quinta-feira, abril 28, 2011

MANOEL BARBOSA INTEGRA CONSELHO CONSULTIVO DA EICEL.

Prosseguindo o importante apoio concedido ao longo dos últimos quatro anos ao Processo de estudo e salvaguarda do património mineiro do concelho de Rio Maior, materializado em diferentes artigos de opinião, o pintor e performer riomaiorense Manoel Barbosa integra, desde o passado dia 1 de Abril, o Conselho Consultivo da EICEL, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico.

Manoel Barbosa vem defendendo, desde a década de setenta, a criação de um museu municipal e a projecção de Rio Maior enquanto território criativo através de uma aposta estratégica na cultura contemporânea e na identidade local. Reproduzimos opinião publicada no Região de Rio Maior, em Dezembro de 2010, sobre a possibilidade de recuperação da antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal:

"Não hesitaria em recuperar os edifícios, instalar a História da Mina e da Geologia concelhia e, colocar (!) de vez (!!) a cidade e o concelho (geoestrategicamente excelente) na rota das cada vez mais apetecidas “ofertas” da cultura contemporânea – artes cénicas, sonoras e visuais, exposições, etc. Garantidamente, tudo isso será (muito) viável, com custos mínimos ou suportáveis, se bem programado e protocolado com instituições e autores. Atrairá públicos, quiçá novos residentes (sentindo-se bem com “oferta” cultural...), revitalizará o comércio e a economia – não faltam exemplos, em Portugal, de pequenas e médias localidades exponenciadas e vivificadas pela cultura (!), que pode e deve gerar lucro! Naquela modelar arquitectura industrial post II G.Guerra, podem instalar o que quiserem!"

(Fotografia gentilmente cedida pelo Jornal Região de Rio Maior)

In Região de Rio Maior nº1176, de 22 de Abril de 2011

EICEL. Programa de Acção 2011-2014 (Parte 3)

(continuação do n.º1175, de 15 de Abril de 2011, pág 7)

1.1.1 – Proposta de criação de um Parque Geomineiro

Mário Barroqueiro (2006) analisa no plano académico a sustentabilidade de projectos de reabilitação e reconversão de antigos pólos de indústria mineira propondo como solução a criação de parques geomineiros (16), que define como “espaços situados em centros mineiros, onde se protege o património geológico e mineiro ali existente e onde são criadas infra-estruturas de forma a poderem ser visitados pelo público, sempre com objectivos lúdicos, didácticos e científicos” (17).

No caso do Couto Mineiro do Espadanal importava reflectir sobre a potencialidade do património existente para a criação de um espaço com estas características. O levantamento das evidências patrimoniais da extracção mineira de carvões em Rio Maior permitiu-nos concluir, não obstante a destruição operada na última década, pela existência de um património material e imaterial relevante e passível de salvaguarda e apresentação pública. A inexistência de qualquer passivo ambiental da exploração simplifica substancialmente a sua recuperação.

Evidencia-se a possibilidade de criação de áreas verdes lúdicas e didácticas de carácter urbano e florestal nos três antigos pólos da actividade técnica da mina (Espadanal, Bogalhos e Plano), interligadas por percursos pedonais, criando-se um modelo de preservação, recuperação e interpretação das estruturas existentes. Perante a destruição quase completa do pólo do Espadanal, avaliou-se um conjunto de funcionalidades complementares a instalar nos pólos de Plano e Bogalhos:

1. Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro, dotado de Centro de Documentação e Reservas, a instalar na antiga fábrica de briquetes.

2. Auditório e Sala de Exposições Temporárias, a instalar na antiga central eléctrica da fábrica de briquetes.

3. Centro de Ciência Viva dedicado à Indústria Mineira dos Carvões, a instalar na antiga Receita Exterior e Plano Inclinado de Extracção.

4. Unidade de turismo de habitação a instalar nas antigas residências de mineiros do pólo dos Bogalhos, mediante recuperação das estruturas existentes.

Destas propostas avulta uma dificuldade de base a ultrapassar: o elevado volume de investimento necessário para a recuperação de estruturas degradadas. Não nos parece ser este, no entanto, um critério fundamental para a avaliação da sustentabilidade do empreendimento, uma vez que, assegurada a salvaguarda do património existente, a sua recuperação deverá assentar num modelo faseado e prolongado no tempo, de acordo com as estratégias de financiamento possíveis.

A sustentabilidade de um projecto com estas características residirá sobretudo na sua capacidade de mobilização da comunidade local e da comunidade científica. Obtida uma consciência colectiva do valor do património mineiro riomaiorense, impõe-se a concertação de esforços para a sua recuperação, através do estabelecimento de protocolos de cooperação entre o Movimento Associativo local e nacional, a Autarquia, Instituições de Investigação Científica e Ensino Superior e entidades privadas.

Neste plano defendemos o estabelecimento de uma estrutura ao serviço da comunidade (18), aberta à participação de todos os interessados e em particular da comunidade educativa local, constituindo suporte para projectos diversificados de intervenção cultural e científica. Numa cidade que revela total carência de estruturas museológicas e arquivísticas, a recuperação e reutilização do património mineiro deverá permitir a constituição de um núcleo por excelência para o estudo e divulgação do património histórico, natural e cultural riomaiorense.


















Conjunto de 8 casas em banda construídas pela EICEL em 1946 nas imediações da secção dos Bogalhos e da mina de diatomite do Abum. Estado de conservação em Março de 2010.

Notas:
(16) O conceito de Parque Geológico e Mineiro foi defendido em 2001 por Josep Mata-Perelló no II Seminário Recursos Geológicos, Ambiente e Ordenamento do Território, realizado em Vila Real. Ver: MATA-PERELLÓ, J., et. al. – “Los parques geológicos y mineros: uma alternativa a la degradación de las antiguas área mineras”. In Actas do II Seminário Recursos Geológicos, Ambiente e Ordenamento do Território. Vila Real: UTAD, 2001, pp. 15-25.

(17) BARROQUEIRO, Mário – O declínio de centros mineiros tradicionais no contexto de uma geografia industrial em mudança. Dissertação de Mestrado em Geografia Humana e Planeamento Regional e Local, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa sob a orientação do Prof. Dr. Mário Vale, Lisboa, 2005. Exemplar policopiado, pág. 164.

(18) “O museu é uma instituição ao serviço da sociedade, da qual é parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formação da consciência das comunidades que ele serve.” Declaração de Santiago. Mesa-Redonda de Santiago do Chile – ICOM, 1972. Disponível na internet via: http://www.museologia-portugal.net/

Continua no próximo número do Região de Rio Maior

In Região de Rio Maior nº1176, de 22 de Abril de 2011

quinta-feira, abril 21, 2011

PATRIMÓNIO MÓVEL DA ANTIGA MINA DO ESPADANAL

EICEL ASSINA PROTOCOLOS DE COLABORAÇÃO COM JORGE MONTEIRO E FERNANDO PIEDADE.

Prosseguindo cooperação estabelecida no âmbito do Processo de estudo e salvaguarda do património mineiro do concelho de Rio Maior, a EICEL, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico celebrou, no passado dia 31 de Março, protocolos de colaboração com Jorge Alexandre Carvalho Monteiro e Fernando Conceição Piedade, tendo como objectivo a conservação e exposição pública de património móvel originário do antigo Couto Mineiro do Espadanal.


Foi doada por Jorge Monteiro uma planta do traçado da Estrada Nacional n.º 114, entre Boiças e S. João da Ribeira, pertencente ao arquivo da antiga Empresa Industrial, Carbonífera e Electrotécnica, Limitada, dispersado em parte na posse de privados no final da década de noventa, e cuja recuperação constitui objectivo da EICEL, com vista à futura criação de um Centro de Documentação.

