sexta-feira, maio 27, 2011

EICEL. Programa de Acção 2011 - 2014 (Parte 7)

(continuação do nº1179, de 13 de Maio de 2011, pág 7)

A reutilização do património industrial foi, na última década, reconhecida pelo Comité Internacional para a Conservação do Património Industrial (TICCIH), através da Carta de Nizhny Tagil (2003) (25), como forma aceitável de assegurar a sua conservação. Nesse documento podemos reconhecer as bases nas quais assentam os princípios orientadores da proposta de restauro da fábrica de briquetes que formulamos no presente estudo:

1 – Conhecimento aprofundado da História da unidade industrial a intervencionar.
A história, numa perspectiva multidisciplinar, deve ser o elemento essencial no debate da conservação arquitectónica (26). Para evitar uma demasiado frequente destruição de elementos fundamentais para a compreensão histórica dos edifícios, baseada em razões funcionais decorrentes dos programas a instalar, a opção sobre uma nova função e a sua materialização arquitectónica devem ser subordinadas aos valores históricos em presença.
Esta exigência de um conhecimento da História aplica-se a toda a profundidade da intervenção, desde a compreensão da íntima relação entre a lógica volumétrica do edificado e a sua antiga função, à compreensão do estado da arte à época da construção, na escolha e aplicação de linguagens estéticas, de materiais e de sistemas construtivos. A nova intervenção deve compreender o valor do património industrial enquanto documento da história da arquitectura e da técnica.

2 – Preservação do esquema produtivo original.
Um edifício industrial é em si mesmo uma grande máquina, materializando nas suas volumetrias um diagrama funcional de produção. A truncagem deste sistema integrado, por muito que algum dos elementos construídos possa por si só parecer irrelevante na sua qualidade arquitectónica, torna incompreensível o conjunto.
Os novos programas a instalar devem assim ser compatíveis com a anterior função do edifício, preservando “os esquemas originais de circulação e de produção” (27) e respeitando os materiais utilizados. Recomenda-se que a adaptação evoque a antiga actividade industrial.

3 – Reversibilidade e impacto mínimo da intervenção.
A nova intervenção arquitectónica deve garantir as exigências funcionais dos programas de utilização, mediante uma “sábia adaptação das obras existentes” (28), desenhando e colocando os novos elementos técnicos estritamente necessários, sob um princípio de agressão mínima à estrutura original e fácil reposição do edifício nas condições iniciais. A qualidade arquitectónica
da intervenção estará assim na sua capacidade de servir a estrutura existente, anulando tanto quanto possível a presença material de tudo o que não lhe pertence.

A execução de um registo exaustivo de alterações que não possam ser evitadas é, neste contexto, indispensável, devendo promover-se, sempre que possível, e o seu estado de conservação assim o permita, a recolha e armazenamento dos elementos removidos em condições de uma hipotética futura reintegração.












































Secção de briquetagem da antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal. Estado de conservação actual e estado de conservação original, que se pretende recuperar.

Notas:

(25) Carta de Nizhni Tagil sobre o Património Industrial, traduzida pela APPI. Disponível na Internet via: http://www.mnactec.cat/ticcih/pdf/NTagilPortuguese.pdf

(26) CAPEL, Horácio – “La rehabilitación y el uso del património histórico industrial”. In Documents d’Anàlisis Geográfica nº29. Barcelona, 1996, pág.49.

(27) Carta de Nizhni Tagil sobre o Património Industrial, traduzida pela APPI. Disponível na Internet via: http://www.mnactec.cat/ticcih/pdf/NTagilPortuguese.pdf

(28) CAPEL, Horácio – “La rehabilitación y el uso del património histórico industrial”. In Documents d’Anàlisis Geográfica nº29. Barcelona, 1996, pág.50.

