Bancos e banqueiros que nos últimos anos se dedicavam à prática de crimes económicos em grande escala, como a fuga de impostos, lavagem de dinheiro, utilização fraudulenta de dinheiros de depositantes, ou simplesmente desvio de fundos para proveito pessoal, em vez de serem pulverizados (os bancos, claro), salvaguardando-se os direitos dos depositantes genuínos e alheios à especulação criminosa e os seus responsáveis julgados e condenados, são, em vez disso, “ajudados” pelo Estado, com nacionalizações caridosas e gigantescas injecções de capital. São os casos, por exemplo, do BPN e do BPP.
Perante os efeitos de uma crise arrasadora, fruto de recorrentes decisões políticas desastrosas, agora pioradas pelo colapso do capitalismo selvagem internacionalmente, depois de criada uma situação no país em que, como num ciclo vicioso, as pequenas e médias empresas que são responsáveis pela esmagadora maioria dos postos de trabalho, estão estranguladas porque não têm a quem vender a sua produção, pois as pessoas não têm dinheiro para comprar mais nada além do estritamente necessário (as que têm), perante a situação do pequeno comércio tradicional, que emprega milhares de pessoas, por vezes famílias inteiras e que está igualmente estrangulado pelas mesmas razões, mais a pata esmagadora das grandes superfícies comerciais, perante o triste caudal de cidadãos que todas as semanas vão, fruto desta situação, engrossando o número assustador dos desempregados, piorando ainda mais as condições de sobrevivência das empresas e pequenos comércios que ainda não fecharam... que faz o Governo para ajudar? Trata de conceber e pôr em prática um plano de apoio directo às pequenas e médias empresas em dificuldades, às famílias em risco de perder as casas em que já investiram anos do seu suor, apoio esse que, serviria para restaurar alguma da confiança perdida, subir o poder de compra das famílias e por tabela, trazer centenas de empresas de volta à tona de água? Concebe e põe em prática a criação e apoio de milhares de projectos públicos e privados, de pequena e média dimensão, em que a injecção súbita de capital chegaria a milhares de empresas diversificadas e significaria a criação de milhares de postos de trabalho, harmoniosamente distribuídos pelo território, com o que isso significaria de reanimação das economias locais?
Não! O Governo aposta no apoio a dois ou três projectos megalómanos, de criação de emprego concentrada, intensiva e não sustentada, onde ficarão a ganhar (e muito) meia dúzia de gigantescas empresas, que não poucas vezes, estão nas mãos de “amigos”.
Não! O Governo decide colocar milhões e milhões nas mãos dos banqueiros, que mais uma vez irão ficar com o dinheiro, para alimentar os seus vícios multimilionários, permitindo que apenas uma parte dele chegue às pequenas e médias empresas e às famílias, mediante a aplicação de verdadeiros garrotes e cobrança de juros próprios de agiotas e mafiosos.
Perante esta vergonha imensa em que se está a tornar o “Caso Freeport”, em que cada alegado interveniente vem dizer o contrário do anterior, em que toda a gente conhece Sócrates, em que Sócrates não conhece ninguém, em que “O Tio” (já uma instituição) de cada vez que abre a boca mais chamusca o “Zezito”, como lhe chamou, que faz a justiça? Explica cabalmente porque andou todos estes anos a “pastar caracóis” e trata de rapidamente, em silêncio e com eficácia, apresentar resultados e arguidos? Ou as provas de que nada se passou de ilegal?
Não! Num espalhafato que só serve para disfarçar o embaraço da inépcia, vai-se multiplicando em entrevistas confusas, em declarações ofendidas sobre as quebras de segredo de justiça, enquanto sorrateiramente a vai ela própria quebrando, conforme o interesse do dia, ao mesmo tempo que, de maneira sonsa, faz muito pouco para avançar e praticamente nada para evitar que alastre a ideia de que tudo isto não passa afinal da tal “campanha negra” (o termo da moda), urdido cavilosamente, quem sabe, pela própria Rainha de Inglaterra, desagradada com um chapéu que lhe ofereceram, ainda mais ridículo do que aqueles que já tem... comprado no maldito Freeport.
Os heróicos leitores que tenham chegado até aqui, ou alguém que esteja de visita ao nosso país, será levado a pensar que os portugueses endoideceram e que em tudo isto não existe um pingo de lógica.
Estão enganados! Esta é a célebre Lógica da Batota... perdão, lá estou eu outra vez... da Batata!