04 dezembro 2018
Dicionário – o jogo das palavras
Convidaram-me para elaborar questões
de português para o ENEM.
(Observaram o pronome após o verbo? – só prof
usa)
Selecionei dez palavras e
sugeri alguns significados. Será que você acerta o verdadeiro? Só uma resposta
é verdadeira.
1 — Turba
aa) Adereço de cabeça, de origem oriental, formado
por longa faixa de
tecido.
bb) Forma do fanho falar turma.
cc) Instrumento musical.
dd) Multidão revoltada.
ee) As alternativas b e d estão corretas.
2 – Madeicha
aa) Porção de algodão ou fios de seda;
bb) Pequena quantidade de cabelos juntos.
cc) Boneca feita com sabugo de milho.
dd) Fibra vegetal para tecer alpercatas.
ee) Nenhuma das anteriores. Madeixa se escreve com x.
3 – Compulsório
aa) O mesmo que compulsivo.
bb) Quando não há
alternativa. Obrigatório.
cc) Regime político liberal.
dd) Quem desconhece
suspensório.
ee) Dor de cabeça de
eleitores.
4 – Burrinho
aa) Menino desprovido de inteligência.
bb) Burro jovem ou de pequenas dimensões; burrego, burrico,
burriquete.
cc) Nos automóveis, bomba de freio hidráulico.
dd) Na engenharia mecânica,
bomba de aspirar líquidos.
ee) Todas as alternativas estão
corretas. Talvez não politicamente.
5 – Alternativas
aa) Opções.
bb) Possibilidades.
cc) Escolhas.
dd) Conceitualmente é quando só há duas únicas
possibilidades de opção. Certo/errado; Dia/noite; acordado/dormindo.
Popularizou-se como sendo sinônimo de opções, escolhas e possibilidades.
e) Todas as alternativas acima.
6 – Tatuagem
aa) Esconder alguma coisa debaixo da terra.
bb) Cicatriz voluntária.
cc) Desenho indelével na pele humana.
dd) Indelével significa que não sai. Letra C.
7 – Klotz
aa) Palavra de origem alemã, significa cepo.
bb) Pessoa bem-humorada.
cc) Autor de livros de contos e crônicas: Pepino e farofa; Quase
pisei!; Cara de crachá.
dd) Autor do Manual do escritor.
ee) Vende os próprios livros.
f f) Todas as alternativas estão corretas.
8 – Prato (Questão para que nenhum estudante tire zero e seja
desclassificado do ENEM)
aa) Louça para apoiar
comida.
bb) Jogador de futebol do
Bayern de Munich.
cc) Masculino de prata.
dd) Galináceo palmípede que
faz qrúem qrúem.
ee) Objeto arremessado por
esposas dóceis.
f f) Utensílio que deve ser
lavado apenas por mulheres (se assinalar letra f, será expulso da comunidade
feminista).
9 – Palangana (Questão
para que só nerds consigam nota
máxima no ENEM)
aa) Tabuleiro onde são
levados os assados à mesa.
bb) Jogador de futebol do
Boca Juniors.
cc) Feminino de palangano.
dd) Faca para trinchar
patos.
ee) Objeto ofertado por
maridos apaixonados.
ff ) Utensílio que deve ser lavado
apenas por mulheres (se assinalar letra f, também será expulso da comunidade
feminista).
10 – Game
a a) Verbo gamar na terceira pessoa do pretérito
subjuntivo.
bb) Atividade que impulsiona os estudos.
cc) Professor sofre para criar alternativas.
dd) Palavra que quando associada a vídeo significa empolgar
pelos estudos.
e) Palavra de origem Atari, que ao ser sucedida de
over significa fim de prova ou de jogo.
16 novembro 2018
A LOUCA
DA CASA
Rosa Montero
Editora Harper Collins
176 páginas
R$ 30,00
Quando o livro
foi sugerido no Clube de Leitura eu não estava prestando atenção.
Intuí, erradamente, tratar-se de
uma autora brasileira no topo de best
sellers.
Santa ignorância!!!
Em vez de
Monteiro é Rosa Montero, autora espanhola. O livro é de 2013, publicado no
Brasil em 2016 e a temática é o ofício do escritor.
Na ficha
catalográfica o livro é rotulado como romance, mas no meu entender é um
delicioso bate-papo com uma escritora que tem o que dizer e contar e ensinar e
fazer pensar com originalidade sobre o próprio ofício.
