sábado, 4 de julho de 2009

O mal maior





Na caixa de comentários do meu texto “Manuel Pinho – Último acto”, tomou forma uma troca de impressões entre “sensibilidades” diferentes. Como vai sendo já um hábito, estes debates dão-se, essencialmente, entre pessoas que se reclamam de esquerda.

Se me perguntarem se gosto de “debates”, sim, gosto. Se me perguntarem se me agrada o tom em que por vezes eles são feitos, gosto bastante menos. No entanto tudo tem explicação. Não poucas vezes, o facto de se estar sozinho, a teclar num computador, em vez de se estar a conversar, abertamente, sentado numa qualquer mesa ou roda de conhecidos e amigos, leva-nos a cair em armadilhas de linguagem das quais saímos sempre com algumas feridas e nódoas negras. Não ignoro que em alguns casos é exactamente a proximidade e a amizade que liga uns e outros aos que estão do “outro lado” que acende ainda mais a “paixão” dos comentários.

Como já disse, gosto dos debates, que feitos adequadamente podem limar muitas arestas e, sobretudo, servem para clarificar ideias e posições. Estou convencido que vem aí o tempo em que isso será muito útil.

Agora do que não gosto mesmo nada, aquilo que me dá volta ao estômago, é ter que assistir, como assisti, a um debate na televisão, logo na noite das Eleições Europeias, em que o PSD estava representado por essa caricatura de si próprio que é Pedro Santana Lopes e ter que o ouvir dizer, depois de mais uma troca de galhardetes (mais ou menos azeda) entre os representantes da CDU e do BE, “Estou aqui deliciado com o espectáculo que a esquerda está a dar!”. Isso, amigos, é que me tira do sério. Colocar-me em posição de ser gozado por “aquilo” que está aí em cima na imagem.

Felizmente, ao contrário do que disseram alguns patetas encartados, não chegámos ao fim da História. Em vez disso, todas as manhãs ela começa de novo, renovada pela força da luta de cada vez mais seres humanos, todos diferentes entre si, mas com o sonho partilhado de um futuro mais risonho... e “o caminho faz-se caminhando!”

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Males que vêm por bem



Cansado de ser citado apenas por jornalistas, comentadores e blogueiros... quase sempre para ser alvo de gozo, Manuel Pinho poderá a partir de agora ser igualmente citado (de perto ou de longe) por muitas centenas de bravos forcados.

Manuel Pinho – Último acto




Na melhor "nódoa"... cai o pano!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Nada na manga... nem nos bolsos!


(Adão e Eva - Tamara de Lempicka, 1932)

Segundo leio no jornal "O Globo" online, as autoridades do Nepal estão a pensar na possibilidade de obrigar os funcionários do Aeroporto Internacional de Katmandu, o mais importante daquele país, a usar uniformes sem bolsos. A ideia é dificultar ao máximo a prática de subornos.

Pelo que tenho lido e ouvido sobre alguns dos nossos serviços, por cá esta medida vai ter que ir bem mais longe do que a simples supressão dos bolsos. Se a ideia pegar, teremos pela frente tempos muitíssimo excitantes... ou aterradores... dependendo das circunstâncias, dos protagonistas e das opiniões.

Falai no Mao aparelhai o pau! *



Se percorrermos com a vista os partidos de “alterne” da nossa cena política, PS e PPD-PSD (aqui e ali com uma participaçãozeca do CDS), vemos que a sua alternância e de um modo geral toda a sua vida, é marcada pelo facto de estarem verdadeiramente minados por pessoas vindas dos mais diversos grupos maoistas, desde o famoso MRPP, até àqueles que nunca passaram do vão de escada.

Quase todos se deram muito bem na vida. Ocupam toda a sorte de posições de relevo. Na maior parte dos casos, as fortunas dos papás ajudaram bastante a sua subida “a pulso”. Há de tudo, desde Procuradoras do Ministério Público a Deputados da República, de Ministros a Secretários de Estado, de fazedores de opinião a directores de jornais ditos “de referência”, do insigne viajante Durão Barroso, ao insigne ficante Pacheco Pereira.

De qualquer maneira, isto já todos sabíamos. A minha reflexão de hoje é antes sobre as leituras dessa gente. É que desde o princípio desta minha pesquisa histórica (e científica, evidentemente!), cada vez estou mais convencido de que por muito que tenham lido o “Livro Vermelho” do grande timoneiro Mao Tse Tung, o que aprenderam a fundo e decoraram foi o “Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sella”, escrito pelo nosso mui nobre e “leal conselheiro”, Dom Duarte, Rei de Portugal e do Algarve e Senhor de Ceuta, nos idos de mil quatrocentos e tal.

