sábado, outubro 21, 2006

Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal. Património de Interesse Municipal.



A PRESENÇA DE UM MODERNO ESQUECIDO

Urbano, isolado no limite, a nascente, do tecido urbano da cidade de Rio Maior – em elevação sobranceira à recentemente inaugurada Avenida Dr. Mário Soares, ergue-se, monumental, o derradeiro testemunho de uma época fulgurante da história contemporânea riomaiorense, solidamente eternizado nas arestas de uma volumetria purista.
Materialização última do esforço de uma comunidade, elevada sobre meio século de um rumoroso movimento humano, obscuro – justificação final do empenho de tantas faces anónimas que ainda hoje a contemplam.
Presença expectante, ubíqua, detendo-nos a cada momento pelos percursos da cidade, persiste, afrontando o avanço de um envolvente manto genérico, nivelador.
Não relativizável, mas no entanto vulnerável ao esquecimento. Evidente, mas no entanto invisível ao olhar que não interroga, a Fábrica de Briquetes da Mina de Lignite do Espadanal espera o tempo de ressurgir – ícone da Identidade riomaiorense.

Edifício industrial para processamento de minério, integrado num vasto complexo mineiro composto por três planos fundamentais: - Extracção, Processamento e Transporte.
A Fábrica de Briquetes é um sistema edificado que integra as secções de produção de energia, armazenamento (silos), secagem, prensagem e exportação de lignite para o cais de embarque.

O PERÍODO MINEIRO. CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE RIOMAIORENSE

Remonta ao período da Primeira Guerra Mundial o reconhecimento da Mina de Lignite do Espadanal, localizada por Aires Augusto Mesquita de Sá e pelo Padre Hymalaia em 1916, e registada por António Custódio dos Santos, proeminente republicano, director do jornal “O Riomaiorense”, em acção de marcada controvérsia que o levaria mais tarde ao exílio no Brasil, após um curto período de exploração mineira em sociedade com a empresa Leite, Sobrinhos e C.a.
É no dealbar da década de 20, período de paz entre guerras, que se estabelecem os fundamentos do futuro desenvolvimento industrial. Em escritura pública de 15 de Setembro de 1920, constitui-se aquele que virá a ser o principal interveniente até ao encerramento da mina, assumindo os activos da exploração em 1923: a Empresa Industrial Carbonífera e Electrotécnica L.da – com uma sigla que marcará de forma indelével o século XX em Rio Maior.
As décadas que se seguiram – meio século sob o signo da E.I.C.E.L. – prefiguraram a concretização de um longamente acalentado desígnio de progresso industrial. Época estruturante da História riomaiorense, aliando a uma intensa actividade produtiva um impacto económico e cultural decisivo na transição da local ruralidade oitocentista para uma modernidade sonhada e então finalmente possível – fundando o seu sucesso num afluxo migratório sem precedentes, movido por uma nova capacidade de trabalho e novos valores – progressiva infusão de uma urbanidade diversa, reflectida no desenvolvimento de novos conceitos de acção social e cultural que moldariam uma renovada comunidade riomaiorense.

A INTERVENÇÃO DO ESTADO. RIO MAIOR, RESERVA DE COMBUSTÍVEL NACIONAL

A exploração mineira riomaiorense teve importância vital, comprovada, na produção energética nacional durante a 2ª Guerra Mundial, constituindo o seu desenvolvimento um avultado investimento público, continuado no I Plano de Fomento Nacional, o que confere a este conjunto a qualidade de documento da política económica nacional das décadas de 40 e 50, patente na participação dominante do Estado na gestão da empresa concessionária, na criação de diversa legislação impulsionadora da exploração e aceitação no mercado das lignites de Rio Maior e simultaneamente no patrocínio activo e enquadramento legal das infra-estruturas.
Em 19 de Setembro de 1942, através do decreto-lei nº 32270, como resposta às crescentes dificuldades de importação de carvões, as minas de Rio Maior são chamadas a cumprir uma função de reserva de combustível nacional, iniciando um período de actividade intensa, com um aumento exponencial das tonelagens de minério extraídas.

Das premissas do decreto-lei nº 32270 uma, em particular, encontrará eco profundo na população local: a construção de uma via-férrea entre Rio Maior e o Vale de Santarém para transporte de minério. A criação desta nova infra-estrutura, inaugurada em 24 de Abril de 1945, surge como um sinal de irreversível progresso aos olhos de uma comunidade que, em luta acesa desde o início do século, reivindicava a ligação das linhas-férreas do Norte e do Oeste, com passagem por Rio Maior. No entanto, a concretização total desse desígnio, acalentado até ao final do período mineiro, não se verificaria.
O final do conflito europeu e o restabelecimento do normal fornecimento de combustíveis colocam às Minas do Espadanal, no final da década de 40, o desafio da viabilização económica de um vasto sistema produtivo e social criado, no qual a empresa concessionária será decisivamente secundada pelo Estado.
A solução ponderada prevê, pela primeira vez, a construção de uma central termoeléctrica, autorizada em 1950 por despacho do Ministro da Economia mas logo ultrapassada pela política em curso, de fomento da energia hidroeléctrica.

A EDIFICAÇÃO DA FÁBRICA DE BRIQUETES

Inviabilizada a solução pela produção de electricidade, a empresa decide em Janeiro de 1951, a instalação definitiva de uma Fábrica de Briquetes, substituindo instalações provisórias em laboração desde 1949.
Em 25 de Novembro do mesmo ano, o projecto da futura fábrica, da autoria conjunta do Gabinete de Desenho da E.I.C.E.L. e dos engenheiros alemães Helmudth Kuhn e Lipe, é apresentado pelo director técnico da empresa concessionária, Eng.º Luís de Abreu Falcão Mena, ao Ministro da Economia, Dr. Ulisses Cortês, em visita às instalações da mina.
A autorização governamental surge então em despacho de Junho de 1952 com a atribuição de um financiamento de 30.000 contos pelo Fundo de Fomento Nacional e em Outubro desse ano têm início os trabalhos de construção, em empreitada arrematada à firma Sociedade Sanfer L.da, de Lisboa.
Após um processo de edificação acompanhado com grande interesse pela imprensa local e destacado em diferentes diários de tiragem nacional, a monumental Fábrica de Briquetes iniciou a laboração em Junho de 1955.