Continua no próximo número do Região de Rio Maior

In Região de Rio Maior nº1180, de 20 de Maio de 2011

Reprodução do cartaz da III Jornada do Património Mineiro do Concelho de Rio Maior






















In Região de Rio Maior nº1180, de 20 de Maio de 2011


segunda-feira, maio 23, 2011

EICEL. Programa de Acção 2011 - 2014 (Parte 6)

(continuação do n.º1178, de 6 de Maio de 2011, pág 7)

1.2 – PROPOSTA DE RECUPERAÇÃO FASEADA E REUTILIZAÇÂO DA FÁBRICA DE BRIQUETES DA MINA DO ESPADANAL

1.2.1 – Enquadramento conceptual

A reutilização do património edificado não é uma prática recente. São muitos os exemplos de edifícios do passado que chegaram a nós em virtude da potencialidade demonstrada ao longo de séculos para a adaptação a novos usos, por vezes profundamente distintos da função original para a qual foram concebidos. Em Portugal encontramos um exemplo paradigmático de reutilização de edificado no Século XIX, com a extinção das ordens religiosas e a nacionalização dos seus bens, promulgada a 30 de Maio de 1834. A sorte do extenso património edificado que então passa ao domínio do Estado foi diversa, desde a venda a privados à afectação a funções públicas. Neste domínio registamos a conversão de muitos dos antigos conventos em quartéis militares ou hospitais, que se mantiveram em funções até à actualidade.

No concelho de Rio Maior encontramos um dos exemplos da extensa lista de imóveis nacionalizados: um antigo hospício de frades franciscanos arrábidos, com uma fábrica de buréis, que, com a criação do Município em 1836 (apenas dois anos após o decreto de extinção das ordens) passará a albergar os Paços do Concelho.

A conservação e reutilização de edifícios industriais é um fenómeno mais recente, que se afirma na segunda metade do Século XX, e adquire particular oportunidade desde a década de setenta no seio de um processo global de reestruturação industrial marcado pela deslocalização de empresas dos países industrializados para áreas em vias de desenvolvimento. Acompanhando transformações económicas e sociais que produziram o crescimento, neste período, de novas indústrias de serviços e da produção de Conhecimento, são diversos os exemplos bem sucedidos, nos últimos vinte anos, de novos usos instalados em antigas unidades industriais devolutas, integradas no espaço urbano, de entre os quais destacamos as reutilizações culturais e de lazer e a instalação de espaços de trabalho intelectual e criativo.

No entanto, nem sempre a reutilização tem correspondido a uma efectiva conservação dos valores históricos e arquitectónicos presentes nas antigas unidades industriais. A prática corrente revelou uma tendência para a destruição quase completa dos edifícios e manutenção restrita de elementos simbólicos com os quais se pretende preservar a memória e valorizar os novos empreendimentos. A complexidade de projecto e o aumento de custos decorrente da procura de estratégias de adaptação de espaços a novas funções, preservando a sua matriz genética, motiva promotores e técnicos à produção de soluções simplificadoras do problema, optando geralmente por uma abordagem fachadista, reveladora de um entendimento epidérmico da arquitectura.

A mais emblemática destas abordagens, que encontramos um pouco por todo o país, consiste na preservação de um elemento simbólico único: a chaminé. Horácio Capel registava, já em 1995, esta “curiosa fixação pela chaminé” (22), interrogando se os seus defensores seriam motivados “pelo reduzido espaço que ocupa, pela sua associação com a actividade industrial ou pelo seu espectacular carácter fálico” (23). José Manuel Cordeiro caracterizou este tipo de propostas, durante a I Jornada do Património Mineiro do Concelho de Rio Maior, em 2008, como “a tradução de um sentimento de má consciência, que procura compensar o acto de destruição do património” (24).























Fábrica Van Nelle, Roterdão, Holanda. Exemplo de recuperação integral e reutilização de antigo complexo industrial, edificado entre 1925 e 1931. Intervenção de restauro concebida pelo atelier Wessel de Jonge architecten e galardoada com o Prémio da União Europeia para o Património Cultural, Europa Nostra, de 2008 (Fotografia: Nuno Rocha, 2001)


Notas:

(22) CAPEL, Horácio – “La rehabilitación y el uso del património histórico industrial”. In Documents d’Anàlisis Geográfica nº29. Barcelona, 1996, pág.28.

