Mostrando postagens com marcador Augusto dos Anjos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Augusto dos Anjos. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

0

"MÁGOAS"


Quando nasci, num mês de tantas flores,

Todas murcharam, tristes, langorosas,

Tristes fanaram redolentes rosas,

Morreram todas, todas sem olores.


Mais tarde da existência nos verdores

Da infância nunca tive as venturosas

Alegrias que passam bonançosas,

Oh! minha infância nunca tive flores!


Volvendo à quadra azul da mocidade,

Minh'alma levo aflita à Eternidade,

Quando a morte matar meus dissabores.


Cansado de chorar pelas estradas,

Exausto de pisar mágoas pisadas,

Hoje eu carrego a cruz de minhas dores!


Augusto dos Anjos

domingo, 7 de setembro de 2008

2

IDEALISMO

Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!
O amor da Humanidade é uma mentira.
É. E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.
O amor! Quando virei por fim a amá-lo?
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e Sardanapalo?!
Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
_ Alavanca desviada de seu fulcro -
E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!
Augusto dos Anjos
0

SAUDADE

Hoje que a mágoa me apunhala o seio,
E o coração me rasga atroz, imensa,
Eu a bendigo da descrença, em meio,
Porque eu hoje só vivo da descrença.
À noute qunado em funda soledade
Minh’alma se recolhe tristemente,
P’ra iluminar-me a alma descontente,
Se acende o círio triste da Saudade.
E assim afeito às mágoas e ao tormento,
E à dor e ao sofrimento eterno afeito,
Para dar vida à dor e ao sofrimento,
Da saudade na campa enegrecida
Guardo a lembrança que me sangra o peito,
Mas que no entanto me alimenta a vida.
Augusto dos Anjos
Blog Widget by LinkWithin