Por Fernando Piedade foi doado um conjunto de peças recuperadas da antiga exploração mineira, compreendendo uma Caixa de Ponto, um briquete de lignite produzido na antiga fábrica de briquetes do engenheiro Gregori Filitti, uma picareta, um metro articulado das antigas oficinas de carpintaria, uma tenaz, uma roldana de cabo de aço, duas lancheiras utilizadas por mineiros, dois tubos de ensaio do laboratório, um estojo de metal para seringas e uma balança originários do antigo posto médico da empresa.

A EICEL prevê a exposição ao público do espólio que vem sendo reunido, no âmbito de actividades de divulgação e valorização do património mineiro do concelho de Rio Maior a organizar no decurso do ano de 2011.

Figura 1: Caixa de ponto da EICEL; figura 2: Extracto de planta do traçado da Estrada Nacional nº114, entre Boiças e S. João da Ribeira, pertencente ao arquivo EICEL; figura 3: Picareta.

In Região de Rio Maior nº1175, de 15 de Abril de 2011

EICEL. Programa de Acção 2011-2014 (Parte 2)

(continuação do n.º 1174, de 8 de Abril de 2011, pág. 7)

Localizada a 80 km (50 minutos) de uma capital europeia (Lisboa) e servida de boas acessibilidades, a cidade de Rio Maior constitui o ponto focal de um território caracterizado por uma relevante diversidade de eventos geológicos, destacando-se o Maciço Calcário Estremenho, o Vale Tifónico e as Salinas da Fonte da Bica, o afloramento basáltico prismático de Alcobertas, a bacia de lignites e diatomites do Espadanal marcada por significativo património mineiro, e os importantes depósitos de areias de sílica ainda em exploração.

Adivinha-se o potencial de criação de uma estratégia de valorização territorial assente no património geológico e mineiro – produto turístico apetecível pela sua diversidade paisagística, valor histórico e científico, acessibilidade e posicionamento geográfico, produzindo uma oferta profundamente firmada no território e abrindo perspectivas à exploração de vertentes complementares de turismo geomineiro, turismo cultural e turismo de habitação.

O interesse por este património natural, histórico e tecnológico ultrapassou já largamente um tradicional círculo de grupos socioprofissionais específicos (5), estendendo-se a um público cada vez mais alargado. Como reconhece Álvaro Domingues (2000), “o alargamento da escolarização, a renovação das metodologias pedagógicas (aprender vendo e fazendo), o interesse pela ciência e tecnologia, criaram públicos jovens ávidos por centros, cidades, museus… de ciência e tecnologia, onde a museologia industrial encontra um território fértil” (6).

O Programa Nacional de Ciência Viva constitui o mais destacado exemplo da concretização prática desta tendência em Portugal. Criado em 1996 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, compete a este programa “o apoio a acções dirigidas para a promoção da educação científica e tecnológica na sociedade portuguesa, com especial ênfase nas camadas mais jovens e na população escolar dos ensinos básico e secundário” (7).

A Ciência Viva desenvolve-se em três vertentes:

1. Ciência Viva nas Escolas, através de um “programa de apoio ao ensino experimental das ciências e à promoção da educação científica na escola” (8).

2. A Rede Nacional de Centros Ciência Viva, “concebidos como espaços interactivos de divulgação científica para a população” (9), constituindo “plataformas de desenvolvimento regional – científico, cultural e económico – através da dinamização dos actores regionais mais activos nestas áreas” (10).

3. Divulgação Científica e Tecnológica, através de “campanhas nacionais de divulgação científica, estimulando o associativismo científico e proporcionando à população oportunidades de observação de índole científica e de contacto directo e pessoal com especialistas em diferentes áreas do saber” (11).

O estabelecimento de uma rede de Centros de Ciência Viva em todo o território nacional vem sendo realizado com o apoio de universidades, autarquias, empresas e outros agentes de desenvolvimento regional, constituindo os lugares por excelência da aproximação dos cidadãos à ciência e ao património científico e tecnológico.

A Rede Nacional de Centros Ciência Viva é actualmente composta por 19 Centros distribuídos peloterritório continental e ilhas (12). O sucesso é mensurável nos números de visitantes registados, de entre os quais se destaca o Pavilhão do Conhecimento (13), em Lisboa, com 2.572.373 visitantes (uma média diária de 800 visitantes) desde a sua abertura até ao final de Dezembro de 2009. Importa, no entanto, retermos o exemplo mais próximo da realidade do concelho de Rio Maior: o Centro de Ciência Viva do Alviela (14), em Alcanena, inaugurado a 15 de Dezembro de 2007, que registou desde então, e até Julho de 2010, mais de 48.700 visitantes (uma média diária de 300 visitantes).

O primeiro Centro de Ciência Viva dedicado à actividade mineira foi oficialmente inaugurado a 29 de Junho de 2010 nas Minas do Lousal (15), concelho de Grândola, concretizando um investimento de 2.500.000€, num projecto participado pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, pela Faculdade de Ciências e o Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa, pela Câmara Municipal de Grândola e pela Fundação Frédéric Velge, proprietária da antiga exploração mineira.

O projecto de recuperação e reutilização da antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal oferece, pela relevância histórica e tecnológica do património existente, um quadro de oportunidade para o estudo de futura instalação de um Centro de Ciência Viva dedicado à indústria mineira dos carvões. Uma primeira etapa neste percurso se antevê, no entanto, necessária: a reinstalação do património mineiro no quadro de vida da cidade de Rio Maior e a sua divulgação junto das comunidades escolar e científica e do público em geral. Com esse objectivo propomos o desenvolvimento de duas iniciativas coordenadas: a criação de um Parque Geomineiro nas antigas parcelas do Couto Mineiro do Espadanal e o estabelecimento de parcerias nacionais e internacionais para a sua promoção.

Notas:
(5) BRANDÃO, J.M. – “Recuperação e fruição de uma herança patrimonial comum”. In Actas do Congresso Internacional sobre Património Geológico e Mineiro. Lisboa: Museu do Instituto Geológico e Mineiro, 2002, pág. 7.

(6) DOMINGUES, Álvaro – “Museologia Industrial – O que está a mudar?”. In 1º Encontro Internacional sobre Património e sua Museologia. Comunicações. Lisboa: EPAL, 2000, pp.7-10.

(7) “Ciência Viva – A Agência Ciência Viva”. Disponível na internet via: http://www.cienciaviva.pt/cienciaviva/agencia.asp

(8) “Ciência Viva – O Programa”. Disponível na internet via: http://www.cienciaviva.pt/cienciaviva/programa/

(9) Idem, ibidem.

(10) Idem, ibidem.

(11) Idem, ibidem.

(12) Página Web da Rede Nacional de Centros Ciência Viva. Disponível na internet via: http://www.centroscienciaviva.pt/

(13) Dados disponíveis na página Web do Pavilhão do Conhecimento. Disponível na internet via: http://www.pavconhecimento.pt/pavilhao/n_visitantes/

(14) Dados disponíveis na página Web do Centro de Ciência Viva do Alviela. Disponível na internet via: http://www.alviela.cienciaviva.pt/centro/visitantes/

(15) Página Web do Centro de Ciência Viva do Lousal. Disponível na internet via: http://www.lousal.cienciaviva.pt/

(Continua no próximo número do Região de Rio Maior)

In Região de Rio Maior nº1175, de 15 de Abril de 2011

sexta-feira, abril 15, 2011

EICEL PARTICIPOU NO 1º ENCONTRO EM ESPAÇOS MINEIROS, EM S. PEDRO DA COVA (GONDOMAR).

No passado dia 26 de Março, a EICEL – Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, representada por Nuno Alexandre Rocha, António Vieira de Carvalho, João Verde da Costa e Marcelino Pedro Machado, marcou presença no primeiro “Encontro em Espaços Mineiros”, organizado em S. Pedro da Cova pela Secção de Minas da Associação Portuguesa para o Património Industrial (Geomin-APPI), entidade coordenada por Mário Barroqueiro (presidente da Mesa da Assembleia Geral da EICEL), em colaboração com a Junta de Freguesia e o Museu Mineiro daquela localidade.

