Andou uma tremenda animação na blogosfera, chamemos-lhe assim, política. Foi a grande coligação de toda a direita, aquela espécie de zona de ninguém, algo indefinida, do PS e alguma esquerda (que alguns erradamente ainda chamam extrema), a propósito, imagine-se, da jovem deputada do PCP, Rita Rato.
Se a Rita sonhava ter uma entrada na vida parlamentar, recheada de gestos simpáticos, educação e lealdade, desenganou-se rapidamente. A direcção do Correio da Manhã encarregou um dos seus empregados com jeito para, vá lá... escrever, de
montar uma provocação à deputada estreante. Enquanto esta pensava, ingenuamente, que o suplemento (“Domingo”) do jornal estaria interessado apenas na sua história, projectos pessoais e políticos, gostos pessoais, opiniões sobre a situação política portuguesa, sobretudo em relação à juventude que ela, de certa forma representa... o plano do Correio da Manhã não era bem esse. O grande suplemento domingueiro que fica caído por aí, atrás das cadeiras das tascas e que praticamente ninguém lê, estava interessado em rankings de partidos partidos, em saber dos “Gulags”, de presos na China...
A Rita Rato podia ter feito várias coisas. Podia (por absurdo) ter dito que apoiava tudo aquilo... e seria crucificada. Podia (igualmente por absurdo) ter negado tudo aquilo... e seria crucificada. Podia ter respondido “à séria” a tudo aquilo, condenando o que é condenável, mas apenas isso, defendendo o que é importante defender, e há muito para defender, como ela (e muito bem) ainda tentou dizer. Não teve uma chance que fosse. A emboscada estava montada e perante o metralhar de perguntas sobre os mesmos assuntos, optou, erradamente (na minha opinião), por fugir às respostas. Das várias razões que poderia ter dado para não responder, nomeadamente a impossibilidade de naquelas condições o fazer de forma fundamentada e aprofundada (ainda tentou essa linha...), acabou por escolher a pior de todas: o desconhecimento. E claro, foi crucificada! Colocou-se no pior lugar. Um lugar onde ficou à mercê das pancadas vindas de todo o lado.
Da extrema direita e da direita em geral, apanha com as boçalidades do costume, acrescidas das apreciações abjectas sobre se fisicamente é assim ou assado, sobre “o que lhe faziam a ela e mais a todos os comunas”... o espectáculo normal que esta gente dá sempre que vai buscar as botas cardadas, para continuar o trabalho que já faziam os seus pais, na pide e no regime fascista em geral. Tudo normal, é o que se espera deles!
Da área do PS, com caceteiros e anticomunistas demenciais do calibre de um
João Tunes à frente, ou uma hiperactiva
anticomunista como
Ana Vidigal, entre tantos outros, é igualmente um fartar vilanagem,
“como é que uma ignorante chega a deputada”, ou
“como é que conseguiu tirar um curso superior”, são apenas alguns dos mimos, como se acreditassem por um segundo no que estão a dizer,
como se isto vingasse de alguma forma tudo o que tiveram que engolir sobre a carreira académica e o diploma de fancaria do seu chefe. Embora lamentável... também tudo normal, já pouco mais se espera de muitos deles!
Espantoso, no entanto, é ver o à-vontade com que alguns militantes e dirigentes do Bloco de Esquerda enchem páginas de blogues (e caixas de comentários), exactamente com os mesmos argumentos, vozearia e até a mesmíssima baixa educação dos seus “camaradas” de cruzada, cavalgando triunfantes esta oportunidade de fazer aquilo que é a razão da existência de tantos deles: atacar e denegrir o PCP e todos os que lhe são próximos por todos os meios ao seu alcance, tarefa que vêm prosseguindo, sem descanso, há muitos e muitos anos.
Convém aqui realçar a estranheza e franca oposição de muitos militantes e simpatizantes do BE a esta atitude de alguns dos seus dirigentes e camaradas mais antigos, atitude que já começam a ver como uma espécie de doença ou fixação. Essa crescente estranheza e oposição está bem patente em numerosos comentários que fui lendo.
Perguntar-se-á então, porque razão farão esses dirigentes e militantes do Bloco uma coisa destas?
Primeiro, porque podem! Vivemos numa democracia em que podem falar livremente, liberdade essa que muitos dos militantes comunistas que repetidamente insultam, ajudaram heroicamente a conquistar.
Segundo, porque por qualquer razão que só o capital que detém os grandes meios de comunicação social saberá e que um dia talvez saibamos todos, os jovens deputados e jovens deputadas do Bloco de Esquerda, sejam bonitos ou feios, vivem na santa paz e tranquilidade de saber que em nenhuma ocasião em que ponham o pé na rua, poderão alguma vez passar pela situação de ver um microfone espetado na cara, com uma espécie de jornalista a segurá-lo e a perguntar-lhes agressivamente, “Então e o Mao Zedong e os seus crimes?”, ou “Então e a nojeira da Revolução Cultural?”, ou “Então e que me diz da realidade trágico-ridícula da Albânia de Enver Hoxha?”, ou o prato forte, “O que é que tem a dizer sobre os milhões de assassinados por Pol Pot no Camboja?”... tudo realidades que vários dos dirigentes do BE alegremente apoiaram e que nunca vimos claramente que deixassem de apoiar.
Desta vez, depois do lixo que li por aí, e ao contrário do que tem acontecido sempre que toco em algum cabelo bloquista, espero não ter muitas queixas, nem ser trucidado pelos do costume.
Àqueles simpatizantes do BE que nos outros blogs também, como eu, não concordaram com o que por lá se escreveu, argumentando (e bem) que está mais que na hora de deixarem de eleger o PCP como inimigo principal (a inversa também é válida!), entendo que não gostem deste post, mas não sendo este, como facilmente se pode ver, um dos blogues da área da CDU que se “ocupe” muito do Bloco de Esquerda... há alturas em que “o que tem que ser”... Para esses (e os outros, pronto!) um abraço... e melhores, mais esclarecidos e leais dias virão!
Para a Rita Rato, um grande abraço solidário e votos de excelente trabalho!