sábado, agosto 16, 2014

CLAMAM A DEUS E MATAM A SEGUIR CEGAMENTE


Cristãos minoritários são queimados vivos por muçulmanos sunitas radicais na Nigéria. Tudo acontece com a maior frequência, numa barbaridade que os próprios cristãos assumiram há muitos séculos, com as suas Santas Cruzadas, e a partir de uma civilização teísta. Foi há muito tempo. E a distância tem agora, na Nigéria, um cunho de maior dádiva aos céus do que os seguidores de Cristo e de um Deus omnipresente e omnisciente. A contradidção religiosa, nos nossos dias, dissimulando outras razões, tem usado os mais absurdos pretextos para redifinir o poder e os territórios, separando as etnias. Estas imagens obscenas estão a ser divulgadas por gente indignada com o aumento de tal pestiferação e, sobretudo, com a anemia dos muitos povos civilizados, dotados de meios e de cultura incompatíveis com este alastramento da ganância, da vileza, das mais terríveis cegueiras.

              COMO SE FALA  ALÁ? E A QUE DEUS FALA CRISTO?

segunda-feira, agosto 04, 2014

REGREDIR AOS DEUSES EM FÚRIA




O mundo inchou na inquietante metamorfose da globalização. A Europa era uma área civilizada que pertencia à ideia, em parte derivada do sistema de alianças concretizado após a segunda guerra mundial, e a cujo sentido se dava o nome de civilização ocidental. Apesar de ter vencido a guerra com os Aliados Ocidentais, a União Soviética, fria, comunista, dona de uma partilha que levou Estaline a destroçar mais de vinte milhões de camponeses em nome de uma unificada reforma agrária, considerava o como lado do inimigo, o Ocidente dos males do consumo e da tecnologia da morte, cheio de ricos e pobres. Por cima de tudo isto mandava Deus (unificação dos deuses da antiguidade, mais humanos e divertidos). Deus, felizmente, não existe: o que, parecendo um ardil, nos salva de maiores asneiras e patéticos destinos do absurdo. Havia os que afirmavam ter o homem sido feito à imagem e semelhança de Deus: pobre criatura, o homem. Nunca mais entendeu as semelhanças que o distinguem  de todos os outros seres vivos (ou sobretudo) nem a diferença perante os seus irmãos, paradoxo de uma grandeza criadora. Preferir a destruição e o genocídio é negar a própria História e os homens invulgares que ajudaram a descobrir milhões de bens após a Era da Obscuridade, longa, penosa, laboral. só têm, por vezes, homenagens litúrgicas.
Li há dias uma crónica da Clara Ferreira Alves que me comoveu e fez relembrar a grande inquietação que sinto ao ver muitos dos meus pressentimentos confirmados pelo mundo fora, desde a  moscas amarelas, aos milhões, que atravessam os nossos céus, numa mobilidade da internacionalização e dos gostos um pouco pueris dos homens fugirem (de novo nomadizados) em busca de dinheiro e conforto, exílios cruzados, aves de metal atravessando os oceanos ou mergulhando neles para sempre. Trocam, a cada acidente de descida das bolsas, de país e de identidade, nomadizam-se como  nas sangrentas marchas da pré-história. Desta vez até foram para a Austrália e Nova Zelândia, alguns voltaram intoxicados pela diferença e pelo trabalho escravo que jamais aceitariam no Alentejo ou em Trás-os-Montes.
Clara escreve: «Eram civis apanhados numa guerra». Eram e mal sabiam que céu atravessavam. «Morreram cruelmente, desnecessariamente.» Tratou-se de um missil militar, manejado, na Ucrânia, por uns travestis de rebeldes (orientados pela Rússia) e ajudados por eles em quase tudo: no disfarce, na conquista de terras ucranianas, na escolha do dedo que apertou o último botão: deus em baixo a destruir mais de duas centenas de seres humanos, assaz grandes cientistas, só porque sim, porque  aquilo  podia  ser do inimigo,
porque as costas estavam quentes e a logística estava mesmo ali à mão de semear. Tratou-se de uma monstruosa operação dos interesses russos, Putin impávido, os ocidentais embaraçados com o dinheiro e as suas assimetrias de poder. Infelizmente, a Alemanha é muito grande para a Europa e pequeníssima para mandar nos outros à sua volta, da América aos Estados da Ásia.
Caíram cadáveres do céu. Os tais rebeldes apressaram-se a caçar as caixas negras e a enxovalhar os mortos e os destroços que deveriam ficar inertes, intocáveis, para que os peritos internacionais devolvessem com dignidade os restos a quem de direito. A esta gente nada importa, porque o seu clube não tem princípios e Putin gargalhou perante as sanções europeias e americanas, ele que tem meios para ripostar e gosta da grande memória que o cerca, entre novos companheiros carregados de ouro e especiarias da corrupção. Disseram em Chipre, eu não vi.
Um pouco de tudo ao mesmo tempo, o Afeganistão continua a viver em guerra, o Iraque desmantela-se, a Síria continua a arder, enquanto a ONU, inutilizável, emite despachos para que a rapaziada tenha juizo. Gaza está na agenda e os jornais (de venda) esquecem os outros pontos. Seja como for, a arrelia dos Israelitas começa a ser insuportável, como o seu homónimo Hamas -- e digo assim porque Israel não reconhece a urgência em sedimentar os Estados da zona Palestina, enquanto o senhor do Hamas grita: "sem a destruição do Estado de Israel, que foi roubado à região, não haverá nem paz nem legitimidade devidamente enquadrada." Israel rompe mais fogo, quer deixar uma marca profunda e desproporcionada em Gaza. É claro que nunca mais pensou nas guerras que encenou e nos territórios que ocupou e onde fez construir centenas e centenas de colonatos. Parte das terras em que combate são de outros, ainda que tenham estado sob a sua ocupação, como continua a acontecer, o que parece estar para aumentar, extensível a outras zonas.
Enquanto o mundo arde desta forma, havendo cerca de 2.000 mortos em 25 dias de combate na faixa de Gaza, uma guerra é travada, na multiplicação das páginas, pela imprensa, um jornalismo rasca e explorador do efeito de horror, sem, a par disso, aprofundar a história e as linhas de desenvolvimento destes conflitos. O mesmo faz a televisão, a nossa menos, porque decidiu entretanto intoxicar toda a gente com um tal Portugal, Danças, ruidosos Concursos, publicidade e Novelas. Um dia tem que se legislar sobre o modo de alinhar os programas, respeitando os seus conteúdos, claramente para melhor, estabelecendo aí onde e como devem ficam as coisas, qual a sua arrumação. Neste momento vê-se mais publicidade do que televisão séria. A cultura, massificando-se, regride, salpica-mos a cara de lama em sucessivos cortes por todo o lado, por cima dos filmes ou novela, entre fracturados programas, trinta minutos de palhaços para voltarmos ao tema do programa anunciado nos jornais.
Morre-se um pouco por toda a parte. Até com o Ébola. Clara acentua a sua análise a certa altura e eu vou terminar aqui:
Na Europa um crime contra a humanidade foi cometido com a benção e as armas de Putin, e as audiências, opiniões, manchetes e poderes constituídos decidiram que não tinha importância.