Este evento, centrado na história da exploração de carvão nas Minas de S. Pedro da Cova, nas suas vertentes económica, patrimonial e humana, focalizando-se sobretudo, na problemática decorrente do seu encerramento em 1970, com a imediata venda de equipamentos e materiais, que originaram uma significativa destruição patrimonial; e no trabalho realizado desde 1989 para a salvaguarda e recuperação museológica do património material e imaterial sobrevivente, contou com visita guiada ao museu e ao que resta do complexo industrial mineiro, com o visionamento de filme realizado por Rui Simões em 1976, e com a apresentação de palestras.

A salvaguarda do património mineiro tem sido assumida pelas entidades públicas de S. Pedro da Cova e Gondomar como um importante factor de valorização da memória histórica da comunidade, e um catalisador para a promoção do desenvolvimento económico, cultural e turístico da região. Neste sentido, a Junta de Freguesia adquiriu um edifício, a “Casa da Malta”, que albergava operários oriundos de outras regiões do país, e transformou-o em Museu Mineiro, constituindo com o restante complexo um percurso museológico integrado no “Roteiro das minas e pontos de interesse mineiro e geológico de Portugal”. Há cerca de um ano, um elemento icónico deste complexo, o Poço de S. Vicente, foi declarado Património de Interesse Municipal, e actualmente, a Câmara Municipal de Gondomar tem já aprovado um plano de requalificação de todo aquele espaço.

Como corolário deste encontro, a Geomin-APPI elaborará um memorando com propostas e sugestões de melhoria para a intervenção no património mineiro de S. Pedro da Cova. Rio Maior acolherá um próximo “Encontro em Espaços Mineiros”, prosseguindo, no âmbito dos objectivos de actuação da EICEL, a inserção e divulgação do património mineiro riomaiorense numa rede nacional de espaços mineiros. E.

In Região de Rio Maior nº1174, de 8 de Abril de 2011

EICEL. Programa de Acção 2011-2014 (Parte 1)

O documento cuja publicação se inicia contém textos integrantes de Dissertação de Mestrado submetida pelo autor ao Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa sob o título Couto Mineiro do Espadanal (Rio Maior). História, Património, Identidade.



















Enquadramento da fábrica de briquetes da Mina do Espadanal no tecido urbano da cidade de Rio Maior. Abril de 2008


EICEL – PROGRAMA DE ACÇÃO PARA O QUADRIÉNIO 2011 – 2014

1 – ESTUDOS PARA A CONSTITUIÇÃO DE NÚCLEO MUSEOLÓGICO MINEIRO. PROPOSTA DE RECUPERAÇÃO FASEADA E REUTILIZAÇÂO DA FÁBRICA DE BRIQUETES DA MINA DO ESPADANAL.

1.1 – REINSTALAÇÃO DO PATRIMÓNIO MINEIRO NO QUADRO DE VIDA DA COMUNIDADE RIOMAIORENSE

Um dos grandes desafios resulta de se tratar de um património em risco de desaparecer e sem uso actual. E aqui a questão central será como utilizá-lo e colocá-lo ao serviço do desenvolvimento, envolvendo as populações locais. Importa, neste contexto identificar e inventariar recursos (naturais e culturais) e (re)activar memórias e identidades. Depois, se se mostrar viável, transformá-los em produto de consumo, por via de estratégias de turismo cultural e através disso pensar quais as melhores formas de gestão, de protecção e de valorização” (1).

A cidade enquanto espaço de Conhecimento é, como de forma inspiradora a expõe João B. Serra (2010), uma cidade “que tira partido das raízes, da memória genética, que a desenvolve, que inova, que refaz os desígnios e alicia os protagonistas para a sua partilha” (2). É assim uma cidade democrática e participada – “dinâmica, porque reflecte, é reflexiva não é um puro reflexo” (3) – uma cidade que se recusa a ser mera reprodução mimética e extensível de modelos rentáveis de ocupação de solo, que “repudia a indiferença e a resignação, não se importa de correr riscos, de perturbar, de acrescentar, de ousar, de marcar presença” (4).

A persistência no espaço urbano de lugares de memória onde é possível ainda tocar o tempo histórico da construção das comunidades constitui uma oportunidade de reflexão sobre os processos de edificação da cidade contemporânea. Neste contexto, o património Industrial – um dos mais eloquentes testemunhos da aceleração de processos de transformação da humanidade desde o final do século XVIII – detém em si um valor universal que vem merecendo o reconhecimento generalizado pela comunidade científica internacional. Lugares da concretização de um esforço anónimo de gerações, a sua preservação é mais que a simples reutilização de velhos edifícios – é assegurar um futuro à evidência material da esperança e empenho de homens e mulheres comuns – é manter vivo o espírito de um tempo de construção de audaciosos monumentos de trabalho.

Herança recente e distante das concepções tradicionais de património cultural, uma paisagem industrial silenciada pelos processos de transformação económica e tecnológica das últimas décadas, aguarda a resolução do complexo desafio da sua reintrodução significante no quadro de vida das comunidades. Presenças expectantes, exteriores ao tecido produtivo, rentável, das cidades, os desafectados complexos industriais enfrentam riscos de destruição total ou parcial que apenas uma abordagem assente num profundo conhecimento das suas potencialidades, materializada na produção de sólidas propostas de adaptação e reutilização, poderá evitar.

A criação de museus e espaços dedicados à ciência e cultura, capitalizando o potencial de conhecimento técnico e científico presente na antiga actividade industrial junto de um público em crescimento pelo aumento da escolaridade e pelo potencial de atractividade de metodologias participativas de aquisição de conhecimento, vem constituindo uma abordagem de sucesso em diferentes países europeus.

Os antigos edifícios industriais poderão assumir-se enquanto lugares reabitados de uma nova indústria – lugares de valorização e transformação de uma mais valiosa matéria-prima: as ideias e os valores das comunidades humanas.

Notas:

(1) BARROQUEIRO, Mário – O declínio de centros mineiros tradicionais no contexto de uma geografia industrial em mudança. Dissertação de Mestrado em Geografia Humana e Planeamento Regional e Local, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa sob a orientação do Prof. Dr. Mário Vale, Lisboa, 2005. Exemplar policopiado, pp. 173-174.

(2) SERRA, João Bonifácio – “Manifesto pela Cidade Imaginária”. In O que eu andei… Disponível na internet via: http://oqueeuandei.blogspot.com/2010/06/manifesto-pela-cidade-imaginaria.html

(3) Idem, ibidem.

(4) Idem, ibidem.

(Continua no próximo número do Região de Rio Maior)

In Região de Rio Maior nº1174, de 8 de Abril de 2011

sexta-feira, abril 08, 2011

EICEL. Programa de Acção 2011-2014 (apresentação)

Levantamento arquitectónico da fábrica de briquetes da mina do Espadanal. Desenho n.º 11. Nuno Alexandre Rocha. Arq.

Após a criação da EICEL, a 29 de Novembro de 2010, e na sequência da eleição dos primeiros corpos dirigentes, em Assembleia-Geral realizada a 15 de Janeiro do corrente ano, foi aprovado por unanimidade o Programa de Acção desta associação de defesa do património para o quadriénio 2011-2014.

O documento aprovado estabelece como objectivo o desenvolvimento coerente do Processo de estudo e salvaguarda do património mineiro do concelho de Rio Maior dando sequência aos estudos consolidados na Dissertação de Mestrado “Couto Mineiro do Espadanal (Rio Maior). História, Património, Identidade” submetida pelo Presidente da Direcção, arquitecto Nuno Rocha, ao Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na qual se produz uma leitura detalhada da história e do universo patrimonial subsistente, seu estado de conservação e potencialidade de reutilização apresentando propostas para a sua reintegração na vivência urbana da nossa cidade.

