".
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1.9.10
4.6.10
Copa do Mundo
Acho muito engraçado esse período de copa - mesmo antes de começarem os jogos. Eu gosto mesmo de futebol, torço, comemoro e tals. Mas, gente, que povo exagerado é esse?
Aqui na minha cidade, interior da Bahia, os festejos juninos estão em verde e amarelo. Aliás, todo o centro comercial está. Bandeiras do Brasil surgem de todos os lados. Acho linda a nossa bandeira - o problema é que as pessoas esquecem da existência dela em outras épocas. É como se fosse a bandeira da Seleção Brasileira de Futebol.
O negócio é sério mesmo. Uma vez comprei uma bolsa com a bandeira logo depois que o Brasil havia saído da copa (paguei menos de um terço do preço). Não é que veio gente me dizer: "Ué, pra que comprou essa bolsa? O Brasil já perdeu mesmo!". "Pois é, mas o país continua o mesmo".
Nem vou falar sobre a devoção que o povo tem ao futebol em vez de se envolver com o país. Esse post é mais pra cima.
Por exemplo: Marido foi ao dentista e presenciou o agendamento das consultas. Dia de jogo, não marca ninguém. Era a secretaria com a agenda e o dentista com a tabela da copa. Claro, Marido não perdeu a oportunidade: "Nesse dia aí pode marcar, fulano. O Brasil não chega nessa fase não!" O coitado do dentista faltou fazer o sinal da cruz como forma de proteção pela blasfêmia.
Aqui na Faculdade, outro exemplo. Será feriado nos dias dos jogos! Recebi um e-mail corporativo, explicando a tabela formalmente. Mas o mais engraçado foi o final:
Adorei o "rumo ao HEXA!".
Aqui na minha cidade, interior da Bahia, os festejos juninos estão em verde e amarelo. Aliás, todo o centro comercial está. Bandeiras do Brasil surgem de todos os lados. Acho linda a nossa bandeira - o problema é que as pessoas esquecem da existência dela em outras épocas. É como se fosse a bandeira da Seleção Brasileira de Futebol.
O negócio é sério mesmo. Uma vez comprei uma bolsa com a bandeira logo depois que o Brasil havia saído da copa (paguei menos de um terço do preço). Não é que veio gente me dizer: "Ué, pra que comprou essa bolsa? O Brasil já perdeu mesmo!". "Pois é, mas o país continua o mesmo".
Nem vou falar sobre a devoção que o povo tem ao futebol em vez de se envolver com o país. Esse post é mais pra cima.
Por exemplo: Marido foi ao dentista e presenciou o agendamento das consultas. Dia de jogo, não marca ninguém. Era a secretaria com a agenda e o dentista com a tabela da copa. Claro, Marido não perdeu a oportunidade: "Nesse dia aí pode marcar, fulano. O Brasil não chega nessa fase não!" O coitado do dentista faltou fazer o sinal da cruz como forma de proteção pela blasfêmia.
Aqui na Faculdade, outro exemplo. Será feriado nos dias dos jogos! Recebi um e-mail corporativo, explicando a tabela formalmente. Mas o mais engraçado foi o final:
Bom feriado e rumo ao HEXA!
Gestão de Pessoas
Adorei o "rumo ao HEXA!".
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17.12.09
20.10.09
Domingo feira
Domingo de manhã, resolvo ir à feira livre com a minha mãe. Só pra constatar mais uma vez: aquilo não é lugar pra mim. E eu estou cansada de saber disso, mas de vez em quando vou lá confirmar. Dessa vez ainda levei Cacá, no sol, no calor, no braço. E fui só de acompanhante, mesmo, nem comprei nada.
A feira livre pode ser absorvida por todos os sentidos. Dúvida?
Audição: De cara, alguém cantava no CD alternativo: "Sou eu... Esse alguém sou eeeeeeu". Acho que era assim. Não-sei-quem-lá e Mateus, me parece.
Mais na frente um menino de uns 12 anos gritava loucamente "#*&$#&%¨#&¨$#&¨$&@*&#¨$ 15 laranjas é um real". Não entendi o início, mas era a cara de Zezé Di Carmago na rodoviária.
O tio: "Aqui dona! É vermelha e doce! É vermelha e doce!" Era uma melancia, pervertidos...
E a tia: "Feijãozim verde, dona? Coloco aqui pra você, um litro mais uma mãozada ". Sai de baixo, moss. Quero lá saber de mãozada...