Já me esquecia: enquanto não prendem os meliantes da finança, os cidadãos portugueses foram hoje, ordeiramente, informar-se junto do BES (agora NOVO BANCO) como estava a sua situação e como deveriam ir esperando e procedendo. O melhor Povo do Mundo, dizia justamente um ministro das finanças, nosso, que já voa pelo FMI e fartara-se de fazer ajustamentos. 

quinta-feira, julho 31, 2014

GAZA MORRE SOB O IMPÉRIO JUDAICO






A cidade de Gaza foi fundada aproximadamente no século V a.C. por piratas do Mediterrâneo que se denominavam Filisteus e chamaram a região de Filisteia.
Após diversas invasões(tribos israelitas, babilónicos, persas e assírios), caiu nas mãos dos macedônios, cujo processo de imperialização possibilitaram-na o contato com a cultura das hélades gregas (helenismo).
Quando os romanos invadiram Israel, também submeteram a cidade de Gaza e região.
Por muito tempo ficou em poder dos bizantinos e árabes, foi dominada pelos otomanos e, enfim, pela Inglaterra ao fim da Primeira Guerra Mundial.

Partilha de 1947


Mapa da Palestina realizado pela ONU em 1947 após a partilha.

Durante centenas de anos, o Império Otomano dominou Gaza, até que o território - junto com o restante da Palestina - passou para o controle dos britânicos, com o final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Durante a primeira Guerra árabe-israelense, logo após a criação do Estado de Israel, Gaza absorveu um quarto das centenas de milhares dos refugiados palestinos expulsos das áreas que hoje fazem parte de Israel.[1] [2] Com o fim do mandato britânico Gaza ficou sob domínio egípcio.
Guerra dos Seis Dias de 1967
O território ficou sob controle do Egito entre 1949 e 1967, exceto em um curto período, durante a crise do Canal de Suez, quando foi ocupado por Israel. Depois da Guerra dos Seis Dias, Israel passou a dominar a Cisjordânia, Jerusalém Oriental (ambos anteriormente controlados pela Jordânia) e a Faixa de Gaza. Em todos estes territórios, o governo israelense promoveu a construção de assentamentos de colonos judeus.

Acordos de Oslo de 1993

Retirada israelita de Gaza

Em 2005, o então primeiro-ministro Ariel Sharon executou um plano de retirada de todos os 8 mil colonos israelenses da Faixa de Gaza, bem como as tropas que os protegiam. O plano também previa que Israel continuaria a controlar o espaço aéreo de Gaza, seu mar territorial e todos as passagens de fronteira.[3] [4] Em setembro, a retirada israelense foi concluída.[1]

A situação na Faixa de Gaza começou a se deteriorar depois que o Hamas venceu as eleições legislativas palestinas, obtendo 76 das 132 cadeiras do Parlamento Palestino, em janeiro de 2006.[5] No entanto, as profundas divergências políticas entre o presidente Mahmoud Abbas da Autoridade Nacional Palestina, pertencente ao Fatah, e o primeiro-ministro, Ismail Haniyeh, do Hamas, resultaram em violentos confrontos entre militantes das duas facções rivais na Faixa de Gaza, em 2006 e no início de 2007, com um grande número de mortos e feridos.[1] [6]

Confrontos em 2006

Em junho isto  2006, as Forças de Defesa de Israel lançaram sua primeira grande operação militar contra a Faixa de Gaza, desde a retirada dos colonos judeus do território palestino. Chamada de Operação Chuvas de Verão, a ação de Israel visava a resgatar o soldado Gilad Shalit - capturado no dia 25 de junho

Estes dados servirão sumariamente para se perceber um pouco do drama que se vive naquela região há tantos anos e sem que à parte lesada se tenha feito um mínimo de justiça. Israel foi implantado no território palestino onde havia população e actividades vitais ou de sobrevivência.
O dinheiro, a emigração e a tecnologia alargaram a força de Israel e a capacidade de impor pontos de vista não negociados, nem entendimentos sem invasão de territórios não integrados no acordo a favor daquele país. Israel não reconhece os palestinos nem o seu direito à formação de um país. E o movimento radical Hamas grita, a todos  os ventos, que a sua nação será erguida a troco da irradicação de Israel, quer em termos de presença, quer em termos de Estado. É caso para se dizer: tudo isto vem tarde demais. Mas um dia, não se sabe quando, Israel terá autoridade para impor um sistema a todo o Médio Oriente? Nunca será submerso? Todas as grandes potências do mundo vão poder usar da força sempre, e sempre a favor de Israel, cuja crença no destino divino acham que lhes pertence? Mas eles não sabem que Deus, visto nessa perspectiva, é também um abismo, milhões de vezes maior do que o maior buraco negro do Seu Universo?

quinta-feira, julho 24, 2014

CPLP + GUINÉ EQUATORIAL + GODOT




A presença de Portugal na CPLP «esteve em risco», caso não tivesse dado carta verde à entrada da Guiné Equatorial, confidenciou à Comunicação social uma fonte do Governo conhecedora das negociações. Depois de anos de resistência portuguesa, e com a cimeira de Díli a aproximar-se, as negociações tornaram-se mais difíceis. Dilma Rousseff e José Eduardo dos Santos, presidentes do Brasil e Angola, forçaram a entrada. Com uma ameaça: se Portugal tivesse insistido em dizer não, os outros países ameaçavam formar «união jurídica, uma união PALOP mais o Brasil», explicou a mesma fonte. Um exemplo ilustra a determinação de Dilma nesta recta final do processo: o Brasil «queria que a Guiné Equatorial ficasse já com a presidência da CPLP», na cimeira desta semana em Díli. Teodoro Obiang Nguema «nasceu do demónio e alimenta-se do medo de um povo medroso». Sentado no Centro Cultural Espanhol, em Malabo, capital insular da Guiné Equatorial, Luís Nzó, 49 anos, não cala as críticas ao Presidente que governa o País com mão de ferro desde 1979, entre várias acusações de violações de direitos humanos, torturas e assassínios de opositores. «Pode escrever o meu nome. Morto já estou eu porque não posso desfrutar da minha vida. Eu já morri», diz Luís, que nasceu na terra natal do Presidente, Mongomo. Já foi exilado, voltou em 1990, confiante no início do processo de democratização e envolveu-se na vida partidária. Foi preso e agora está sem emprego, a viver numa barraca no centro de Malabo à espera da queda de Obiang. 
De etnia Fang, a mesma do Presidente, Luís é duro nas acusações e deseja que Obiang seja castigado pelos crimes que cometeu pelo próprio povo «e não que esperasse pela sua morte». O tema da sucessão está presente nas conversas das ruas da capital, entre apoiantes e opositores. O chefe de Estado tem como um dos vice-presidentes o seu primogénito Teodoro Nguema Obiang Mangue, conhecido por Teodorín. «Se o filho ficar no poder será muito pior e mais complicado para todos nós», desabafa Damien, morador no centro da cidade, o Centro Cultural Espanhol, em Malabo, capital insular da Guiné Equatorial. 