Criada e desenvolvida, nos últimos cinco anos, uma ampla consciência cívica do valor da história e do património mineiro riomaiorense, reunida a antiga comunidade mineira em torno de um projecto de recuperação, bem como obtido o seu reconhecimento pela comunidade científica, importa estabelecer no terreno uma metodologia sustentada de intervenção. Analisado o elevado investimento necessário à implementação de uma solução de restauro global, numa época marcada por notórias dificuldades de financiamento e em final de ciclo dos Quadros Comunitários de Apoio, verifica-se a improbabilidade, no curto prazo, de uma recuperação executada unicamente a expensas do Município.

Neste contexto, a EICEL apresenta uma proposta de intervenção faseada, numa estreita cooperação entre a autarquia, o movimento associativo, instituições de ensino superior e entidades privadas vocacionadas para o apoio a projectos culturais no âmbito do mecenato.

Tendo como objectivo a divulgação das propostas da EICEL à comunidade e a promoção de um debate profícuo sobre as soluções apresentadas – abertas a uma desejável valorização através do contributo dos riomaiorenses – terá início no próximo número do Região de Rio Maior a publicação semanal do Programa de Acção.
























Levantamento arquitectónico da fábrica de briquetes da mina do Espadanal. Desenho n.º 6. Nuno Alexandre Rocha. Arq.


(Continua no próximo número do Região de Rio Maior)

In Região de Rio Maior nº1173, de 1 de Abril de 2011

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

EICEL E CÂMARA MUNICIPAL REÚNEM PARA LANÇAMENTO DE TRABALHO CONJUNTO NA VALORIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO MINEIRO




















Na passada quinta-feira, 10 de Fevereiro, teve lugar nos Paços do Concelho a primeira reunião entre a EICEL, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico e a Câmara Municipal de Rio Maior, contando com a presença da Presidente Isaura Morais e da Vereadora Sara Fragoso, em representação do executivo, de Nuno Alexandre Rocha, António Vieira de Carvalho, João Verde da Costa e Marcelino Machado, em representação da EICEL, e de José Manuel Brandão, membro do Conselho Científico desta associação e representante em Portugal da Sociedade Espanhola para a Defesa do Património Geológico e Mineiro (SEDPGYM).

O Presidente da Direcção da EICEL, Nuno Rocha, procedeu a um enquadramento da história e do património do período mineiro riomaiorense, bem como a uma síntese do trabalho realizado desde 2005 no âmbito do Processo de estudo e salvaguarda do património mineiro do concelho de Rio Maior.

Seguiu-se a apresentação do programa de acção da EICEL para o quadriénio 2011-2014, com a oferta de um exemplar ao executivo municipal. Deste programa, que merecerá publicação nas páginas do Região de Rio Maior, destaca-se a disponibilização de todo o volume de trabalho realizado e espólio reunido com vista à concepção e instalação de Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro do Concelho de Rio Maior na antiga fábrica de briquetes da mina do Espadanal, entendido como valência essencial a integrar em estratégia global de recuperação impulsionada pelo Município.

Foi sublinhada a convergência de objectivos entre as duas entidades verificando-se a necessidade de lançamento de uma equipa de trabalho conjunta que permita a produção de resultados concretos ainda durante o ano de 2011, nomeadamente na organização de acções de valorização do património envolvendo a comunidade escolar riomaiorense e a comunidade científica nacional.

Neste sentido foi analisada a possibilidade de co-organização de uma terceira Jornada do Património Mineiro, no final do presente ano lectivo, com a apresentação dos resultados de cooperação da EICEL com os professores Paulo Sá e Rosa Batista, em desenvolvimento por dois grupos de alunas da Escola Secundária de Rio Maior, bem como a possibilidade de realização em Rio Maior de Encontro Internacional dedicado ao Património Mineiro dos Carvões a co-organizar pela EICEL, pela Câmara Municipal de Rio Maior e pela SEDPGYM.

In Região de Rio Maior nº1167, de 18 de Fevereiro de 2011

sábado, fevereiro 12, 2011

PATRIMÓNIO MÓVEL DA ANTIGA MINA DO ESPADANAL

EICEL E JOSÉ LUÍS BAPTISTA CRISÓSTOMO ASSINAM PROTOCOLO DE COLABORAÇÃO

Dando continuidade a cooperação estabelecida, desde o ano de 2008, no âmbito do Processo de estudo e salvaguarda do património mineiro do concelho de Rio Maior, coordenado pelo arquitecto Nuno Rocha, foi celebrado, no passado domingo, dia 30 de Janeiro, um protocolo de colaboração entre o Sr. José Luís Baptista Crisóstomo e a EICEL, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, tendo como objectivo a conservação e exposição pública de património móvel originário do antigo Couto Mineiro do Espadanal, recuperado na década de setenta após o desmantelamento e venda de todo o equipamento do complexo industrial.

O conjunto de peças inventariadas, algumas das quais já oportunamente apresentadas à comunidade no decurso das duas Jornadas do Património Mineiro realizadas em 2008 e 2009, compreende um moinho de cilindros dentados da secção de trituração da antiga fábrica de briquetes, dotado de motor eléctrico e respectivo arrancador, um chassis de vagoneta com rodados, uma máquina utilizada na rectificação dos moldes da prensa de briquetes e uma porta de fornalha originária da central eléctrica da antiga fábrica de briquetes.

A EICEL prevê a exposição ao público das peças recuperadas, no âmbito de actividades de divulgação e valorização do património mineiro do concelho de Rio Maior a organizar no decurso do ano de 2011.


Imagens: 01. Moinho de cilindros da secção de trituração da antiga fábrica de briquetes; 02. Porta de fornalha da central elécrtica da antiga fábrica de briquetes; 03. Arrancador do motor eléctrico do moinho de cilindros; 04. Chassis de vagoneta com rodados; 05. Máquina de rectificação dos moldes da prensa de briquetes.

In Região de Rio Maior nº1165, de 4 de Fevereiro de 2011

domingo, janeiro 30, 2011

EICEL - Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico reúne primeira Assembleia-Geral


















I Assembleia-Geral da EICEL: Da esquerda para a direita: Mário Barroqueiro, Jorge Mangorrinha, Nuno Rocha, Alexandre Araújo e João Verde da Costa.

Na sequência do acto de constituição, realizou-se no passado dia 15 de Janeiro a I reunião ordinária da Assembleia-Geral da EICEL, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico. No âmbito da ordem de trabalhos procedeu-se à eleição dos corpos sociais e à apreciação do Programa de Acção para o Quadriénio 2011-2014.

A EICEL centrará os seus esforços, em particular, no estudo e valorização das evidências materiais e imateriais da actividade dos coutos mineiros do Espadanal, da Quinta da Várzea e Rio Maior, concessionados à antiga Empresa Industrial Carbonífera e Electrotécnica Limitada (EICEL).

Com este objectivo foram constituídas três comissões especializadas que apoiarão com o seu parecer as actividades programadas pelos corpos sociais eleitos:

1 - O Conselho Científico, integrando especialistas nacionais das diferentes áreas científicas associadas aos estudos sobre o património mineiro, industrial e arquitectónico, que conta com a participação do Prof. Doutor José Manuel Cordeiro, representante em Portugal do Comité Internacional para a Conservação do Património Industrial (TICCIH) e Presidente da Associação Portuguesa para o Património Industrial (APPI), e do Doutor José Manuel Brandão, representante em Portugal da Sociedade Espanhola para a Defesa do Património Geológico e Mineiro (SEDPGYM).

2 – O Conselho Consultivo, integrando individualidades que contribuíram para o reconhecimento do valor do património mineiro riomaiorense, que conta desde já com a participação da Dra. Maria Júlia Faria e Silva Antunes Figueiredo, deputada da Assembleia Municipal de Rio Maior, da Dra. Maria da Ascenção Adrião Duarte, Assessora da Assembleia da República e do Comandante Luís Fernando Falcão Mena, filho do antigo Director Técnico das Minas do Espadanal, Eng.º Luís Falcão Mena.

