CASCATA DO INFERNO. VERSÃO DILÚVIO.
O Magnifico Cântaro Magro
Nível de actividade: 100 por cento!
Nível de diversão: 100 por cento!
Nível de humidade:... 100 por cento!
Resultado final e conclusivo da ultima sexta-feira (15), depois de um dia épico de escalada em gelo.
O Rui Rosado e eu elaborámos um plano bastante simples: uma viagem relâmpago à Serra da Estrela, a partilhar gasóleo e emoções, com o objectivo de escalar o máximo possível até o dia terminar.
O mau tempo de toda a semana impedia subir de carro ao ponto de partida mais ou menos habitual, a curva do Cântaro. Resignámo-nos a abandonar a viatura no Covão D`ametade e a empreender a aproximação mais longa, através do Covão Cimeiro.
A desvantagem da caminhada foi compensada com o panorama geral das cascatas de toda a área, desde a Curva do Cântaro, ao Corredor largo, passando inevitavelmente pela mais que famosa e eternamente desejada, “Cascata do Inferno”.
Vista geral desde o Covão Cimeiro
“Ali estão!” Lá em cima, confundindo-se com o branco da neve, encontravam-se duas cascatas que nunca em anos anteriores tinha visto formadas e, das quais desconheço qualquer ascensão.
Uma delas fora tentada no passado dia 9 de janeiro pelo Pedro Barreto que, por pouco não conseguiu a primeira ascensão. Nesse dia, o gelo encontrava-se bastante precário e o bom senso falou mais alto.
Desta vez, o gelo encontrava-se em condições aceitáveis e o Rui Rosado realizou a primeira ascensão com destreza.
O Rui a inaugurar a "Quitate la nitro!"
Mais dois momentos na "Quitate la nitro!"
Resolvemos baptizar a via com uma frase emblemática do filme magnificamente idiota: Limite vertical. Tratava-se de uma versão em Castelhano que o Rui havia visto no campo base do Aconcágua. Num dado momento, a meio da película, alguém grita: “Quitate la nitro! Quitate la nitro!”
Pouco depois, lancei-me à linha da direita que, confirmei encontrar-se mais instável. No entanto, a sua dificuldade era menor que a da via anterior e, com o apoio psicológico de um friend sólido, lá “conquistei” a cascata, inaugurando a “Nitroglicerina”.
Eu a dar-lhe na "Nitroglicerina"
Desde aí descemos “a correr” para o sector “Lafaille” onde, ainda se pôde escalar duas vias.
Entretanto, o mar de nuvens cerrado que durante todo o dia escondeu o céu, resolveu começar a despejar... água!
O sector Lafaille.
Sob uma chuvinha miudinha (a chamada “Chuva molha parvos”, em que os “parvos” seriam sem sombra de dúvidas: nós!), dirigimo-nos à “Cascata do Inferno”, com a atitude: “A ver se dá!”
Durante uns minutos estivemos a observar a bela linha gelada, sem saber o que fazer.
A chuva não parava de cair, comprovando de forma inquietante, altas temperaturas.
“E então?” Uns segundos de pausa para a resposta: “Por mim, tentava!”
Ao som das primeiras “pioladas”, à medida que progredia lentamente, a imagem de uma bela cordeleta enfiada num furinho “Abalakov”, a suportar uma fuga estratégica com o rabinho entre as pernas, preenchia o meu cérebro.
"Vai lá Roxo, a neve é mole!"
Mas, ao dobrar a secção vertical inicial, com as palavras de apoio do Rui (“Vai lá Roxo, a neve é mole!”), retomei a confiança e reforcei-a com um parafuso decente.
"Uff! Quase!"
O longo primeiro lance da “Cascata do Inferno” saiu sem grandes novidades e o bom senso ditou que a reunião deveria ser instalada em rocha, com dois “amigos”, colocados numa fissura “à bomba!”
"Nada como uns bons amigos!"
Nessa altura já estavamos encharcados como pintos. A água escorria pelas mangas do blusão e o gore-tex parecia mais um enxovalho, que uma peça de equipamento de alta-montanha.
O Rui a aproximar-se...
Prestes a concretizar um dos seus sonhos de Inverno na Serra da Estrela, o Rui escalou o segundo lance da cascata com soltura e, momentos mais tarde, gritava desde o topo: “Reunião!”
"Tá no ir!"
"Bota lá um parafusinho!"
Mesmo ao anoitecer (como previsto) chegámos ao Covão D`ametade.
Completamente ensopados mas satisfeitos, retomámos a estrada de regresso.
Um dia memorável!
O melhor alpinista do mundo?
É aquele que mais se diverte!
Paulo Roxo