terça-feira, maio 29, 2007
A DOR SUPREMA
domingo, maio 27, 2007
ARTISTAS PORTUGUESES | Gil Maia
terça-feira, maio 22, 2007
ARTISTAS PORTUGUESES | Sara Maia
Lendo bem, ao sabermos como decorreu a infânca de Sara, entre uma espécie de «sequestro» e um ilimitado espaço de liberdade criadora, o fio do nosso imaginário desenho o desenho da menina que ela ainda parece, julgamos perceber donde nasce a fascinante alegoria do cão. A menina estava sempre alerta como ele, o cão, sabendo, como todas as meninas, os modos de inventar para além das coisas, entre a crueldade e o contentamento.Sara Maia viveu uma infância dolorosamente marcada por fragilidades, doenças, e por isso parmanecia em casa longos períodos: era aí que formatava a sua liberdade e onde inventava fantasmas, monstros, velhos meninos, situações incontornáveis. Surgem então narrativas, da menina cega aos velhos que tanta estranheza lhe causavam e cuja beleza, nua espécie de redenção, veio redimensionar no Ar,Co., onde estudou e onde desenvolveu as grandes potencialidades do seu imaginário. Daí muitas das suas preferências recairem em Frida Khalo, Francis Bacon, vang Gogh ou Bakthus -- referências, assinala, da sua própria formação.Os quadros da última exposição de Sara, de grandes dimensões, abriram mais um capítulo no percurso da autora e são dominados por uma força expressiva poderosa, entre o monstruoso, a ironia, o sarcasmo, o que resta da bondade da menina. Sara, cúmplice com o seu tempo, olha as distorções aociais, o real degradado dos seres, a ternura e a sua impossibilidade, criando assim (como aliás vem acontecendo na pintura de hoje) certas narrativas de um realismo impossível, bordalescas por um lado e violentas por outro, acto político também.
segunda-feira, maio 21, 2007
A COVA EM QUE O HOMEM SE ENCERRA
sábado, maio 19, 2007
APOCALIPSE BRANCO
CITAÇÃO
Hélder Spínola
No mundo em que vivemos, o aquecimento global, a poluição e o degelo são alguns dos sinais que reflectem o nosso impacto no planeta e nos fazem recordar a nossa responsabilidade ambiental. A percepção de que a rentabilidade das empresas depende de um desenvolvimento sustentável, a sensibilidae dos limites e potencial do crescimento económico, seu choque na realidade natural, passam necessariamente pelo ecodesign dos produtos bem como por equacionar a utilização dos materiais resultantes dos próprios processos de reciclagem.Palavras que se inseriam em muitos discursos do século XX, como se fosse possível conservar a raiz do mal sem trabalhar a sua raiz, o comportamento e a lógica da acumulação em sucesso. O problema, em última instância só poderia ter passado pelo redireccionamento do desejo, pela contração em ordem ao essencial, pelo fortíssima mudança dos objectivos de toda a sociedade.pequena reflexão para ficcionar
A fase de agravamento das condições ambientais do planeta Terra só foi devidamente pressentida por astrónomos do século XIX, alguns visionários, outros criativos, como Flamarion, e por muitos cientistas, astrofísicos, geólogos, especialistas de oceanografia.
