segunda-feira, outubro 27, 2014

EICEL1920 realizou a quarta Acção Voluntária de Conservação do Património Mineiro.

Figura 1. Secção de Trituração.
A EICEL1920, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, realizou, no passado mês de Setembro, a IV Acção Voluntária de Conservação do Património Mineiro, concretizando uma intervenção de grande relevância na antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal.

Os trabalhos contaram com a participação de cerca de uma dezena de associados e com a colaboração da Junta de Freguesia de Rio Maior, que disponibilizou para o efeito uma máquina rectroescavadora e os serviços do respectivo motorista.

Sob autorização da Câmara Municipal de Rio Maior e com o acompanhamento técnico dos arquitectos Nuno Alexandre Rocha e João Mota Bogalho, dirigentes da EICEL1920, procedeu-se à remoção de anexos construídos durante a utilização do complexo mineiro como estaleiro municipal, nas décadas de oitenta e noventa, em particular nas secções de trituração (figura 1), briquetagem (figura 2) e central eléctrica (figura 3) da antiga fábrica de briquetes, e que descaracterizavam significativamente o conjunto edificado.


Figura 2. Secção de Briquetagem.
Realizou-se um registo pormenorizado das estruturas a demolir, para memória futura, com recurso a peças desenhadas e a levantamento fotográfico.

Os trabalhos de demolição foram executados com base em levantamento arquitectónico detalhado das estruturas originais, realizado no âmbito da tese "Couto Mineiro do Espadanal (Rio Maior). História, Património, Identidade", sendo conduzidos de forma a não causar qualquer dano no património a preservar.

Foi feita a separação dos resíduos resultantes das demolições, tendo como objectivo o posterior encaminhamento para local adequado, a cargo da Câmara Municipal de Rio Maior.

Figura 3. Central Eléctrica.



Conciliando com assinalável sucesso o estudo científico do património pela EICEL1920 com a disponibilidade da Junta de Freguesia de Rio Maior, foi assim dado mais um passo importante no processo de recuperação da antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal, que deverá ter continuidade em próximas iniciativas.


A Direcção da EICEL1920.
27 de Outubro de 2014.

terça-feira, outubro 07, 2014

EICEL1920 representou o Couto Mineiro do Espadanal nas Jornadas Internacionais "Memórias do Carvão".

Figura 1 - Dirigentes da EICEL1920 e antigos Mineiros de Rio Maior frente ao plano inclinado de extracção da Mina de Alcanadas, 13 de Setembro de 2014. Da esquerda para a direita: Júlio Martins Filipe, João Verde da Costa, João Palminha, José Félix Gomes, Joaquim Henriques, Victor Almeida, Nuno Rocha, Marcelino Machado e João Bogalho.

As Jornadas Internacionais "Memórias do Carvão" decorreram nos concelhos da Batalha e Porto de Mós, nos dias 11, 12 e 13 de Setembro, tendo como promotores o Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência da Universidade de Évora, o Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, o Museu da Comunidade Concelhia da Batalha (Câmara Municipal da Batalha) e a Câmara Municipal de Porto de Mós.

No dia 11 de Setembro realizou-se, no auditório municipal da Batalha, a primeira sessão científica, com a apresentação de conferência pelo Prof. Doutor Manuel J. Lemos de Sousa (Carvões e carvões). Seguiu-se um painel de comunicações dedicado ao "Património Geológico e Mineiro", com intervenções de Pedro M. Callapez (A mina de carvão do Cabo Mondego e a Paleontologia portuguesa), Jorge Figueiredo (O Couto Mineiro do Lena - a base de um museu das indústrias e da comunidade), Daniela Alves Ribeiro (As minas do Pejão: da estrutura produtiva à paisagem cultural) e Josep Mata-Perelló; Ferran Climent Costa; Jaume Vilaltella Farras (El territorio geológico y minero del Aiguabarreig: "ócio, cultura y turismo a traves del Camino de Sirga").

Após a apresentação de posters por Vanda Santos (Minas de carvão e pegadas de dinossáurios: o exemplo do Cabo Mondego) e José Manuel Brandão (Minas de Alcanadas: prelúdio, fuga e final), (Carvão da Bezerra (Porto de Mós): "apropriado na condução do fogo das locomotivas"), teve lugar um segundo painel de comunicações dedicado à "Ciência, Energia e Tecnologia", com intervenções de Gilberto Gomes e Miguel Lobato (Os combustíveis na encruzilhada dos anos 30: impacto no sector dos transportes terrestres), Jorge Custódio (Os combustíveis da Energia a Vapor em Portugal. Contribuições para o seu estudo), Fernanda Rollo (O carvão e a indústria siderúrgica), Pedro Alves e Raquel Alves ("Burning coal" em Portugal - Ilustração de fenómenos e produtos neoformados).