As décadas de 50 e 60 assistem ao auge da indústria mineira riomaiorense, com o crescimento da acção social e cultural – marcada pela actividade do Clube de Futebol “Os Mineiros”, pela criação de uma escola para adultos em 1956, pela edificação do Bairro mineiro de St.a Bárbara em 1959 e pela ampliação dos serviços médico-sociais em 1962 – mas prenunciam também o declínio, num crescendo de contestação laboral até à suspensão em 1969, com vista a uma reestruturação da produção, assente num método de exploração a céu aberto e instalação de uma central termoeléctrica. Em 1970 os activos da Mina do Espadanal são transmitidos à Companhia Portuguesa de Electricidade (actual EDP) e a E.I.C.E. (S.A.R.L.) é então liquidada.
Durante a década de 70 e parte da década de 80 continuam os estudos para a sucessivamente malograda instalação de uma central termoeléctrica, que redundariam em insucesso e definitiva anulação da concessão mineira em 1988.
No ano de 1999, as diversas parcelas do couto mineiro, num total de 110.380m2 são adquiridas pela Câmara Municipal de Rio Maior, assegurando uma gestão riomaiorense do mais importante documento da memória colectiva local.
Sob a presente responsabilidade temporal do Município, a Fábrica de Briquetes, obstinada remanescência do passado mineiro, constitui um inquestionável legado – pertença, por direito, das gerações de um Rio Maior futuro.

Nuno Alexandre Rocha. Arq.

in Região de Rio Maior nº941 de Sexta-feira, 20 de Outubro de 2006

Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal. Património de Interesse Municipal



PROCESSO DE ESTUDO E SALVAGUARDA DO PATRIMÓNIO MINEIRO

Partindo de um entendimento do património enquanto testemunho de um tempo particular na perene (re) edificação do Território da Identidade – permanência significante em face da contínua mudança – surge, em resposta ao avanço da cidade genérica, a urgência da salvaguarda das obras qualificantes do longo percurso evolutivo de uma comunidade.
Sob iniciativa individual de promoção do Estudo e Salvaguarda do Património Arquitectónico do Concelho de Rio Maior, iniciado a título particular e proposto à Freguesia de Rio Maior no âmbito de relação contratual à data existente, foi desenvolvido um vasto Inventário do qual surgem em evidência algumas edificações notáveis sobre as quais recaiu atenção particular.
Destaca-se o Património Mineiro, nas particularidades da sua arquitectura e da sua relação com a História local. Do estudo detalhado deste Complexo Edificado resultou uma completa síntese documental, fundada nos mais correctos princípios de Análise Patrimonial através da promoção de estreita colaboração com as mais credenciadas instituições nacionais, nomeadamente o Instituto Português do Património Arquitectónico, a Ordem dos Arquitectos e a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais da qual se obtiveram importantes resultados na análise do valor da Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal enquanto documento histórico e cultural incontornável de um século XX riomaiorense.

IPPAR DEFENDE CLASSIFICAÇÃO COMO PATRIMÓNIO DE INTERESSE MUNICIPAL

Na sequência de exposição do estudo realizado ao Instituto Português do Património Arquitectónico, deslocou-se a Rio Maior, no dia 4 de Abril do ano corrente uma reputada investigadora dos quadros daquela entidade, responsável por alguns dos mais importantes trabalhos em curso na área de estudo da Arquitectura Industrial, para visita ao edifício da Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal, previamente autorizada pela Câmara Municipal e acompanhada por responsáveis técnicos do município.
Esta visita marcou o início de extensa análise do património em colaboração directa com o IPPAR na qual se sistematizou e aprofundou o conhecimento do valor arquitectónico e histórico do Complexo Mineiro do Espadanal, permitindo a posterior emissão de um parecer sobre o Valor Patrimonial e Medidas de Salvaguarda a adoptar.
O Parecer, subscrito pela Presidência do IPPAR, estabelece o enquadramento necessário para a sensibilização das entidades locais em face de um conjunto patrimonial até aqui, e salvo honrosas excepções, negligenciado.
A excelente análise do existente, da sua importância patrimonial e consequente proposta de salvaguarda, sintetiza um quadro de valores incontornáveis e não relativizáveis, dentro de um princípio de integridade conceptual informado pela mais consolidada produção de conhecimento na área dos estudos de património.
O IPPAR define neste documento a necessidade de Classificação da Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal enquanto Património de Interesse Municipal propondo em simultâneo a realização de plano de pormenor contemplando um programa de refuncionalização adequado ao valor histórico e arquitectónico do local.

INVENTARIAÇÃO PELA ORDEM DOS ARQUITECTOS NO IAPXX

Do reconhecimento do valor do Complexo Mineiro do Espadanal enquanto criação arquitectónica é necessário destacar a sua inventariação pela Ordem dos Arquitectos, no Inquérito à Arquitectura em Portugal no Século XX.
A inventariação pelo órgão tutelar da prática da arquitectura em Portugal, estabelece um quadro de valor não negligenciável – suporte teórico institucional à presença do conjunto edificado da Mina do Espadanal num vasto objectivo nacional de conhecimento e salvaguarda de um património que pela sua proximidade temporal e inexistência de protecção legal constitui um universo de edificações em risco de irreversível descaracterização ou mesmo total desaparecimento.
Na sequência de solicitação aquando da deslocação a Rio Maior dos técnicos responsáveis pelo levantamento, foi pessoal e posteriormente disponibilizado à Ordem dos Arquitectos um completo processo de estudo permitindo uma apreciação detalhada do Património Mineiro de Rio Maior no âmbito de futuro desenvolvimento da base de dados do IAPXX.
A ficha de inventário da Fábrica de Briquetes pode ser consultada em http://iapxx.arquitectos.pt

Edificação icónica, firmando profundamente as suas raízes na identidade local, a Fábrica de Briquetes assume singularidade enquanto marco da mais rica e fecunda época da produção arquitectónica riomaiorense – mas estabelece em simultâneo o seu lugar tecnologicamente singular e arqueologicamente relevante enquanto única unidade industrial com as suas características técnicas instalada em Portugal.