(23) Idem, ibidem, pág.28.

(24) “I Jornada do Património Mineiro. Comunicações (parte 13)”. In Região de Rio Maior nº 1035. Rio Maior, 8 de Agosto de 2008.

Continua no próximo número do Região de Rio Maior

In Região de Rio Maior nº1179, de 13 de Maio de 2011

NUNO ALEXANDRE ROCHA APRESENTOU NA UNIVERSIDADE DE LISBOA TESE DE MESTRADO SOBRE AS MINAS DO ESPADANAL



























Nuno Rocha em prova académica anterior (foto de arquivo).

No passado dia 3 de Maio, Nuno Alexandre Rocha, Presidente da EICEL – Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, apresentou a defesa pública da dissertação de mestrado “Couto Mineiro do Espadanal (Rio Maior). História, Património, Identidade” ao Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. O Júri foi Presidido pelo Doutor Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão, Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), e integrou mais três docentes: como Arguente, a Doutora Deolinda Maria da Ressurreição Folgado, Doutorada em História da Arte, Técnica Superior do IGESPAR, departamento de Inventário, Estudos e Divulgação e docente do Mestrado em Arte, Património e Teoria do Restauro do Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; o Orientador da tese, Doutor Fernando Jorge Artur Grilo, Professor Auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; e o Doutor Luís Urbano de Oliveira Afonso, Professor Auxiliar da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Este trabalho académico foi classificado por unanimidade com dezoito valores, tendo sido realçado, que, para além da sua elevada qualidade científica, constitui um contributo cívico da maior importância para a defesa e requalificação do património mineiro de Rio Maior.

O Professor Doutor Vítor Serrão, Coordenador do Instituto de História da Arte da FLUL, fez questão de mencionar, que das cerca de 90 dissertações inscritas no âmbito do Mestrado em Arte, Património e Restauro, iniciado em 1996, esta tese foi a primeira a versar a temática do Património Industrial e Mineiro; o que segundo a Arguente, se reveste de um especial significado, uma vez que o nosso país possui um vasto património mineiro ainda muito pouco valorizado, nomeando o exemplo de apenas dois complexos mineiros estarem classificados como Imóveis ou Monumentos de Interesse Público, respectivamente, o Parque Mineiro de Tresminas em Vila Pouca de Aguiar, e o Cavalete do Poço de São Vicente, nas minas de S. Pedro da Cova.

Nuno Alexandre Rocha na sua argumentação destacou “que este trabalho não é documento encerrado, mas um esforço de fixação de um discurso histórico assente em documentação inédita, abrindo perspectivas ao aprofundamento de futuras investigações em diferentes campos disciplinares, e de análise do património subsistente, produzindo propostas para a sua salvaguarda e reutilização”, cuja concretização se deseja que decorra em estreita cooperação com a Edilidade Riomaiorense, proprietária deste património, e com o apoio das parcerias científicas e das associações de defesa do património já envolvidas neste processo.

Como refere uma investigadora desta área, Kate Clark, citada por José Amado Mendes, “o valor do património constitui uma fonte de aprendizagem, é um recurso social que envolve pessoas, é algo que contribui para o desenvolvimento da economia e faz a ligação ao desenvolvimento sustentável e não interessa apenas aos especialistas”. Daí a importância do património mineiro riomaiorense que o Mestre em Arte, Património e Teoria do Restauro, Nuno Alexandre Rocha materializou neste seu trabalho.

António José Vieira de Carvalho, Médico, Vice-presidente da EICEL, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico.

In Região de Rio Maior nº1179, de 13 de Maio de 2011

terça-feira, maio 17, 2011

CONVITE - III Jornada do Património Mineiro

III JORNADA DO PATRIMÓNIO MINEIRO DO CONCELHO DE RIO MAIOR. PATRIMÓNIO E COMUNIDADE. A ESCOLA E AS REDES DE CONHECIMENTO.





















Figura 1 – Maqueta da antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal, à escala 1:100, executada pelas alunas do 12º ano da Escola Secundária de Rio Maior, Daniela Monteiro, Daniela Santos, Joana Costa e Susana Gonçalves, sob coordenação do arquitecto Nuno Alexandre Rocha.


