(bem ao de leve)
esse desejo
essa saudade.
Vou-os despindo peça a peça
sacudo-os sem pena
deixo-os pelo caminho
desarrumados
atrás de mim
assim
como se não fossem mais precisos
e vou andando
cada vez mais leve
pés no ar
(ah como é bom!)
acreditando
ao perdê-los
um a um
que, lá no chão,
já nem sequer tu, dragão,
depois de despidos
me vestes nenhum..
Deu-me uma saudade
assim de repente
de torre inclinada
castelo no ar
de coisa sem jeito
daquelas que não
hão-de acontecer
de história que nunca
ninguém vai contar
de nuvem, cavalo
azul e veneza
de passado algum
de outro presente
futuro sem ser
só pelo prazer
de dizer que sim
que tenho saudade
de qualquer coisa
estrada paralela
que não é para mim
só para eu sonhar.
Anda, vem comigo.
Finge que é verdade
esta inclinação
e na torre que quer
cair mas não cai
bem longe do chão
tira-me uma foto
só para provar
que esta saudade
que hoje me deu
é fantasia
muito verdadeira
(quase até real)
a morar no céu.
Desejava, porque desejava
ser princesa, rainha, até fada
bela, sereia, ave, heroína
salvar, ser salva, ser amada.
Não me lembro nunca de ter desejado
ser bruxa, vilã,
dragão, (dragã?)
monstro, pesadelo
carrasco, madrasta.
Estou aqui a sentir a solidão
dos não sonhados
mesmo sabendo que
(olhando o mundo)
alguém se distraíu
e às vezes os imaginou
imaginou, imaginou, imaginou
até poderem ser tocados.
Prometo desejar hoje
ser todos aqueles
que nunca sonhei.
E, quando os chegar a ser,
deixá-los lindos, puros
perfeitos
corrigidos
emendados
com outro sonho
que sonharei.
Os sonhos podem tudo.
E na palavra tudo
não cabe a palavra quase.(Ou quase não cabe...)