INVENTARIAÇÃO PELA DIRECÇÃO GERAL DOS EDIFÍCIOS E MONUMENTOS NACIONAIS

Referência no Estudo e Inventariação do Património Arquitectónico em Portugal, a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais surge como interlocutor indispensável ao enquadramento de uma iniciativa de carácter local na tradição de uma metodologia cientificamente rigorosa e de âmbito alargado, nacional.
O reconhecimento do Património Arquitectónico do Concelho de Rio Maior, num quadro de ampla divulgação, abre assim uma via relevante para a sensibilização dos agentes da gestão territorial em face da presença de um legado não raro negligenciado, por manifesta ausência de informação.
Da presente iniciativa individual resulta a Inventariação da Fábrica de Briquetes na Base de Dados Nacional da DGEMN com o nº IPA PT031414080019, após visita a Rio Maior em 23 de Agosto do ano corrente, da Coordenadora da Inventariação do Património Arquitectónico do Distrito de Santarém. A síntese do vasto conjunto de informação trabalhada no processo relativo ao Património Mineiro riomaiorense tomou assim forma pública através de ficha de inventário disponibilizada para consulta em www.monumentos.pt

O desenvolvimento necessário de um processo territorialmente abrangente de Inventário do Património Arquitectónico no Concelho de Rio Maior, em colaboração com as mais reputadas entidades nacionais da área de estudos patrimoniais, prossegue a título individual como procura de conhecimento e valorização das mais relevantes expressões de uma secular produção arquitectónica local.

PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO ENQUANTO PATRIMÓNIO DE INTERESSE MUNICIPAL

Em conclusão do Processo de Estudo e Salvaguarda do Património Mineiro, foi oficiada à Câmara Municipal de Rio Maior, no dia 4 de Setembro, uma proposta de Classificação da Fábrica de Briquetes e Plano Inclinado de Acesso às Galerias da Mina do Espadanal enquanto Património de Interesse Municipal, subscrita pela Junta de Freguesia de Rio Maior, no entendimento de que o patrocínio desta acção do maior significado cultural encontra no executivo camarário o mais digno enquadramento institucional.
A incessante tábua rasa do perpétuo presente encontrar-se-á por uma vez em face da tomada de consciência de uma memória colectiva em defesa da qual se ergue um conceito de solidariedade geracional – base da evolução de um projecto cultural de natureza civilizacional.
A Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal persistirá. Novamente símbolo – já não de uma modernidade industrial, mas da capacidade e qualidade de uma comunidade que soube erguer-se em face da negociação da sua dignidade. Símbolo de uma comunidade que logrou opor à rasura dos tempos a marca da sua própria Identidade.

A Classificação constitui uma acção fundamental na certificação de rigorosas metodologias de intervenção em face de um património com elevado potencial para a vivificação da realidade urbana, cultural e turística da Cidade de Rio Maior.
A Fábrica de Briquetes reocupará qualificadamente, e a seu tempo, um lugar central na valorização da Comunidade Riomaiorense.

Nuno Alexandre Rocha. Arq

In Região de Rio Maior nº941 de Sexta-eira, 20 de Outubro de 2006.

sábado, outubro 14, 2006

IPPAR defende Classificação do Património Mineiro Riomaiorense

Complexo Mineiro do Espadanal. Rio Maior.


Na sequência de iniciativa do arquitecto Nuno Alexandre Rocha, apresentada à Junta de Freguesia de Rio Maior no âmbito de vínculo laboral então existente, foi desenvolvido nos meses de Março a Junho deste ano um Estudo Detalhado do Complexo Mineiro do Espadanal, em estreita colaboração com as mais credenciadas instituições nacionais, com destaque para o Instituto Português do Património Arquitectónico, a Ordem dos Arquitectos e a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.

Como resultado do extenso volume de Conhecimento produzido, o IPPAR emitiu em 5 de Julho, parecer técnico redigido por destacada especialista no Estudo da Arquitectura Industrial, defendendo a necessidade de Classificação da Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal enquanto Património de Interesse Municipal.

Em conclusão do Processo de Estudo e Salvaguarda do Património Mineiro Riomaiorense, a Freguesia de Rio Maior apresentou à Câmara e Assembleia Municipal uma recente Proposta de Classificação.

O Município tem assim, no imediato, a oportunidade de desenvolvimento de uma iniciativa do mais elevado prestígio e impacto cultural na Defesa da Identidade Local e Salvaguarda do mais importante legado patrimonial do Século XX - propriedade não negociável de todos os Riomaiorenses.

in Região de Rio Maior nº 940, de Sexta-feira, 13 de Outubro de 2006.

sábado, maio 20, 2006

Arquitectura Riomaiorense Inventariada no IAPXX

12 Edifícios Inventariados no Inquérito à Arquitectura em Portugal no Século XX, promovido pela Ordem dos Arquitectos.



Arquitectura Riomaiorense Inventariada no IAPXX.

Desenvolvido desde o ano de 2003, pela Ordem dos Arquitectos, o Inquérito à Arquitectura do Século XX em Portugal, estendeu-se a todo o território nacional, recuperando a tradição do Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal, realizado entre 1955 e 1961 e tendo entre os seus objectivos a “salvaguarda dos exemplares mais paradigmáticos, assim como a sensibilização da opinião pública e dos agentes económicos, do turismo à indústria da construção, para a conservação, reabilitação e gestão deste património edificado, como elemento estruturante do desenvolvimento local.” 1
Do extenso levantamento resultou um total de 6112 obras inventariadas, em 304 concelhos.
A representação de Rio Maior, definida após visita dos arquitectos João Santa–Rita e Miguel Judas, conta com 12 edifícios, dos quais alguns se destacam pela qualidade enquanto obras de arquitectura de excepção e marcos culturais profundamente enraizados na Identidade Local.