Hoje acabou a agonia de Indonéia. Dela apenas flutuam nas águas alguns destroços que parecem subitamente muito antigos, animais, aves perdidas do céu e dos ramos das árvores, milhares de corpos humanos semelhantes a bóias inchadas, encalhando aqui e ali, já em decomposição e sem nenhum auxílio em volta, ao invés do que acontecia quando as catástrofes, no século XX, pareciam ainda pequenas, domináveis, superadas por grandes massas de auxílio e reconstrução. O céu -- dizia um jovem astrónomo inglês na sua noite de embriaguez -- está decididamene desordenado. Já contei oito cometas em oito dias, um erro colossal não sei porquê, pois nem sequer se previa qualquer fenómeno desse tipo para esta altura, no quadro da cartografia cósmica que controlamos.Em maio de 2147, o Hublle10 e o observatório lunar 538C, sincronizados depois das fotografias iniciais resolvidas através do primeiro daqueles aparelhos, registaram em centenas de fases e angulações, aquilo que terá sido, há biliões de anos, a fase terminal do choque entre duas galáxias. Não me sai da cabeça esse fabuloso acontecimento, apesar das pesquisas actuais e das eventuais vias de passagem para outros universos. Aquela tragédia então fotografada, lindíssima, precisou de muitos milhões de anos para atingir tal limite, tal ponto, o que vemos ainda todos os dias, numa extensão interminável de anos luz, algo que está chegando aos nossos olhos frame a frame e que nunca passará disso antes da nossa morte na relatividade das escalas, do espaço e das massas, nas virtudes de velocidade que, embora perto da deslocação da luz, só os atingiu em convulsão (calcula-se) depois de um milhão de anos. Na «Nave da Esperança» que deriva por impulsos gravitacionais, pensamos na nossa galáxia, aparentemente protegida em longa estabilidade, e no entando sabemos como as estrelas explodem aqui e além, enquanto os planetas com vida que eram estudados numa fase crítica já tinha morrido há mais de um século.Quando a bela Veneza se afundou, os sobreviventes da catástrofe universal ainda lá foram em pequenos grupos.O testemunho desses visitantes parecia patológico e a sua própria vida já perdida. Deixavam-se arrastar em novos barcos accionados por baterias, contornando as varandas, vogando ao acaso, olhando longamente as cornijas e os telhados sombrios. Para esses lados parecia não haver as intempéries e derrocadas de países como os Estados Unidos da América nem a imensidade dos lagos que lá surgiram, todos os dias chupados pela terra empapada. Mas estas coisas, tendo em conta a velocidade imprevista dos acontecimentos, criavam condições nunca imaginadas e outras exigências de resposta. Os bombeiros de Nova Iorque, por exemplo, deslizando em embarcações próprias nas ruas transformadas em rios, onde os arranha-céus haviam atingido a natureza aparente de anões, raramente tinham de acorrer a fogos. Ao contrário, e sem ilusões quanto ao nível das águas, haviam apurado métodos e tecnologias para acudir a imensos desabamentos, vítimas ou suicidas, gente impreparada para a situação e não raras vezes afogando-se após horas de resistência com as mãos enclavihadas em cabos e pontas de cartazes desactivados. O aquecimento do planeta, tropicalizando a Europa e outros locais de latitude idêntica, trabalhava num verdadeiro paradoxo com a descida dos gelos, cidades inteiras como transatlânticos brancos dirigindo-se para sul. O branco imperava em toda a parte, tornava o apocalipse de uma alvura aparanetemente salvadora.
Metade do planeta já se afundou em imensos oceanos de lava branca, contra um céu branco, de nuvens altíssimas, a par de invernos curtos e absurdos. A Indonésia soçobrou por fim. A Rússia morre de frio, sempre branca, com a população reduzida a um terço. De um lado e do outro da antiga cortina da guerra fria já não é possível accionar os silos onde hibernam os grandes misséis intercontinentais. Não já verdadeiros suicídios colectivos. Os homens suicidam-se em solidão, sabem enfim que esse é, como dizia Camus, o único problema filosófico ainda convocável
terça-feira, maio 15, 2007
ARTISTAS PORTUGUESES | Ana Maria
segunda-feira, maio 14, 2007
PÁGINAS DE VIAGEM
Com uma exposição presente na Câmara Municipal das Caldas da Rainha, Taraio dá-nos oportunidade de divulgar um exemplo esplendoroso da sua pintura, entre ambiguidades representativas que nos obrigam a uma saborosa decifração entre imagens antropomórficas ou frutos e tubérculos, na mais genuína das naturezas mortas. Eu não sou decifrador. Observo e conheço as regras internas, os «códigos» desta oficina soberba, tão desdenhada hoje em nome de todas as infâncias perdidas ou de todas as adolescências frutificadas. Esta é um talento frutificado.
