domingo, 18 de abril de 2010

Do fundo

Sou tua amiga sim. Apesar da dor de horas e do horário desgrenhado, tens amiga aqui. Ao meu jeito, bem o sabes, sem telemóveis nem coisas grupais, que a dois é bom mas três, bem o dizem, já é demais.

Gosto mais de ti no estado puro, sem interferências do exterior. Gosto de te ir tendo, de vez em quando, no teu dia, nos nossos locais, e saber por onde andas, por onde tens parado, que coisas novas me contas, o que tens aprendido, o que posso crescer, hoje, contigo.

Gosto de ti principalmente por seres diferente de mim. E de ti, e de ti, e de ti. E de comparar-nos e somar sempre esta diversidade, que faz de mim bocadinhos de pessoas que vêm e ficam, outras que vêm e vão mas permanecem. Continuo a evocar o teu nome em conversas e a relembrar-te com o mesmo sorriso de há uns anos. Continuo a tratar-te pela tua antiga alcunha, apesar de estares mais magro do que nós! Continuo a temer a tua tendência para não gostares da vida e espero bem que me tenha sucedido alguém que te faça gostar mais dela. Continuo a achar que fazemos uma bela dupla, desde os tempos da Patrulha Pinguim. Continuo a achar que entre nós há qualquer coisa bem maior que a diferença dos caminhos que tomámos, que é tão só seis sétimos de vida juntas.

De ti gosto dos olhos verdes, principalmente a berrar cor e lágrimas. De ti dos pés pequeninos desinquietos, a serigaitar sempre. De ti do teu lado hippie
de dar restos de pão a patos lisboetas. De ti do lado de Solar dos Presuntos com um sentido crítico de cair para o lado. De ti e da tua bondade desinteressada. De ti e de me rir com as tuas aventuras em motas e bicicletas. De ti e das tuas cartas de Trivial Pursuit de bolso, para melhorar a cultura geral! De ti e da tua tendência de pores um -inho depois de todos os adjectivos. De ti, e também de ti e de ti. Alguns "tis" mas não muitos. Os que cabem bem debaixo da minha asa, no sentido mais maternal ou amigal da expressão.

E é assim, como sabes, se me conheces desde pequena, que levo as coisas e que TE levo_ a sério. E se me conheceste já grande, não grande coisa, é igual para ti. Isto de levar as coisas e levar-TE a sério tem o seu peso. Faz-me não gostar de quem te faz mal, faz-me ter medo do que te assusta e mesmo assim querer proteger-te. Quando me escasseias as palavras...dói-me. Quando reconheço que estás em onda de azar...dói-me. Quando dou por mim a lamentar, sem te aperceberes, o que te inquieta...dói-me.

E depois disto te digo: não tenho tempo para chatices. E mais importante_ não me interesso minimamente por isso. Gosto de ti, ponto final. E ando por aí de nariz no ar (muito mais de desatenta e distraída do que de empinado) a levar as minhas coisinhas a sério e de repente testemunho uma ou outra facadinha, que não é de todo novidade para mim, só me desilude do fundo do coração, e nem sequer precisa de acontecer comigo.

Seriamente na boa, sei que tens aí o meu bocado, que não to roubo nem invejo de outros porque esse aí, à nossa maneira, é meu. Obrigado.

sábado, 3 de abril de 2010

Resiliência

Gosto desta palavra. Desde pequena. Primeiro que tudo porque dá umas voltas giras com a língua _ re-si-li-ência_ e não tem érres pelo meio, o que me facilita bastante a dicção e eu gosto de dizer as minhas palavras preferidas bem ditas. Depois porque é daquelas palavras que, quando se dizem, vêm sempre acompanhadas de outras mais ou menos parecidas, candidatas a ser como ela, mas que nem pronunciadas mil vezes sílaba a sílaba hão-de ter o mesmo significado: resistência, força, por aí, e ela destaca-se. Gosto desta palavra e hoje lembrei-me dela, não sei porquê. Ando meia alucinada e devo ter ido busca-la a um texto qualquer que diz "paciência, resiliência e cansaço".

Ora, resiliência. É que eu às vezes digo as coisas com a perfeita noção que não entendi bem o que querem dizer. Resiliência era qualquer coisa que os metais tinham, se bem me lembro. Que dobram e esticam e encolhem e fazem trinta por uma linha deles e eles voltam ao estado normal. Resiliência, se bem me lembro dos tempos em que desenhava nos livros de filosofia, era qualquer coisa de luta interior com supostos pilares internos contra qualquer coisa má sem causar surto psicológico. E numa pesquisa rápida na net: armazenamento de energia numa situação de stress sem ocorrer ruptura, suportar traumatismos e recuperar apesar das lesões através de um jogo complexo de processos defensivos e factores de protecção internos e externos. Bonito.

Resiliência, resiliência, resiliência. Deixo as teorias da deformação e energias para quem se dedica a elas. Passo a pasta dos factores de protecção internos e externos e complexos intra-psíquicos manhosos para quem de direito. O que eu sei e tenho como experiência é que essa coisa de resiliência é uma bela treta! Nem energias, nem pilares internos, nem propriedades do arco da velha lhe valem e pessoa resiliente, mas resiliente à brava, é aquela que se deixa moldar (que remédio!) em plena tempestade (ou surto ou ruptura) e se torna, ela própria, a forma do(s) coice(s) que levou, e a mostra descaradamente sem vergonhas, mais amargura, menos amargura, mais ou menos cansaço, mais ou menos paciente, e tira partido disso.

Devo andar com cara de coice mas temos pena. Gosto muito de vocês na mesma, e agora de uma maneira diferente, diria com muito mais amor.