sábado, 15 de abril de 2017
FELICIDADE
A doce tarde morre. E tão mansa
Ela esmorece,
Tão lentamente no céu de prece,
Que assim parece, toda repouso,
Como um suspiro de extinto gozo
De uma profunda, longa esperança
Que, enfim cumprida, morre, descansa...
E enquanto a mansa tarde agoniza,
Por entre a névoa fria do mar
Toda a minh'alma foge na brisa:
Tenho vontade de me matar!
Oh, ter vontade de se matar...
Bem sei é cousa que não se diz.
Que mais a vida me pode dar?
Sou tão feliz!
- Vem, noite mansa...
Manuel Bandeira
In Estrela da Vida Inteira
sexta-feira, 14 de abril de 2017
EXCERTO LITERÁRIO
Não. Seu drama não era o drama do peso,
mas da leveza. O que se abatera sobre
ela não era um fardo,
mas a insustentável leveza do ser.
Milan Kundera,
in A Insustentável Leveza do Ser
EXCERTO LITERÁRIO
"Havia sobre todas as coisas uma paz
tão grande que chegava a ser triste".
- Érico Verissímo,
in O resto é silêncio
domingo, 19 de março de 2017
EXCERTO LITERÁRIO
É natural cometer erros,
partir sem os ter compreendido é que torna
inútil o sentido de uma vida.
As coisas que nos acontecem nunca são definitivas,
gratuitas, cada encontro, cada pequeno
acontecimento tem um significado,
a compreensão de nós mesmos
nasce da disponibilidade para os aceitar,
da capacidade de mudar de direcção
a qualquer momento, de deixar a pele antiga,
como as lagartixas na mudança de estação.
Susanna Tamaro
em Vai onde te leva o coração
quinta-feira, 2 de março de 2017
EXCERTO LITERÁRIO
“Nada é eterno nem adquirido, tudo é fugaz
e passageiro. A ilusão - seja a de felicidade
ou a de tristeza - é acreditar num horizonte
fechado, ao alcance da vista, que ignora ou
finge ignorar os horizontes sucessivos que
estão para além do imediato.”
Miguel Sousa Tavares,
In Não Te Deixarei Morrer, David Crockett
terça-feira, 28 de fevereiro de 2017
CITAÇÃO
Adoro caminhar em silencio pelas sombras.
Sou um bicho da noite,do crepúsculo,
uma caçadora noturna. O barulho me fere a alma;
busco a quietude, o contato comigo mesma
e com a natureza.
Léa Waider
terça-feira, 21 de fevereiro de 2017
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017
EXCERTO LITERÁRIO
Arte fotográfica:
Josh Adamski
Penso muitas vezes no dia em que vislumbrei o mar
pela primeira vez.
O mar é grande, o mar é imenso, o meu olhar
vagueava pela praia fora e esperava ser libertado:
mas lá ao fundo, porém, estava o horizonte.
Por que razão tenho eu um horizonte?
Da vida, eu esperei o infinito.
Thomas Mann
in Desilusão
EXCERTO LITERÁRIO
Arte Morteza Katouzian
“Mas afinal, o que se leva da vida, senão os remorsos?
Remorsos do que poderia ter sido e não foi, e do que
se perdeu depois de ter sido. Remorsos do que devia
ter sido dito e feito, e não o foi a tempo, ou do que
foi demasiadamente dito e feito. Remorsos destes
eternos desencontros, desta sensação de que nada
existe no seu tempo certo, de chegar sempre tarde
ou partir cedo demais.”
Miguel Sousa Tavares,
Não Te Deixarei Morrer, David Crockett
domingo, 19 de fevereiro de 2017
CITAÇÃO
Arte Claudia Tremblay
" A única eternidade que nos é certa:
continuarmo-nos em nossos filhos...
como flor que morre na imortalidade
da semente."
Mia Couto
in " Na berma de nenhuma estrada "
CITAÇÃO
Arte Claudia Tremblay
"Afinal, a vida se confirma à força de rasgão:
ela dilacera logo no ato de nascer,
separando mais que a própria morte."
Mia Couto in
" Na berma de nenhuma estrada "
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017
terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017
CITAÇÃO
Não tinha certezas.
A vida ensinara-o : não confies.
Prevenia-se sempre com uma dúvida.
Entre o pavor de um desengano e a
necessidade de acreditar
– interpunha a dúvida.
Era essa, talvez, a raiz da sua solidão.
Fernando Namora
em Cidade Solitária
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017
CITAÇÃO
O género humano é mais ou menos isto:
um imenso viveiro de ostras,
onde umas dão pérolas e outras
poderiam tê-las dado.