* Isto não fui eu que inventei... é mesmo um ditado popular. Só não sei se estará correctamente ortografado.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Pina Bausch (Solingen, 27 de Julho de 1940 - Wuppertal, 30 de Junho de 2009)


(Pina Bausch - Fot. Atsushi Iijima)

Nunca tive uma boa relação com a dança. Não danço. A minha indiferença por esse “fenómeno”, indiferença que por vezes roça a aversão declarada, cobre um vastíssimo leque de manifestações dançantes, que vão da atabalhoada abanação em qualquer festarola, da patetice dos concursos televisivos, da abominável e inestética “modalidade desportiva” das danças de salão praticadas por autómatos... até ao limite, a grande dança clássica ou contemporânea, mesmo naqueles casos em que realmente “admiro”, pelo menos, os extraordinários textos escritos em “psicologês artístico”, que ilustram os programas, fatalmente carregados de “interpelações”, coalhados de relações com “o outro” e com milhares de quilómetros de “viagens aos nosso interior”, sempre com escala nas várias estações e apeadeiros da “memoria colectiva”. Infelizmente, não poucas vezes, esses textos são a única coisa realmente criativa do evento.

O deserto algo agreste deste meu desamor pela dança sempre teve os seus oásis de frescura e prazer. De um deles, o grande Maurice Béjart, já aqui falei um dia. De outro, pelas piores razões, falo hoje.

A fragilidade, a timidez, a energia, a claridade das imagens, a elegância das “palavras”, que Pina Bausch juntava na sua maneira de contar histórias, sempre me pacificou, sempre me fez parar para ver, mesmo num qualquer acidental zapping de televisão... e ficar ali, como um miúdo que inesperadamente tivesse aberto um livro surpreendente, feito de histórias onde até eu gosto de dança. Onde numa distracção... talvez até dançasse!

"Momentos-Lino"




No Partido Socialista existem, como seria de esperar, pessoas ainda comprometidas com a sua ideia fundadora de socialismo, ideia pela qual se bateram com coragem ao longo dos anos. Para essas, verem trânsfugas da extirpe de Mário Lino ocupando o lugar que ocupa num governo do seu partido e, sobretudo, o tipo de gente em que se tornou o grupo que tomou o poder dentro do PS e, em consequência disso forma esse governo, deve ser algo entre o pesadelo e a humilhação diária.

Não está ao meu alcance dar-lhes conselhos sobre as formas de mudarem de rumo, mas penso que aqueles que mantêm a capacidade de rir da própria desgraça, valiosíssima ajuda em tempos de crise, têm muitas vezes, em Manuel Pinho e neste inexplicável Mário Lino (para citar apenas dois), verdadeiras terapias pelo riso. Eu confesso que me divirto bem mais do que a “seriedade política” aconselharia...

Mesmo dando de barato que ninguém (à excepção do Bernardino Soares em nome do PCP) parece interessado em questionar verdadeiramente o que importa neste fenómeno mediático do novo Aeroporto Internacional de Lisboa e que se prende com o novo modelo de negócio sob o qual passará a reger-se essa gigantesca infra-estrutura, colocando nas mãos dos privados mais um bem de grande importância estratégica para o país, tanto em termos económicos, como da própria segurança, parecendo assim que as falcatruas, mentiras e trapalhadas ligadas à sua localização são o único tema de polémica, lá tivemos direito a mais um “Momento-Lino”, que tal como os anteriores, foi uma verdadeira pérola da tragicomédia em que se transformou a nossa governação.

Apesar do extraordinário rigor a que nos habituou, Mário Lino, logo a seguir ao TGV, deixou também atrasar o raio dos aviões!

Embora muito tentado a desconfiar que na cabeça dos génios que dirigem este pobre PS, isto deve ter sido “inventado” como sendo uma espécie de ameaça subliminar aos eleitores, dando a entender que, a ganhar o PSD as próximas eleições, Portugal ficará sem TGV e novo aeroporto, atendendo a que isto, como táctica política, é muito pedestre... os atrasos devem mesmo ser explicados apenas pela incompetência do executivo governamental.

Adenda: “Palavra” que tinha escolhido uma fotografia muito gira de Mário Lino para ilustrar este texto. Lamentavelmente, uma arreliadora confusão no link da dita, acabou por resultar na publicação da que podem ver aqui em cima... mas afinal, vendo bem...