Visão: Tá. É colorido. Mamões e abóboras maduros são bonitos. Mas não me agrada ver frutas se perdendo. Sempre fico pensando na angústia que deve ser a vida de uma maçã que tem um furinho. Todas sendo levadas e ela lá... jogada. Cada um que examina é uma chance a menos de ser levada. Sério! Quase levo as maçãs furadinhas pra casa, de tanta pena que fico. Quase!
Os velhinhos e velhinhas. Tem tanto idoso na feira, vendendo coisinhas mixas... Velhinhas magrinhas, sofridas. Geralmente elas tem dedos compridos, uma pele que é quase um couro, enrugadas. Algumas carregam caixas, ou ficam agachadas perto dos montinhos de maxixe, quiabo e chuchu. Fico imaginando se um dia todas as velhinhas do mundo estarão "com a vida ganha", vivendo como devem - trabalhando se quiserem, mas sem exigir mais do corpo do que ele aguenta.
Gente. É tanta gente, mas tanta... Meu Deus! Se Cacá sumir no meio desse povo, como é que eu acho??
Olfato: Cheiro de manga é uma delícia. Mas só se for manga-rosa porque, sério, numa feira livre não encoste numa manga de camisa. Se for uma camiseta sem manga, corra. Se for masculina, torça pra ser abduzida. Na verdade, o cheiro me parece um massa marrom que envolve tudo até um metro acima das nossas cabeças.
Depois tem o cheiro de fruta estragada, de gordura fritando, às vezes até de galinha...
Paladar: O óleo em que a tia fritava os pastéis era preto. Não tive coragem de comer nada. Procurei uma água de côco, mas desisti. Os biscoitos de polvilho, avoadores, me chamaram a atenção. Mas não ia comprar, achei melhor não experimentar...
No barzinho, a coca-cola mais gostosa que já vi alguém tomar. O menino tinha uns oito anos. Camisa do flamengo, chinelo velho, bermudinha. Vai ver chegou cedo, trabalhou igual gente grande. A feira foi boa e o pai fez um luxo: comprou uma coca-de-600 pra dois. O copinho tipo americano parecia um troféu, juro. E ele lá, todo digno, bebendo aos pouquinhos.
Tato: Essa é a parte mais dureza pra mim. Não tenho mais idade pra muvuca, não. Se alguém me passa a mão?? E você escorrega num bagaço de laranja. E rala a perna no carrinho que o velhinho puxa. E alguém passa uma sacola molhada no seu braço. E é um tal de aperta manga, maçã, laranja, pimentão... Um calor da zooooorra. Cara, como uma abóbora pode pesar tanto???
Mas, na verdade, nada disso conseguiu derrubar meu bom humor. Dei muita risada de Cacá escolhendo laranja. (Uma delas caiu embaixo da banca. Confesso: deixei lá. Pensei no desperdício de comida, nas frutas estragando, na responsabilidade sócio-ambiental e no aquecimento global. Mas a banca era baixa, e comprida. Não quis arriscar. Botar minha bunda pra cima ali? Nããão...)
Cacá ainda "comprou" uma redinha de maxixe. Nem sabe o que é, acho que nunca comeu. Mas vovó achou bonitinho ele carregando e pagou. Figurinha, com as bochechas rosadas.
Ainda ganhei um prêmio ao chegar na casa de mamãe: uma grande e cheirosa manga-rosa, fresquinha, cortada em cubinhos.
Ps.: Também fiz feira de frutas no domingo. No supermercado.
A feira livre pode ser absorvida por todos os sentidos. Dúvida?
Audição: De cara, alguém cantava no CD alternativo: "Sou eu... Esse alguém sou eeeeeeu". Acho que era assim. Não-sei-quem-lá e Mateus, me parece.
Mais na frente um menino de uns 12 anos gritava loucamente "#*&$#&%¨#&¨$#&¨$&@*&#¨$ 15 laranjas é um real". Não entendi o início, mas era a cara de Zezé Di Carmago na rodoviária.
O tio: "Aqui dona! É vermelha e doce! É vermelha e doce!" Era uma melancia, pervertidos...
E a tia: "Feijãozim verde, dona? Coloco aqui pra você, um litro mais uma mãozada ". Sai de baixo, moss. Quero lá saber de mãozada...
