Eram feitos de música, os teus
passos, quando chegavas sem hora marcada, sempre nas marés altas, onde a lua
cheia iluminava calmamente o teu caminho até mim.
E eu preparava o meu coração, a
minha pele com banho de jasmim, o meu corpo sereno e desperto, te aguardando
sem pensar em despedidas. Mas sim, essa foi a última noite que se ouviu a
melodia da harpa no meio da praia, a última noite que estiveste em mim
mergulhado, como se o amanhã não fosse acontecer.
E agora, sempre que batem as
ondas no ilhéu anunciando a vinda da maré, eu caminho na estrada de prata até
sentir a areia molhada. E sim, espero
debaixo da estrela com o teu nome, porque mesmo não te vendo com os meus olhos
marejados de água, consigo sentir o teu cheiro a algas, como se o mar te
guardasse só para mim.
Sim, o mar guarda-te só para mim,
porque só eu consigo ouvir-te na melodia das marés, só eu consigo ver-te na
estrela polar, só eu sinto a tua vida tornando a morte numa miragem.
Quando voltarem a subir as marés
lá estarei, meu amor, levarei a minha harpa e tocarei para as estrelas a tua música
até que o mar te desperte.