Memória selectiva da ditadura
Luís oferece-se para percorrer as zonas mais pobres de Malabo e mostrar a outra face do país. No dia seguinte, aparece vestido com uma t-shirt com uma foto de Francisco Macías, o ditador derrubado por Obiang em 1979. As organizações internacionais de direitos humanos consideram o regime de Macías como uma das ditaduras mais brutais de África, com a morte de milhares de opositores, a destruição do sistema de ensino e de todo o sistema produtivo (encerrou roças de café e cacau e chegou a proibir a pesca). Mas para Luís, «a ditadura foi sempre a mesma. Ele [Obiang] era quem fazia as coisas». Obiang, sobrinho de Macías, passou a ser o principal responsável militar da ilha de Bioko (antiga Fernando Pó), onde estava a capital política, quando o ditador foi para a sua terra natal, Mongomo, no início da década de 1970.
Alguns elogios ao antigo ditador ouvem-se na rua, por oposição ao actual presidente. Desempregado há sete anos – «apenas por ser da oposição», diz – Andrés Ondo Mayie recorda que «Francisco Macías tinha um dom natural para falar com as pessoas» mas «não tinha decisões próprias», porque quem «decidia tudo era a sua mão direita», Obiang. Maye não tem dúvidas: «Macías ditava mas apenas porque era o chefe de Estado» e «foi melhor Presidente porque ajudou a construir infra-estruturas e telecomunicações». Além disso, «Macías sabia que havia petróleo mas exigiu que fossem empresas e técnicos guineenses a fazer a investigação», ao contrário do governo actual que «está a colocar o dinheiro todo nas mãos dos estrangeiros».
Apesar de tudo, o desejo de democracia levou-o a colaborar no golpe de 1979. Ainda guarda cicatrizes no corpo de um estilhaço de bala mas Maye diz-se desiludido com Obiang e mesmo com a independência, tendo em conta a «miséria em que o povo vive hoje». Durante o tempo colonial, «ganhava-se pouco, mas chegava para colocar os filhos a estudar na escola e os encarregados das quintas até conseguiam pô-los em Espanha».
Hoje Mayie, o antigo professor de hotelaria, com curso de Marbella (Espanha), diz que o país vive «em medo permanente». Assim se explica o receio das fotografias que existe em todo o território. São proibidas fotos e as pessoas reclamam quando um estrangeiro fotografa na rua. «Pode até ir preso. Há casas fotográficas mas não há quem tire fotografias porque as pessoas têm medo», diz.

Medo é pilar do regime
Luís Nzó diz que os guineenses que permanecem no país vivem «paralisados pelo medo». É esse «medo aterrorizador» que bloqueia qualquer tentativa de derrubar o regime. A isso soma-se a desorganização dos opositores e a ausência de recursos militares, porque o exército é liderado e controlado por elementos do clã presidencial, Esangui. O líder do único partido da oposição com assento parlamentar (um lugar em cem eleitos), o Convergência para a Democracia Social (CPDS), concorda e diz que o regime assenta parte da sua sobrevivência no medo. «A ditadura assenta sobre três pilares»: a pobreza, a ignorância e o medo. «O regime começou por empobrecer a população e deixou os cidadãos completamente dependentes do poder», começa por explicar Andrés Esono Ondó. Depois, a prioridade é a «desinformação e a ignorância». O «regime procura cultivar a ignorância e, apesar do petróleo, não constrói escolas para formar as pessoas, porque sabe que as escolas não ensinam apenas conhecimentos, mas também dão uma educação cívica e social». Resta o medo. «O regime não apenas marginaliza, também tortura e assassina. A política é a morte. Um cidadão que queira fazer política corre o risco de sofrer prisão, torturas e mesmo a morte», diz o dirigente, que esteve preso «várias vezes». Quando são as eleições, «obrigam-nos a votar publicamente no partido do poder» e os «guineenses estão incapazes de reagir ao que estão a sofrer».

segunda-feira, julho 07, 2014

EM DEFESA DA LÍNGUA PORTUGUESA



 Em defesa da língua portuguesa, 
o remetente desta mensagem  não  adopta o 
«Acordo Ortográfico» de 1990,
devido a este ser inconstitucional, linguisticamente
inconsistente, estruturalmente incongruente (para além de, comprovadamente, ser causa de crescente iliteracia em publicações oficiais e privadas, na imprensa e na produção em geral


José Miguel Gervário

terça-feira, julho 01, 2014

MORTE DE TRÊS JOVENS ISRAELITAS


Os três jovens israelitas, desaparecidos ontem, foram encontrados mortos perto da localidade de Halbul, em território palestiniano.
Eram seminaristas e foram vistos pela última vez no colonato judaico de Gush Etzion. Tratava-se de Eyal Yifrah, de 19 anos, Gilad Shaaer, de 16 anos e Naftali Fraenkel, também de 16 anos e dupla nacionalidade israelo-americana. Da parte de Israel as culpas foram atribuídas ao Hamas, tendo o primeiro-ministro declarado que «O Hamas vai pagar». Isto é tanto mais grave quanto o Hamas proclamar a necessidade de apagar na região o Estado judaico. Israel retaliou rudemente, como é seu requisito estratégico, e mais rupturas se abrem na região. Só não se percebe é porque razão Israel, ao não reconhecer nem autorizar um Estado Palestiniano, tendo aproveitado conflitos armados para construir verdadeiras cidades de colonatos em territórios que nunca lhe pertenceram (pela convenção estabelecida sobre Israel entre a Palestina, a Inglaterra e a França). Até quando julgam poder bater-se, sem a América atrás, com todos os Hamas, os que subsistem e os palestinianos em geral, votados a uma terra que não podem governar, explorar, amar, já que existem ali desde épocas bem remotas?