Visão: Tá. É colorido. Mamões e abóboras maduros são bonitos. Mas não me agrada ver frutas se perdendo. Sempre fico pensando na angústia que deve ser a vida de uma maçã que tem um furinho. Todas sendo levadas e ela lá... jogada. Cada um que examina é uma chance a menos de ser levada. Sério! Quase levo as maçãs furadinhas pra casa, de tanta pena que fico. Quase!
Os velhinhos e velhinhas. Tem tanto idoso na feira, vendendo coisinhas mixas... Velhinhas magrinhas, sofridas. Geralmente elas tem dedos compridos, uma pele que é quase um couro, enrugadas. Algumas carregam caixas, ou ficam agachadas perto dos montinhos de maxixe, quiabo e chuchu. Fico imaginando se um dia todas as velhinhas do mundo estarão "com a vida ganha", vivendo como devem - trabalhando se quiserem, mas sem exigir mais do corpo do que ele aguenta.
Gente. É tanta gente, mas tanta... Meu Deus! Se Cacá sumir no meio desse povo, como é que eu acho??
Olfato: Cheiro de manga é uma delícia. Mas só se for manga-rosa porque, sério, numa feira livre não encoste numa manga de camisa. Se for uma camiseta sem manga, corra. Se for masculina, torça pra ser abduzida. Na verdade, o cheiro me parece um massa marrom que envolve tudo até um metro acima das nossas cabeças.
Depois tem o cheiro de fruta estragada, de gordura fritando, às vezes até de galinha...
Paladar: O óleo em que a tia fritava os pastéis era preto. Não tive coragem de comer nada. Procurei uma água de côco, mas desisti. Os biscoitos de polvilho, avoadores, me chamaram a atenção. Mas não ia comprar, achei melhor não experimentar...
No barzinho, a coca-cola mais gostosa que já vi alguém tomar. O menino tinha uns oito anos. Camisa do flamengo, chinelo velho, bermudinha. Vai ver chegou cedo, trabalhou igual gente grande. A feira foi boa e o pai fez um luxo: comprou uma coca-de-600 pra dois. O copinho tipo americano parecia um troféu, juro. E ele lá, todo digno, bebendo aos pouquinhos.
Tato: Essa é a parte mais dureza pra mim. Não tenho mais idade pra muvuca, não. Se alguém me passa a mão?? E você escorrega num bagaço de laranja. E rala a perna no carrinho que o velhinho puxa. E alguém passa uma sacola molhada no seu braço. E é um tal de aperta manga, maçã, laranja, pimentão... Um calor da zooooorra. Cara, como uma abóbora pode pesar tanto???
Mas, na verdade, nada disso conseguiu derrubar meu bom humor. Dei muita risada de Cacá escolhendo laranja. (Uma delas caiu embaixo da banca. Confesso: deixei lá. Pensei no desperdício de comida, nas frutas estragando, na responsabilidade sócio-ambiental e no aquecimento global. Mas a banca era baixa, e comprida. Não quis arriscar. Botar minha bunda pra cima ali? Nããão...)
Cacá ainda "comprou" uma redinha de maxixe. Nem sabe o que é, acho que nunca comeu. Mas vovó achou bonitinho ele carregando e pagou. Figurinha, com as bochechas rosadas.
Ainda ganhei um prêmio ao chegar na casa de mamãe: uma grande e cheirosa manga-rosa, fresquinha, cortada em cubinhos.
Ps.: Também fiz feira de frutas no domingo. No supermercado.
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10.8.09
Porque as pessoas não passam na faixa?
Observando o trânsito da cidade descobri que alguma coisa muito misteriosa acontece com as faixas de pedestre. Talvez você não tenha percebido, mas elas são um sinal da conspiração de seres extra-terrestres para a exterminação da raça humana. Minha mente se abriu e eu enxerguei a verdade. Só uns poucos iluminados já perceberam isso.
Pessoas muito conectadas com sua idéia de mundo (vide Matrix) não se dão conta de que as faixas, na verdade, queimam os pés de quem passa por elas. Pisar naquelas listras brancas é um perigoso ato suicida.
Além disso, elas balançam de um lado para o outro, tremem e oscilam - tudo na tentativa de derrubar o distraído transeunte. Se o pobre pedestre se desquilibra e cai, então, é o seu fim. Ele será tragado para os confins da Terra, onde as naves alienígenas - estacionadas numa espécie de túnel de metrô macabro - se encarregam de levar o frágil corpo, aos pedaços, para um laboratório fora da Via Láctea. De lá, ninguém ainda voltou para contar o que aconteceu.
