(continuação do artigo publicado no jornal Região de Rio Maior nº1031 de 11 de Julho de 2008, pág.8)Arquitectos Jorge Manuel Mangorrinha e Nuno Alexandre Rocha, durante a Comunicação: “Os Papéis da Política e da Cidadania no Património Local”.
Se o papel dos especialistas é, pois, muito importante nos processos de patrimonialização, há que não esquecer que estes processos estão associados a tensões, conflitos e negociações, e daí a importância de se estudarem os papéis doutros agentes sociais nesses processos. A sociedade civil, os políticos e o mercado também são interventores nos processos de atribuição de valor ao Património Cultural. É o confronto, a dialéctica e a negociação entre estes agentes o que motiva as definições do que é e não é Património Cultural.
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Na interpretação e avaliação do património, há diferenças entre tempo social e tempo monumental. O primeiro define o quotidiano, a memória e os significados dos bens culturais para os habitantes e residentes do mesmo. O segundo define a visão burocrática de alguns técnicos que classificam os bens culturais. É, por isso, que devemos prestar atenção aos diferentes níveis identitários e aos seus papéis na hora de categorizar, valorizar e converter em signo identitário um objecto.
Foi por certo a articulação entre esses dois tempos que levou à classificação, em termos nacionais, dos bens de Rio Maior, como a Gruta em Nossa Senhora da Luz, a Igreja de Santa Maria Madalena (paroquial de Alcobertas), o Pelourinho de Azambujeira e as Salinas da Fonte da Bica, tal como se estuda, para esse efeito, a Vila Romana.
Mais recentemente, o alargamento do campo patrimonial tem levado também à preservação e valorização de máquinas e motores, de fábricas, moinhos e armazéns, de canais e caminhos-de-ferro, que no decurso dos dois últimos séculos se impuseram na paisagem, de maneira crescente, até a dominarem. Dito isto, creio que as sociedades estão preparadas, hoje em dia, para apreciar o Património Mineiro, muito valorizado em países tão diferentes como na Alemanha, Áustria, Bolívia, Chile, Índia, Itália, México, Noruega, Polónia, Reino Unido e Suécia, alguns dos países que têm o seu Património Industrial, e particularmente mineiro, inscrito na lista do Património Mundial da Humanidade.
Mas a patrimonialização tem os seus perigos.
Quando o seu sucesso passa a ser medido exclusivamente em termos mediáticos, numéricos e economicistas, o Património Cultural converte-se num bem comercial semelhante a qualquer outro. Quando isto acontece, podemos falar de um processo de banalização da cultura e do Património Cultural, perdendo assim as suas funções sociais educadoras e educativas.
Pelo contrário, a nossa vida diária torna-se mais rica e inspiradora se o património for valorizado e utilizado, aproveitando todas as suas potencialidades. Os edifícios com significado histórico-cultural, em particular, ao tornar-se visível a passagem do tempo, fortalecem a relação dos cidadãos com a arquitectura e dão forma às identidades locais. Além disso, o valor do Património Arquitectónico é essencial para a promoção da cultura, devendo este facto ser considerado nas diversas acções dos decisores políticos.
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Um outro grande objectivo consiste em integrar a aprendizagem do património nos curricula escolares, ou seja, dando mais atenção ao património aumenta-se a vontade de participar no processo de decisão relativamente ao quadro de vida dos cidadãos.
Por exemplo, a criação de Clubes de História e Património, tendo como objectivo divulgar nas escolas a história e o Património Concelhio, como o património das aldeias e lugares, o Património Material Construído, mas também o Património Imaterial ligado à tradição oral, à culinária, às festas, às crenças, aos ritos e às tradições.
É importante que tenhamos consciência da profunda dimensão humana que habita no património.
Um concelho que investe, que valoriza e que comemora o seu património é um concelho que se celebra a si próprio. E tenhamos consciência que falar de património é falar, não só do passado, mas sobretudo do tempo presente e do tempo futuro, de pessoas que interagem e que se identificam em torno de uma história comum, de uma cultura partilhada, de raízes que nos tornam mais solidários e cidadãos realmente mais plenos e mais completos.
(continua)
COMISSÃO PARA A DEFESA DO PATRIMÓNIO CULTURAL DO CONCELHO DE RIO MAIOR in Região de Rio Maior nº1032, de 18 de Julho de 2008