terça-feira, junho 10, 2014

AS COMADRES ALFACINHAS NO PÓS-TROIKA


Alguém chegou ao limite do seu tempo, sobretudo nas horas da mentira. 17 de Maio, em 2014? Qual quê? Portugal tinha recorrido à velha manha de não prevenir leis ou orçamentos ao Tribunal Constitucional: o Presidente assina e promulga e a bicharada recorre àquele orgão de soberania, latidos e risos, urros e cuteladas: «Queiram V. Exas tomar na devida medida o nosso protesto contra certas reformas, protesto de direito através do qual assinalamos a maior dúvida sobre a constitucionalidade de cortes nos restos dos salários dos funcionários (outrora) públicos, linchamentos de reformas dos velhotes a que falta o toucinho da dupla ração, além da SES (é mais bonito assim), coisa que arrasa de novo pensionistas e outros, tendo passado de uma falsa solidariedade para uma impossível sustentabilidade.»
E assim tendo sido, «quatrocentos» anos depois, o tribunal Constitucional escreveu 150 páginas de «acordeon» para dizer que a lei proposta era inconstituicional, o que equivalia a uns 600 milhões de euros. É preciso remendar esta bronca com mais colheitas, até chegar aos 1200 milhões da mesma moeda.
Estado: «Então que chacota é esta? Mais cortes, menos dinheiro, menos toucinho, mais sustentabilidade? A gente não vai nisso. Negociamos com a troika, que ainda nos deve dinheiro, e partimos para amanhã, pedindo ainda ao juízes que nos expliquem se aquele recorte se aplica amanhã ou hoje. Como fazer com o que já se pagou em duodécimos e agora tem de se continuar à tranchada rápida.» 
Estava o país nesta fantochada (que se estava mesmo a ver desde a não prevenção) quando o António Costa (aquele da costela indiana) arrebatou do comunicador e comunicou que decidira candidatar-se a secretário geral do PS e o Mário Soares bateu palmas. Seguro, cada vez mais irritado com a falta de papel para desempenhar, disse: «nunca me demitirei».
Não se faz nada, um Congresso nem nenhuma farsa dessas. A democracia às bases. (Otelo regougou de satisfação: «Eu não disse? Que isto só ia com a verdadeira participação das bases?») E pouco depois já Seguro assegurava que era preciso mandar os estatutos do partido às malvas, começando por avaliar a vontade dos militantes e simpatizantes numas eleições primárias, coisa que ele mesmo tinha julgado impróprio para o PS, na sua representação da cultura popular do país. Começou a balbúrdia, eleições para eleições, perguntando a pseudo simpatizantes: «Ouça lá! Já alguma vez votou no Partido Socialista? * Eu cá não, não senhor...* Bom, mas isso não quer dizer que não simpatize agora com estas figuras , o José Seguro como secretário...» * «Se calhar. Assino aonde?» * Aí em baixo, onde diz CONCORDO» * E o povo assina. Não importa que aquilo não esteja nos estatutos: é preciso ganhar tempo e abater a onda de fundo que o Costa já arrasta numa enorme Surfada. Pois bem. Isto dito assim até parece leve, mas o facto é que demonstra a insanidade da nossa política e outras coisas undergrownd: uma constituição para rasgar, uma austeridade para banalizar, uma aldrabice de ditos e não ditos, a troika toda contente porque talvez se safe de pagar aos lusitos a última tranche.
Tudo isto vem daqueles monstros que os americanos inventaram para dar cabo do cinema e das mentes infantis.

terça-feira, maio 27, 2014

EUROPA: PS VITÓRIA DE PIRRO. VER LEGISLATIVAS





Uma verdade crua e nua, esta vitória saudada no primeiros minutos como uma indiscutível ordem de varrer as regras para avançar com eleições antecipadas, eis uma derrapagem emocional sem pés nem cabeça. O grande partido que é o PS não ultrapassou os quatro pontos de diferença da coligação e esta, proporcionalmente, nem sequer foi ao fundo. Mas os nossos carnavais são assim, cabeçudos, repetitivos. Toda a gente sabe que o secretário geral do Partido Socialista continua, desde o início, agarrado a uma espécie de disputa propedêutica com a Aliança de governo, entre birras de bancada e discursos sem doutrina nem fundamentos estratégicos para um futuro verdadeiramente pós troyka, incluindo a reforma do Estado, coisa que Passos Coelho e Paulo Portas embrulharam numa lista de generalidades sem estudos adequados, espaços de interacção, organograma permitindo a viagem desses vários racords e a avaliação dos recursos, tecnologias, reforço da formação de quadros. Ainda bem que Paulo Portas chamou guião ao seu esboço: porque toda a gente sabe que um guião guia, raramente estrutura: nas artes do espaço e do tempo, o guião é transformado em projecto e na forma conjuntural de algumas ideias: pode ajudar a realizar o modo de formar e a própria forma estruturada que o projecto já anuncia.
Um trabalho assim não precisa de biliões de euros; mas tem de ser feito num grande espaço adequado a diversas escritas, sobretudo da informática e gabinetes de coordenação e estudo dos elementos quantitativos e qualitativos, entre actividades, conseguidos com antecipação.
Ora nada disso foi feito e os partidos disputaram, como legislativas, as eleições europeias, ficando todos, excepto o PCP, em má posição. José Seguro louvou o PS como nos velhos tempos e discursou mais uma vez sem ideias, nem qualidade formal, nem coisa nenhuma. Todo o percurso do PS nestes três anos foi prejudicado por esse personagem e os votos são expressivos de uma perigosa renúncia a um primeiro ministro com aquele perfil. Não fiquei espantado, no «noticiário da Uma», ouvir António Costa dizer que está na disposição de disputar o lugar de Seguro, tendo agendado um encontro leal com ele. Seria bom que esse percurso arrancasse e mudasse as neuras, antigas raposas, astenias e anemias. Ao contrário, talvez haja uma abstenção de terror.

sábado, maio 24, 2014

A EUROPA AINDA JUSTIFICA O NOSSO VOTO?