Como está claro desde o início, apenas algumas pessoas - cujas mentes estão muito além da nossa pífia compreensão - percebem o perigo que as faixas representam. Elas, portanto, nunca atravessam em cima desses terríveis sinais.
Essas pessoas atravessam as ruas zigzagueando entre carros e motocicletas, há cerca de quatro, cinco metros da faixa de pedestre. Elas nunca se arriscam a esperar que os carros lhes deêm passagem se, para isso, tiverem que pisar na maldita sinalização. Nós podemos até não entender, mas eles sabem que se arriscar a ser atropelado vale muito mais a pena do que passar na faixa.
Por isso, mude de vida - assim como eu mudei. Quando estiver de carro ou de moto, nunca mais se irrite com as pessoas que atrapalham o trânsito ou se arriscam a um atropelamento. Elas estão apenas querendo abrir a sua mente.
29.6.09
Palavras... erradas III
Toda vez que eu vou no Bom Preço num hipermercado que tem aqui, eu vejo uma barbaridade. Atentados violentos ao bom português. Dessa vez foi o Iogurte:
13.6.09
Palavras... erradas II
Num conhecido hipermercado em Vitória da Conquista. O povo da Wal-Mart não deve saber disso...
Os expositores são "monitorado", mas o texto não...
31.3.09
O peixe
Duda fez sete anos e a titia resolveu dar chocolates e um peixinho de presente. Só que a titia aqui não imaginava a odisséia que enfrentaria para comprar as tais lembranças.
O Carassius auratus é um peixinho ornamental conhecido por aqui como peixinho-dourado ou
cauda-de-véu. Acabei de descobrir que ele é uma das espécies mais manipuladas pelo homem e que pode crescer até os 30 (trinta!!!) centímetros.
Aproveitei um brecha no trabalho e fui na loja de peixes. A única coisa definida era que eu queria o cauda-de-véu. Sempre quis uma cauda-de-véu: acho lindo! Até pensei em comprar um pra mim e pro meu filhote, mas... 30 centímetros? Só se for pro almoço...
Na loja, fui atendida cordialmente por uma moça, que me explicou como seria cuidar do bendito peixe, do que eu precisaria para montar o aquário e tal. Eu teria que voltar à loja ao meio-dia para levar o aquário montado. Paguei no cartão de débito e fui trabalhar feliz da vida.
Meio-dia e pouquinho, a moça não estava mais lá. No lugar dela, um rapaz me informou que eu não poderia levar o cauda-de-véu:
- Esse peixe já é de um cliente.
- Mas ela me vendeu, então o peixe é meu.
- Você pode escolher outro.
- Onde estão os outros?
- Não tem mais cauda-de-véu, você pode levar um beta...
- Meu querido, eu não quero um beta. Eu comprei um cauda-de-véu...
- Mas não tem...
- E daí? Você pode comprar o peixe em outra loja e me entregar.
- Não. A senhora leva o aquário vazio e tenta achar o peixe em outra loja.
Foi nessa hora que eu percebi que eu devo ter uma cara de besta enorme. Com um letreiro no meio da testa piscando em neon: besta, besta, besta...
- Você tá me propondo que eu saia daqui com um aquário vazio rodando de loja em loja tentando achar um peixe que vocês me venderam e não me entregaram?
- Ou então a senhora leva um beta.
- Ou então você devolve meu dinheiro, desmonta o seu aquário e eu vou comprar numa loja que preste.
Oitenta e seis dinheiros (86!!!) na bolsa de novo, saí da galeria espumando, pisando duro, retada - como se diz por aqui. Confirmando, mais uma vez, que o povo dessa cidade não sabe ganhar dinheiro.
Puta-que-o-pariu. Onde é que vou achar outro Carassius auratus numa altura dessas? Já estava procurando algumas boas desculpas para a sobrinha, quando o telefone toca (meu número tinha ficado numa nota de compra lá).
- Senhora, aqui é do aquário.
- Pois não.
- Eu queria avisar que, se a senhora ainda tiver interesse, o seu peixe tá aqui.
- Como assim?
- Eu consegui outro peixe pro outro cliente.
- Quem tá falando?
- É Fulano, dono da loja.
- Tá, fulano, passo aí pra pegar quando voltar pro trabalho.