O primeiro dia das Jornadas encerrou com a inauguração da exposição fotográfica "Como quem lavra as entranhas da terra", um projecto do f2.8 Colectivo de Fotografia, seguida de um convívio entre os participantes oferecido pela Câmara Municipal da Batalha e pela Adega Cooperativa da Batalha.

No dia 12 de Setembro teve lugar, no Cineteatro de Porto de Mós, a segunda sessão científica, que incluiu o terceiro painel de comunicações, dedicado à "História Mineira", com intervenções de Alberto Manzini (The technology at the service of the transfer of coal: technological innovation and economic role of Savona- San Giuseppe Cable Way), Octávio Puche-Riart (Algunos datos sobre los primeros usos del carbón en España), Matilde Azenha (História de uma mina contada por alunos do ensino secundário: o exemplo da exploração das lignites de Soure), J.M. Soares Pinto (A mina de carvão do Cabo Mondego: 200 anos de exploração), Micaela Cruz Santos (Minas de Carvão de São Pedro da Cova: complexo e museu mineiro) e da Equipa do Museu da Comunidade Concelhia da Batalha (Carvões do Lena: um projecto de investigação participada do MCCB).

Após inauguração de exposição de fotografia dedicada ao "Couto Mineiro do Lena: carvões, carris e a "luz ao fundo do túnel", realizou-se o quarto e último painel de comunicações, dedicado às "Memórias Económicas e Sociais", com a participação da EICEL1920. Neste painel intervieram Fernanda M. Sousa e Helena F. Oliveira (Registo de minas do concelho de Porto de Mós: a memória em suporte papel), Daniel Vieira (Não podiam trabalhar com fome: a greve de 1946 nas minas de S. Pedro da Cova), Nuno Rocha (Memórias da Comunidade Mineira Riomaiorense, 1916-1969), José Charters Monteiro (João Monteiro Conceição, engenheiro. Homem, técnico e empresário: um legado) e José Brandão (Mineiras do Lena: no fio da navalha).

Figura 2 - O Presidente da Direcção da EICEL1920, arquitecto Nuno Rocha, apresentando a comunicação "Memórias da Comunidade Mineira Riomaiorense, 1916-1969". Porto de Mós, 12 de Setembro de 2014. Fotografia gentilmente cedida pela Câmara Municipal de Porto de Mós.

Esta sessão foi encerrada, após conferência pelo Professor Miguel Ángel Alvarez Areces (Paisages mineros como património cultural), com a apresentação da versão preliminar das Conclusões das Jornadas pelo Coordenador do Secretariado Permanente, Prof. Doutor José Brandão, seguindo-se um jantar de convívio entre os participantes oferecido pela Câmara Municipal de Porto de Mós.

No dia 13 de Setembro (sábado) realizou-se uma jornada de convívio com visita ao antigo Couto Mineiro do Lena, nos concelhos da Batalha e Porto de Mós, na qual a EICEL1920 promoveu a participação dos antigos mineiros de Rio Maior e membros da Comissão de antigos funcionários da Empresa Industrial, Carbonífera e Electrotécnica, Limitada: António Tomaz Colaço, João Palminha, Joaquim Henriques, José Félix Gomes, Júlio Martins Filipe, Marcelino Pedro Machado, Victor Centúrio de Almeida e Vítor Rosário Carvalho.

O programa do passeio, no qual se estabeleceu intenso convívio entre os antigos mineiros do Lena e do Espadanal, incluiu, pela manhã, uma visita à fábrica de cimentos Maceira-Lis e respectivo museu e uma visita ao EcoParque Sensorial da Pia do Urso. Seguiu-se um animado almoço no Centro Recreativo de Alcanadas e visita ao plano inclinado de extracção da antiga Mina de Alcanadas, no concelho da Batalha.

