no labirinto da solidão
o tronco
do pinheiro
é tudo o que me resta
nesta estrada
vazia
a vibrante
andorinha anda
rindo de mim
na varanda de pedra
onde inclinam-se
sob a chuva da tarde
folhas da bananeira
um bem-te-vi
sobre o telhado
também olha longe
de pés descalços
já sob a lua de julho
à beira do riacho
sinto o toque da brisa
entre
raríssimos lírios
meus olhos de cristal
a inolvidável beleza
que sobe o monte gelado
da casa amarela
em grande silêncio
onde o tronco do pinheiro
me (a)guarda
respiro incenso
e o tempo aqui começa
enluarando o céu
como se fosse além
entre os sentidos
dos sentidos
da garça alvíssima
agora
a tarde
à beira do lago
- incendeia-se -
subitamente
balançam
ao salto das rãs
adormecidas
tulipas
a brisa
que se eleva
sobre o charco
de pedras roladas
na neblina
onde a memória
contempla a essência
do salgueiro
como as nuvens
seiva que se mostra
única ao vôo
da mariposa
à noite
o vento sopra mais
insípido
e bêbado
e aqui estou
como um pássaro
encarnado
silhueta esbelta
sobre
os ramos do pinheiro
num instante
de vértebra
- o simples é esplêndido -
este precioso
canto do canário
nas altas copas
num (es)talo de grama
resta agora
o estrídulo
do falante grilo
e um
sorriso-mel
da abelha
sobre a florbela
esta divina
donzela
uma
borboleta sai
sonhando em círculos
do bambuzal
pousando
sobre o alpendre
da minha varanda
já em penumbra
exposta aos tendões
do amanhecer