Ele deve ter comprado o peixe na mão do outro cara. Mas isso não vem ao caso. Fato é que o bendito cauda-de-véu estava lá, num saquinho, do lado do aquário montado.
- A senhora me desculpa.
- Tudo bem. O problema foi que ele me mandou levar o aquário vazio e procurar o peixe em outra loja...
- Ele falou isso?!?!?
Aí eu parei. Não queria ser responsável por mais um na fila dos desempregados. Aproveitei para deixar meu cartão com Fulano, o dono. É que são tantas recomendações e cuidados e instruções para cuidar do peixe que eu sugeri que ele fizesse um folder.
- Liga pra mim, que eu faço esse tipo de material. Quem sabe você não me paga com um cauda-de-véu?
Foi meio sarcástico na hora, com a entonação, e tal. Mas, sei não, acho que um beta não cresce tanto...
Ps.: Conto a história do chocolate depois, porque o post ficou muito grande.
O Carassius auratus é um peixinho ornamental conhecido por aqui como peixinho-dourado ou
cauda-de-véu. Acabei de descobrir que ele é uma das espécies mais manipuladas pelo homem e que pode crescer até os 30 (trinta!!!) centímetros.
Aproveitei um brecha no trabalho e fui na loja de peixes. A única coisa definida era que eu queria o cauda-de-véu. Sempre quis uma cauda-de-véu: acho lindo! Até pensei em comprar um pra mim e pro meu filhote, mas... 30 centímetros? Só se for pro almoço...
Na loja, fui atendida cordialmente por uma moça, que me explicou como seria cuidar do bendito peixe, do que eu precisaria para montar o aquário e tal. Eu teria que voltar à loja ao meio-dia para levar o aquário montado. Paguei no cartão de débito e fui trabalhar feliz da vida.
Meio-dia e pouquinho, a moça não estava mais lá. No lugar dela, um rapaz me informou que eu não poderia levar o cauda-de-véu:
- Esse peixe já é de um cliente.
- Mas ela me vendeu, então o peixe é meu.
- Você pode escolher outro.
- Onde estão os outros?
- Não tem mais cauda-de-véu, você pode levar um beta...
- Meu querido, eu não quero um beta. Eu comprei um cauda-de-véu...
- Mas não tem...
- E daí? Você pode comprar o peixe em outra loja e me entregar.
- Não. A senhora leva o aquário vazio e tenta achar o peixe em outra loja.
Foi nessa hora que eu percebi que eu devo ter uma cara de besta enorme. Com um letreiro no meio da testa piscando em neon: besta, besta, besta...
- Você tá me propondo que eu saia daqui com um aquário vazio rodando de loja em loja tentando achar um peixe que vocês me venderam e não me entregaram?
- Ou então a senhora leva um beta.
- Ou então você devolve meu dinheiro, desmonta o seu aquário e eu vou comprar numa loja que preste.
Oitenta e seis dinheiros (86!!!) na bolsa de novo, saí da galeria espumando, pisando duro, retada - como se diz por aqui. Confirmando, mais uma vez, que o povo dessa cidade não sabe ganhar dinheiro.
Puta-que-o-pariu. Onde é que vou achar outro Carassius auratus numa altura dessas? Já estava procurando algumas boas desculpas para a sobrinha, quando o telefone toca (meu número tinha ficado numa nota de compra lá).
- Senhora, aqui é do aquário.
- Pois não.
- Eu queria avisar que, se a senhora ainda tiver interesse, o seu peixe tá aqui.
- Como assim?
- Eu consegui outro peixe pro outro cliente.
- Quem tá falando?
- É Fulano, dono da loja.
- Tá, fulano, passo aí pra pegar quando voltar pro trabalho.
Ele deve ter comprado o peixe na mão do outro cara. Mas isso não vem ao caso. Fato é que o bendito cauda-de-véu estava lá, num saquinho, do lado do aquário montado.
- A senhora me desculpa.
- Tudo bem. O problema foi que ele me mandou levar o aquário vazio e procurar o peixe em outra loja...
- Ele falou isso?!?!?
Aí eu parei. Não queria ser responsável por mais um na fila dos desempregados. Aproveitei para deixar meu cartão com Fulano, o dono. É que são tantas recomendações e cuidados e instruções para cuidar do peixe que eu sugeri que ele fizesse um folder.
- Liga pra mim, que eu faço esse tipo de material. Quem sabe você não me paga com um cauda-de-véu?