Pela tarde realizou-se uma visita à antiga Mina da Bezerra, no concelho de Porto de Mós, e um passeio na Ecopista do Ramal do Lena, que resultou da transformação de troço do antigo Caminho-de-ferro do Lena num passeio pedonal e ciclável com um extraordinário enquadramento paisagístico. Durante este passeio foi gentilmente oferecido um lanche a todos os participantes pela Câmara Municipal de Porto de Mós. 

A jornada terminou com uma visita à antiga Central Termoeléctrica de Porto de Mós, que se encontra actualmente em estado de ruína, e na qual se prevê a futura instalação do museu e arquivo histórico do concelho.

A participação dos antigos mineiros de Rio Maior nas Jornadas Internacionais "Memórias do Carvão" contou com o apoio da Junta de Freguesia de Rio Maior que disponibilizou o transporte entre esta cidade e a Vila da Batalha.

As Conclusões das Jornadas Internacionais "Memórias do Carvão" podem ser consultadas na página oficial do evento, em: http://memoriasdocarvao.worpress.com
Destacamos as referências expressas ao património mineiro do concelho de Rio Maior, que transcrevemos em seguida:

"Tendo como pano de fundo o território do antigo Couto Mineiro do Lena, objecto de várias intervenções e sobre o qual é urgente intervir, entenderam os participantes expressar a sua preocupação pelo abandono e perda irreversível de património material e memória da extracção e utilização do carvão em Portugal. Apresentaram-se e discutiram-se em particular as situações do Cabo Mondego, cuja última fábrica outrora pilar do complexo mineiro foi recentemente desactivada; São Pedro da Cova, cuja monumentalidade - onde se inclui o cavalete de betão classificado como monumento público desde 2010 - que continua a aguardar requalificação; Soure, cujas minas e anexos industriais estão votados ao abandono; Rio Maior, cuja fábrica de briquetes, ex-líbris do antigo complexo mineiro do Espadanal, espera o avanço de um projecto de requalificação; e o Pejão onde, não obstante os estudos existentes, não têm sido registados avanços. O contraste é flagrante com outros países da Europa cujos exemplos foram trazidos, em que se avolumam as publicações, os museus e núcleos museológicos ligados ao carvão e, em muitos casos, a possibilidade de visitação de galerias abandonadas, devidamente adequadas às novas funções culturais, didácticas e mesmo lúdicas".

"Os participantes das Jornadas reconhecem o valor da história oral como fonte de pesquisa e documentação destas actividades, bem patente no intenso convívio com antigos mineiros dos Coutos do Lena e do Espadanal, durante a visita de campo, bem como o valor da recriação de antigos percursos industriais igualmente testemunhada nessa actividade".

Figura 3 - Mineiros do Lena e Mineiros do Espadanal, Mina da Bezerra, Porto de Mós, 13 de Setembro de 2014. Fotografia gentilmente cedida pelo Museu da Comunidade Concelhia da Batalha.

A Direcção da EICEL1920.
6 de Outubro de 2014.

terça-feira, julho 15, 2014

Reconhecimento internacional do valor arquitectónico da fábrica de briquetes da Mina do Espadanal.

Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal. Fotografia por Nuno Rocha (2010), Arquivo EICEL1920.

A Fundação DOCOMOMO Ibérico aprovou a incorporação do conjunto edificado composto pela antiga fábrica de briquetes e plano inclinado de extracção da Mina do Espadanal (Rio Maior) no Registo DOCOMOMO Ibérico - A Arquitectura da Indústria (Nível B).

Este reconhecimento internacional surge na sequência de proposta apresentada pela EICEL1920, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, durante o ano de 2013, e aprovada pela Comissão Técnica e pelo Patronato da Fundação DOCOMOMO Ibérico, reunidos respectivamente nos dias 24 e 25 de Junho de 2014.

DOCOMOMO (DOcumentação e COnservação de edifícios, sítios e conjuntos urbanos do MOvimento MOderno) é uma organização internacional criada na Holanda, em 1989, com o objectivo de inventariar, proteger e divulgar o património arquitectónico do Movimento Moderno.

A Fundação DOCOMOMO Ibérico, com sede em Barcelona, coordena a implementação de programas de inventário e conservação da arquitectura e urbanismo do Movimento Moderno nos territórios de Espanha e Portugal. Entre as iniciativas desenvolvidas por esta organização destaca-se a promoção da análise científica do património arquitectónico através de uma importante actividade editorial, com a publicação de diversas monografias dedicadas à arquitectura da indústria, da habitação e dos equipamentos.