3 – A Comissão de antigos funcionários da EICEL, que integra presentemente os Srs. Marcelino Machado, Miguel Barbosa da Palma, Silvestre Cardana, Víctor Almeida, Alcino Marques, Manuel Palminhas, Francisco Rogério, António Severino Pereira e João Severino Inácio.
Dos trabalhos da I Assembleia-Geral resultou a seguinte constituição dos corpos sociais da EICEL para o quadriénio 2011-2014:

Direcção:

Presidente: Nuno Alexandre Dias Rocha. Arquitecto, pós-graduado em Arte, Património e Teoria do Restauro.
Vice-Presidente: António José Vieira de Carvalho. Médico.
Vogal: João Luís Mota Bogalho. Arquitecto, professor do ensino secundário.

Mesa da Assembleia-Geral .

Presidente: Mário Luís Gaspar Barroqueiro. Geógrafo, mestre em Geografia Humana e Planeamento Regional e Local. Coordenador da secção de minas da Associação Portuguesa para o Património Industrial.
1º Secretário: Jorge Manuel Mangorrinha Martins. Arquitecto, mestre em História Local e Regional (especialização em Património), doutor em Urbanismo.
2º Secretário: Eva Raquel da Silva Neves. Especialista em conservação e restauro.

Conselho Fiscal .

Presidente: João Narciso Verde da Costa. Sondador do antigo Instituto Geológico e Mineiro, aposentado.
Secretário: Marcelino Pedro Machado. Antigo mineiro e operário da Empresa Industrial Carbonífera e Electrotécnica Limitada (EICEL)
Relator: Alexandre Miguel Paula Araújo. Técnico de informática.

Os representantes dos órgãos eleitos sublinharam o seu empenho no estabelecimento de uma estreita cooperação cívica com as entidades locais que permita a recuperação do património mineiro enquanto meio de valorização da comunidade riomaiorense.

In Região de Rio Maior nº1163, de 21 de Janeiro de 2011

sexta-feira, dezembro 17, 2010

CRIADA A EICEL




CONSTITUÍDA A EICEL, ASSOCIAÇÃO PARA A DEFESA DO PATRIMÓNIO MINEIRO, INDUSTRIAL E ARQUITECTÓNICO.

Tendo como objectivo o prosseguimento do processo de estudo e salvaguarda do património mineiro do concelho de Rio Maior, e perante a existência de divergências internas insanáveis no seio do Centro de Estudos Riomaiorenses (CER), confirmou-se a necessidade de criação de uma nova plataforma de trabalho com capacidade operativa e científica no âmbito da cooperação desenvolvida entre os vários parceiros do projecto.

Surgiu neste contexto, no passado dia 29 de Novembro, a EICEL, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, recuperando, como homenagem, a sigla histórica da antiga empresa concessionária do Couto Mineiro do Espadanal, fundada em 1920.

A nova estrutura associativa promoverá o desenvolvimento do trabalho em curso reunindo diversos membros da comunidade associados ao longo dos últimos cinco anos e todos os seus parceiros científicos, integrando uma Comissão de Antigos funcionários da EICEL, e prevendo ainda a criação de duas novas comissões especializadas: uma Comissão Consultiva integrando individualidades que contribuíram para o reconhecimento do valor do património mineiro riomaiorense e uma Comissão Científica integrando especialistas nacionais das diferentes áreas científicas associadas aos Estudos sobre o património mineiro, industrial e arquitectónico.

In Região de Rio Maior nº1157, de 10 de Dezembro de 2010

terça-feira, dezembro 07, 2010

MINA DESMINADA !?

A notícia, no “Região de Rio Maior” (05 de Novembro), “Recuperação da fábrica de briquetes da Mina do Espadanal assegurada sem custos para o município. CER aguarda autorização da Câmara Municipal” , recoloca ao executivo camarário (e à oposição), à assembleia municipal e à junta de freguesia de Rio Maior, não um problema, mas sim uma feliz herança que requer solução urgente, bastante atenta e decisiva: que futuro para todo o espaço edificado e envolvente da Mina do Espadanal.

Sendo possível, proximamente, a execução da primeira fase dum plano de recuperação parcial sem encargos para a autarquia, fica desse modo sinalizado mais um momento histórico (e irreversível) do marcante, extraordinário e modelar complexo mineiro.

É de facto uma feliz herança para a autarquia e para os riomaiorenses, possuir esse património não só local, mas também da História do país. Escuso-me, porque desnecessário, relevar aqui a importância da extracção de minério, durante décadas, quase imediatamente post II Grande Guerra, e a sua contribuição para solucionar um problema nacional, o desenvolvimento e introdução de novos relacionamentos que provocou na então vila, o acolhimento, integração de muitas centenas de famílias e consequente “repovoamento” com mais nativos e diferentes culturas, a projecção e o conhecimento do concelho, a reactivação do comércio local, e tudo o que moveu, indiciou, proporcionou. Muito raramente vejo, ao longe, “A Mina”. Mas sempre que tal acontece, tenho a sensação (quem a não terá?) duma re-identidade e simultaneamente dum apelo vindo do imponente edifício e da icónica chaminé: “aproveitem-me !” Tem de ser aproveitado !, todo aquele complexo e áreas envolventes !

Não tendo o município monumentos históricos identitários a nível nacional (as Marinhas de Sal são uma raridade), seria incompreensível, inadmissível e indesculpável se a Câmara não recuperasse tão peculiar território (incluindo o subterrâneo) e não projectasse o concelho a partir dum novo, necessário e urgente zénite, no caso (também, finalmente ?) cultural, museológico e turístico. Sabendo o que instalar, como promover acervos e para quem direccionar actividades, acredito que a autarquia o fará, em tempo certo, apesar da crise e da enorme, cerceadora dívida por resolver: Existem vontades inabaláveis; há um projecto detalhado, decisivo (concretizado pelo impagável arquitecto Nuno Alexandre Rocha) e um movimento associativo que, não só alertou para a situação, mas também promoveu acções de sensibilização e de recolha de utensílios e de documentos. Os apoios surgirão se correctamente solicitados às entidades nacionais e europeias competentes. Em suma, porque reutilizáveis para fins culturais, patrimoniais, educacionais e lúdicos, aqueles edifícios e terrenos não devem, não podem, ser demolidos nem vendidos a interesses particulares, como quase aconteceu em 2007.

Compete à Câmara congregar, aproveitar competências dos cidadãos, de instituições, e co-organizar correctamente as coordenadas iniciáticas dum projecto singular e exemplar. Publicamente, que se saiba, poucos riomaiorenses com responsabilidades políticas, sociais e culturais conseguiram (ou quiseram), nos últimos anos, pensar, activar turística e culturalmente “A Mina”. Não há (infelizmente durante décadas ninguém teve discernimento para tal) uma substancial recolha de instrumentos de trabalho, de máquinas, de quantidade interessante de briquetes, etc, etc.

Museologicamente, naqueles espaços enormes serão exibíveis as “peças” possíveis (não são poucas), mas, com imaginação e criatividade lúcidas e direccionadas especificamente ao concelho, também à região e sobretudo ao país, pode, a entidade orientadora e programadora, criar áreas de lazer, um pólo museológico, um centro de estudos e simultaneamente um complexo cultural polivalente dedicado à contemporaneidade.