Foi meio sarcástico na hora, com a entonação, e tal. Mas, sei não, acho que um beta não cresce tanto...
Ps.: Conto a história do chocolate depois, porque o post ficou muito grande.
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13.3.09
Silenciosos, assistindo
Dudu precisava tirar um extrato no Banco do Brasil. Era por isso que eu estava parada na praça, atrás da banca, por volta das 18h30.
Quando desci da moto já tinha um aglomerado de gente. Vendedores que acabavam o expediente, clientes retardatários, pessoas que passavam. Não era a típica roda fechada que se forma quando acontece algo na rua. Estavam meio espalhados, silenciosos, assistindo.
O centro das atenções era um menino de cerca de nove anos. Ou mais que isso. Não é possível precisar a idade correta quando o corpo é franzino e a atitude, combativa.
Senti muita falta do meu celular naquela hora. Eu tinha que ter filmado aquela cena.
Em cada uma das mãos e em um dos pés, o menino tinha um policial. Três homens adultos, grandes e fardados, tentando barrar os movimentos de onda que o menino fazia. Se remexia com força e chorava. Chorava um choro fino de criança - "me solta, me solta" - mesclado por velhas expressões - "me solta, filho da puta".
Dois meninos mais velhos, acompanhavam tudo, silenciosos, encostados na árvore. Provavelmente eram conhecidos, ou já não estariam ali. Me pareceram, os três, engraxates, mas não posso garantir se tinha alguma caixa por perto. Com certeza, eram meninos soltos...
Achei estranho que os policiais falavam baixinho com o menino: "Assim você vai se machucar, fica quieto pra você não se machucar". Me soou meio falso, mas como eles estavam rodeados de gente, ou de testemunhas, compreendi.
O rapaz da loja de eletrônicos teve coragem de falar: "Deixe ele ir pra casa, moço. Deixa o moleque ir embora". O policial que segurava a mão direita, muito educado, explica: "Se eu soltar, ele não vai pra casa. A gente vai botar ele na viatura e vai levar pra casa".
Com o extrato na mão, Dudu voltou e subi na moto de novo, para voltar pra casa. Mas a cena foi comigo. Enquanto fazíamos a volta, me senti impotente e revoltada. Não sei se é porque sou mãe agora, e mãe é assim mesmo, mas fiquei pensado "e se fosse meu filho?".
Não é sentimentalismo não. Mas é que... porra! Vão levar pra casa. Simples. Mas como é a casa desse menino? Como é o pai, a mãe? Ele tem pai e mãe? O que se passa lá? "Vai deixar ele roubando na rua?" Se ele estava mesmo roubando, no fundo da questão, a culpa não é dele.
Esta porra de país não dá educação, condição de vida, saúde, nada. Aí fica buscando solução - diminuir a maioridade penal, criar outros "centros de recuperação", prender, matar. Ah, tá certo, tudo isso é mais fácil do que se meter a resolver a questão. Remediar, porque prevenir é um buraco bem mais embaixo.
Poucas horas antes tinha visto na internet uma ilustração do Angeli, que entre muitas, foi a única que copiei pro computador. É estranha a capacidade de alguém traduzir seu pensamento de forma tão simples. É mais estranho do que a coincidência.
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4.2.09
Puff!!
Eu só ouvi o ruído seco de algo caindo no chão - Puff!! Estava procurando uma calça preta na loja, não tinha encontrado nada que me agradasse. Peço uma bermuda, a vendedora me traz um shortinho piriguete salpicado de pedrinhas.
No meio desse "esse não, prova aquele, tem quer ser preta, pode ser jeans", escutei o "Puff!!" Antes que eu virasse pra olhar a vendedora magrinha diz: "Estão brigando!"
Quando eu vi aquelas duas mulheres com cara de recepcionistas de clínica de saúde se embolando no chão, exatamente na frente da porta da loja, não acreditei. Em plena sexta-feira à tarde, um Sol de rachar e a rua lotada de gente. Pra quem conhece Conquista, foi naquela alameda, quase em frente ao Spaço Xis.
- Eu vou te matar, sua vagabunda!
- Eu é que vou te matar, sua cachorra!
- Eu peguei você na cama com meu marido! Na minha cama, vagabunda!
- Me respeita, cachorra! Eu vou matar você!
Isso aos berros, o povo gritando em volta, e os meninos que vendem empréstimo para o Itaú, tentando separar.