O Registo temático dedicado à arquitectura da indústria conta com cento e setenta e três edifícios e conjuntos arquitectónicos inventariados na Península Ibérica, trinta e cinco dos quais em território português. Entre estes incluem-se as Hidroeléctricas do Cávado (1949-1964), Douro Internacional (1954-1961) e Cabril (1950-1956), a Fábrica Oliva (1950-1960), em S. João da Madeira, e a Siderurgia Nacional (1958-1961), no Seixal.

O conjunto arquitectónico composto pela fábrica de briquetes e pelo plano inclinado de extracção da Mina do Espadanal foi edificado entre 1951 e 1955, afirmando-se enquanto importante exemplar de arquitectura moderna no contexto regional. Símbolo de modernidade industrial na sua época, mantém, passadas seis décadas, uma presença urbana incontornável na cidade de Rio Maior.

A Direcção da EICEL1920.
14 de Julho de 2014. 

Plano inclinado de extracção da Mina do Espadanal. Fotografia por Nuno Rocha (2009), Arquivo EICEL1920.

sábado, março 01, 2014

"O Centro de Interpretação na fábrica de briquetes - um projecto necessário".

Dr. José Manuel Lopes Cordeiro.

Por José Manuel Lopes Cordeiro, Professor da Universidade do Minho e Presidente da Associação Portuguesa para o Património Industrial.

A proposta da EICEL1920, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, para a instalação de um Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro nas salas devolutas da antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal, em parceria com o Município de Rio Maior, reveste-se de uma enorme importância para a salvaguarda de um património com um grande significado para todos os riomaiorenses, da memória que lhe está associada e que corre o risco de se desvanecer, e também como recurso estratégico para a promoção e diversificação da oferta cultural e turística de Rio Maior.

A antiga fábrica de briquetes constitui um dos mais importantes edifícios da arquitectura industrial moderna existentes no nosso país, tendo sido inventariado pela Ordem dos Arquitectos no Inquérito à Arquitectura em Portugal no Século XX. Esta sua característica confere-lhe um enorme potencial que pode e deve ser explorado para além do seu valor patrimonial e arquitectónico, em benefício de Rio Maior e da sua população, ao qual a EICEL1920 respondeu com a apresentação de uma proposta de grande qualidade. A sua implementação só poderá ter consequências positivas para a salvaguarda daquele património industrial, para o desenvolvimento de uma ofera cultural e turística que lhe está associada, em suma, para a projecção de Rio Maior com base na valorização de um dos seus mais importantes elementos identitários.

A instalação desse Centro de Interpretação contribuirá para a resolução de um problema que carece de uma resposta urgente, e que infelizmente já se arrasta há demasiado tempo, o qual diz respeito à valorização de um património de excepcional importância - a antiga fábrica e, também, o espólio do antigo Couto Mineiro do Espadanal, que a EICEL1920 recuperou -, permitindo deste modo a salvaguarda da memória e o reforço da identidade de todos os riomaiorenses. A melhor maneira de conservar um património é atribuir-lhe uma função, pelo que a instalação do Centro de Interpretação contribuirá de uma forma significativa para a consecução de tal objectivo. É importante destacar também que esta proposta da EICEL1920 constitui um magnífico exemplo da iniciativa da sociedade civil - tantas vezes reclamada, e que agora oferece aos poderes públicos uma oportunidade de viabilizarem a sua concretização -, uma vez que a instalação do Centro de Interpretação não implica quaisquer encargos para o Município.

Não é demais salientar que a proposta da EICEL1920 não se limita à criação de um Centro de Interpretação, encerrando objectivos mais vastos, sem dúvida ambiciosos mas de grande importância para Rio Maior, como a possibilidade de criação, de forma faseada e a longo prazo, de um Auditório e Sala de Exposições Temporárias, um Centro de Ciência Viva, e uma unidade de turismo de habitação a instalar em antigas residências de mineiros, mediante recuperação das estruturas existentes, contribuindo deste modo para a procura de sustentabilidade do projecto.

A criação do Centro de Interpretação permitirá, assim, a constituição de um pólo de atracção turística, na perspectiva do turismo cultural - uma área que actualmente se encontra numa fase de grande expansão e de aumento da procura -, através da sua integração no Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de Portugal, com efeitos positivos no incremento do emprego local e do desenvolvimento económico do concelho de Rio Maior.

Estamos certos que a instalação do Centro de Interpretação nas instalações da antiga fábrica de briquetes, uma vez concretizada, constituirá um enorme sucesso do qual todos os riomaiorenses se irão rever.