Simples (de nada valerá, sei-o) opinião minha: não hesitaria em recuperar os edifícios, instalar a História da Mina e da Geologia concelhia e, colocar(!) de vez(!!) a cidade e o concelho (geoestrategicamente excelente) na rota das cada vez mais apetecidas “ofertas” da cultura contemporânea – artes cénicas, sonoras e visuais, exposições, etc. Garantidamente, tudo isso será (muito) viável, com custos mínimos ou suportáveis, se bem programado e protocolado com instituições e autores. Atrairá públicos, quiçá novos residentes (sentindo-se bem com “oferta” cultural...), revitalizará o comércio e a economia – não faltam exemplos, em Portugal, de pequenas e médias localidades exponenciadas e vivificadas pela cultura !, que pode e deve gerar lucro ! Naquela modelar arquitectura industrial post II G.Guerra, podem instalar o que quiserem!

O actual executivo camarário ficará ligado à História da cidade e do concelho, ao provocar uma necessária e motivante descolagem com o quotidiano, aproveitando as infra-estruturas, os espaços, para pensar, estruturar e activar o futuro ! Se objectivar a longo prazo face às necessidades dos estratos sociais, dos graus etários, dos conhecimentos culturais dos cidadãos. Se quiser concluir que vive num irreversível “mundo global” que necessariamente respeita, preserva, estuda, mostra, promove mas não pára no Passado, num período contemporâneo célere, hiper-criativo, ávido por dinâmicas para o Séc.XXI e já liberto de constrangimentos políticos, administrativos ou sociais.

Manoel Barbosa

Lisboa 2010 Novembro

N : Recuso-me escrever pelo vigente acordo ortográfico luso-brasileiro.

In Região de Rio Maior nº1156, de 3 de Dezembro de 2010

sábado, novembro 06, 2010

RECUPERAÇÃO DA FÁBRICA DE BRIQUETES DA MINA DO ESPADANAL ASSEGURADA, SEM CUSTOS PARA O MUNICÍPIO. CER AGUARDA AUTORIZAÇÃO DA CÂMARA MUNICIPAL


























Figura 1 – Reprodução da peça desenhada n.º 10 do Levantamento Arquitectónico da Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal, realizado pelo vice-presidente do CER, Arq. Nuno Rocha.

O Processo de Estudo e Salvaguarda do Património Mineiro Riomaiorense, criado e coordenado pelo vice-presidente do Centro de Estudos Riomaiorenses, arquitecto Nuno Alexandre Rocha, desde o ano de 2005, e que permitiu assegurar a persistência da fábrica de briquetes da mina do Espadanal enquanto Património Histórico e Arquitectónico de referência para a comunidade local, teve no passado mês de Junho um corolário dos esforços até aqui desenvolvidos, com uma proposta de parceria apresentada à Câmara Municipal de Rio Maior.
Na sequência dos trabalhos desenvolvidos, nomeadamente o estudo detalhado da história do período mineiro riomaiorense, o inventário do património subsistente, o levantamento arquitectónico do conjunto edificado da fábrica de briquetes da mina do Espadanal, a análise do seu estado de conservação e o estudo de reutilização dos seus espaços, é possível o lançamento, no imediato, da execução de um plano de recuperação faseada daquele antigo complexo mineiro.
Com este objectivo, em reuniões nas quais marcaram presença, pela Câmara Municipal, Isaura Morais, Nuno Malta e Sara Fragoso, pelo CER, Nuno Rocha, Manuel Sequeira Nobre, José da Silva Pulquério, Maria da Ascenção Duarte, António Feliciano Jr., João de Castro e Rui Andrade e, pelo Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (IHA-FLUL), o Prof. Dr. Fernando Grilo, foi apresentada proposta de celebração de protocolo entre a Câmara Municipal, o CER e o IHA-FLUL, para a concepção e implementação, sem encargos para a autarquia, de projecto de restauro e musealização da fábrica de briquetes.
O projecto apresentado conta com a colaboração do Comité Internacional para a Conservação do Património Industrial (TICCIH), através do seu representante em Portugal, Prof. Dr. José Manuel Cordeiro; da Sociedade Espanhola para a Defesa do Património Geológico e Mineiro (SEDPGYM), através do seu representante em Portugal, Dr. José Manuel Brandão; e da Secção de Minas da Associação Portuguesa para o Património Industrial (APPI-GEOMIN).

UM PARQUE GEOLÓGICO E MINEIRO RECUPERANDO OS ANTIGOS PÓLOS DE ACTIVIDADE DO COUTO MINEIRO DO ESPADANAL

O CER apresenta como principal objectivo a qualificação da vivência urbana da cidade de Rio Maior através da implementação de uma estratégia de valorização territorial capitalizando a existência de uma relevante diversidade de eventos geológicos na região bem como a persistência de um importante conjunto de evidências materiais e imateriais da extracção mineira de carvões e diatomites no concelho.
Abrindo perspectivas à exploração de vertentes complementares de turismo geomineiro, turismo cultural e turismo de habitação, é proposta a criação de um Parque Geológico e Mineiro recuperando as estruturas do antigo Couto Mineiro do Espadanal.
Num projecto a implementar de forma faseada, mediante a evolução das disponibilidades de financiamento, propõe-se a criação de áreas verdes lúdicas e didácticas nos três antigos pólos técnicos da actividade da mina do Espadanal, interligadas por percursos pedonais, criando-se um modelo de preservação, recuperação e interpretação das estruturas existentes.

É proposta a instalação de um Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro, dotado de centro de documentação, bem como de um auditório e sala de exposições temporárias, na antiga fábrica de briquetes, a instalação de um Centro de Ciência Viva dedicado à indústria mineira dos carvões, na antiga receita exterior e plano inclinado de extracção da mina, e de uma unidade de turismo de habitação em antigas residências de mineiros.

UM CENTRO DE INTERPRETAÇÃO DO PATRIMÓNIO GEOLÓGICO E MINEIRO DO CONCELHO DE RIO MAIOR, A INSTALAR NA ANTIGA FÁBRICA DE BRIQUETES

O CER propõe-se impulsionar, no imediato, uma primeira fase, com a instalação de um Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro do concelho de Rio Maior na antiga fábrica de briquetes, para o qual define uma missão assente em três planos: um plano regional, com particular incidência sobre a comunidade escolar da região; um plano nacional, assente no desenvolvimento de projectos de investigação e parcerias especializadas nas diferentes vertentes de estudo associadas à indústria mineira; e um plano internacional, com a promoção em concreto de uma parceria com a SEDPGYM, desenvolvendo um espaço ibérico de debate de conceitos e experiências, através da criação de um evento anual dedicado ao património dos carvões, a promover nas redes europeias de património mineiro e industrial.
A estrutura organizativa do Centro de Interpretação a instalar funda-se em quatro eixos de actuação:
1 - Interpretação, com a criação de uma exposição permanente da história e do património da actividade mineira local, destinado à comunidade escolar, aos riomaiorenses e a um público generalista interessado na temática do património industrial e mineiro;
2 – Investigação, com a constituição de um centro de documentação dotado de biblioteca especializada e particularmente vocacionado para um público-alvo de nível universitário;
3 – Dinamização, tendo como objectivo a revitalização cultural da comunidade riomaiorense e a afirmação de Rio Maior em redes nacionais e internacionais de cidades mineiras, criando um destino com potencial de atracção no sector do turismo cultural;
4 – Divulgação, através de uma política editorial que contribua para a colmatação de uma sensível ausência de publicações dedicadas à história e ao património do concelho de Rio Maior e permita alargar a bibliografia de referência sobre o património mineiro em Portugal.

O património mineiro do concelho de Rio Maior deverá ser recuperado numa estreita cooperação entre as entidades públicas, o movimento associativo e a comunidade local, com o envolvimento fundamental da antiga comunidade mineira, entretanto reunida no seio do CER em Comissão de antigos Funcionários da EICEL.
A instalação do Centro de Interpretação aguarda apenas, como ponto de partida, a disponibilidade da Câmara Municipal para o estabelecimento de protocolo com o CER e a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa tendo em vista o desenvolvimento e implementação, sem custos para o Município, de projecto de recuperação faseada da antiga fábrica de briquetes.

