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quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Leva-me para o outro lado do tempo!


Leva-me meu amor nos teus braços para o outro lado do tempo onde a Primavera será infinita e as tuas mãos serão o meu leito de rosas...o veludo que seca as minhas lágrimas e o teu corpo será o rio que levará as minhas mágoas na voz do vento que me adormece na noite nua.

Deixa-me meu amor voltar a ser criança e correr de cabelos soltos ao vento por entre as papoilas da minha planície dourada...pisar o chão dos meus sonhos...mesmo que de mim despida e sobre as pedras do meu caminho deixa que escreva o teu nome como se fosse o último suspiro de amor exalado nos lençóis perfumados de rosas e de mágoas humedecidos.

Afaga meu amor os meus cabelos da cor das nuvens e as minhas mãos cansadas de prenderem a espuma dos sonhos...o meu corpo que se perdeu do tempo das flores...das melodias de Maio quando os meus anseios tinham asas...os meus desejos tinham casa e os meus dedos soletravam poemas de amor nos instantes suspensos no véu da ausência.

Deixa meu amor no meu corpo flores de madrugada virginalmente brancas como se fosse o luar da noite afagando as minhas mãos maceradas e frias.

Docemente meu amor pousa os teus nos meus lábios e não deixes que o sonho se apague dos meus sentidos...que a boca não arrefeça como se eu estivesse morta...que o meu olhar não adormeça por entre o véu de melancolia de quem não amanheceu.

Deixa que desenhe a tua sombra no meu sonho e a tua ausência no meu corpo...os teus silêncios na minha boca e que acorde a manhã no teu olhar...que tudo que foi amor adormeça no fundo da dor...na solidão da noite morta.

Deixa-me adormecer meu amor antes que chegue a alvorada e que os meus sonhos se transformem em espuma...caminhos sem regresso...espelhos sem imagem.


Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho )

domingo, 17 de novembro de 2024

Minha querida morte!


 Minha querida morte a minha dor é tão funda que não a consigo escrever e tão pesada que os meus ombros não a conseguem carregar .

Espera-me um lugar escuro e frio no Inverno que se aproxima...no fim do fim. Fiquei á porta do tempo...cheguei tarde á vida ou nunca cheguei...apenas por cá passei. Frágil passageira do destino.
Não sei se já nasci ou se estou morta. Muito difusa essa fronteira quando penso que na morte há tanta vida e em todas as vidas mil mortes. Talvez haja prazer na morte e quando o amanhã não chegar é porque o meu tempo terminou e partirei serena. Não tenho medo da morte...tenho medo da vida.

Minha querida morte estou sentada á tua espera como quem regressa a casa. Nada sei da eternidade...nem do céu ou do inferno. Não compreendo este mundo. A vida é um mistério e a morte uma certeza e o tempo foi apenas um empréstimo. Eu não me pertenço sou apenas uma ilusão. Um ser mortal e efémero. Depois de mim a vida vai continuar e a paz sonhada tocará o meu corpo e vão existir encontros e despedidas...novas flores vão nascer e novos amores acontecer. Apenas a minha estrada chegou ao fim e tudo vai continuar sem mim. Cada dia que passa a morte é-me mais familiar. Talvez uma irmã ou uma prima chegada e como se a procurasse deixo os caminhos que não trilhei...a vida que não vivi.
Minha querida morte és a deusa do meu aconchego...o sossego do meu cansaço. Abraço-te e digo adeus ao mundo enquanto deitas as tuas asas negras sobre o meu corpo exausto...És uma presença silenciosa a quem estendo os meus braços e digo do meu cansaço...do peso da vida...do amor e da dôr...do que não disse...do que não fiz.
E agora dorme meu coração que a noite dos tempos está chegando e tu estás cansado desejando encerrar todos os sonhos que não te foi dado viver. Já sinto o perfume da terra e só tenho pena de não mais olhar as rosas nem sentir o vento suão da minha Planicíe a afagar o meu rosto. A minha voz não mais será ouvida...serei apenas lembrança.
Só me dói deixar quem me fez viver...pedaços de mim que vivem em outros seres. Meus três amores...sangue do meu sangue e carne da minha carne. Quem mais amei nesta vida. Foram o meu altar...a minha razão de viver.