António Alçada Baptista
terça-feira, 7 de fevereiro de 2017
EXCERTO LITERÁRIO
«Deus não exige de nós nenhum culto;
prestamos a nossa homenagem a Deus,
entramos em contacto pleno com o Universo,
quando desenvolvemos a nossa Inteligência
e o nosso Amor: um laboratório,
uma biblioteca são templos de Deus;
uma escola é um templo de Deus; uma
oficina é um templo de Deus; um homem é
um templo de Deus, e o mais belo de todos.
Todos podemos ser sacerdotes, porque todos
temos capacidades de Inteligência e de Amor;
e praticamos o mais elevado dos cultos a
Deus quando propagamos a cultura, o que
significa o derrubamento de todas as
barreiras que se opõem ao Espírito.»
Agostinho da Silva
in, Textos e Ensaios Filosóficos I
terça-feira, 31 de janeiro de 2017
sábado, 28 de janeiro de 2017
EXCERTO LITERÁRIO
Hoje acordei com a dor das árvores;
estou de pé e o meu tronco sustém
o vazio e a solidão dos ramos
côncavos de espera,
impacientes de ternura.
Quero o bracejar dos pássaros,
ser refúgio dos ventos que me procuram,
tornar-me na folhagem que te abriga,
ser o ninho na tua noite, aberto
com a inquietação e a serenidade
dos rumores das aves mais tardias.
Não, desta vez não vou com os ventos...
Lília Tavares
in, Parto com os ventos
quarta-feira, 25 de janeiro de 2017
DO AZUL, NUM SONETO
Verificar o azul nem sempre é puro.
Melhor será revê-lo entre as ramadas
e os altos frutos de um pomar escuro
- azul de tênues bocas desoladas.
Melhor será sonhá-lo em madrugadas,
fresco, inconstante azul sempre imaturo,
azul de claridades sufocadas
latejando nas pedras – nascituro.
Não este azul, mas outro e dolorido,
evanescente azul que na orvalhada
ficou, pétala ingênua, torturada.
Recupero-o, sem ter, e ei-lo perdido,
azul de voz, de sombra envenenada,
que em nós se esvai sem nunca ter vivido.
Alphonsus de Guimaraens Filho
In: Antologia Poética
domingo, 22 de janeiro de 2017
SÓ NÓS
"Quantas vezes tentaram adivinhar
o que sentíamos,e erraram.
Julgaram nossas ações, e erraram.
Tiveram certezas sobre nossos
propósitos, erraram.
O que somos de verdade e queremos
de fato,só nós sabemos."
Só nós.
- Sós-
Martha Medeiros
quarta-feira, 18 de janeiro de 2017
EXCERTO LITERÁRIO
(...) Meu Deus, a pouco e pouco vamo-nos
tornando sotãos onde o passado amarelece,
a pouco e pouco os sotãos invadem a casa
que somos, principiamos a mover-nos entre
sombras truncadas de gente, emoções,
memórias. Lentamente tiram-nos tudo, o
presente afunila-se, o futuro uma parede.
E nós, apesar de adultos, tão crianças,
assustados, perdidos, juntando pedaços
dispersos para nos reconstruirmos de
novo, continuarmos. Na direcção de quê?
Para onde? Quem nos espera ainda? (...)
António Lobo Antunes,
in Livro de Crónicas
domingo, 8 de janeiro de 2017
EXCERTO LITERÁRIO
“Dai-me a paz dos estábulos, pedi a Deus,
das coisas realizadas, das colheitas recolhidas.
Deixai-me ser por ter terminado de me realizar.
Estou cansado das lutas do meu coração.
Estou velho demais para recomeçar todos os meus
ramos. Fui perdendo um a um os amigos e os inimigos.
E a luz do meu caminho é hoje triste e fraca.
Me afastei, voltei, olhei: fui encontrando os
homens em volta do Bezerro de Ouro não
interessados, porém estúpidos. E as crianças
que nascem hoje, me parecem mais
estrangeiras do que os bárbaros sem religião.
Levo comigo o peso dos tesouros inúteis
como uma música que nunca ninguém compreenderá.”
Antoine de Saint-Exupéry,
in Cidadela
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
Martha Medeiros
"Pois, diante desse imenso ponto de interrogação
que é o futuro de todos nós, reformulei minhas
crenças: estou me dando o direito de não pensar
tanto, de me cobrar menos ainda, e deixar para
compreender depois. Desisti de atracar o barco
e resolvi aproveitar a paisagem."