É como se
fosse um programa de televisão com uma entrevistada envolvente e inteligente. As
conversas não são lineares como numa narrativa, então em vez de opinar como
seria de se esperar sobre uma resenha, resolvi recortar e colar trechos que me
pareceram construtivos ou marcantes.
Pág 62 – “Vale
a pena ser continuar sendo criança em alguma região de si mesmo. Vale a pena
não crescer demais.”.
Pág 63 – “A
qualidade literária é um dos valores mais subjetivos e mais dificilmente
mensuráveis que conheço; ”. “A história demonstra que nem o sucesso em vida nem
os prêmios, nem, ao contrário, o fracasso e a contrariedade dos críticos foram
alguma vez a prova confiável da qualidade de uma obra. E nem sequer o tempo põe
as coisas em seu lugar, como gostaríamos de acreditar por precisarmos de
certezas; algumas vezes, caíram por puro acaso em minhas mãos romances de autores antigos totalmente
esquecidos e fora de catálogo, que, no entanto, achei ótimos, e previsivelmente
eles nunca mais regressarão do cemitério.”
Pág 75 –
“Escrever ficção é expor à luz um fragmento muito profundo do inconsciente.”.
Pág 80 – “Para
ser um bom escritor, é preciso desejar sê-lo, e desejar, aliás, de maneira
febril. Sem a disparatada e soberba ambição de criar uma grande obra não se
consegue escrever sequer um romance médio.”.
Pág 100 – “O
romance é o único gênero literário em que reinam a mesma imprecisão e falta de
limites que reinam na existência humana. É um gênero sujo, híbrido, agitado. Escrever
romances é um ofício sem glamour;
somos os operários da literatura e precisamos colocar tijolo por tijolo,
manchar as mãos e exaurir nossas costas no esforço de construir uma humilde
parede de palavras que, quem sabe, vai acabar desmoronando.”.
Pág 101 –
“Mesmo os melhores romances da história, os grandes romanções maravilhosos, têm
páginas fracas, perdas de tensão, carências óbvias. Eu gosto disso. E me
reconheço nisso; isto é, reconheço o fôlego hesitante das coisas.”.
E é lógico que
uma autora mulher sempre é questionada sobre a escrita feminina.
Pág 108 –
“Quando uma mulher escreve um romance protagonizado por uma mulher, todo mundo
considera que está falando das mulheres; mas se um homem escreve sobre um
romance protagonizado por um homem, todo mundo considera que está falando do
gênero humano?
Não tenho
nenhum interesse, absolutamente nenhum, de escrever sobre mulheres. Quero
escrever sobre o gênero humano, mas por acaso 51 por cento da Humanidade é do
sexo feminino; e como eu pertenço a esse grupo, a maioria dos meus protagonistas
absolutos são mulheres, da mesma maneira que os romancistas geralmente criam
personagens principais masculinos. E já é hora de os leitores homens se
identificarem com as protagonistas mulheres, da mesma maneira que durante
séculos nós nos identificamos com os protagonistas masculinos, que eram nossos únicos modelos literários; porque
essa permeabilidade, essa flexibilidade do olhar nos tornará a todos mais
sábios e mais livres.”.
Pág 112 – “Se
os homens tivessem regras, a literatura universal estaria cheia de metáforas do
sangue.”
A autora
aborda outro tema tão caro aos brasileiros: a escrita politizada.
Pág 109 –
“Detesto a literatura utilitária e militante, os romances feministas,
ecológicos pacifistas ou qualquer ista
que se possa pensar, porque escrever para passar uma mensagem trai a função
primordial da narrativa, seu sentido essencial, que é o da busca do sentido.
Escreve-se, então para aprender, para saber; e não é possível empreender essa
viagem de conhecimento levando previamente as respostas.”.
Pág 39 – “Para
mim, o famoso compromisso do escritor não consiste em engajar suas obras a
favor de uma causa (o utilitarismo panfletário é a traição máxima ao ofício; a
literatura é um caminho do conhecimento que precisamos percorrer carregados de
perguntas, não de respostas), e sim em permanecer sempre alerta contra o senso
comum, contra o preconceito próprio, contra todas as ideias herdadas e não questionadas
que se infiltram insidiosamente em nossa cabeça, venenosas como o cianeto,
inertes como o chumbo, más ideias que induzem à preguiça intelectual. Para mim,
escrever é uma maneira de pensar; e deve ser o pensamento mais limpo, mais
livre e mais vigoroso possível.”.