A lista actual compreende, por ordem cronológica os seguintes edifícios:

1Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal. Localizada na Avenida Dr. Mário Soares, esta Unidade Industrial desactivada, condensa em si o mais importante e derradeiro testemunho de uma época fulgurante da história contemporânea riomaiorense – o Período Mineiro. Projectada em 1951 pelos engenheiros alemães Helmudth Kuhn e Lipe, foi concluída em 1955.

2Edifício Goucha. Localizado nos nºs 59 a 62 da Praça da República, foi mandado edificar pelo Sr. João Ferreira Goucha em 1954, tendo as obras ficado concluídas em 1956.

3Palácio da Justiça. Localizado no Parque 25 de Abril, este edifício é a mais notável obra de arquitectura edificada no Concelho de Rio Maior. Projectado pelo arquitecto Sebastião Formosinho Sanches em 1956, constituiu na sua época um manifesto de liberdade de pensamento, opondo a uma visão majestática da justiça, uma proposta fundada na transparência e na escala humana. Foi inaugurado em 1961.

4Estação de Serviço Cipol. Localizada na Avenida dos Combatentes, à época troço da principal via rodoviária nacional – a Estrada Nacional nº1 – foi edificada entre 1962 e 1963 para a empresa de combustíveis Sacor.

5Adega Cooperativa do Instituto da Vinha e do Vinho. Localizado na Estrada Nacional nº114, ao Gato Preto, este grande complexo constitui um testemunho de uma época de grande actividade da produção vinícola no concelho de Rio Maior. Projectado em 1957, apenas em 1962 foram iniciadas as obras de construção que ficaram concluídas em 1964. Esta Unidade Agrícola, encontra-se hoje desactivada.

6Igreja de N.ª S.ª da Conceição. Localizada no Largo Pe. Quartilho, a Igreja Matriz foi uma das obras mais longamente esperadas pela comunidade riomaiorense. Quase um século depois da primeira tentativa de edificação e após cerca de uma década de acesa polémica quanto à sua localização e arquitectura, foi em 1968 inaugurado o novo templo segundo projecto dos arquitectos José Bruschy e José Zuquete.

7Casa Carlos Barbosa. Localizada na Avenida dos Combatentes, foi edificada na década de 60, segundo projecto de Mário Gomes Fontes (projectista), na nova artéria definida pela variante, então inaugurada, da Estrada Nacional nº1.

8Casa Francisco Barbosa. Localizada na Rua Latino Coelho, esta moradia projectada em 1969 pelo arquitecto Alcino Soutinho, para o Dr. Francisco Barbosa, merece destaque no conjunto das obras apresentadas. Construção do Lugar através da sábia leitura das características que lhe são próprias, esta casa insere-se num lote de gaveto, organizada em torno de um pátio interior, explorando de forma expressiva a modulação orgânica dos volumes cegos e dos elementos de madeira.

9Cinema Casimiros. Localizado na Rua David Manuel da Fonseca, este equipamento cultural foi projectado em 1974 pelo arquitecto Jaime Dias de Azevedo, com a promoção privada do Prof. Fernando Casimiro. Edificação de forte ruptura, volumétrica e formal, com a envolvente, a sua função tem ao longo das décadas sido cumprida com intermitência, permanecendo na actualidade encerrado.

10Unidade de Saúde Dr.a Maria Laudelina Barbosa. Primeiro equipamento de saúde promovido no concelho de Rio Maior pela administração central, o Centro de Saúde de Rio Maior projectado em 1978 pelo arquitecto José Bruschy e concluído em 1982, renovou profundamente as condições de acesso dos riomaiorenses à assistência médica. Preparado para uma população de 25000 habitantes, com ambulatório, banco, internamento e maternidade, não foram, no entanto, até hoje todas as suas potencialidades exploradas.

11Paços do Concelho. Este edifício central da vida pública local situa-se na Praça da Republica – lugar onde em 1838 foi instalada definitivamente a sede do então recém criado município riomaiorense, com a remodelação do Hospício de Frades Franciscanos datado de 1763. A construção actual, projectada pelo arquitecto José Amorim em 1988, é mandada edificar pelo executivo presidido pelo Dr. Silvino Sequeira, com a demolição do primitivo edifício autárquico. A nova obra foi inaugurada em 1992 com a visita do Presidente da República Dr. Mário Soares.

12Estádio Municipal. Elemento fundamental de um vasto complexo desportivo e escolar, foi edificado segundo projecto do arquitecto José Amorim na segunda metade da década de 90 e concluído em 2004. De acordo com os critérios de selecção do IAPXX, apenas os edifícios projectados e construídos dentro do limite temporal deste inventário – 1901/ 2000 – são passíveis de inventariação, pelo que desta última obra será, eventualmente, apenas inventariada uma primeira fase.

Da representação de Rio Maior, é dado especial destaque no texto final do IAPXX, secção de Lisboa e Vale do Tejo, da autoria dos arquitectos João Vieira Caldas e José Silva Carvalho, aos edifícios da Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal, Adega Cooperativa do Instituto da Vinha e do Vinho, Palácio da Justiça e Estádio Municipal.
Importa mencionar como dado concreto apresentado pela leitura do conjunto inventariado, um número de imóveis em mau estado de conservação que ascende aos 392, e para os quais se estuda presentemente uma metodologia de salvaguarda.
Em Rio Maior, destaca-se nesta situação a Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal.