CER ASSEGUROU A ORGANIZAÇÃO DE ENCONTRO IBÉRICO DEDICADO AO PATRIMÓNIO MINEIRO DOS CARVÕES, A REALIZAR EM RIO MAIOR EM SETEMBRO DE 2011

Na sequência de cooperação existente, desde 2006, entre o vice-presidente do CER, a representação portuguesa da Sociedade Espanhola para a Defesa do Património Geológico e Mineiro (SEDPGYM), através do Dr. José Manuel Brandão, e a Secção de Minas da Associação Portuguesa para o Património Industrial (APPI-GEOMIN), o Centro de Estudos assegurou a realização em Rio Maior de um Encontro Ibérico dedicado ao património mineiro dos carvões, agendado para o primeiro fim de semana de Setembro de 2011, coincidindo com a nossa Feira anual.
O Memorando deste encontro, prevendo a apresentação de trabalhos por secções temáticas, a realização de conferências (sessões plenárias), de visitas de campo e de exposições, bem como a publicação de monografias dedicadas ao património mineiro riomaiorense, foi apresentado à Câmara Municipal, convidada pelo CER a integrar a organização.
O conjunto de entidades locais, nacionais e internacionais que integram o núcleo organizador aguarda resposta do executivo camarário sobre o seu interesse em acolher este evento que constituirá um importante contributo para a promoção de Rio Maior e do seu património.


UM PROJECTO DE CIDADANIA, CONTANDO COM A PARTICIPAÇÃO EMPENHADA DE DOIS GRUPOS DE ALUNOS DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE RIO MAIOR

Tendo conhecimento do projecto de recuperação da antiga fábrica de briquetes da mina do Espadanal, promovido pelo CER, dois grupos de alunos do 12.º ano da Escola Secundária de Rio Maior apresentaram o seu interesse no desenvolvimento de projectos dedicados à valorização do património mineiro do nosso concelho, em colaboração com esta associação.
Os projectos a desenvolver no ano lectivo recentemente iniciado, sob coordenação dos professores Paulo Costa de Sá e Rosa Batista, e que merecerão apresentação no Encontro Ibérico a realizar em Setembro de 2011, prevêem a realização de palestras e exposições, actividades didácticas, entrevistas aos antigos mineiros, organização de um encontro de voluntários para limpeza da fábrica de briquetes e execução de uma maqueta daquele complexo industrial.
O CER solicitou à Câmara Municipal de Rio Maior, no passado dia 26 de Outubro, a autorização para o início imediato de iniciativas de limpeza e execução de primeiras obras de conservação da antiga fábrica de briquetes.

In Região de Rio Maior nº1152, de 5 de Novembro de 2010

domingo, julho 18, 2010

CENTRO DE ESTUDOS RIOMAIORENSES APRESENTA À CÂMARA MUNICIPAL DE RIO MAIOR PROJECTO INTERNACIONAL PARA RESTAURO E MUSEALIZAÇÃO DO PATRIMÓNIO MINEIRO.




















Em conversa com o nosso Director, e membro da Direcção do CER, António Feliciano Júnior, tomámos conhecimento da recente realização de reuniões para o estabelecimento de parceria entre esta Associação para a Defesa do Património, a Câmara Municipal de Rio Maior e o Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo como objectivo a elaboração e implementação de projecto de restauro e musealização da Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal.

O Projecto que, segundo soubemos, deverá ser realizado sem encargos para o Município e tem, desde já, preparada candidatura a financiamento no âmbito da Lei do Mecenato, prevê o desenvolvimento de um quadro de parcerias internacionais inédito no concelho de Rio Maior, merecendo o apoio do órgão consultivo da UNESCO para o património industrial (Comité Internacional para a Conservação do Património Industrial, TICCIH), da Sociedade Espanhola para a Defesa do Património Geológico e Mineiro (SEDPGYM) e da Secção de Minas da Associação Portuguesa para o Património Industrial (APPI-GEOMIN).

É conhecido o vasto espólio mineiro reunido pelo CER, nos últimos anos, tendo como objectivo a criação de um museu mineiro, com a recolha de diversos maquinismos, centenas de fotografias e documentos históricos, bem como a recolha de património imaterial, através do envolvimento da antiga comunidade mineira em Comissão de Antigos Funcionários da EICEL, criada no seio desta associação.

Parecem assim estar reunidas as condições para o restauro e musealização da Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal, sustentado num projecto sólido, com fundamento no mais reconhecido plano científico internacional e no apoio dos riomaiorenses.A comunidade local aguardará, certamente com expectativa, a apresentação pública deste projecto, que surge como corolário natural e consequente de um Processo de Estudo e Salvaguarda do Património Mineiro amplamente noticiado, desde 2006, nas páginas do Região de Rio Maior, e que vem mobilizando de forma inédita o empenho dos riomaiorenses na preservação da sua Memória Colectiva.

In Região de Rio Maior nº1136, de 16 de Julho de 2010

quarta-feira, julho 07, 2010

INVASÕES FRANCESAS EM DESTAQUE NA BIBLIOTECA

PROFESSOR DOUTOR ANTÓNIO PEDRO VICENTE FALOU SOBRE "RIO MAIOR NO TEMPO DE NAPOLEÃO"

No âmbito do bicentenário das Invasões Francesas, esteve no passado dia 26, na Biblioteca Municipal, o Professor Doutor António Pedro Vicente, para dar uma conferência sobre o tema "Rio Maior no tempo de Napoleão", a convite do Centro de Estudos Riomaiorenses (CER).

Depois de Luís Laureano Santos (que acompanhava na mesa de honra, para além do conferencista, o irmão Alexandre Laureano Santos e João de Castro, presidente da Direcção do CER), ter feito um resumo do curriculo do conferencista, que é doutorado em História pela Universidade de Paris e professor catedrático de História Contemporânea na Universidade Nova de Lisboa, chegou a vez de António Pedro Vicente, perante uma sala lotadíssima, fazer um resumo do que foram as Invasões Francesas em Portugal que, para ele, não começaram, "como dizem os livros", com a vinda das tropas de Junot, mas sim em 1801, quando Napoleão enviou "notáveis engenheiros" para se inteirarem da toponímia e geografia do país. Em Outubro de 1807 as tropas francesas entraram então em Portugal, sob o comando de Junot, que já tinha sido embaixador em Lisboa e que tinha combatido em Itália, onde fora ferido na cabeça, tendo ficado, segundo o conferencista "meio louco", e também combateu no Egipto.

Aquela que se diz ser a terceira invasão francesa, mas que António Pedro Vicente considera ser a quarta, ficou marcada pela batalha do Buçaco onde morreram milhares de franceses, e muito menos aliados. Aí Junot combatia no exército liderado pelo Marechal André Massena, em Setembro de 1810. Em Outubro os franceses atingiram as Linhas de Torres, de onde saíram derrotados.

Depois dessa retirada das Linhas de Torres, deslocaram-se para a zona entre Rio Maior - Cartaxo - Santarém, onde se encontravam alimentos mais facilmente - os ingleses tinham dificultado ao máximo a vida dos invasores ao destruir propriedades agricolas, por exemplo. Foi nessa retirada que Junot deverá ter sido gravemente ferido na face, na zona de Rio Maior, tendo ficado ainda mais "louco". Diz-se até que quando se irritava, mesmo depois da recuperação, sangrava. A data de que se fala relativamente a este acontecimento é a de 19 de Março de 1811, mas António Pedro Vicente diz que "é mentira", uma vez que por essa altura os franceses já não estavam por cá, sendo Fevereiro a data mais provável.

António Pedro Vicente ofereceu alguns livros da sua autoria, sobre as invasões francesas, à biblioteca do CER.
No final houve um período de questões por parte dos interessados.

