Não. O regresso é apenas temporário, se por acaso estiverem a perguntar. Regressar a Portugal é um tema que está presente na cabeça do Português sempre que ele se encontra no Estrangeiro, e trata-se de estar sempre a colocar numa espécie de "balança" os prós e os contras de viver num e noutro País.
Fui a Portugal, à boa maneira emigrante " Passar o Natal" como se costuma dizer. Este "passar", é como em " passar uma tempestade", ou "passar por entre um bairro degradado cheio de criminalidade num carro luxuoso com os vidros abertos".
"Passar o Natal em Portugal" para os emigrantes significa sempre vir a guiar, o que fiz. Até aí tudo bem. Vim sempre a acelerar até um máximo de 130 Km por hora, o que me levou a ser constantemente ultrapassado por outros emigrantes a bordo de Audis e Mercedes suíços. Os emigrantes na Suiça são os que têm os melhores carros. Carros de matrícula inglesa não ví nenhum, portanto se viram por aí em Portugal um , devia ser o meu. Muitos vizinhos da minha filha já deviam comentar entre dentes " mas ela já tem carta?", por a verem sentada no lugar esquerdo a falar ao telemóvel. Sem repararem que no lugar do volante, vive agora despreocupadamente um porta-luvas.
Vista da Base Aérea de Sintra , e lá ao fundo mais uma etapa deste plano sórdido de alcatroar e fazer estradas em cada centímetro de Portugal ( não ocupado por estádios e centros comerciais)
Em termos de máquinas, tive de vir ao Museu do Ar em Sintra. Talvez por ser dia da semana, tive o Museu praticamente todo para mim, e pude falar demoradamente com as pessoas que mantêm o Museu, aproveitando sinergias e conhecimentos comuns existentes nos dois países em relação ao restauro de aeronaves. Fiquei absolutamente surpreendido pela positiva com o cuidado e o empenho posto no Museu e com a qualidade das exibições. Com o entusiasmo que transparece nos funcionários e com os projectos em curso.
Excepção feita a pequenos contactos com amigos, posso dizer que este foi o episódio mais feliz da minha ida a Portugal. Uma manhâ onde estive cercado por máquinas , sem me chatearem, e onde nada mais interessou. O resto foi um desfilar de miséria, doença, desemprego e de pessoas que andam tontas da cabeça e já não sabem o que fazem. Centros comerciais e centros comerciais que despontam como cogumelos. Estradas, estradas, e mais estradas e viadutos . Tudo a pagar a peso de Ouro quando estiver pronto, que levará a malta a ir pela Estrada Nacional à mesma.
Eleições. Candidatos que todos já cohecemos de gingeira e que insistem em ver falar-nos das ladaínhas do costume, feitos vendedores de banha da cobra. " Os emigrantes são uma mais-valia importantíssima"-dizem eles sempre. Mais valia ficarem calados. Os emigrantes são imediatamente esquecidos no momento que colocam a cruz no boletim de voto. Eles e todos os portugueses. Segue-se então mais quatro anitos a viver à pala. Não estou interessado.
Um belo F-86 Sabre junto a um helicóptero Allouette II e um PV2, em Sintra
Era essa a "mais-valia" a que eles se referiam. Um exército de pessoas além-fronteiras que convém ter à mão e engraxar para lá irem depositar o voto. Por mim podem arranjar uma cadeirinha se estão à espera que eu lá vá votar e pôr lá algum deles. Espero que esteja um dia bonito para ir voar, lavar aviões, ou varrer o hangar. Quando falarem de "dever cívico" deviam antes pensar no "dever" como políticos de melhorar a Vida das pessoas. Adiante...
Uma última palavra aos meus "amigos" muito ocupadinhos que quando lhes telefonei me disseram: " Então vais-te embora em que dia? Dia 3? Ah, então a gente ainda se vê até lá..."
Os dias passaram , e a gente " não se viu até lá". Não se macem em ligar , que eu já regressei a Inglaterra há uma semana.Compreendo que estejam muito ocupados. Espero que estejam a enriquecer a trabalhar. Não se esqueçam de ir votar .