A inventariação do património arquitectónico concelhio tem sido desenvolvida a nível local no âmbito da actual capacidade técnica da Junta de Freguesia de Rio Maior.
Este órgão autárquico pretende, com base no trabalho realizado, desenvolver uma política de valorização e salvaguarda do Património Cultural e da Identidade Local, potenciando o seu papel de interlocutor directo com as populações, na sensibilização para o valor do património enquanto recurso de desenvolvimento e na eventual classificação dos exemplares mais significativos da arquitectura riomaiorense.
O inventário local compreende actualmente cerca de 80 obras num levantamento que se estende à totalidade da área do concelho de Rio Maior. Na sequência deste trabalho foi recentemente estabelecida colaboração com a Ordem dos Arquitectos tendo como objectivo o desenvolvimento da representação de Rio Maior no IAPXX, com informação específica recolhida sobre cada um dos exemplares já inventariados e propostas para a inclusão de novas edificações.
Decorre em simultâneo uma colaboração com o Instituto Português do Património Arquitectónico – que resultou já na visita ao Complexo Mineiro do Espadanal, da especialista em arquitectura industrial, Dr.ª Deolinda Folgado, esperando-se para breve um relatório preconizando as medidas a adoptar na conservação do edifício da Fábrica de Briquetes – e com a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais – estando agendada a deslocação a Rio Maior de uma técnica deste organismo, responsável pela inventariação de património na área em que se insere o concelho de Rio Maior.

A participação, neste processo de estudo, dos detentores de informação sobre os exemplares arquitectónicos apresentados é indispensável para um melhor conhecimento das suas especificidades, sendo para isso possível e desejável a colaboração destes cidadãos no IAPXX através da internet, e no inventário local através do contacto directo na sede da Freguesia de Rio Maior.
O IAPXX está disponível na internet em:
www.arquitectos.pt
O Inventário local, patrocinado pela Junta de Freguesia de Rio Maior, está disponível para consulta, na sede deste organismo autárquico, na Rua Prof. Manuel José Ferreira nº70 r/c, Rio Maior.

Nuno Alexandre Rocha. Arq.

1 CALDAS, João Vieira, CARVALHO, José Silva, IAPXX Lisboa e Vale do Tejo. Panorâmica sobre o território e seu património edificado, in Inquérito à Arquitectura do Século XX em Portugal. Ordem dos Arquitectos. 2006

In Região de Rio Maior nº919, de Sexta-feira, 19 de Maio de 2006

quinta-feira, março 02, 2006

sábado, novembro 20, 2004

Gruta das Alcobertas

Gruta das Alcobertas.
(Fotografia por Alexandre Araújo)

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (11ª e última parte)

Gruta das Alcobertas

Esta maravilha da natureza, talvez sem rival na europa, fica próximo à aldeia das Alcobertas.
Não posso dar d'ella melhor descripção, do que resumindo o que o sr. Bernardino Arede Soveral publicou no nº 127 do Diário Illustrado de 4 de Novembro de 1872.
Peço desculpa ao sr. Soveral por cortar as bellezas da dicção com que adornou o seu bello artigo, mas um diccionário, a não se descrever tudo sem flores de rhetorica, enfadaria os leitores, e augmentaria inconvenientemente volume da obra.
Eis o resumo da descripção do sr. Soveral:
"A dois kilómetros da povoação, começa a levantar-se o dorso da serra: é ella toda cintada com fiadas de pedras, similhantes a extensissimos degráos de uma escada de gigantes, e de tal modo a prumo, que, apesar de galgarmos com ancia tão íngreme subida, gastámos n'esta tarefa quasi meia hora e quasi também as forças.
...
Accenderam-se portanto, e distribuiram-se os brandões de cera que levavamos. Bem depressa a luz do dia desappareceu, e esta especie de procissão caminhava à luz das tochas. Eramos ao todo 9 pessoas.
Tinhamos caminhado uns 15 a 20 metros, e a gruta já tinha uma capacidade de 3 metros de alto e 2 de largo: nas paredes d'ella começavam a apparecer camadas de diversas crystalisações, que similhavam um fôrro de musgo; mas tão branco e transparente, como se uma camada de neve, em manhã d'Inverno, houvesse cahido por cima d'elle, conservando-lhe a forma ramosa. Era lindo ver como as nossas luzes faziam refulgir uns reflexos cambiantes d'aqueles grumos apparentes de um orvalho gelado.
Tenho visto algumas das grutas que ha no paiz. Li na excellente obra de Adolphe Joanne (Voyage illustrée dans les cinq parties du monde) as descripções de diversas grutas, e não encontrei alli, como na gruta que dscrevo, tantas, tão variadas e tão imponentes crystalisações, em uma distancia de mais de 300 passos, com abóbadas de cinco a nove metros de altura, recamadas de estalagmites admiráveis pelo volume, pelas côres, pela transparencia e pelo brilho. É realmente surprehendente o ver como das paredes da galeria brotam umas crystalisações como se fosse vegetação de mármore e vidro, aflorando aquellas superficies perpendiculares; outras vezes, pousando aquelles ornatos sobre uns degraus que vão esconder-se nos franjados que pendem dos extremos da abobada: faz parecer que uma cascata acabava de se gelar n'aquelle momento.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

segunda-feira, novembro 15, 2004

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (10ª parte)