eurocracia


Diz um conceituado jornalista português:«Quantos ainda acharão que a Europa vale uma ida às urnas?»
Em boa verdade, este é um dos mais graves problemas que o país viveu nos últimos quarenta anos, desde aquelas horas, após catorze anos de guerra nas colónias, quando, em vez de descolonizar, abandonou quase de súbito, aos trambolhões e sem contrato sobre valores de toda a humanidade, os tais territórios reivindicados pelo mundo inteiro. Territórios que se chamavam eufemisticamente "Províncias Ultramarinas"e são hoje países a reemergir, tendo em conta a riqueza e as ajudas de novas massas de emigrantes (entre os quais, quatrocentos mil portugueses) para trabalhar, projectar e coordenar. São os novos colonos, sob novas leis e novas alcunhas: os portuga passaram a praga dos portugueses.
Mas voltemos à Europa (chamada agora, com cinismo, União Europeia) e às metamorfoses que vem sofrendo a senda terrorista da globalização.
As grandes potências que constituem hoje a União Europeia, todas antigas nações colonialistas, no melhor e no pior sentido, livraram-se muito  a tempo e com importantes compensações dos enormes territórios que exploravam, ainda hoje a funcionar de forma sorrateira e à distância, e depois da última guerra, em que a Alemanha, mais uma vez, perdeu as pretensões de governar o mundo por mil anos, as nações enfim desocupadas e o espírito dos países Aliados, sobretudo com os dólares do Plano Marshall, entenderam-se com um sentido de razoabilidade, partindo para a grande reconstrução das nações atingidas pelo conflito. A partir de maiores patamares da estabilidade, grandes personalidades do tempo, como Konrad Adenauer, Joseph  Bosch, Gaspari, entre vários outras, sobretudo Jean Monnet, Robert Schuman ou Willy Brandt, estabeleceram e lutaram por um decisivo projecto europeu, tendo em conta um sentido solidário entre os Estados, paridades de certos direitos estruturais. O peso da Alemanha, ou da França, ou da Inglaterra, desviaram da coesão necessária o quadro dos valores de consenso e, fustigando os países em dificuldades, em particular perante uma moeda (o euro) talvez mal construída,  mal usada e relacionada, fizeram centralizações de direcção (Alemanha), o que desarticulou a construção geral, a própria comissão, o poder do parlamento (orgão vital e de orientação de conceber e planear a base legislativa), entrando a região numa enorme crise económica e financeira, apesar do papel do Banco Central, países como Portugal sujeitos a resgates humilhantes e de duvidoso resultado futuro, tudo a depender da ganância especulativa dos credores escondidos atrás das histéricas agências de "rating" a manobrar os créditos a juros do inferno e códigos de jogos de computador.
Esta Europa, a realidade que nos resta, não é a que foi desenhada nos tratados de Roma. Desenvolveu-se em derivas imprevisíveis, pressões inesperadas, numa geral impreparação para corrigir desvios e novos tratados tóxicos. A memória, cultura e e novas perspectivas de desenvolvimento das várias nações integradas na UE mal percebem que estão cada vez mais aptas a aceitar conceitos alheios sobre economia, reajustamento, austeridade, cortes de toda a espécie, em nome de um futuro modesto mas pacífico. Ora não é isso que decorre do manejo dos juros entre grandes e pequenos países, decisões unilaterais, degradação do espírito e nobreza anteriores. A falta de resposta das políticas europeias aos problemas concretos que as famílias enfrentam todos os dias, incluindo pelo contexto político, atrai os grupos políticos de uma direita que aponta aos nacionalismos, e desfaz uma já mal desenhada federalização.
As eleições para o parlamento europeu passam por tratos de insensatez, desligando-se dos grandes debates sobre a Europa e remoendo quezílias de cada país, o que nos faz pensar na má qualidade das futuras prestações e sobretudo na incapacidade de fazer frente à xenófoba divisão norte/sul.
Diz hoje Miguel Sousa Tavares, na sua crónica do Expresso: «Talvez um dia a História desminta, mas, até lá, vou continuar a acreditar que o alargamento da Europa a Leste, até ao ingovernável conjunto de 28 países que hoje constituem a UE, foi um sábio plano premeditado pela Alemanha para, de duas uma: ou liquidar a UE, tornando-a ingovernável, ou tomar conta dela, sob o pretexto de ser ingovernável.»
Como votar? Para quê votar? Votar é um direito constitucional de escolha para a gestão dos países ou grupos de países, entre outras situações. Mas agora, em Portugal,  depois de uma terraplanagem e de um governo sem voz na UE, as listas para os  parlamentares europeus são ilegíveis, em certos casos mesmo impensáveis. Há muitos cidadãos que pretendem exercer o seu direito de voto anulando a escolha, abatendo a legitimidade do boletim. Mas o não-voto por abstenção, ainda que lamentável  por todos os que se vêem cercados de vazios, é também uma escolha: a percentagem abstencionista tem a sua leitura, terrí-vel mas legítima. Escolher numa lista entre várias, por mero descargo numérico e sem confiança, pode cuidar de certos perigos, mas nunca para uma boa solução, quando não há concretamente soluções por este método eleitoral, que os políticos sabem bem que já devia ter sido substituído, a bem do país e de todos os eleitos e eleitores.
Talvez não chova amanhã.

sexta-feira, maio 02, 2014

RUI MÁRIO: MORREU UM PENSADOR DAS ARTES


RUI MÁRIO

Quando me contaram não me ocorreu o que deveria dizer. Morrem os amigos e os que pensam sobre coisas que também nos movem. Um aneurisma, um assalto sem honra nem limite. Conheci Rui Mário na altura em que tinha já alguns anos de docência na antiga Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. E na SNBA. E na AICA. Escrevi nos mesmos jornais e revistas onde ele se exprimia como crítico de arte. Discutimos o fim e o princípio das artes, a escrita, a pedagogia neste âmbito. E um dia ele escreveu o único verdadeiro ensaio que alguém escreveu sobre a minha obra, no catálogo de uma exposição na Judite daCruz. Um dia, na Bucchholz, que ele então dirigia, tocou-me no braço, parou, olhou-me com grande precisão e disse-me: «Você tem ali um grande livro». Eu voltara de Angola e escrevi vinte anos depois um livro sobre a guerra em que participara. Era sobre esse livro que ele me falava. Era ao mesmo tempo sério e divertido, discutindo sobre arte com os dois tons no mesmo tom. Tinha o sentido da luta mas não da violência. E habitava as crenças maiores do século XX quanto à arte moderna.
Irmão de Eurico Gonçalves, outro grande amigo, licenciado em Ciências Físico-Químicas mas interessado desde muito cedo pelas artes plásticas. Dedicou-se à crítica de arte e desenvolveu, como professor de Estética, muitas iniciativas entre estudantes. Recebeu o Prémio Gulbenkian de Crítica de Arte, tendo colaborado nas melhores revistas nacionais, além de jornais. Leccionou também no Curso de Formação Artística da SNBA e trabalhou para a televisão e sobretudo na RDP (Antena 2). Foi membro da Sociedade de Gravura e do respectivo Conselho Técnico.
Das suas obras, podemos destacar "Pintura e Escultura em Portugal" | "O Imaginário da Cidade de Lisboa, 85 | "Dez anos de Artes Plásticas" - 1974-84. O seu currículo ultrapassa o limite desta sombra, deste resumo como perfil e memória. Lembrando as figuras que Rui Mário mais estudou, elas surgirão na sua companhia, daqui a algum tempo, amanhã, depois, mãos dadas a Dacosta, Almada, Amadeo, Cruzeiro Seixas.