E...quando não precisar mais respirar encontro a paz! Eterno Retorno.

Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho )

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Calo os anseios!


 Calo os anseios...amortalho o desejo...sufoco o peito

Rasgo as palavras que me rasgam o corpo e anoiteço

Há um silêncio amargurado na solidão onde me deito

Mergulhada no abismo escrevo na alma este silêncio


Escorrem da minha alma rios de tristeza...gotas de dor

Escuros labirintos e desertos sem fim...sonhos perdidos

Lírios roxos presos nos meus olhos num grito de amor

Nos meus lábios sabendo a silêncio beijos adormecidos


Deito ao vento um adeus mudo que mora no meu olhar

Pelo último amor...pelo último sonho...pela última ilusão

Pelo passado e presente...pelo futuro que não vai chegar

A vida e a morte...rosa negra sepultada no meu coração


Silenciosa e triste junto os meus restos...pedaços de mim

Envolvo na solidão...fragmentos de céu negro e cansaços

No espelho enevoado do meu rosto procuro onde me perdi

Na noite que me cobre e me prende nos seus doces braços


O que a alma grita está no silêncio...no tempo que é noite

Nos meus olhos que são brumas...no coração que é vazio

Nos meus braços que são mar e onda enlaçando a morte

No fantasma deste amor...no abismo profundo deste rio


Caminho em silêncio na solidão da noite...passos errantes

Arde na pele este desejo...crava-se no peito esta escuridão

Cada espera é uma ausência...lamentos feitos de instantes

Há fantasmas nos meus sonhos...há vazios na minha mão


Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho )

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Quando já nada importa


 Quando já nada importa. Digas o que disseres passa ao lado...as tuas farpas já não me ferem...a tua indiferença não me magôa. Já não há prazer nem dôr...estamos juntos e distantes...um abismo nos separa num caminho sem retorno.

Já nada tenho a perder...tudo o que poderia ter sido não existe...roubaste-me os dias...os anos...os sonhos e a vontade de estar...de ser.

Tudo foi efémero e já é tarde para recomeçar. Já não sei quem fomos ou se algum dia fui alguém para ti. As emoções estão gastas e as palavras nada dizem. O silêncio entre nós fere como uma espada perfurando o meu corpo e a minha alma.

Somos dois longínquos vultos...linhas paralelas que não se juntam...olhares que já não se encontram...bocas que não se tocam...mãos que não se enlaçam e corpos que adormecem distantes...vazios e ausentes.

Já nada importa...nada mais me inquieta. Cada dia que passa um pouco de mim morre. Já nem há mágoa...o meu corpo está entorpecido...não sinto nada.

Deixei de ser mulher...o frio que vem do teu corpo congelou o desejo que ardia no meu. O meu coração está seco e o amor que um dia senti morreu com a indiferênça.

A vida está passando e de ti nada mais espero. Eu não sou tua e tu não és meu...estamos presos no limbo de um passado que não volta...na nossa vida nada se consumou. O fosso que se abriu foi demasiado profundo como se fosse o túmulo da minha ilusão...o funeral de um grande amor.

Aquela mulher que se anulou como ser humano (porque estava apaixonada) já não existe. Essa mulher morreu quando a venda que tinha nos olhos caíu e finalmente vi que o que tinha sonhado só na minha cabeça existia. O principe idealizado só nos meus delírios era verdadeiro. Foste um remédio amargo que fui bebendo dia após dia...ano após ano...gota a gota...lentamente.

Hoje apenas há silêncio entre nós. Um mudo diálogo sem palavras e sem gestos...dois estranhos vultos sombrios e gélidos que se olham sem se ver...que se tocam sem sentir.

Rosa Maria ( Maria Rosa de Almeida Branquinho )