Zélia Vitorino. In Região de Rio Maior nº1134, de 2 de Julho de 2010

sexta-feira, junho 18, 2010

CENTRO DE ESTUDOS RIOMAIORENSES (CER) ORGANIZA CONFERÊNCIA NO ÂMBITO DO BICENTENÁRIO DAS INVASÕES FRANCESAS

Jean-Andoche Junot – General francês gravemente ferido em Rio Maior em 19 de Janeiro de 1811.

O Centro de Estudos Riomaiorenses (CER), associação para a defesa do património do concelho de Rio Maior, organizará no próximo dia 26 de Junho, pelas 16h, no auditório da Biblioteca Municipal, uma Conferência no âmbito do Bicentenário das Invasões Francesas, subordinada ao tema: “Rio Maior no tempo de Napoleão” e proferida pelo Professor Doutor António Pedro Vicente.

O distinto orador é Doutorado em História pela Universidade de Paris (Nanterre). Professor Catedrático de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa (UNL). Académico de Número da Academia Portuguesa de História e sócio correspondente de várias instituições, entre as quais a Real Academia de História de Espanha, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, a Academia Lusíada de Ciências, Letras e Artes de S. Paulo e as Academias de História da Venezuela, México, Chile e Argentina. Foi Conselheiro Cultural na Embaixada de Portugal em Madrid (1982/86). Foi Vogal da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses em representação do Ministério da Educação. É Vogal da Comissão Portuguesa de História Militar e membro do seu Conselho Científico em representação do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP). Prémio Calouste Gulbenkian de História, concedido pela Academia Portuguesa da História (2001). Prémio da Fundação António de Almeida (História), concedido pela Academia Portuguesa da História. Comendador da Ordem de Isabel, a Católica (Espanha). Comendador da Ordem de Mérito Civil (Espanha). Medalha de Honra da Universidade do Estado de S. Paulo (Brasil).

O CER convida todos os riomaiorenses a marcarem presença neste evento.

In Região de Rio Maior, nº1132, de 18 de Junho de 2010

sábado, junho 05, 2010

Com organização do Centro de Estudos Riomaiorenses. DIA INTERNACIONAL DA BIODIVERSIDADE INCIDIU NA SERRA DOS CANDEEIROS.


















A Jornada pelo Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, promovida pelo Centro de Estudos Riomaiorenses (CER) em 22 de Maio, Dia Internacional da Biodiversidade ocorreu num dia de Primavera esplendoroso e sem vento, com uma atmosfera tão límpida que permitia descortinar os contornos da Serra da Arrábida do cimo dos Candeeiros. Cerca de quarenta participantes reuniram-se junto à igreja paroquial de Rio Maior e, num pequeno autocarro e em carros privados, fizeram rumo à serra.

A primeira paragem foi nas Salinas onde o Professor Doutor Fernando Mangas Catarino deu início a uma interessantíssima aula informal, semelhante a muitas outras que proferiu nesta serra aos seus alunos da Faculdade de Ciências.

A serra inicia-se próximo do Arrimal estendendo-se para sudoeste até a um paralelo a sul de Rio Maior, numa extensão de mais de 20km. Os Candeeiros podem ser considerados como integrando uma cordilheira que principia no topo meridional da Serra de Sintra, depois Montejunto, Candeeiros e Aire, Sicó, Lousã, Açor, Estrela e Malcata, limitando sempre a norte a bacia hidrográfica do Tejo. O conjunto da Serra de Aire e Candeeiros é composto por três maciços separados por depressões originadas por fracturas: Serra dos Candeeiros propriamente dita, Planalto de Santo António e Planalto de S. Mamede/ Serra de Aire, separados pelas depressões de Mendiga, de Alvados e de Minde. Este maciço de rochas resultou do enrugamento e da elevação da crosta terrestre por movimentos das placas tectónicas durante centenas de milhões de anos, elevando o leito do oceano tranformado pelo tempo em rocha calcária, formando-se assim enrugamentos, pregas, fendas e fracturas. A erosão do vento e das chuvas, os depósitos dos materiais desagregados nos vales cavados entre as pregas alteadas, a presença de uma vegetação rasteira consumida periodicamente pelos fogos estivais, a presença animal e a acção humana durante milhares de anos deram a forma actual à serra. A desagregação química da rocha calcária pelos materiais ácidos e a infiltração das águas das chuvas pelas fendas das rochas calcárias (acção cársica), à superfície e em profundidade, escavaram e moldaram na rocha uma extensíssima rede de galerias que durante as estações das chuvas se enchem de água e constituem as grutas. Esta vastíssima rede forma verdadeiras lagoas subterrâneas, constitui provavelmente o maior aquífero da península ibérica e é uma fonte imensa de recursos que deve ser conhecida, compreendida e respeitada.

Estas serras são ocupadas desde a mais remota antiguidade por populações humanas com culturas diversas que deixaram documentos da sua presença. Existem numerosos vestígios pré-históricos, nomeadamente em grutas que foram habitadas por populações em idades pré-históricas diferentes. Existem também vestígios de épocas muito posteriores de comunidades visigóticas, romanas, árabes e cristãs."


Fernando Catarino - uma lição a cada passo.

Das Salinas o grupo dirigiu-se para as Alcobertas e daqui para Casais Monizes. No trajecto houve várias paragens onde o Professor apontou exemplos da acção cársica nas rochas superficiais e da acção da erosão, mostrando exemplos da flora característica da serra, referindo-se às suas formas macroscópicas (árvores e arbustos) e às numerosíssimas espécies microscópicas, aos fungos, às algas e aos líquenes, mais abundantes nos locais húmidos e abrigados das fendas e dos algares. Entre as referências a dois motivos de interesse da serra, o Professor teve ocasião de ler e comentar um poema de Alberto Caeiro (um dos heterónimos de Fernando Pessoa), dando um tom de globalidade à sua lição. Mais adiante o grupo parou junto a uma área cultivada no planalto, regada pela água da chuva, onde numa baixa no cimo da serra, é possível cultivar cereais e produtos hortículas.

O grupo dirigiu-se ao Arrimal onde o Professor comentou a formação das lagoas e a modificação do seu aspecto ao longo das últimas centenas de anos. Referiu-se a que o Arrimal, no tempo da reconquista, seria uma espécie de éden, onde existiam lagoas de muito maior extensão que as actuais e uma flora composta por castanheiros, azinheiras e sobreiros de grande porte, dos quais ainda existem alguns exemplares certamente descendentes dos que então ocupavam uma muito mais extensa área florestal. Esta paisagem edílica terá sido o argumento de maior peso utilizado por D. Afonso Henriques para convencer os monges de Cister e fixarem-se nas terras do Oeste da Península, nesse tempo constituídas sobretudo por vastos terrenos pantanosos, alagadiços e insalubres (sobretudo pela presença de epidemias de origem hídrica e da malária).

O grupo almoçou no Restaurante Terra Chã, onde teve a presença de um simpático conjunto de músicos que integra o Rancho Folclórico de Chãos.

Depois, já na cidade de Rio Maior, Fernando Mangas Catarino proferiu uma interessante conferência sobre a flora serrana local a que deu o título de "Candeeiros que iluminam a Biodiversidade" e ao longo da qual descreveu as características de grande parte das plantas endémicas da Serra dos Candeeiros, para um auditório da Biblioteca Municipal muito bem composto.

"Rio Maior tem estado de costas voltadas para a sua serra e tem a obrigação de a «cultivar». A serra também somos nós, também é a nossa terra e por isso temos hoje connosco o Professor Fernando Catarino - um grande amigo da Serra dos Candeeiros", afirmou Alexandre Laureano Santos, médico cardiologista e presidente da Assembleia Geral do CER, na introdução à conferência.

Maria da Graça Alves Vieira, por sua vez, deu a conhecer alguns dos mais marcantes traços da personalidade do antigo director do jardim Botânico da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.


(Fotografias gentilmente cedidas pelo Jornal Região de Rio Maior)


In Região de Rio Maior, nº1129, de 28 de Maio de 2010