30 de janeiro de 2007

Uma Espécie de Balanço

A Abertura Geral teve o seu início no primeiro domingo de Outubro, que coincidiu com o primeiro dia daquele mês.
Os diversos grupos espalharam-se pela parte oriental de norte a sul, desde os Cabrestantes ao Campo Pequeno. Aos poucos, e debaixo da intensa chuva que caracterizou toda amanhã, foi se fazendo o cinto, mas cedo se constatou uma menor densidade de coelhos, se compararmos com a época anterior, a qual já foi preocupante.

Lamentável também foi constatar a existência de comportamentos inadequados, à semelhança dos anos transactos.
A falta de educação e de civismo que ainda caracterizam muitos daqueles que para aqui se deslocam, sobretudo na destruição das paredes de pedra solta, danos nas propriedades e lixo que deixam ficar abandonado nos lugares por onde passam é, de todo, censurável! É escumalha que não interessa a ninguém!

As jornadas seguiram-se umas às outras e a cada dia de caça foi notório a redução do número de peças encontradas e abatidas.
É o furtivismo dizem uns, são as doenças dizem outros, o facto é que não há dúvidas que a população de coelhos é cada vez menor e que os que subsistiram aparentam já não possuir capacidade de repor os que foram cobrados.
A culpa não é outra senão do furtivismo, das doenças e, sobretudo desta, da falta de gestão.

O que se fez até agora foi reduzir e impôr limitações.
Foram no número de peças, no horário de caça, foram na área de caça disponível.
Está à vista de todos, daqueles que têm olhos na cara e querem ver, que não está a resultar e não está, porque as medidas não foram complementadas por outras igualmente importantes, como a criação de habitats, fornecimento de alimentação, criação de zonas protegidas, reintrodução da perdiz, reforço populacional da codorniz, entre outras e todas elas venho defendendo há já bom tempo.

Esta realidade não pode nem deve perdurar ou a caça do coelho desaparece em Santa Maria, como já desapareceu a perdiz vermelha.

27 de janeiro de 2007

Relato da Abertura Geral 2004/2005

A Abertura Geral ocorreu a 10 de Outubro, em resultado da proposta formulada pela Associação de Caçadores da Ilha de Santa Maria, que incluiu a diminuição de 10 para 7 peças* e a redução do horário de caça até ao meio-dia* como medidas urgentes, necessárias e temporárias para fazer face a uma época anterior caracterizada por intempéries, doenças e furtivismo que reduziram significativamente a população de coelhos bravos.

Apesar das limitações, 120, menos 10 do que na época anterior, dos 177 caçadores residentes, mais 9 do que no ano transacto, renovaram as suas licenças.
Aderiram representantes de todo o país, principalmente a partir de 08 de Outubro, aquando do desembarque de 140 devotos, acompanhados pelos seus cães, do “Golfinho Azul”, navio que estabelece as ligações marítimas inter-ilhas.
Na mesma data, menos de três dezenas escolheram a via aérea.

O Sr. Alfredo Leitão, reformado, 80 anos, proveniente de Cinfães do Douro, Viseu, regressou pela segunda vez, porque nas suas palavras “adoro a caça e o ambiente que a envolve”. Fez-se acompanhar do seu filho, Osvaldo, de 43 anos, que exclamou, ao mesmo tempo que soltava uma gargalhada: “esta é a segunda vez que venho, mas não há-de ser a última. Em Santa Maria, por o terreno ser plano, os coelhos correm muito depressa!”. Por sua vez, o Sr. Silvino, reformado, de 69 anos, morador na ilha de São Miguel, operado às cataratas por 2 vezes e mesmo assim uma das melhores espingardas do seu grupo, concluiu: “esta é a décima ou décima segunda abertura que faço aqui e para o ano voltarei!”.

A jornada ocorreu sem acidentes, para o que contribuiu a acção dos agentes da Polícia Florestal, cuja presença fez-se notar desde o cais de desembarque e da aerogare, facultando conselhos e indicações úteis a todos os interessados e aos mais distraídos.
Efectuaram 152 fiscalizações, sem registar qualquer infracção e contabilizaram 1028 coelhos cobrados.
Menos 1 contra-ordenação e menos 872 coelhos do que na abertura anterior.

Constatei maior responsabilidade no cumprimento das normas de segurança, o uso crescente de vestuário fluorescente, de protectores auriculares, bem como harmonia entre caçadores e os seus cães, momentos de amizade, companheirismo e gentileza, que por serem menos comuns merecem destaque, como a oferta de 1 cartucho, por vezes “esquecidos” sobre o solo, depois de detonados, a quem segurou uma peça ferida atirada por outro.

Não posso deixar de expressar apreensão em relação ao futuro, quando verifico que o número de caçadores supera anualmente todas as medidas locais no sentido de tornar a caça o elemento de gestão, conservação, estabelecimento da biodiversidade e desenvolvimento que deve ser, sob pena de perder-se este importante recurso natural e económico.

