terça-feira, abril 21, 2009

EL CHORRO


Chuva, chuva a norte, chuva ao centro, chuva a sul. Assim ditavam as previsões meteorológicas para o fim de semana da páscoa.

As dúvidas atormentavam-nos as ideias, à Daniela e a mim.

- E que tal o sul, SUL?

- Onde?

- El Chorro, por exemplo.

- Mmmm...


Vistas!


Pendurado num camalot 0,75, tento repousar alguns segundos. Olho para baixo e observo a fissura perfeita que corta a mega placa vertical com quase 50 metros. Desejava estar mais em forma para poder encadear esta extraordinária fenda.

Respiro fundo e retorno aos entalamentos de mãos para mais alguns metros de escalada.

Terminamos a via e começamos a procurar a reunião de rapel que se encontra instalada no lado oposto do penedo.

A outra margem da garganta oferece-nos a visão das paredes mais espectaculares do El Chorro.


As grandiosas paredes por cima dos tuneis.


E os incriveis tuneis!


Um ultimo rapel coloca-nos no “Caminito del Rey”, uma surreal passadeira que percorre a Garganta de los Gaitanes, suspensa sobre um precipício de cortar a respiração.



Um olhar desde os tuneis para "Caminito del Rey"...


...abismo assegurado!!


Com os últimos minutos de luz solar, pensamos onde podemos ir saciar a fome.

O estacionamento do parque de campismo de El Chorro, junto à represa encontra-se apinhado de viaturas. Adivinhamos o rebuliço de gente que neste fim de semana prolongado resolveram, como nós, escapulir-se da chuva intensa prevista para as terras do norte.

Na verdade, nem sequer o El Chorro, situado a sul da Andaluzia e conhecido pelo seu clima benigno, conseguiu ficar livre da massa de humidade que invadiu toda a Península Ibérica. Na sexta-feira choveu bastante, o que para nós nem foi muito negativo pois permitiu uma fugaz visita à emblemática cidade encantada de Granada.




Descobrimos um pequeno restaurante na margem oposta ao parque de campismo e refugio de El Chorro. Neste lugar mais tranquilo, em frente a um prato bem servido, fizemos a revisão do dia vivido na fantástica “Rayito de Luna, 6c”.


A Garganta de los Gaitanes.


A “Rayito...” foi aberta em 1984, por Andrés Ortega, Javier Rodriguez e Rafael Gamarro, quando apenas existiam três vias equipadas em toda a escola. Esta via ficou votada ao abandono durante bastante tempo. Por estar situada mesmo por cima das águas do lago formado pela barragem, as dificuldades de acesso eram obvias. Até ao momento em que foi equipada uma tirolesa em cabo de aço, mesmo à entrada da garganta. Essa tirolesa foi renovada recentemente, o que motivou abertura de outras vias no sector.



Um cú pesado! "Já tou velho para estas cenas!"


A Tirolesa... radical!


A travessia da tirolesa, incluidas as anterior e posterior “Ferratas”, demoram o seu tempo e a utilização de uma roldana para cabo de aço (que não dispunhamos) é fortemente aconselhável. Este factor, a juntar à obrigação de carregar os friends (coisa rara em El Chorro) não incentivam a repetições da “Rayito de Luna”. Na verdade, para mim e para a Daniela, pouco apreciadores da “confusão”, estes tornaram-se factores positivos.

Quanto à via, trata-se de um “ex-libris” raro. É uma via de fissuras, situada numa zona em que o forte são as desportivas de chorreiras, extra-prumos e as placas técnicas.


O primeiro lance... equivocado. O original está mais à esquerda (verificámos que não fomos os primeiros!).


O segundo largo... já no bom caminho!


A Daniela no terceiro lance.


O seu ultimo lance, constituído por uma mega-fissura que corta na diagonal uma grande placa, é considerada única em “El Chorro”. Com efeito, num mundo pejado de plaquetes, como o demonstra a grande maioria das zonas de calcareo de Espanha, esta linha sobressai pela sua quantidade mínima de expansivos, apenas existentes nas reuniões e dois exemplares, no inicio e a meio do ultimo largo, num local onde a fissura atinge as dimensões de um “Off-widht”. Os verdadeiros entalamentos de mãos vêm a seguir...


E a super-fissura!


Ainda...


O ponto negativo desta via está directamente relacionado com a própria localização geográfica. Apesar de ser escalada poucas vezes, a “Rayito de Luna” está longe de constituir uma aventura remota e isolada. Voltada para a estrada sinuosa que liga Ardales a Álora, qualquer escalada nesta parede transforma-se num chamariz para os turistas que por aqui passam. Muitos curiosos param os seus carros em meio da faixa de rodagem e, saem para fotografar os escaladores em plena faina.

De todos modos, o ruído ocasional do trânsito está dentro dos limites razoáveis, nunca atingindo proporções que transformem esta escalada numa experiência desagradável.

A “Rayito de Luna” é de todo uma via aconselhável.

Da próxima vez que visitarem “El Chorro” não tenham vergonha de juntar ao habitual Kit de expresses, um bom conjunto de friends... grandes incluídos!


Paulo Roxo





quinta-feira, abril 16, 2009

E agora na Figueira da Foz...

quinta-feira, abril 09, 2009

PIOTR MORAWSKI



Estava a trabalhar quando recebi a notícia por “chat”.

