Na caixa de comentários do meu texto “Manuel Pinho – Último acto”, tomou forma uma troca de impressões entre “sensibilidades” diferentes. Como vai sendo já um hábito, estes debates dão-se, essencialmente, entre pessoas que se reclamam de esquerda.
Se me perguntarem se gosto de “debates”, sim, gosto. Se me perguntarem se me agrada o tom em que por vezes eles são feitos, gosto bastante menos. No entanto tudo tem explicação. Não poucas vezes, o facto de se estar sozinho, a teclar num computador, em vez de se estar a conversar, abertamente, sentado numa qualquer mesa ou roda de conhecidos e amigos, leva-nos a cair em armadilhas de linguagem das quais saímos sempre com algumas feridas e nódoas negras. Não ignoro que em alguns casos é exactamente a proximidade e a amizade que liga uns e outros aos que estão do “outro lado” que acende ainda mais a “paixão” dos comentários.
Como já disse, gosto dos debates, que feitos adequadamente podem limar muitas arestas e, sobretudo, servem para clarificar ideias e posições. Estou convencido que vem aí o tempo em que isso será muito útil.
Agora do que não gosto mesmo nada, aquilo que me dá volta ao estômago, é ter que assistir, como assisti, a um debate na televisão, logo na noite das Eleições Europeias, em que o PSD estava representado por essa caricatura de si próprio que é Pedro Santana Lopes e ter que o ouvir dizer, depois de mais uma troca de galhardetes (mais ou menos azeda) entre os representantes da CDU e do BE, “Estou aqui deliciado com o espectáculo que a esquerda está a dar!”. Isso, amigos, é que me tira do sério. Colocar-me em posição de ser gozado por “aquilo” que está aí em cima na imagem.
Felizmente, ao contrário do que disseram alguns patetas encartados, não chegámos ao fim da História. Em vez disso, todas as manhãs ela começa de novo, renovada pela força da luta de cada vez mais seres humanos, todos diferentes entre si, mas com o sonho partilhado de um futuro mais risonho... e “o caminho faz-se caminhando!”