segunda-feira, abril 28, 2014

VASCO GRAÇA MOURA, UM HOMEM RARO


VASCO GRAÇA MOURA

Apesar da fragilidade transferida pela doença, vinda do nada, ele resgatou até aos últimos dias a imponência conquistada: na voz da escrita, nas palavras redescobertas das traduções, nos poemas quase ocasionais que grava aqui e além e em vários livros decisivamente importantes. O que admira, nesta vida plural, de muito trabalho e forte intervenção, é a persistência, a continuidade, a iniciativa. E sobretudo as exímias traduções (Shakespeare ou Dante) que espantam de forma profunda pelo rigor, interpretação e pela qualidade de excelência.
Morreu no sábado, com 72 anos, respondendo sem recurso a poemas ou referências literárias. Homem da palavra, viu-se confrontado, nos últimos anos, com uma das mais difíceis espécies de cancro. Essa luta, como muitas outra, passou também pelo seu vertical desacordo do «famoso» acordo ortográfico da língua portuguesa, entorse incompreensível a uma língua rica, aliás bem utilizada nas grandes traduções que Vasco Graça Moura realizou e lhe fez merecer o prémio de melhor tradutor do mundo, pela escolha da Itália.
Tinha, no Centro Cultural de Belém uma posição nítida e empenhada, recebeu uma das mais significativas condecorações portuguesas.
Ele diz: «Em Portugal está a faltar muita poesia. Não eche a barriga, mas pode ajudar a encher o espírito. Tudo o que importa a uma dialéctica de opostos é importante. Pelo menos um embrião de conflito. A unanimidade é a mais banal e empobrecedora das situações.1

                             
                                                 A pena de todas as escritas

1 citado da Visão

terça-feira, abril 22, 2014

CALVET, UM NOME E UMA OBRA PARA SEMPRE


Carlos Calvet, arquitecto e pintor, 86 anos, morreu ontem. Carlos Frederico Calvet nasceu em Lisboa, estudou na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (também na do Porto) tendo obtido a sua licenciatura em 1957. Além de arquitecto interessou-se muito pela Fotografia e foi sem dúvida um dos nossos mais significativos artistas plásticos. Trabalhou em Cinema, Fotografia, Pintura e Serigrafia. Era assim, inicialmente como arquitecto, um autor pluridisciplinar, algo que acontece frequentemente no nosso meio, talvez devido aos apelos do meio e da própria dimensão das hipóteses de pesquisa enquanto falha no mercado.
Carlos Calvet expunha desde 1947, individual e colectivamente, tanto em Portugal como em vários países da Europa e Ásia.
Próximo do Grupo Surrealista de Lisboa, em cuja exposição de 1949 participou, a par de Mário Césariny e Cruzeiro Seixas, iniciou a sua produção fotográfica anos depois, em 1956, motivado pela sua formação em arquitectura, o que o levou também a interessar-se pelo Cinema.
A maior parte destas palavras foram retiradas dos documentos inscritos na internet, mas posso acrescentar que ainda acompanhei e estudei a obra de Calvet, tendo mesmo participado em exposições com ele. Embora soubesse a idade que atingira, tendo esperado por uma conversa que tínhamos combinado há muito, ontem fiquei chocado com as duas perdas: a do artista e a da conversa com que ele aceitara ter comigo.

terça-feira, abril 08, 2014

NÃO É SEMÂNTICA NEM INCUMPRIMENTO


Reestruturar a dívida, no caso actual do nosso país, não deve suscitar nenhum pavor apocalíptico, nem falar como se ouviu dos socialistas: "estruturar nunca, é dizer que não se paga". Não sei se os mercados ficam incomodados com o sentido da palavra, ou se ela tem tradução imperfeita em inglês, que é a única língua que por lá se fala. Só sei é que em português trata-se de alterar uma ordem para lhe conferir outra mais confortável para todos. Deve dizer-se: Ninguém perde mais, ninguém ganha mais. Se, por inércias absurdas, tudo gira em ruído e erro, tanto mais que hoje os juros trabalhados no mundo são barbaridades de perfeita agiotagem e não se controlam com rectidão e bom senso, isso já não passa pela tal palavra. 

sexta-feira, março 07, 2014

UMA CARTA QUE ESCAPA AO SABER DA HISTÓRIA

       
                  

                                                                            


       carta do descompromisso                   

Li hoje no jornal Público mais uma saborosa crónica de Vasco Pulido Valente. Chama-se esse texto Uma Pequena História do "Consenso". Todos sabemos de quem ele fala e da carta invertida por dois protagonistas da teimosia e por vezes praticantes do non sense. Vasco Pulido Valente procura, sinteticamente, elencar  os dados da nossa tendência para os «consensos». Começa ele pela Carta Constitucional de 1826, outorgada por D. Pedro IV. «A Carta pretendia reconciliar o radicalismo «vintista» com o antigo regime, e a alta nobreza tradicional com a classe média e a plebe das cidades.» Consenso não era a palavra usada: antes, e bem, "compromisso".
Carta aqui ao nosso gosto de um baralho de contrários, mas na simbologia do tanto apreciado OURO.
Explica Pulido Valente: «O compromisso de 1826 provocou uma guerra civil que se estendeu, aos soluços, até 1834. Daí se concluía que não pode haver entendimento nenhum entre Esquerda e Direita (e eu pergunto se os senhores aqui evocados em imagem não serão antes uma mistura sem especial sabor das tontarias do nosso mundo sem razão). Radicalistas do Exército e da plebe de Lisboa decidiram abolir a Carta: falaram com a Rainha e a sua proposta constava sabiamente da junção das duas Cartas (1826 e 1834 com efeito em 1842).
Tão brilhante exercício, que ficou nas mãos de Costa Cabral, não acabado a tempo das impertinências expectantes do país, gerou uma nova guerra civil -- e a dívida e a fome aumentavam. Segundo Vasco Pulido Valente, e perante intervenções de Espanha e Inglaterra, Saldanha, em 1851, estabeleceu a «concórdia universal e Fontes Pereira de Melo sustentou essa concórdia com dinheiro da Inglaterra e da França.
Já se vê como canta o ouro (dinheiro) e como os parceiros destas nebulosas conjuntas se trocam na pose -- cabeça para baixo, cabeça para cima e vice-versa, sem a plebe riscar as paredes.
Depois de 1851 «veio logo a época dourada da Regeneração», cinco anos de alegrias e venturas, «remessas do Brasil» e já os partidos a fingir o tal compromisso («fusão») para partilharem fraternalmente a Pátria. Mas os fios apodreciam, a fome não aguardava a retoma, e assim, de 1890 a 1893 a «ilusão morreu, a guerra civil, «larvar ou activa» não sossegou os portugueses. Mais tarde «Salazar, com a censura, o Exército e a polícia política, abafou essas longas festividades.» E Pulido Valente conclui: «Hoje, o Governo que fala em "consenso" e o PS que recusa por razões triviais não percebem que o "consenso" implica um Estado com dinheiro, e muito dinheiro, e crescimento económico. Não sabem História.