Apesar de imediatamente perceber que era verdade, não consegui evitar a pergunta “Are you joking? You must be joking”

Não me conformo, não quero acreditar!

Por algumas horas pesquisei na net “Piotr Dhaulagiri”. Só por força de ver repetidamente a mesma notícia, é que fui obrigada a admitir que não vou ver mais o sorriso de Piotr (que estava a contar ver este ano algures no Paquistão), a não ser nos meandros das minhas recordações.

O verão passado, eu e o Paulo Roxo tivemos a sorte de partilhar o campo base nos Gasherbrum’s com o Piotr Morawski e o Peter Hamor.

Esta dupla, para além de serem excelentes alpinistas, mostraram ser excelentes pessoas.

Recordo-me das trocas de divertidos SMS ao longo da expedição, do bom espírito com que se mantiveram nos duros dias de mau tempo algures no Gasherbrum I, quando estavam num ponto em que descer já não constituía opção. Soubemos assim, que aqueles dois passaram por um momento de desespero, quando consumiram as ultimas reservas de tabaco de enrolar que levaram para altitude. Salvou-os uma brilhante ideia (ainda hoje não sei de qual dos dois surgiu...não diziam no SMS!), a de fumar as ervas da preciosa bebida que na montanha nos salva a todos da desidratação: chá! A eles, salvou-os de um ocasional ataque de ansiedade.


Daniela, Piotr, Peter e Paulo

Piotr...Piotrek para os amigos era quem, pelas noites de campo base discutia os fenómenos de várias religiões com o nosso oficial de ligação. Era quem nos surpreendia com os conhecimentos que tinha sobre os mais variados assuntos. Era quem contava as piadas mais risonhas e as aventuras de montanha mais arrojadas, de uma forma tão humilde, que éramos obrigados a lembrar-nos que aquelas aventuras não eram para qualquer um (face norte do K2 invernal?!). Era quem muito nos fazia sorrir, e quem nos oferecia a tempo inteiro o seu sorriso bonito.

No diário de expedição, estas foram as primeiras palavras que escrevi sobre Piotr “Piotr é alto e bem constituído. O seu sorriso intenso, algo infantil, transmite a ideia de pessoa feliz. De trato fácil e agradável, faz prever que será bom companheiro de viagem”

De facto, a primeira impressão não enganou, ou melhor, enganou ligeiramente porque descobri uma pessoa melhor do que inicialmente imaginei.

O mundo perdeu um grande alpinista, mas acima de tudo um grande ser humano.

Tive vontade de escrever algo ontem, ou dizer mais de Piotr neste texto, mas não consegui, o pensamento mais forte, que não consigo abandonar é simplesmente este: não é justo.


Piotr e Peter celebrando a travessia do Gasherbrum I

Daniela Teixeira

sexta-feira, abril 03, 2009

Pequenas adições na Ponta Atlântica


Cabo da Roca... sempre magnifico!


Em Dezembro equipei, melhor dizendo, semi-equipei, uma via num recôndido sector do Cabo da Roca.

O super-equipador Nuno Pinheiro, acrescentou no ano passado, algumas vias na Ponta Atlântica, inaugurando um pequeno sector baptizado com o nome “Garganta atlântica”. São três vias de escalada desportiva com os graus a oscilar entre o 6b+ (salvo erro) e o 7c.

Para aceder ao sector era necessário rapelar e sair por cima.


Maaar!...


Numa visita ao local avistei um possivel alinhamento para uma nova via a começar desde a base das vias da Ponta Atlântica.

Havia lugar para abrir uma linha com dois lances.

No dia 24 de Fevereiro, durante um tranquilo dia de escalada, acompanhado pelo Timoteo, lá conquistei sem encadear e, em bom estilo “Bisonte”, a nova via, ainda húmida das chuvadas de semanas anteriores.


Timoteo no primeiro lance da "Garganta molhada".


O Francisco Ataíde, com quem por um acaso, coincidimos, resolveu dar um tirinho e, muito rapidamente, ficou resolvido o encadeamento da “Garganta molhada”.

“Sim, talvez um 6c+!” – comentou, como resposta à inevitável pergunta acerca da dificuldade da respectiva.

Para o segundo lance da "Garganta molhada" é obrigatório utilizar um camalot nº 3 (ou equivalente) e talvez algum friend mais pequeno, para os metros seguintes. A não ser que se considere que os chorões que infestam o canal sirvam como crash-pad!


Francisco a resolver a "Garganta molhada".


Rapelamos para a baía para desfrutar de mais algumas das agradáveis vias da Ponta Atlântica.

O Francisco resolveu inaugurar uma fina fissura, situada à esquerda da rampa de saída pedestre da baía. A “Micromachine (6b+)”, para a qual serão necessários alguns micro-friends e entaladores pequenos, faz parte de um par de pequenas fissuras que, apesar do seu aspecto convidativo, permaneciam virgens.


Francisco a abrir a "Micromachine".


Em Novembro do ano passado, depois de equipar o top (comum ás duas vias), a Daniela e eu abrimos a “Fissura esquecida (6a)”. Alguns entalamentos de mãos permitem subir esta via, “pequenina mas, ajeitadinha!”





Paulo Roxo