O ponteiro de seu relógio preferido marcou seis horas da manhã.
Lá estava
Paulo fazendo sua barba, estava ansioso para seu novo trabalho, deveria estar
lá ás sete horas.Era como se
Paulo voltasse novamente para o colegial, depois de duas semanas de férias,
como se fosse obrigado a frequentar as mesmas salas de aula, conviver com os
colegas, tudo de novo. Nada se encaixava, deveria mesmo ir trabalhar? Não
poderia ficar dormindo, sonhando, se distraindo com uma revista velha?Se ele fosse
até seu quarto e se enrolasse nas cobertas seria muito melhor, se ele ligasse
para sua ex-namorada e pedisse desculpas, ia ser estressante e vergonhoso. Não
tinha jeito, não poderia voltar para casa da sua mãe, dizendo que tinha se
arrependido de ter saído de casa e muito menos admitir que não passava de um
bebê em um corpo de um homem de 25 anos.
A saudade o
atormentava, seu sonho sempre foi se formar em Jornalismo, construir uma
carreira de sucesso, se comunicar com pessoas. Mostrar o que tinha de melhor,
transformar seus poemas, de adolescente ferido, em artigos, em matérias.
Construir uma
vida melhor, escrevendo, transformando seu talento em algo que fizesse a
diferença, para as pessoas e principalmente para si mesmo.
A faculdade
fora motivo de orgulho para seus pais, a formatura foi banhada por lágrimas. Mas
tudo aquilo tinha passado, acabado, agora tinha que trabalhar, um arrepio na
espinha, tremeliques pelo corpo, um aperto no coração.
Onde estaria
aquela garota da escola, sua parceira de trabalhos, inseparável? Ele não sabia.
Sentia falta de suas conversas, de seus sonhos de virar a estrela do Rock, onde
ela estaria? Quanta besteira, tinham apenas 12 anos, o que saberiam da vida?
Paulo queria
estar em casa, na casa onde cresceu, queria estar rodeado pela família e não abandonado
no seu apartamento, localizado em
São Paulo, queria encontrar sua estrela do Rock, sua melhor
amiga, mas ela estava tão distante, Jovana nem se lembrava do menino magricelo,
que sentava sempre na sua frente, que adorava literatura e enchia as pessoas de
perguntas.
No seu
quarto, sobre a mesa junto com seus escritos, estava o telefone, modelo único
que seu pai tinha lhe dado, estava tudo como planejado, tudo organizado, ele
mesmo limpava seu apartamento ouvindo uma boa música. As suas músicas preferidas,
quando tinha seus 16 anos, aquelas que te fazem se sentir em casa, como se nada
estivesse mudado.
De súbito,
suando frio, Paulo acorda. São duas horas da tarde, olha para o relógio, tendo
16 anos. Depois daquele sonho, mas parecido com um pesadelo, Paulo ficou
pensando, lembrando daquelas cenas com 25 anos. Aquele sonho tinha um grande
fundo de verdade, não poderia se enganar, ele retratava seus medos, suas
inseguranças e principalmente suas incertezas perante o futuro, que estava lhe
aguardando e chegando cada vez mais perto da realidade de um adolescente.