José Manuel Lopes Cordeiro in Região de Rio Maior n.º 1325, de Sexta-feira, 28 de Fevereiro de 2014.

segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Cresce o movimento de apoio ao projecto da EICEL1920. Comerciante riomaiorense disponibiliza, a título gratuito, espaço para sede da associação.

Imóvel no qual será instalada a sede da EICEL1920. Fotografia por Miguel Bernardino.

Após a divulgação da proposta de parceria apresentada pela EICEL1920, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, à Câmara Municipal de Rio Maior, para instalação de Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro na antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal, a comunidade riomaiorense vem demonstrando o seu apoio a este projecto com iniciativas de grande significado.

Considerando a necessidade de um espaço para instalação da sede da EICEL1920, um dos mais antigos comerciantes da nossa cidade, o Sr. Gonçalo Fialho, proprietário da loja Gonçalus Moda na Rua Serpa Pinto, tomou a iniciativa de disponibilizar, a título gratuito, um imóvel na Rua Cidade de Santarém n.º 23, a fim de ali serem desenvolvidos os projectos de interesse geral para a comunidade que esta associação se propõe implementar no âmbito do seu objecto social. 

Neste espaço, além da realização do trabalho de estudo e valorização do património previsto no plano de actividades para 2014, será exposta uma selecção do espólio proveniente do antigo Couto Mineiro do Espadanal, recuperado pela EICEL1920 em colaboração com a comunidade riomaiorense, e que esta associação disponibilizará no âmbito da referida proposta de parceria para instalação de Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro.

A Direcção da EICEL1920 agradece publicamente o generoso contributo cívico do Sr. Gonçalo Fialho, prevendo abrir a nova sede a todos os interessados durante o primeiro semestre do ano em curso.

A Direcção da EICEL1920.
17 de Fevereiro de 2014.

segunda-feira, fevereiro 10, 2014

Tribunal Administrativo considera que classificação de património de interesse municipal está sujeita a poder discricionário das Câmaras Municipais. EICEL1920 apresentou reclamação da sentença.

Fábrica de Briquetes da Mina do Espadanal. Fotografia por Nuno Alexandre Rocha (2007), Arquivo EICEL1920.

A Direcção da EICEL1920, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, foi recentemente notificada pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Leiria (TAFL) da sentença relativa a acção judicial intentada por esta associação, em Março de 2012, na qual se pede a condenação da Câmara Municipal de Rio Maior à abertura de processo de classificação do conjunto edificado composto pela antiga fábrica de briquetes e plano inclinado de extracção da Mina do Espadanal enquanto Património de Interesse Municipal.

Recordamos que a EICEL1920 apresentou no dia 8 de Agosto de 2011 o referido pedido de abertura do processo de classificação, acompanhado por Parecer favorável do antigo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), que viria a ser indeferido em reunião ordinária da Câmara Municipal de Rio Maior realizada a 11 de Novembro de 2011. Desta decisão foi apresentada reclamação, igualmente indeferida pela autarquia.

O TAFL absolveu a Câmara Municipal de Rio Maior alegando que "a iniciativa relativa à classificação dos bens de interesse municipal é matéria que se insere na actividade discricionária da câmara municipal, sendo que o juíz não pode opor às opções discricionárias da Administração os seus própros juízos de oportunidade e conveniência", mas sim, e apenas "os seus juízos jurídicos", e acrescentando que "cabe, portanto, à Entidade Demandada agir de acordo com os seus próprios juízos de conveniência e oportunidade."

A Direcção da EICEL1920 discorda das conclusões do Tribunal Administrativo e Fiscal de Leiria, que considera incompatíveis com o regime jurídico de protecção do património cultural em vigor, pelo que, em conformidade, deliberou apresentar reclamação da sentença nos termos da lei.

A Direcção da EICEL1920.
10 de Fevereiro de 2014.

segunda-feira, janeiro 27, 2014

Antigos mineiros lançam movimento de apoio a parceria entre o Município de Rio Maior e a EICEL1920 para instalação de Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro

Mineiros empurrando vagoneta em galeria de rolagem da Mina do Espadanal. José Lobo, Século Ilustrado, 1955.

A EICEL1920, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, apresentou à Câmara Municipal de Rio Maior, em carta datada de 11 de Novembro de 2013, uma proposta para o estabelecimento de parceria tendo como objectivo a instalação de um Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro na antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal, e que está presentemente em apreciação pela autarquia.