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in Público 7.03.2014, baseado no artigo de VPV





sábado, março 01, 2014

UMA IMAGEM SEM TÍTULO DA TRAGÉDIA NA SÍRIA


SÍRIA
São como fantasmas a aparecer 

A seu tempo, pouco tempo afinal, fizemos aqui um comentário relativo à guerra que se desencadeara na Síria, desde logo carregada de agressividade entre os rebeldes e a tropas de Assad. O critério de ambos os lados manteve-se e agravou-se. A Síria, com milhões de refugiados por diversos pontos do mundo, numa soma de vítimas e flagelados enorme, há três anos que persiste e se esquiva à pressão internacional.  Rússia e a China, por razões que se desfazem em confronto com a bárbara destruição do país, ajudam Assad.
Aterradoramente, uma revolta na Crimeia, contestando a não aceitação do Presidente relativamente a uma aceitação de conjugação com a Europa, rebentou nas ruas de Kiev e ganhou forte expressão, incluindo a demissão do Presidente e a reformulação do governo. A Rússia, que tem interesses visíveis na zona, sobretudo na Crimeia, mostrou a sua não aceitação de contacto formal com a UE e começou a colocar tropas não sinalizadas no edifício do Governo, carros de combate cortando certas vias importantes e introduzindo, no mar, a marinha, e em terra mais unidades vigilantes. A situação é explosiva. A imagem, em cima, passa por uma espécie de Guernica: um momento da deslocação da população na principal artéria da capital.


Entre os fantasmas de Yarmouk: «são como fantasmas a aparecer»
Mais  de cem pessoas morreram desde Outubro neste campo por fome ou falta de cuidados médicos

sexta-feira, fevereiro 21, 2014

A UCRÂNIA IMPEDIDA DE ESCOLHER, A FERRO E DOR

Kiev, Ucrânia, revolta soberana




Algumas linhas, entre a dor, as mortes e o protesto de massas, quando a Ucrânia, desde longa data, tenta estabelecer as condições para ter um governo democrático, novas estruturas sociais, de liberdade, responsabilidade e verdadeira soberania. Na perspectiva das actuais condições de vida, entre vagas de emigração e níveis de vida contestáveis, apesar de muitos cidadãos terem boa formação e serem muito bem aceites na Europa, o projecto defendido por grande parte da população é negociar a adesão à União Europeia e conseguir bons perfis de cidadania, respeitáveis, com direitos reconhecidos. A parte mais longínqua da Ucrânia tem uma ligação mais forte à Rússia. E este país, sempre dominante, opôs a sua decisão à escolha da Ucrânia ocidental, anunciando mesmo sanções graves se o entendimento com a Europa se iniciasse. Os Jogos Olímpicos de Inverno, na Rússia, talvez tenham impedido uma intervenção mais musculada. A explosão de revolta verificou-se desde há tempo, muito concentrada em Kiev, e tendo ganho uma inquietante expressão nos últimos dias, abalou a intransigência do presidente. Propostas de negociação política, ontem, não tiveram condições de instauração, enquanto a América ameaça rebeldes e a Europa, escapista, mal definiu formas de diálogo e de ajuda, formulando princípios capazes de criarem plataformas de resolução.

quarta-feira, fevereiro 19, 2014

TARDIAMENTE NA MORTE DE MANUELA JUSTINO

                                   
                                                                 Manuela Justino
                                                              
Lamentavelmente só ontem soube da morte da colega e amiga Manuela Justino. É meu critério assinalar tais acontecimentos relativos a pessoas do meu convívio e da minha área de trabalho. Faço-o agora, com mágoa, por Manuela Justino, a quem ajudei pedagogicamente na Escola Superior de Belas Artes e com quem trabalhei mais tarde a propósito da sua bem assumida vocação na tapeçaria experimental, participando nos projectos que chegou a imaginar antes da doença a travar. 
Manuela, que foi professora de Educação Visual, esteve destacada no Ministério da Educação, mas a sua formação projectou-se sobretudo numa carreira de artista plástica, especialmente no campo da tapeçaria. Também, com louváveis percursos, na fotografia, desenho e pintura. 

tapeçaria de grande formato de Manuela Justino

NÃO SE MORRE INTEIRAMENTE QUANDO ASSUMIMOS A VIDA E A LIGAMOS AO TESTEMUNHO SOBRE O MUNDO E MARCAMOS A ÚLTIMA DATA COM FORMAS PERENES DE CRIAÇÃO, PROVA  HUMANA DO SONHO LÚCIDO

sexta-feira, janeiro 17, 2014

A TELEVISÃO TORNOU-SE TÓXICA E ANTI-CULTURAL



A Televisão é uma das mais extraordinárias invenções do Homem, marcando decisivamente a vida das populações e um novo quadro da comunicação audio-visual. Por outro lado, tudo o que aconteceu na sequência da electricidade, electrónica, rádio, contacto entre comunidades, à distância e sem fios, veio revolucionar muitos quadros da reestruturação das sociedades em desenvolvimento ou em vias de desenvolvimento. Não apenas mas sobretudo. E o século XX, apesar das duas grandes guerras que arrasaram parte do mundo, sobretudo a Europa, beneficiou em parte com a própria tragédia, mesmo no imenso lamento pelos milhões de mortos e nos custos dos difíceis trajectos de reconstrução, em particular na Alemanha. Um apelo à paz, à harmonia entre os povos, a par das tecnologias favoráveis a vários tipos de desenvolvimento, tudo isso, com a Sociedade das Nações e depois a ONU veio contribuir para um período de estabilização, um tempo de paz, à medida que as descobertas de meios de construção e comunicação permitiram entender melhor o território, as cadeias de produtivas, novos enquadramentos do trabalho, da educação e da pesquisa científica. Aí se integraram muitos dos passos mais nítidos para a socialização do meio televisivo, design e tecnologia, enquanto a Rádio, já muito bem difundida, procurava tornar bem acutilante a nitidez da sua especificidade.
Foi uma época determinante na qual se chegou a imaginar um "mundo futuro" de importantes fecundações pela arte, pela ciência e por novas teorias do comportamento. Os povos apostavam na diversidade dos aparelhos apropriados à decisiva sedimentação das cidades, à melhoria das vias de comunicação por terra, através dos oceanos e do imenso espaço atmosférico. O crescimento de tudo isso induziu, em muitos outros percursos, a variação contínua de respostas às necessidades que estivessem ainda mal apoiadas, ou a partir delas, mercado a mercado, o inquietante processo que se dedicava a multiplicar respostas e a inventar novas necessidades, laterais, quase absurdas, mas cujo fascínio foi criando nas pessoas uma espécie de doença do consumo, apetências por mais do mesmo, sem a noção do equilíbrio e do desenvolvimento harmonioso das comunidades. 
Nesse quadro da roda dos encantamentos, a televisão passou a ser um objecto e um fim domesticamente essencial, cada vez em maior concorrência com outros meios da mesma raiz e sobretudo na base alucinatória da competitividade: programas, concursos, publicidade intensa, da brandura ao maior dos choques, entre lutas de personalidades, actores, séries, especulação noticiosa, debates, exposição do insólito, a sociedade desvendada, virada do avesso, rolando para uma bola de neve cada vez mais suja de ruídos e pesados imaginários -- sempre suspeitos, no auge das incríveis proezas de impossíveis heróis ou de cartáticos apocalipses.