Pág 113 – “É
raríssimo um escritor que cultive um único gênero”.
Pág 127 – “A
morte também é leitora, por isso, recomendo ter sempre algum livro na mão,
porque assim, quando a morte chega e vê o livro, se espicha toda para ver o que
você está lendo, como eu faço no ônibus, e então se distrai. “.
Pág 167 – “O
que o romancista faz é desenvolver múltiplas alterações, essas irisações da
realidade.”. “O escritor pega um grumo autêntico da existência, um nome, uma
cara, um pequeno episódio, e começa a modificá-lo mil e uma vezes, substituindo
os ingredientes ou dando-lhes outra forma, como se estivesse rodando
indefinidamente os mesmos fragmentos para construir mil figuras diferentes.”.
Esse fragmento
é importante porque traduz o que Rosa Montero fez como fio condutor do livro ao
contar três vezes a mesma história com mesmos cenários e personagens, porém ingredientes
variados levaram a fechamentos verossímeis, mas absurdamente diferentes.
Eu questionei
se o romance era um bate-papo descontraído, agora deixo para você questionar se
esta resenha é um resumo.
Além de
delicioso, o livro passa a ser um livro de consultas.
Recomendo para você que escreve e para você que
tem prazer em ler.
16 agosto 2018
VÉSPERA DE LUA
Rosângela
Vieira Rocha
Editora
Penalux
144 páginas
R$ 38,00
Acabo de terminar a leitura de Véspera de lua.
Amei o espetacular encerramento com a carta de Ester.
O homossexualismo continua tabu e com pessoas desinformadas e
preconceituosas.
Sou preconceituoso – dificilmente assumimos. Mas a palavra diz que é conceito adquirido
antes da razão. Assim, respeito e admiro quem tem força para assumir posturas perante
todos e ainda ajudar outros a entender mundos de cortinas fechadas.
Ensinar, falar, discutir , como você bem fez, é diferente de
impor ideias.
Continuo lutando contra meus preconceitos enraigados. São muitos e de toda ordem. Quanto mais conhecemos, melhor compreendemos.
Só o conhecimento pode atenuar. Razão e sentimento brigam
internamente.
Aprendi muito com o livro. Parabéns. Parabéns de verdade.
Em tempo – livro vencedor do Prêmio Nacional de Literatura
Editora UFMG 1988 – romance, agora reeditado pela Penalux.
19 abril 2018
Mary Shelley
Editora Darkside
304 páginas de terror
R$ 45,00
Uma das perguntas que eu me faço quando
termino um livro é: qual foi a mensagem que autor quis passar.
Neste Frankenstein, não precisei terminar para ter a resposta.
A análise na introdução do
romance sugere que Frankenstein seja uma história sobre a moral.
“A ambição desordenada, o desejo
não contido pelo conhecimento a qualquer preço, um senso de cumprimento do
destino e o perigo de isolar-se do amor e da amizade ameaçam transformar
qualquer homem em monstro.”
Tanto que (pág 44): “A vida ou a
morte de um homem seriam preços irrisórios a se pagar pela aquisição do
conhecimento que busco, pelo domínio que devo conquistar e legar sobre os
inimigos mais elementares de nossa
raça.”
E continua (pág 46): “Espero que
a gratificação de seus desejos não se transforme na serpente que o morderá.”
Esta não é a única mensagem, nem a
única questão que leva à reflexão. Pode-se questionar o abandono de filho
nascido com problemas, a influência da aparência física pela sociedade ou mesmo
a falta de um igual para troca de afinidades.
Mesmo que você não tenha lido o
livro ou visto uma das versões do romance nas telas do cinema, não é necessário
fazer uma sinopse, pois todos sabem que se trata da história de um ser
monstruoso criado por um cientista em seu laboratório. Assim como o altíssimo
monstro da família Adams, este tem uma alma dócil até ser contrariado. Talvez você
não se lembre do fim. Então farei a desgentileza de dizer que nesta história de
terror o monstro não morre para dar a impressão que pode estar por perto a
qualquer momento. Inclusive atrás da sua cadeira.
A estrutura do romance é
espetacularmente perfeita. A autora domina a arte de tecer a escrita, tanto que
inicia o capitulo IX dando uma receita de expectativa: “Nada é mais doloroso
para a mente humana, após os sentimentos serem instigados por uma sucessão
rápida de acontecimentos, que a calma mortal da inação e a certeza que se segue
e priva a alma tanto da esperança quanto do medo.”