Marinha de sal

A dois kilómetros ao N. da villa, em um extenso valle, proximo do logar da Fonte da Bica, está esta importantíssima e justamente famosa marinha, única no seu género na Península Hispânica; pena é que não seja mais bem explorada.
No meio do terreno occupado pela marinha, está uma nascente inexgotável, da qual nos mezes do estio se tira água, por meio de dois baldes (!) de noite e de dia, e é conduzida, por ordem, a cada um dos depósitos, ou compartimentos, feitos no solo, com um metro de profundidade, e a que chamam talhos. Pertencem estes a diversos donos, e valem (segundo a distancia a que se acham da nascente) termo médio, cada talho 80$000 réis.
O sal aqui produzido, é superior em qualidade, e mais forte do que o sal marinho, ou commum.
Já vimos que em 1177, era explorada esta marinha, e que já o havia sido em maior escala, em tempos muito anteriores.
Segundo a tradição, a marinha não era no sítio actual, mas uns 60 a 70 metros mais ao N., e a nascente tão pouco abundante que apenas dava para 6 talhos, e que fazer a 3 ou 4 homens; não chegando o sal que ella produzia, nem para o consumo das povoações circumvisinhas.
Uma pequena que andava na planície (hoje local da marinha) apascentando uns jumentos, sabia que junto a uns juncos havia uma nascente de água, e como tivesse sede foi alli beber, mas notou que era excessivamente salgada.
Regressando a casa, deu parte d'esta circumstancia ao pae, que, junto com outros visinhos, se foram ao juncal, e alli abriram um poço, e quanto mais o profundavam, maior quantidade de clorurêto de sodium era expedida: mas a antiga nascente secou.
Estes exploradores, trataram logo de fazer talhos, e a colher optimo sal, em bôa quantidade.
Foi-se desenvolvendo esta indústria, e hoje ha, nada menos de 400 talhos, valendo cada um dos mais próximos da nascente 144$000 réis, e os mais remotos 14$400 réis.
O poço actual (d'onde brota a água) tem 11 metros de profundidade, e 8 de circumferencia.
O sal, como o extrahido da água do mar, forma-se por evaporação, e, quando o calor é mais intenso, está o sal prompto em quatro dias.
Dá-se ao producto d'estas marinhas, o nome de sal espuma. É mui claro, secco, e brilhante de tal maneira, que d'elle se formam bellissimas pyramides e varias outras figuras, como do assucar refinado de lasca, ou de pedra.
Excede tanto em qualidade o sal commum (marinho) que, para salgar carnes, basta metade da porção do extrahido da agua do mar.
É summamente saturado de muriato de soda, purissimo, e sem mistura de muriatos calcareos e magnesianos, que se encontram nos outros saes communs, e que os tornam amargos e deliquescentes.
Saindo do logar d'esta marinha, está uma vasta planície, cuja parte mais considerável pertenceu aos monges bernardos de Alcobaça, e o resto a particulares. Aqui, no sítio chamado Marinha Velha (onde primeiramente se colheu sal) ainda nos estios se formam a periferia bellissimos crystaes de muriato de soda.
N'este sítio, sobremaneira infértil, apparece com vigorosa vegetação, a Salsola-Kali, de Linneu, e algumas das outras plantas proprias das visinhanças do mar, e das cinzas das quaes se faz a sóda ou barrilha.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

quarta-feira, novembro 10, 2004

Os 4ºs Conde e Condessa de Rio Maior.

António de Saldanha Oliveira Juzarte Figueira e Sousa (1836-1891)
e sua esposa, Maria Isabel de Lemos e Roxas Carvalho e Meneses
de Saint-Léger (1841-1920)

Os 1ºs Conde e Condessa de Rio Maior.

João Vicente de Saldanha Oliveira e Sousa Juzarte Figueira (1746-1804), enquanto criança, e Maria Amália de Carvalho e Daun (1756-?)

domingo, novembro 07, 2004

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (9ª parte)

Condes de Rio Maior

O primeiro conde de rio maior (João Vicente de Saldanha Oliveira e Sousa Juzarte Figueira), foi feito pelo príncipe regente, depois D. João VI, em 8 de Janeiro de 1803. Era 16º morgado do vínculo de Oliveira, instituído em 1262.

2º - António de Saldanha d’Oliveira Juzarte Figueira e Sousa, 17º morgado de Oliveira, gentil-homem da câmara do rei D. João VI, grão-cruz das Ordens de S. Thiago e Conceição, commendador da de Christo, embaixador extraordinário ao Brasil, em 1823, commissário-real para acompanhar o Sr. D. Miguel I (quando ainda infante) em suas viagens, coronel do Regimento de Milícias dos Voluntários Reaes de Lisboa (por elle creado.) Nasceu a 16 de Novembro de 1776, e falleceu, em Vienna d’Austria, a 3 de Março de 1825. Tinha casado, em 16 de Novembro de 1806, com sua prima, D. Maria Leonor Ernestina de Carvalho Daun e Lorena, filha dos terceiros Marquezes de Pombal.
Foram seus filhos:
1º - D. Maria Francisca, nascida a 21 de Março de 1809.
2º - João, que foi 3º Conde.
3º D. Maria Amélia, nascida a 11 de Janeiro de 1815, casou em 25 de fevereiro de 1835, com Luiz Carlos d‘Abreu Bacellar Castello Branco, moço fidalgo, commendador da Ordem de Christo, deputado da extincta Junta do Tabaco.
4º - Nuno, nascido a 13 de Maio de 1822.
5º Luiz, nascido a 30 de Novembro de 1824 e fallecido a 12 de Novembro de 1852.

3º conde – João de Saldanha Oliveira Juzarte Figueira e Sousa, 18º morgado de Oliveira, par do reino em 1826, commendador da Ordem de Christo, alferes do regimento de cavallaria de lanceiros, e ajudante de campo do conde de Villa Flor.
Succedeu a seu pae, a 3 de Março de 1825. Nasceu a 18 de Setembro de 1811; casou a 22 de Setembro de 1835 com d. Isabel de Sousa, nascida a 12 de Julho de 1813, e era 1ª filha dos condes de Villa-Real.
Teve dois filhos:
1º - António, o conde actual.
2º - D. Thereza, nascida a 4 de Setembro de 1837.

4º Conde – António de Saldanha Oliveira Juzarte Figueira e Sousa, 19º morgado de Oliveira, nascido em 8 de julho de 1836, e feito conde em 13 de Agosto de 1853.
Reside no seu palácio do Largo da Annunciada, em Lisboa.