Na Televisão portuguesa ninguém soube (nem podia no tempo do antigo regime) abarcar as hipóteses conceptuais e formais de começar a operar muito mais tarde do que noutros pontos do mundo. Por estranho que pareça, houve naquele tempo mais crítica de televisão (Mário Castrim, notável pela sua acutilância) do que a partir do regime democrático. E quanto mais liberdade se verificou no âmbito das disciplinas criativas (artes plásticas, literatura, cinema, teatro, música) menos os jornais e revistas dedicaram um interesse analítico e pedagógico em torno de todas essas questões. A Televisão (cega, surda e muda, apesar de colorida e digital) está a afundar-se no mesmo buraco negro (apenas ruidoso) para o qual escorre a própria cultura, aquilo a que chamamos civilização contemporânea. Eventos elaborados no sentido de um gosto massificado, que são procurados por multidões alucinadas, num domínio de som acima de toda a prudência concorrem com as Televisões e estas retrucam com os mais díspares programas ditos de entretenimento e que não passam, na grande maioria dos casos, de concursos nos quais os espectadores se sujeitam às mais absurdas torturas, tocando vermes, aranhas, cobras, ou aceitando que sobre eles se derramem detritos e líquidos hipoteticamente coloridos. Noutros casos (Big Brother, Casa dos Segredos) os pacientes são encerrados em acomodações toscas ou pop, vigiados por dezenas de câmaras 24 horas por 24 horas, compelidos a respeitar uma VOZ que os confessa e os leva a proceder contra os outros companheiros em acções não éticas, de traição e jocosidades grosseiras, entre muitas outras actividades ignóbeis, regularmente atiçados por uma condutora impensável, que troca avisos, inventa situações e insinua encontros entre rapazes e raparigas, sexo, namoros e inevitáveis intrigas. A clausura, sem contacto com o exterior por dois ou três meses, excita os protagonistas, atira-os uns contra os outros, reduzindo a sua educação à boçalidade, lutas verbais, assimetrias de comportamento, tudo na expectativa de cem mil euros de prémio. Não há debates exteriores sobre esta anormalidade, os seus efeitos no público e nas cobaias, aliás escolhidas consoante os objectivos mais controversos.
Durante manhãs inteiras, os diversos canais, arregimentando público local, gastam horas em quase nada, aos gritos, misturando alhos com bugalhos, entrevistando pessoas destroçadas, seguidas de músicos de ocasião ou de fenómenos risíveis, afinal insensatos . Há rodas da sorte, milhares de euros (à sorte) para quem telefone para o estúdio (números repetidos entre gargalhadas) e esteja assim durante toda a manhã à espera que o acaso lhe venha ter às mãos.
Todos os canais concorrem entre si, mostrando ao mesmo tempo coisas do mesmo tipo, cartelizando os próprios e grandes espaços de publicidade. As telenovelas (duas ou três por noite) são precedidas de intervalos de publicidade colados em massa, durante mais de 20 minutos. Não é coisa para cardíacos. Aliás, abruptamente, no decorrer de qualquer das novelas, a acção é cortada por anúncio breve -- 20, 30, 45 segundos, durante os quais explodem mais anúncios seja do que for. Aliás, o problema da publicidade atinge níveis ilegítimos dentro de qualquer programa eticamente correcto. O cinema desapareceu dos programas regulares, os debates em torno da situação nacional (sócio-política) misturam as mais variadas gentes, não têm coordenação capaz, os espectadores são confrontados por vezes com quatro intervenientes a falar ao mesmo tempo. O contraditório é interrompido, não há esclarecimento nem qualquer valor pedagógico, visualmente apoiado. Sem mais, um debate "mais sério" pode ser interrompido por emergências acéfalas em torno de casos do futebol. Futebol infecta tudo, respeitado acima das próprias tragédias. Os debates sobre futebol duram horas, ocupam dois ou três vias noticiosas, ao mesmo tempo, e a qualidade das falas (no conteúdo, na forma, na margem) deixa estarrecida qualquer pessoa de bom senso. A contagem dos minutos de um programa, no fim, é coisa inominável, sobretudo em confronto com os extensos concursos de arrasante esforço cançonetista, cantigas de outros, imitações por vezes brilhantes mas não aconselháveis a um sério plano cultural verdadeiramente criativo. As figuras que aceitam fazer rir, em cenários pacóvios ou atafulhados de néons e torturas lumínicas em movimento, é gente pouco informada sobre as boas correntes do humor, abaixo de toda a dignidade de fora e conteúdo, ou imitando "vozes meninas" e sufocadas ou enviesando os tons e as posturas. São coisas indescritíveis onde até aparecem talentos, mas inevitavelmente soçobrando na banalidade e grosseria. 
Mas o país consome cada vez de forma mais alarmante todas estas frutas espinhosas, matando uma sede que já não sabe identificar. Porque, fora do ecrã, até se sujeita a ver cinema em caixas de fósforos, por altos preços e tendo de suportar bandas sonoras distorcidas até à surdez. A televisão aborda as artes em pingos ocasionais -- 30 segundos para noticiar uma exposição, nada sistematizado no tempo e no espaço sobre teatro, livros, encontros em torno de questões científicas, sobre o ensino, sobre autores do país e do estrangeiro. A notícia dessas coisas pode não ser bombástica nem barulhenta, mas é cada vez mais indispensável em termos da consciência do meio e da cadência de alternativas que os grupos minoritários (com direitos expressos) seguem a sério.
A Televisão portuguesa  precisa de comissões avisadas para regular o barbarismo dos conteúdos e dos buracos negros de publicidade que enche ecrãs cada vez mais inúteis (e até prejudiciais) perante o serviço que "vendem" a um público destroçado sem o saber.

segunda-feira, janeiro 06, 2014

MORTE DE EUSÉBIO: IMPOSSÍVEL NÃO SENTIR

Eusébio
Ao presenciar o trabalho deste homem singular, seguindo de longe a sua prestação, é impossível não sentir esta vontade de o lembrar aqui, a preto e branco, tocando com os lábios a famosa bota de ouro.