Os antigos mineiros e funcionários da Empresa Industrial, Carbonífera e Electrotécnica, Limitada (EICEL), e suas famílias, que têm colaborado de forma notável no esforço colectivo de recuperação da memória e do património da Mina do espadanal, entenderam expressar publicamente o seu apoio a este projecto, através do lançamento de uma "Petição pelo estabelecimento de uma parceria efectiva entre a Câmara Municipal de Rio Maior e a EICEL1920 para a instalação de Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro".

Este movimento de apoio promovido pelos antigos mineiros, que em apenas uma semana reuniu já mais de 200 subscrições, está aberto à participação de todos os cidadãos mediante assinatura da petição, disponível em papel no Ganaus Café, em Rio Maior, ou na internet, em: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=mina-do-espadanal

O empenho dos cidadãos, do movimento associativo e do município, na recuperação do património mineiro, demonstra, cremos, a existência de todas as condições para a mobilização da comunidade em torno de um projecto conjunto de grande significado para a valorização do património histórico e cultural do nosso concelho.

A Direcção da EICEL1920, honrada pelo voto de confiança expresso pela Comunidade Mineira, deliberou divulgar o texto da petição lançada no passado dia 18 de Janeiro, e que transcrevemos:

"Petição pelo estabelecimento de uma parceria efectiva entre a Câmara Municipal de Rio Maior e a EICEL1920 para a instalação de Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro".

"Após a divulgação de proposta apresentada pela EICEL1920, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, à Câmara Municipal de Rio Maior, para instalação de Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro na antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal, os antigos mineiros e funcionários da Empresa Industrial, Carbonífera e Electrotécnica, Limitada, e respectivas famílias, entendem ser necessário expressar publicamente o seu apoio incondicional a este projecto.

A importância da intervenção cívica da EICEL1920 no estudo, defesa e valorização do património mineiro riomaiorense foi reconhecida pela Assembleia Municipal de Rio Maior em Voto de Louvor aprovado no dia 14 de Setembro de 2013.

Tal como se afirma no referido Voto de Louvor, a EICEL1920 mobilizou a comunidade riomaiorense para a defesa do património mineiro do nosso concelho; recuperou um notável espólio do antigo Couto Mineiro do Espadanal, que pretende disponibilizar aos riomaiorenses com a instalação de um Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro; promoveu o envolvimento das novas gerações na valorização do património concelhio; introduziu em Rio Maior o Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de Portugal; assegurou o reconhecimento científico da importância do património mineiro riomaiorense sustentado em tese de mestrado defendida no Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; disponibilizou ao Município de Rio Maior um contributo inestimável para o reconhecimento do património mineiro romaiorense no Plano Estratégico de Desenvolvimento de Rio Maior; e inverteu o estado de abandono a que estava votado o complexo mineiro do Espadanal, nomeadamente através da realização de acções voluntárias de conservação do património mineiro.

A EICEL1920 detém o mais aprofundado conhecimento técnico e científico sobre a história e o património mineiro do concelho de Rio Maior, contando com o apoio de especialistas e entidades internacionais. Este facto foi reconhecido pelo Município ao adoptar e transcrever as propostas da associação e os estudos dos seus membros no Plano Estratégico de Desenvolvimento de Rio Maior.

A importância da colaboração entre a Câmara Municipal de Rio Maior e a EICEL1920 está patente nos bons resultados obtidos com a parceria em curso para as Acções Voluntárias de Conservação do Património Mineiro, que têm demonstrado a capacidade de trabalho conjunto de entidades e movimento associativo para o interesse geral da comunidade.

A Direcção da EICEL1920 vem, desde a sua constituição, apresentando à Câmara Municipal de Rio Maior propostas para a recuperação faseada do complexo mineiro do Espadanal, mediante a instalação de um Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro.

Com este objectivo a associação assumiu o desafio de realizar trabalhos de reabilitação na antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal e, para tal, solicitou à Câmara Municipal de Rio Maior a cedência, por um período a determinar, de uma das áreas devolutas deste conjunto edificado, assumindo todos os encargos necessários à execução de um projecto de reabilitação segundo critérios científicos rigorosos e sem custos para o Município, com acompanhamento de Instituição Universitária credenciada, no âmbito de programa de Doutoramento supervisionado por especialistas internacionais nas áreas da arquitectura e do património industrial.