segunda-feira, maio 07, 2007
AS INSTALAÇÕES DOS INSTALADOS
instalação de Nuno VasaA revolução das artes durante todo o século XX, apesar das duas guerras mundiais ou talvez por isso mesmo, gerou movimentos teóricos sobre a forma plástica, a mobilidade visual e os modos de realização prática. Os museus da arte antiga, de importante significado para historiadores, antropólegos, sociólogos, técnicos de conservação, entre outros, foram ficando na rota turística e dos estudiosos. Os valores estéticos mais estáveis acabaram também por ser abalados em virtude de transformações formais inusitadas. É verdade que, a princípio, modos de formar como o dos impressionistas, conservavam a densidade pictórica, dilatando-a pelo espaço óptico, tornando-se laica, embora ainda apoiada na relação entre olhar e ver, tendo a percepção, aqui, um papel decisivo. Começa então o caminho da mudança, por se julgar que, em boa medida, as coisas representadas se pulverizavam no espaço, atravessando a consciência, a razão e as emoções. Se a qualia da pintura era a cor, eis o que importava colocar no centro da polémica, procurando definir as estruturas dessa linguagem. O que não é tonto de todo e depressa se tornou um acto redutor, no convencimento de que, antes de tudo, importava (além do ponto) entender o plano (campo) na sua geometria óbvia e na secreta, a linha e o seu comportamento, a cor e as variações dos valores lumónicos, a espessura ou textura das matérias dispostas na superfície. Este despojamento intelectual foi tornando crível o processo da cebola, a obra substantiva, calibrada, em camadas construtivas, ganhava verdade quando se limpavam as cascas e camadas expeteriores até se revelar pequena e regular - um termo absoluto mais revelador da essencialidade das formas do que ds seus trajes e adereços. Assim se limpou tudo e se orientou a nova cultura para as virtudes do movimento, como no futurismo, ou para o salto sobre as aparências, para o outro lado do visível, entre registos simultâneos de vários pontos de vista, como mo cubismo. Até à tela branca e ao rasgão laminar que Fontana lhe aplicou..Mais tarde, o pouco sabia a pouco e os novelos permitiram recuperar o esplendor das antigas tapeçarias e a distorção expressiva das figuras, como em Bacon, fazia-nos regressar à aproximação do real, não por simples sentido mimético, mas na validação expressionista dos efeitos protoplásmicos da matéria distorcida, esses flashes que tantas vezes nos assaltam aqui e além. Novas práticas simultaneamente construtivas e desconstrutivas atravessaram o universo da criação artística, enquanto os autores mais insatisfeitos começavam a geminar outros processos, matérias, materiais, levando a pintura e a escultura para um espaço absurdo, por vezes vagamente arquitectónico, com máquinas imóveis ou animadas, no uso de restos da civilização industrial, ferros, madeiras, aço, e, por outro lado, restos humildes do cultivo da terra, um ramo ou uma flor no topo de um monte de areia dentro da galeria. Ou só areia para nos impedir de disfrutar «de dentro» o assentamento de pequenos cristais. Este é o domínio, agora novamente em voga, das instalações, formação com base em processos híbridos, mais ou menos complexos. E aqui chegamos a uma exposição da galeria SOPRO, onde se apresenta a impositiva instalação de Nuno Vasa. Latas de tinta, de dimensão variável, acumulam-se no espaço, embargando substancialmente a entrada. «Impedidos de entrar ou sair - diz Pinharanda - somos, mais uma vez, na genealogia de obras de Nuno Vasa, confrontados directamente (mas agora numa situação inesperada fornecida pela liberdade de expressão da arte contemporâmea) com a angústia tipificada do artista tradicional: a metáfora do espaço branco esperando uma qualquer inscrição ou rejeitando toda e qualquer representação. «Acto», assim se chama o acto, é uma lata de tinta branca entornada na fronteira entre o interior da galeria e o seu acesso exterior - impedindo qualquer entrada ou saída. De novo se estabelece uma forte relação física entre a acção da obra e o espectador». Não é uma relação feliz e nem sequer agressiva. É um adiamento. Um acto académico (de hoje) que adverte o espectador de duas coisas possíveis: imaginar sentidos ou voltar criativamente para casa.