A EICEL, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico organizará no próximo dia 21 de Maio (sábado), na Biblioteca Municipal, a III Jornada do Património Mineiro do Concelho de Rio Maior.
A sessão, subordinada ao tema “Património e Comunidade. A Escola e as Redes de Conhecimento”, surge no âmbito de colaboração estabelecida com a Escola Secundária de Rio Maior, materializada no acompanhamento a projectos de alunas do 12º ano dedicados ao património do antigo Couto Mineiro do Espadanal e desenvolvidos nas disciplinas da Área de Projecto leccionadas pelos professores Paulo Sá e Rosa Batista.
Sublinha-se a importância do envolvimento da comunidade educativa na valorização do património local e a oportunidade de inserção das iniciativas em desenvolvimento nas dinâmicas de uma rede nacional de espaços mineiros.
A Jornada terá o seguinte programa:

III Jornada do Património Mineiro do Concelho de Rio Maior.

15h00 – Sessão de abertura:
- Professor Albino Correia, Director da Escola Secundária de Rio Maior.
- Professor Paulo Dias de Sá, Coordenador da Área de Projecto.
- Arquitecto Nuno Alexandre Rocha, Presidente da Direcção da EICEL.
15h20 – Sessão temática:
- Comunicação: Nuno Alexandre Rocha, “Couto Mineiro do Espadanal (Rio Maior). História, Património, Identidade”.
- Comunicação: J. Bernardo de Lemos, “Apresentação do Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de Portugal”.
16h20 – Inauguração de exposição dos trabalhos realizados pelos grupos de alunas da Área de Projecto da Escola Secundária de Rio Maior.

A EICEL convida todos os riomaiorenses a marcarem presença nesta iniciativa de valorização do património mineiro do concelho de Rio Maior.



















Figura 2 – Fotografia da antiga fábrica de briquetes da Mina do Espadanal, incluída em levantamento fotográfico do património mineiro realizado pelas alunas do 12º ano da Escola Secundária de Rio Maior, Andreia Dias, Bárbara Silva, Maria Chambel, Patrícia Vieira e Tânia Barbosa.


In Região de Rio Maior nº1179, de 13 de Maio de 2011

sábado, maio 14, 2011

PATRIMÓNIO DOCUMENTAL DA ANTIGA MINA DO ESPADANAL. EICEL ASSINA PROTOCOLO DE COLABORAÇÃO COM MARIA MARGARIDA BORGES VIDIGAL PAIS

Arnaldo Vidigal Pais (1899-1961), médico, natural de Vila Nova da Erra, concelho de Coruche, fixou residência e actividade profissional em Rio Maior no início da década de trinta do Século XX.

Homem de marcada participação cívica foi um dos fundadores, a 4 de Fevereiro de 1932, do Grémio Riomaiorense (actual Clube Riomaiorense). No final da II Guerra Mundial representou a Embaixada dos Estados Unidos da América em almoço comemorativo da Paz, realizado a 21 de Maio de 1945 na antiga Moagem Maria Celeste, em Rio Maior. Enquanto convicto opositor do Estado Novo integrou a Comissão Concelhia de Rio Maior do Movimento de Unidade Democrática (M.U.D.).

Nomeado médico examinador da Companhia de Seguros “A Nacional” a 14 de Maio de 1934, o Dr. Vidigal Pais exerceu essa função junto da Empresa Industrial, Carbonífera e Electrotécnica, Limitada, concessionária do Couto Mineiro do Espadanal, assegurando durante 27 anos os exames clínicos dos funcionários das minas de Rio Maior, até ao seu falecimento a 25 de Agosto de 1961.

A EICEL, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, prosseguindo um objectivo de promoção de estreita cooperação com a comunidade riomaiorense, assinou no passado dia 25 de Abril um protocolo de colaboração com Maria Margarida Borges Vidigal Pais tendo em vista a conservação e exposição ao público de espólio documental relativo à actividade da antiga Mina do Espadanal.

