Cara Catarina,
Habitue-se à frequência da minha visita. Você tem dado uma grande despesa na verba celestial. Na verdade, todos os meus poderes de figura mágica alada se esgotam perante si.
Vendo-a mais encaminhada, não posso deixar de lhe fazer alguns reparos e de a preparar para períodos vindouros. Contudo, não se esqueça que a sua audácia e ousadia têm um papel preponderante na tomada de decisões e, a meu ver, e depois de conselho com colegas e entidades superiores, o que há em si é essencialmente falta dela. Dada a falta de tempo, que em período natalício o que não falta é almas para encaminhar, permita-me que enuncie um a um os aspectos que carecem de mais atenção da sua parte.
- A velha premissa_ não se iluda com as aparências. Penso que tem sido surpreendida todos os dias com a fatalidade do seu julgamento acerca do que vê. Tenho-me esforçado por isso. Seja mais flexível, dê uma segunda oportunidade, investigue, esgote as pessoas. E depois disso, esteja à vontade, faça o seu juízo (que é pessoa íntegra) e tome as medidas que achar necessárias.
- Aprenda a perdoar. Desde a buzinadela do taxista até às situações mais imprevistas e que lhe sejam mesmo dolorosas. Não seja tão intransigente, amoleça-se, molde-se às coisas.
- Acredite mais. Suprima o seu olhar científico e crítico, que nem tudo são neurotransmissores e há coisas que simplesmente não se explicam e somos nós que as detemos sob sigilo profissional. E sabe que mais? Você bem que se rende à falta de evidência de certas crenças. Deixe-se apaixonar.
- Ame. Faça o que costuma fazer bem. As pessoas sentem falta do seu amor. E faz-lhe falta, que eu bem sei, exalar esse perfume.
- Tire tempo para si. Passeie, faça desporto, canse-se ou descanse, ouça música, pense, extenue-se de vida. Faz-lhe falta, não faz? Eu bem sei!
- Reacenda a sua arte. Vá à procura dela, onde quer que ela esteja. Faça-se amiga da paleta e do cavalete, escreva, leia, divirja. Não faça da sua mente um labirinto de portas fechadas, mas uma órbita de cometas.
- Seja mais como você é. Não lhe ensino. Esta é a única coisa que nunca se ensine. Você costuma ser bem.
Dito isto, dou a minha função como cumprida e espero sinceramente que se ponha na linha. E não é que seja materialista,mas veja lá se me oferece uma prenda de Natal. Estou a precisar de umas asas novas, que as minhas bem que têm sofrido com as suas desventuras.
Vá para a sua terrinha e tenha umas Boas Festas, que lhe faz falta os meios humildes, as pessoas simples e os mimos da mãe, não se faça de forte.
um beijo cheio de luz,
o seu anjo da guarda
P.S.: E não abuse no Bolo Rei!