Santo Huberto, mesmo assim, proporcionou-nos uma manhã nublada, com vento fraco, de sul e uma temperatura amena, repleta de peripécias que recordarei e para as quais contribuíram todos os caçadores praticantes da boa ética venatória, das normas legais em vigor e do respeito que a natureza reclama.

*Acções propostas e difundidas por mim, numa crónica semanal que tive na estação radiofónica do Clube Asas do Atlântico.

Uma parte deste texto foi publicado na revista Caça & Cães de Caça em finais de 2005

21 de janeiro de 2007

A Foice de Caça

Como referido anteriormente a foice de caça de Santa Maria possui características próprias e diferentes das construídas nas outras ilhas do arquipélago e mesmo no continente português, nomeadamente quanto às dimensões, peso, comprimento do cabo, formato, entre outras, mas estas serão as mais importantes.

A que irei descrever foi-me fabricada neste concelho de Vila do Porto pelo Senhor Hélio Rebelo, pessoa bastante afável, educada e atenciosa, cuja vida profissional nao é a de ferreiro, embora realize alguns trabalhos sempre que solicitado. Foi instruído nesta arte pelo seu pai, desde os tempos de meninice e cuja actividade desenvolveu até ser chamado para o serviço militar, no então ultramar português. Quando regressou optou por seguir outra ocupação que o mantém afastado da forja por largos períodos de tempo.

Quando finalmente teve oportunidade contactou-me, aliás como estava combinado, para poder acompanhar o fabrico da minha foice, que a ele havia encomendado e que aqui irei descrever.

Inicia-se a construção da foice por acender a forja e depois do aço estar em brasa, para melhor ser moldado, inicia-se por encalcar, ou seja tornar plana a face do Alvado, secção onde irá encaixar o cabo.

Assim a foice é composta por 4 partes:

-Alvado
-Corte
-Volta
-Espigão

A Volta, devido à sua configuração, é a mais trabalhosa de efectuar, mas dizia eu que se começa por encalcar...



De seguida procede-se à formação do alvado, o local onde se irá encaixar o cabo...




Poderão ser encontradas peças destas montadas em cabos de madeira de dois tamanhos difrentes.
Um com cerca de 50cm e outro de 150cm.
O primeiro é utilizado com mais frequência pelo caçador que faz uso da espingarda, em virtude da facilidade no seu maneio, enquanto o mais comprido é preferido pelos batedores.

Decorrida a fase do Alvado, inicia-se a do Corte, a parte da lâmina propriamente dita, aquela que o caçador usa para abrir caminho por entre a vegetação agreste.



Só depois dá-se forma à Volta, que foi a tarefa mais longa e esforçada depois da construção do Alvado.




O Espigão é a parte seguinte...





... que depois de formado é dimensionado.


Terminada esta acção temos a foice em bruto, pois falta tempera-la adequadamente e fazer a folha de corte, e só aí sim, o trabalho estará completo. Esta tarefa exige aqueles conhecimentos que se passam de pais para filho e que com toda a certeza o Sr. Rebelo possui dada a qualidade do trabalho final. Interessa salientar que o aço da foice não deve dificultar o seu amolamento, para que o utilizador possa, no campo, com uma pequena lima, manter o gume afiado sem esforço. Daí a importância da têmpera a fim de tornar a foice numa peça de trabalho muito resistente, mas de fácil manutenção.



Finalmente terminada, depois de muito esforço, e pronta a ser montada e utilizada.

O objectivo da foice na caça é o de coadjuvar o caçador na ultrapassagem de obstáculos, alcançar zonas de dificil acesso, prender a peça para ser cobrada e muito raramente como arma de arremesso na caça ao coelho, mas isto só realizado pelos mais habilidosos!

Como são ferramentas típicas e de fabrico artesanal, não existem duas iguais, o que as valoriza ainda mais.

Em Santa Maria e 600 anos depois, ainda se caça ao coelho com foice.
Apesar do seu uso não ocupar a posição de destaque inicial, persiste em proporcionar-nos muita alegria e orgulho por possuirmos um utensílio precioso ao mesmo tempo que nos permite reviver e participar numa manifestação centenária de cultura e de tradição que é a Caça e as suas envolventes.

17 de janeiro de 2007

Um Caçador Açoriano

Finalmente tenho o livro "Um Caçador Açoriano", de Gualter Furtado.

"Ontem, como hoje, para se ser caçador não basta ser-se homem nem gostar de perseguir as presas e abatê-las. Para se ser caçador é preciso nascer com esse dom. Sim, porque o verdadeiro caçador, para se desenvolver, necessita de um meio ambiente propício, mas se não tiver esse dom, nunca mais será um caçador".

Trata-se de um parágrafo, dos muitos que compõem os textos que se desenrolam ao longo das 236 páginas que nos oferece o livro, numa tiragem de 500 exemplares.

Fala-nos o autor do "nosso" saudoso Chefe Lima, da Caçada do Aeroporto, dos irmãos Bragas e fotografias há muitas.

É um livro escrito por um Caçador Açoriano que vale a pena adquirir e ler.

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