A vagabunda em questão foi quem caiu no chão. Quando olhei, a cachorra já tinha enrolado metade do cabelo da outra na mão direita e balançava com força. Em desvantagem, a vagabunda só conseguiu agarrar a blusinha de malha da rival.
- Vai rasgar, vai rasgar! - Tadinho do carinha do Itaú.
A mão da vagabunda já estava dentro da blusa da cachorra e saiu de lá de posse do sutiã rosa dela. Eu nunca tinha visto um sutiã esticar tanto! Acho que mais de meio metro pra fora da blusa e ele lá, fechado, sem arrebentar. Devia ter perguntado de que marca era... Pelo menos o menino do Itaú deve ter visto peitinhos tipo recepcionista de clínica.
Enfim, separaram as gladiadoras e elas começaram a catar seus pertences pela rua, uma sandália aqui, um bolsa ali. E seguiu cada uma pro seu lado.
Imagino que caminhavam ainda mal-dizendo uma à outra, com a cara vermelha e o corpo todo pulsando de raiva. Cada uma deve ter achado que deveria ter batido um pouco mais. Mais um chute talvez. "Da próxima vez ela vai ver, vai ver..."
Imagino também que o gostosão da história nem estava por perto. Deveria, sim, estar com outra recepcionista de clínica. E na cama de alguém.
Infelizmente não achei a calça que queria. Na loja da frente, a blusinha foi 29 dinheiros - e é lindinha. O povo de lá também ficou no camarote obrigatório dessa cena triste. E, da mesma forma que eu, também ficou com vergonha por elas. Mas ainda tinha gente na rua, relembrando os golpes e dando risada.
Minha moral da história: É mais fácil eu pegar uma mulher, do que me pegar com ela.
No meio desse "esse não, prova aquele, tem quer ser preta, pode ser jeans", escutei o "Puff!!" Antes que eu virasse pra olhar a vendedora magrinha diz: "Estão brigando!"
Quando eu vi aquelas duas mulheres com cara de recepcionistas de clínica de saúde se embolando no chão, exatamente na frente da porta da loja, não acreditei. Em plena sexta-feira à tarde, um Sol de rachar e a rua lotada de gente. Pra quem conhece Conquista, foi naquela alameda, quase em frente ao Spaço Xis.
- Eu vou te matar, sua vagabunda!
- Eu é que vou te matar, sua cachorra!
- Eu peguei você na cama com meu marido! Na minha cama, vagabunda!
- Me respeita, cachorra! Eu vou matar você!
Isso aos berros, o povo gritando em volta, e os meninos que vendem empréstimo para o Itaú, tentando separar.
A vagabunda em questão foi quem caiu no chão. Quando olhei, a cachorra já tinha enrolado metade do cabelo da outra na mão direita e balançava com força. Em desvantagem, a vagabunda só conseguiu agarrar a blusinha de malha da rival.
- Vai rasgar, vai rasgar! - Tadinho do carinha do Itaú.
A mão da vagabunda já estava dentro da blusa da cachorra e saiu de lá de posse do sutiã rosa dela. Eu nunca tinha visto um sutiã esticar tanto! Acho que mais de meio metro pra fora da blusa e ele lá, fechado, sem arrebentar. Devia ter perguntado de que marca era... Pelo menos o menino do Itaú deve ter visto peitinhos tipo recepcionista de clínica.
Enfim, separaram as gladiadoras e elas começaram a catar seus pertences pela rua, uma sandália aqui, um bolsa ali. E seguiu cada uma pro seu lado.
Imagino que caminhavam ainda mal-dizendo uma à outra, com a cara vermelha e o corpo todo pulsando de raiva. Cada uma deve ter achado que deveria ter batido um pouco mais. Mais um chute talvez. "Da próxima vez ela vai ver, vai ver..."
Imagino também que o gostosão da história nem estava por perto. Deveria, sim, estar com outra recepcionista de clínica. E na cama de alguém.
Infelizmente não achei a calça que queria. Na loja da frente, a blusinha foi 29 dinheiros - e é lindinha. O povo de lá também ficou no camarote obrigatório dessa cena triste. E, da mesma forma que eu, também ficou com vergonha por elas. Mas ainda tinha gente na rua, relembrando os golpes e dando risada.
Minha moral da história: É mais fácil eu pegar uma mulher, do que me pegar com ela.
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