Foram doadas por Margarida Vidigal Pais uma fotografia de seu pai datada da década de trinta, a Carta de Nomeação do Dr. Arnaldo Vidigal Pais enquanto médico examinador da Companhia de Seguros “A Nacional” e quatro títulos de empréstimo do Grémio Riomaiorense. O espólio doado integrará futuro Centro de Documentação a criar pela EICEL e será disponibilizado aos investigadores interessados pelo estudo da história e do património do concelho de Rio Maior.

In Região de Rio Maior nº1178, de 6 de Maio de 2011

sexta-feira, maio 13, 2011

EICEL. Programa de Acção 2011 - 2014 (Parte 5)

(continuação do n.º1177, de 29 de Abril de 2011, pág 7)

1.1.2 - Estabelecimento de parcerias nacionais e internacionais para a promoção do património mineiro riomaiorense.

Um factor decisivo para a sustentabilidade de um empreendimento de reutilização científica, cultural e turística de património mineiro e industrial reside na sua capacidade de afirmação enquanto protagonista de uma rede global de organismos e projectos vocacionados para esta área específica da salvaguarda e valorização patrimonial.

No plano nacional não foi ainda possível implementar uma rede de Centros Mineiros. Destaca-se, no entanto, a recente iniciativa conjunta da Direcção Geral de Energia e Geologia, da Empresa de Desenvolvimento Mineiro SA e do Ministério da Economia, da Inovação e do Desenvolvimento, esboçando o primeiro Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de Portugal (19). O Roteiro integra presentemente 21 sítios, de entre os quais registamos apenas uma representação da indústria mineira de carvões: a Casa da Malta/ Museu Mineiro, da Mina de S. Pedro da Cova, em Gondomar.

Num plano internacional surge como oportunidade a integração do futuro Parque Geomineiro do Espadanal na Rota Europeia de Património Industrial (ERIH) (20), rede de informação turística sobre o património industrial europeu. A ERIH é constituída actualmente por mais de 850 sítios distribuídos por 32 países e organizados numa rota de “pontos âncora”, rotas temáticas e rotas regionais.

Dos actuais 72 “pontos âncora”, 12 são sítios mineiros, metade dos quais minas de carvão, com natural destaque para a Mina de Carvão Zollverein, em Essen, Alemanha, classificada como Património da Humanidade.

As rotas temáticas organizam-se num número de dez: Têxteis; Minas; Ferro e Aço; Manufacturas; Energia; Transportes e Comunicações; Água; Habitação e Arquitectura; Indústria de Serviços e Lazer; Paisagens Industriais. A rota temática dedicada à indústria mineira conta presentemente com 165 sítios registados. As rotas regionais encontram-se ainda apenas organizadas em seis países (Bélgica, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Holanda e Polónia). Portugal está representado por 23 sítios industriais, entre os quais o Parque Mineiro da Cova de Mouros, em Alcoutim, as minas de tungsténio do Fundão e o Museu do Ferro da Região de Moncorvo, não inscrevendo ainda, no entanto, qualquer sítio na rota de “pontos âncora”.

No contexto específico do património mineiro, a Rede Europeia de Património Mineiro (Europamines), criada no âmbito do Programa Cultura 2000, da União Europeia, vem constituindo um espaço significativo de debate, contando, no plano nacional, com a participação da Câmara Municipal do Fundão como membro fundador. Destacamos, entre os objectivos da Europamines, o desenvolvimento de um código de boas práticas para a sustentabilidade de projectos de conservação e interpretação do património mineiro na Europa, a criação de estratégias modelares para o desenvolvimento sustentável, o fornecimento de consultoria entre especialistas no seio das organizações associadas e a defesa, num plano Europeu, dos valores e interesses dos sítios de património mineiro (21).
















Património em rede. Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de Portugal. http://www.roteirodeminas.pt/

O desenvolvimento do projecto de Rio Maior num espectro alargado a um plano nacional e internacional de produção de conhecimento na área da salvaguarda do património mineiro será um factor capital na sua sustentabilidade futura, gerando ainda condições para que, através do Centro de Investigação a criar, se torne possível um levantamento global, apresentação nas diferentes rotas, e estudo de uma estratégia conjunta para o património da indústria dos carvões em Portugal.