A Sr.ª Condessa de Rio Maior é uma das damas mais caritativas d’este reino. Sempre coadjuvada por seu digno esposo, é o anjo da caridade de todos os desvalidos; e se vê à frente de todas as instituições que tenham por fim o interesse dos pobres.
Tem fundado escolas catholicas, para os dois sexos, em differentes localidades.
Obteve do governo a concessão do mosteiro das carmelitas, da Rua Formosa (Lisboa) e alli fundou um asylo para cegas, que foi inaugurado em 16 de julho de 1878, com oito cegas, mas pode conter muito maior número.
Se a Sr.ª Condessa não tivesse praticado anteriormente tantas obras piedosas, que exaltam o seu illustre nome, bastava esta para revelar a immensa bondade do seu coração, e para ser tão respeitada no mundo, como hade ser premiada na Bemaventurança.
A nobreza da sua alma bemfaseja é muito superior à que herdou dos seus esclarecidos ascendentes.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

sexta-feira, novembro 05, 2004

Quinta do Seabra

S. João da Ribeira. Quinta de José Seabra da Silva. Secretário de Estado Adjunto do Marquês de Pombal. Séc. XVIII






Antigo Teatro Riomaiorense

Teatro Riomaiorense. (Construído em 1876, demolido nos anos 80 do séc. XX)
(Fotografia in DUARTE. Fernando, História de Rio Maior. 1979)

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (8ª parte)

Em 1876 construiu-se um theatro, a expensas da associação denominada - Progresso Dramatico Riomaiorense.
Além d'esta associação, há mais as seguintes:
Gremio de Instrucção e Recreio Riomaiorense, estabelecida em um magnfico predio, no melhor sitio da villa, e formado pelas pessoas mais importantes do concelho, e de alguns cavalheiros dos immediatos.
Monte-Pio, ou Associação Protectora Riomaiorense, que fornece aos socios doentes, facultativo e medicamentos.
Centro Promotor Riomaiorense, tem por fim, unir, para todo e qualquer objecto proveitoso ao concelho, os seus habitantes.
Estas duas ultimas associações devem-se à iniciativa do sr. commendador, Vicente Augusto d'Araújo Camizão, abastado proprietário d'este concelho, e ex-delegado do thesouro em Santarém.

Ha n'esta villa algumas fabricas de cortumes.

Exporta madeiras, rezinas, sal, pedra de cantaria, pedreneiras, azeite, vinho, fructa e outros géneros agrícolas.

Quintas

Ha no concelho as seguintes:
S. Payo, do sr. Camizão, e da qual já fallei.
Quinta Nova e a dos Figueiredos, do sr. commendador Francisco Luiz dos Santos.
Assentiz e Sanguinhal, da viúva do commendador Freire.
Sobreiros, do sr. João da Maia Rosa.
Carvalhal, do sr. Francisco Ferreira Campos, cirurgião-mór militar.
Seabra, dos srs. Viscondes da Bahia.
Bastidas, do sr. João José da Costa, d'esta villa, mas residente em Lisboa.
Alem de outras de menos importancia.

Ha no concelho 80 moinhos, para cereaes, alguns com duas, tres e quatro mós; e 73 lagares de azeite - serindo a todos de motor, a agua do rio.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

segunda-feira, novembro 01, 2004

Chafariz do Cabo do Lugar. 1864

Antigo Cabo do Lugar. Actual Praça da República. Chafariz construído em 1864. Demolido.
(Fotografia in DUARTE, Fernando, História de Rio Maior. 1979)

Chafariz da Praça do Comércio. 1864

Praça do Comércio. Chafariz construído em 1864 e demolido em 1931.
(Fotografia in DUARTE, Fernando, História de Rio Maior. 1979)

Leituras no tempo. Rio maior 1878 (7ª parte)

Esta villa tem tido muito desenvolvimento; possue alguns bons prédios, de construcção moderna; te bons estabelecimentos commerciaes, cujo movimento é de bastante importância.
Ao E. e S. estendem-se por mais de 12 kilometros, magníficos pinheiraes, cuja madeira, pela sua boa qualidade, tem prompta e vantajosa exportação para diferenes localidades do districto e para Lisboa.
Ao O. existem inexgotáveis pedreiras de cantaria e alvenaria, d'onde se extrahem e exportam grande úmero de carradas de pedra, não só para differentes obras do concelho, como para outras localidades, algumas das quaes estão a mais de 30 kilometros de distancia.

Minas

Nas visinhanças d'esta villa, e dentro dos limites do seu concelho, ha minas de diffeentes metaes e metaloides. Os afloramentos mais visives são:
Pyrites de ferro, ao S. da villa, no sítio chamado Fonte-Rabaça. É de pouca importância, apezar de conter algma prata; mas, em tão diminuta quantidade, que não promete bom resultado a sua lavra.
Antracites (carvão mineral) existem minas em differentes partes do concelho, que se não exploram, por desmazello, ou por falta de capital.Cobre, a N. da villa, proximo do logar da Fote da Bica. Não se explora.
Chlorurêto de Sodium, metaloide descoberto por Schéele em 1771. É a mais importante de todas, e inexgotável É esta mina que dá origem às famosas marinhas de Rio Maior.
Em junho de 1875, manifestou o sr. Bernardino de Arêde Soveral, na camara d'este concelho, uma mina de pedras lytográphicas, com algum minério de prata.

Aguas mineraes

Abudam por estes sítios as nascentes de óptima agua-ferrea, mas, infelizmente, nenhuma aproveitada, pela incúria dos povos do município.
Ha tambem algumas nascentes de aguas sulphurosas; mas, nem estas, nem aquellas, foram ainda competentemente analysadas.

Ha tambem abundancia de boa agua potável, e, em 1864, co um subsídio do gverno, construiu a camara mais dois chafarizes.

Ha em Rio Maior uma feira annual, nos dias 1,2 e 3 de setembro, na qual se fazem importantes transações, principalmente em gados, madeiras, generos alimenticios e outros. Antigamente, fazia-se esta feira nosdias 15, 16e 17 do mesmo mez: é concorridissima.

Proximo à aldeia da Fonte da Bica, é o sitio chamado Valle das Laranjas, pelas muitas e óptimas que produz, e que são das melhores senão as melhores) de todo o reino; pelo que dão em toda a parte muito mais dinheiro do que outras quaesquer. E Lisboa são muito apreciadas.