O complexo mineiro do Espadanal é um património definidor da identidade de todos os riomaiorenses e deve ser recuperado num esforço colectivo, envolvendo os melhores contributos da nossa comunidade. A Câmara Municipal de Rio Maior tem na EICEL1920 um parceiro privilegiado e insubstituível para a realização desta tarefa. Estão assim reunidas todas as condições para a realização de um trabalho de referência mediante o estabelecimento de uma parceria efectiva entre a autarquia e o movimento associativo.

Os antigos mineiros e funcionários da Empresa Industrial, Carbonífera e Electrotécnica, Limitada, e suas famílias, identificam-se com o projecto da EICEL1920, no qual foram chamados a participar activamente desde a primeira hora, e reconhecem nesta associação a sua representante junto do Município de Rio Maior para os assuntos relacionados com a recuperação do património mineiro riomaiorense."

Os antigos mineiros e seus familiares terminam solicitando à Câmara Municipal de Rio Maior "o estabelecimento de uma parceria efectiva com a EICEL1920, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, tendo como objectivo a instalação, na antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal, do Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro proposto por esta associação".

Fábrica de briquetes da Mina do Espadanal, em fase de acabamentos. Outubro de 1954. Colecção Luís Falcão Mena, Arquivo EICEL1920.

A Direcção da EICEL1920.
27 de Janeiro de 2014.

domingo, janeiro 19, 2014

Artigo de opinião, por Carlos Carujo: "A mina, o material e o imaterial." Região de Rio Maior nº1319, 17 de Janeiro de 2014.


Carlos Carujo
Quem não cuida do passado acaba descurando o presente e comprometendo o futuro. Este lugar-comum poderia sintetizar parte da história recente de Rio Maior. A paisagem da cidade é marcada pela Mina do Espadanal. Votada ao abandono e a deteriorar-se a cada dia, ela é hoje o símbolo desse passado desprezado e desse presente negligenciado. Mas a mina do Espadanal é mais do que paisagem. É uma peça fundamental da identidade histórica da cidade que é urgente preservar e valorizar.

Dadas as condições em que se encontra, provavelmente já não haverá nem muito tempo nem muitas oportunidades para Rio Maior cuidar devidamente dela. Daí que a proposta de reabilitar o espaço e de aí instalar um Centro de Interpretação do Património Geológico e Mineiro, feita pela Associação EICEL1920, pareça uma oportunidade a não perder. Uma oportunidade vinda da sociedade civil, preocupada com o bem comum e não apenas com o lucro particular, que não implica custos para os munícipes e que será monitorizada por instituições nacionais e internacionais credíveis.

Trata-se de comparar esta com as outras alternativas e propostas que existam e pesar todos prós e os contras. Seja como for, é necessário que a solução se encontre antes que seja tarde demais. Seja como for, é necessário que esta solução passe por manter o património construído e não ceda a qualquer operação de especulação imobiliária sendo também preferível um projeto que ligue a dimensão geológica à memória mineira e que tenha potencial pedagógico, cultural e turístico. 

Seja como for, é necessário que, para além das preocupações com o edificado, a solução a adotar tome em conta que é igualmente urgente proteger e valorizar o património imaterial. A mina e a fábrica de briquetes são também as vidas sofridas que aí se fabricaram. E as memórias destas vidas e de que como se envolveram na reinvenção de Rio Maior também se vão erodindo com o tempo. Daí que o registo para memória futura de toda esta riqueza se deva constituir como uma fatia importante de um projeto destes.

Há uma mina em Rio Maior. A cidade dela não se pode esquecer. A mina não tem de ser uma mancha esquecida na paisagem ou um projeto do tipo “elefante branco”. Não sendo de ouro, a mina é uma riqueza. Porque o património é sempre uma mina se for potenciado e várias dimensões da economia local ficariam a ganhar com a sua requalificação. Porque a riqueza é também imaterial. Portanto, para além dessa riqueza material que possa trazer à cidade se for explorada inteligentemente, a mina esconde essa riqueza imaterial que não tem preço. A riqueza da memória das gerações passadas que devemos conseguir oferecer às gerações futuras. A riqueza da compreensão e do respeito pelo que fomos que é impagável na equação do que somos e do que queremos ser.

Carlos Carujo in Região de Rio Maior nº1319, de Sexta-feira, 17 de Janeiro de 2014.