Neste sentido prevê-se a organização, na cidade de Rio Maior, de um Encontro Ibérico dedicado ao Património Mineiro dos Carvões, promovido no seio de uma parceria entre a EICEL Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, a Secção de Minas da Associação Portuguesa para o Património Industrial (GEOMIN), a representação portuguesa do Comité Internacional para a Conservação do Património Industrial (TICCIH) e a Sociedade Espanhola para a Defesa do Património Geológico e Mineiro (SEDPGYM), no âmbito do qual será apresentado à comunidade científica dos dois países o projecto em curso nas Minas do Espadanal.

Notas:

(19) Página Web do Roteiro das Minas e Pontos de Interesse Mineiro e Geológico de Portugal. Disponível na internet via: http://www.roteirodeminas.pt/

(20) Página Web da Rota Europeia de Património Industrial (ERIH). Disponível na internet via: http://www.erih.net/

(21) Página Web da Rede Europeia de Património Mineiro (Europamines). Disponível na internet via: http://www.europamines.org/

Continua no próximo número do Região de Rio Maior

In Região de Rio Maior nº1178, de 6 de Maio de 2011

sexta-feira, maio 06, 2011

DESCENDENTES DO ANTIGO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL, ANTÓNIO CUSTÓDIO DOS SANTOS, INTEGRAM CONSELHO CONSULTIVO DA EICEL.

António Custódio dos Santos (1885-1972), primeiro presidente da Câmara Municipal de Rio Maior após a revolução de 5 de Outubro de 1910 (1), director da segunda série do jornal O Riomaiorense, descobridor legal da Mina do Espadanal, a 21 de Julho de 1916, e sócio fundador da Empresa Industrial, Carbonífera e Electrotécnica, Limitada, em 1920, foi uma das personalidades de maior relevo na vida da comunidade riomaiorense das primeiras décadas do século XX.

As minas do Espadanal, que constituíram o seu legado de maiores consequências na transformação económica e social do concelho de Rio Maior, foram simultaneamente a causa da grande desventura da sua vida, impondo-lhe o exílio no Brasil, em 1928, do qual não regressaria. Manteria, no entanto, um interesse apaixonado pelo desenvolvimento da actividade mineira local acompanhando, do outro lado do Atlântico, os sucessos da empresa concessionária nas décadas de quarenta e cinquenta, bem como as vicissitudes do seu declínio e encerramento na década de sessenta.

Cerca de quatro décadas passadas desde o falecimento de António Custódio dos Santos, a EICEL, Associação para a Defesa do Património Mineiro, Industrial e Arquitectónico, reconhece na sua vida e obra um objecto de estudo fundamental para a compreensão da história da lavra mineira dos carvões no concelho de Rio Maior.

No passado dia 18 de Abril, por ocasião da presença em Portugal dos três descendentes directos de António Custódio dos Santos, residentes no Brasil, os seus netos António Paulo Santos do Carmo, Tereza Cristina Santos do Carmo e António Sérgio Santos do Carmo, teve lugar a sua adesão ao Conselho Consultivo da EICEL, estabelecendo-se uma importante cooperação tendo em vista o aprofundamento e publicação futura de estudo biográfico do fundador da indústria mineira riomaiorense.


Nuno Alexandre Rocha, António Paulo Santos do Carmo, Tereza Cristina Santos do Carmo e António Sérgio Santos do Carmo, em visita à Mina do Espadanal.
















(1): Entre 6 de Outubro de 1910 e 1911, o cargo de Presidente da Câmara foi exercido em acumulação pelo Administrador do Concelho nomeado após a revolução, António de Sousa Varela.