O clima d'este concelho é um dos mais saudaveis da província.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

sábado, outubro 30, 2004

Ponte de Ferro do Porto de Freiria

Ponte de Ferro do Porto de Freiria. Construída em 1876.

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (6ª parte)

Estradas

Passava por esta villa a estrada real, de Lisboa ao Porto, mandada construir por Dª Maria I, e n'ella se encontram algumas obras d'arte de muita importancia, como as pontes de Asseiceira e Fonte Branca: havia também a da Amieira, que foi demolida. As outras ainda estão bem conservadas.
Ao sul da villa, foi construída, em 1870, por conta do governo, uma óptima ponte de alvenaria, sobre o rio. É municipal.
Actualmente, é atravessada pela estrada real em construcção, que hade ligar Santarem com a praça de Peniche, e com a que liga esta villa com a estação do caminho de ferro da Ponte de Sant'Anna.
É n'esta estrada a ponte de Freiria, cujo taboleiro foi lançado a 27 d'Abril de 1876. Esta ponte está entre Rio Maior e o Cartaxo.
Offereceu grandes obstaculos a construcção dos fundamentos para os encontros.
A ponte é de ferro e tem 40 metros de vão, e a viga é em treilli, com 4 metros de altura. A sua construcção foi dirigida pelo distinctissimo engenheiro, o sr. Domingos da Apresentação Freire, que foi o auctor do projecto.
Foi construida pela acreditada casa Fives Lille.
Ao acto do lançamento do taboleiro assistiram os administradores de Rio Maior e Cartaxo, as camaras municipaes d'estes dois concelhos, o director das obras publicas do districto, os engenheiros da mesma direcção, mr. Labille (representante da empreza constructora Fives Lille) e mais de 4000 pessoas das visinhanças.
Durante a operação, tocaram as philarmonicas do Cartaxo e Rio Maior, e houve differentes vivas.
A ponte é no sítio chamado Porto da Freiria.
Andam em construcção, a estrada de Rio Maior a Alcobaça, e a da mesma villa a Torres Novas.
Ha também uma boa estrada municipal, nova, que vae d'aqui à aldeia das Alcobertas, na extensão de 3 kilometros.
Já se vê que este concelho não é dos mais mal dotados, quanto a viação publica.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

sexta-feira, outubro 29, 2004

Hospital da Misericórdia (1870)

Antigo Hospital da Misericórdia (Construído em 1870)

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (5ª parte)

Hospital.

Existe n’esta villa um pequeno hospital, fundado em 1619, que, segundo consta de documentos antigos, era administrado pelo hospital da Misericórdia, de Santarém. Os moradores de rio Maior, pediram a D. José I, em 17 de Janeiro de 1759, a creação de uma irmandade da Misericórdia, para curar do edifício e do tratamento dos doentes pobres. O rei lh’o concedeu, por alvará de 18 de Abril do mesmo anno, com obrigação de prestar contas annuaes ao provedor da câmara de Santarém.
A construção primittiva d’este estabelecimento de caridade, era acanhada e em más condições hygienicas; mas, em 1870, por donativos de bemfeitores, foi reconstruído, e actualmente é um edifício próprio para o fim a que é destinado; podendo accomodar até 30 enfermos que d’elle necessitem, na sua passagem para as Caldas da Rainha, que é para o que elle desde o princípio se construiu. Para custear as despezas do hospital, deixou a Infanta D. Isabel Maria, filha de D. João VI, quando regente, e por alvará do anno de 1826, para a Misericórdia, os rendimentos das Irmandades do Menino Jesus, Nossa Senhora das dores, e S. Sebastião.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878

quinta-feira, outubro 28, 2004

Bocas

Bocas. Nascente do rio Maior.
(Fotografia in DUARTE, Fernando, História de Rio Maior. 1979)


Escola Comercial

Escola de Instrução Primária. Escola Comercial. Biblioteca Municipal.
Construída em 1878.

Leituras no tempo. Rio Maior 1878 (4ª parte)

Junto à capella de S. Miguel, já mencionada, existiu um pequeno castello, que se diz construído pelos mouros. Foi completamente demolido, e no chão que occupava se construiu uma escola de instrução primária, para ambos os sexos, com dois pavimentos, fundada pelo benemérito sr. João José da Costa, da Quinta das Bastidas, próximo desta villa, que a offereceu à câmara municipal.
O rio que atravessa a povoação, e lhe dá o nome, nasce na grande serra das Bôccas. Ainda em 1870 brotava a água por entre os serros; hoje sae por orifícios, abertos na muralha que cinge a estrada real que alli passa. É um dos sítios mais aprazíveis d’esta freguezia.
As nascentes são importantíssimas, deslisando-se a alguma distância por terreno alcantilado, mas depois entra nas férteis veigas que circundam as suas margens, até ao Tejo.
Segundo a tradição, parte d’esta água era desviada, por meio de canalisação subterrânea, da qual ainda restam vestígios, para uso de uma fábrica de fundição de metaes, no tempo dos árabes. Esta canalisação principiava (a julgar pelos vestígios) nas barreiras chamadas do Tufo, no sítio da Buraca da Moura, e terminava no sítio das Covas do Adro, onde estava o tal estabelecimento metallúrgico.
Em Agosto de 1874, andando um lavrador a alqueivar a terra, na Quinta das Bastidas, a um kilómetro da villa, sentiu que o dente do arado se lhe prendera em uma grande pedra de mármore.
Deu parte d’isto ao dono da quinta, e, depois de algumas horas de trabalho, se descobriu um magnífico subterraneo, que d’esta propriedade se dirigia para o rio, passando pela quinta do Jogo d’Ouro. Julga-se que este subterraneo está em communicação com outros. A tradição attribue esta obra aos mouros, mas, pela sua magnificência e solidez, parece mais obra romana.

(Por princípio mantém-se a ortografia original dos documentos transcritos)
LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno, 1878