O discurso da virada em que a
criatura se transforma de gentil apara agressivo, é ótimo e pode se resumido
(pág 113) em ”Em todo lugar vejo a felicidade que somente a mim é
irrevogavelmente negada. Fui benevolente e bom; A infelicidade transformou-me
em demônio. Faça-me feliz e serei virtuoso novamente.” Lentamente externado o
sentimento de vingança (pág 145) “Desde aquele momento, declarei guerra eterna
contra a espécie, sobretudo, contra aquele que me criou, abandonando-me nesta
angústia insuportável.” Que jorrou em fúria em (pág 153) “Se não puder inspirar
amor, causarei medo, e principalmente a você, meu arqui-inimigo pois meu
criador, juro um ódio inextinguível. “
A autora trabalha com a
imaginação e o pensamento sabendo que causam mais pavor que a confrontação com
a realidade lançando uma maldição e repetindo-a várias vezes.: “Estarei com
você em sua noite de núpcias.”
Quando o criador está marcado de
terror pela perseguição do monstro, faz um juramento arrepiante (pág 209):
“Pelo solo sagrado em que me ajoelho, pelos espetros que pairam à minha volta,
pelo pesar profundo e eterno que sinto, eu prometo; e por você, oh, noite, e
pelos espíritos que a regem, juro perseguir o demônio que causou essa miséria
até que um de nós pereça em um embate mortal. Para tal propósito, resguardarei
minha vida. A fim de executar essa sentença tão cara, contemplarei novamente o
sol e trilharei as pastagens da terra que, de outro modo, deveriam apagar-se de
meus olhos para sempre. Invoco-lhes, espíritos dos mortos, e a vocês, prófugos ministros
da vindita, pra que me auxiliem e conduzam em meu labor. Deixem que o monstro
amaldiçoado e infernal sorva profunda agonia; deixem-lhe sentir o desespero que
ora me atormenta.”
16 janeiro 2018
Ovo frito
Conforme já havia escrito , o assunto
sobre a preparação
de ovos é por
demais extenso .
Assim , neste capítulo ,
vou expor a fritura
dos ovos . Muito
marmanjo pensa
tratar-se de sentar pelado
numa chapa quente .
Não , não
é nada disso.
Um japonês entra numa loja de lingerie
do shopping e pergunta à vendedora se ela tem sutiã .
A balconista pergunta qual o número
desejado. O oriental responde que
não sabe o número
usado pela esposa .
A moça , para auxiliar , pergunta se os seios dela teriam o tamanho
de dois melões .
O comprador retruca que
são menores .
Ela volta
a perguntar se os seios dela teriam o tamanho de duas laranjas .
E o comprador torna
a responder que
são menores .
A vendedora então pergunta
se os seios teriam o tamanho de dois ovos . O japonês
responde feliz que
sim , dois ovos fritos.
Esta pequena história
é apenas para
ilustrar e reavivar a memória , uma vez
que esta receita
não é acompanhada de fotografias coloridas.
Pensei em começar
a receita dizendo que
não se fazem omeletes
sem quebrar
os ovos , mas
a receita é sobre
ovos fritos ,
então não
cabe o dito popular.
Este é um dos meus
pratos prediletos .
Preparo e saboreio ovos
fritos desde
a adolescência . Esta é uma receita testada
e retestada em que
não existe o menor
perigo de erro .
Agora que
já passei dos cinquenta, posso afirmar que sou expert na arte de fritar ovos.
Em uma frigideira pré-aquecida
coloco quatro fatias
de beicon. Quando ameaçarem ficar crocantes, adiciono duas colheres
caprichadas de manteiga e espero até que derreta
e doure. Coloco dois ovos ,
preferencialmente caipiras ,
acrescento uma pitada de sal
e um pouco
de pimenta-do-reino em pó . Fecho
com uma tampa ,
para não engordurar o fogão.
Agora basta esperar
uns três minutinhos e terei os mais deliciosos
e apetitosos ovos
fritos da face
da terra . Separo um
pão francês ou então uma porção de arroz
para pousar a fritura . Enxugo a saliva
que está correndo pelo
canto da boca .
Abro a tampa .
Aargh! Socorro ! Fritei ovos e o que
aparece?
Colesterol! HDL! LDL!
Triglicerídeos!
Escrito para “Pepino e farofa”, época
em que os ovos ainda eram um terror, os vilões, do colesterol da humanidade.
Ah, - o livro não tem imagens , mas o blog pode ter.
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