In Região de Rio Maior nº1177, de 29 de Abril de 2011

EICEL. Programa de Acção 2011-2014 (Parte 4)

(continuação do n.º1176, de 22 de Abril de 2011, pág 7)

Importa para tal produzir uma oferta diversificada de conteúdos e meios qualificados pelo rigor histórico e científico, atendendo a, pelo menos, quatro públicos distintos:

1. O público em geral, interessado na aquisição de conhecimentos generalistas sobre a cultura técnica e científica e sobre a história e arquitectura do sítio. A este núcleo de visitantes importará a disponibilização de estruturas e eventos que convidem à permanência e fruição do Parque Geomineiro (cafetaria e restaurante, pequeno espaço comercial), bem como de uma diversificada oferta cultural nos espaços do Parque, nomeadamente no Auditório e Sala de Exposições Temporárias (artes performativas, eventos musicais, workshops), apoiada ainda na disponibilização de instalações para turismo de habitação, recuperando antigas residências mineiras.
A estes meios deve acrescentar-se uma adequada estratégia comercial assente na divulgação da história e da iconografia da antiga exploração mineira bem como de um programa regular de actividades culturais e de descoberta patrimonial e paisagística, enquadrado nos roteiros turísticos regionais, nacionais e internacionais.

2. A comunidade riomaiorense e a antiga comunidade mineira, a quem interessa sobretudo a Memória do seu passado histórico. A este grupo de visitantes será necessário fornecer um conteúdo aprofundado das circunstâncias particulares do desenvolvimento da indústria mineira local, fundado em intensa iconografia e exposição em contexto do património móvel que compunha o quadro funcional do trabalho na mina, evocando a experiência pessoal, de antepassados e conterrâneos, num quadro de divulgação de uma Identidade Comum, recuperada pela nova actividade cultural e científica enquanto projecto de futuro.



























Interacção com a Comunidade Escolar. Trabalho em curso: maqueta da antiga fábrica de briquetes, em execução por grupo de alunas da Escola Secundária de Rio Maior.


3. O público escolar, dos ensinos básico e secundário, a quem importa fornecer uma perspectiva pedagógica da história da técnica, do trabalho e das comunidades associadas à actividade mineira. A este grupo específico será necessário disponibilizar um serviço educativo e de animação dotado de capacidade de resposta científica e didáctica. O Centro de Ciência Viva encontra sobretudo neste público-alvo a sua justificação, e deverá ter na localização, a uma distância inferior a 500 metros, de cinco estabelecimentos de ensino básico e secundário, uma importante mais valia.


4. O público académico, constituído por estudantes do ensino superior e investigadores, a quem importa disponibilizar os meios para o estudo aprofundado das evidências materiais e imateriais da actividade mineira e industrial dos carvões e da história e património local. A criação de um Núcleo de Investigação reunindo um arquivo histórico (composto pelo arquivo EICEL, arquivo fotográfico e cartográfico da actividade mineira e pelo arquivo histórico municipal) e uma biblioteca especializada na temática do património industrial e mineiro, permitirá a resposta a este público específico.


As probabilidades de sucesso do Parque Geomineiro dependerão em grande medida da sua integração em estratégias de promoção mais vastas, explorando em primeiro lugar a privilegiada localização geográfica e acessibilidade por meio de curta viagem em auto-estrada, no contexto de uma das áreas de maior densidade populacional do país, devendo assim potenciar-se um capital de atractividade de públicos das regiões de Lisboa, Vale do Tejo e Oeste e, em simultâneo, impulsionando a sua presença em redes nacionais e internacionais dedicadas ao património industrial e geomineiro.


Importa ainda não negligenciar a oportunidade de afirmação deste património enquanto oferta singular numa região marcada por significativos fluxos turísticos, qualificada por dois monumentos reconhecidos enquanto Património Mundial pela UNESCO (Mosteiro de Alcobaça, a 28 km, e Mosteiro da Batalha, a 41 km), a uma proximidade entre 30 e 40 km de uma extensão importante da Costa Atlântica entre Peniche e Nazaré, a 30 km da cidade histórica de Santarém e a 22 km da estância termal de Caldas da Rainha, estabelecendo uma relação privilegiada com o Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros.


Continua no próximo número do Região de Rio Maior


In Região de Rio Maior nº1177, de 29 de Abril de 2011