Martha Medeiros
terça-feira, 20 de dezembro de 2016
NATAL DE 1971
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem traz às costas
as cinzas de milhões?
Natal de paz agora
nesta terra de sangue?
Natal de liberdade
num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
roubada sempre a todos?
Natal de ser-se igual
em ser-se concebido,
em de um ventre nascer-se,
em por de amor sofrer-se,
em de morte morrer-se,
e de ser-se esquecido?
Natal de caridade,
quando a fome ainda mata?
Natal de qual esperança
num mundo todo bombas?
Natal de honesta fé,
com gente que é traição,
vil ódio, mesquinhez,
e até Natal de amor?
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm,
ou dos que olhando ao longe
sonham de humana vida
um mundo que não há?
Ou dos que se torturam
e torturados são
na crença de que os homens
devem estender-se a mão?
Novembro 71
Jorge de Sena, "Exorcismos",1972
segunda-feira, 21 de novembro de 2016
EXCERTO LITERÁRIO
Talvez o tempo, por si só, explique a cada um
de nós o que é necessário para a felicidade.
Talvez a felicidade seja sempre outra coisa
que em cada idade se revela para que nos
esforcemos de novo, continuamente.
Há um amor guardado para cada fim. No limite,
já não podemos adiá-lo. Temos de amar sem
olhar a quem até que, olhando, o perfeito
desconhecido nos seja familiar. Até que se
invente uma família, tão pura e fundamental
quanto outra qualquer. A felicidade, afinal,
é possível, embora se esconda atrás de
um mundo de tristezas. Mas nenhuma tristeza
nos deve vencer. O destino de cada um é só
este: acreditar, mesmo quando ninguém mais
acredite.
Valter Hugo Mãe
em “O Filho de Mil Homens”
quinta-feira, 6 de outubro de 2016
EXCERTO
"Aceita,
acolhe a minúscula astronomia de um jardim:
os insectos com as suas múltiplas facetas
e as delicadas antenas com que se orientam.
...
Fascinantes,
meticulosos ...
Uma fábula adormece ao sol das folhas:
o jardim é um estremecimento."
António Ramos Rosa,
in, Antologia Poética
EXCERTO LITERÁRIO
"Nós somos feitos de tempo; somos amassados da argila
do tempo; somos feitos de idades, de estações, de horas,
de dias, somos feitos de cronometrias, isto é,
de medições de tempo, visíveis e invisíveis.
De facto, tudo o que é humano é feito de tempo; somos
um reservatório de tempo; lençóis de tempo que se vão
acumulando. Para dizer uma palavra - somos duração...
José Tolentino Mendonça,
in Nenhum Caminho será Longo
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
EXCERTO LITERÁRIO
" Só tardiamente descobri a poesia ,
depois de haver virado os 40 .
Que pena ! Quanto tempo perdido !
A poesia é uma das minhas maiores
fontes de alegria e sabedoria .
Como disse Bachelard ,
" Os poetas nos dão uma grande
alegria de palavras ..."
Aí eu lhe pergunto : Você lê
poesia ? Se não lê , trate de ler .
(...)
Leia poesia para que seus olhos sejam
abertos . Leia poesia para ficar
tranquilo .
Leia poesia para aprender a ouvir ."
Rubem Alves ,
in " Quarto de badulaques "
domingo, 28 de agosto de 2016
EXCERTO LITERÁRIO
" É inutil encurtar caminho e querer
começar já sabendo que a voz diz pouco ,
já começando por ser despessoal . Pois
existe a trajetória , e a trajetória
não é apenas um modo de ir . A trajetória
somos nós mesmos . Em matéria de viver ,
nunca se pode chegar antes ."
Clarice Lispector ,
in " A paixão segundo G.H."
sexta-feira, 26 de agosto de 2016
EXCERTO LITERÁRIO
Arte Claudia Tremblay
Mais tarde eu saberia que certas experiências
se partilham - até mesmo sem palavras –
só com gente da mesma raça. O que não
significa nem cor, nem formato de olho,
nem tipo de cabelo,
mas o indefinível parentesco da alma.
Lya Luft,
in Mar de Dentro
sexta-feira, 19 de agosto de 2016
EXCERTO LITERÁRIO
" As pessoas suportam tudo , as
pessoas às vezes procuram exatamente
o que será capaz de doer ainda mais
fundo , o verso justo , a música perfeita ,
o filme exato , punhaladas revirando um
talho quase fechado , cada palavra ,
cada acorde , cada cena ,até a dor
esgotar-se autofágica , consumida
em si mesma , transformada em outra
coisa que não saberia dizer qual era ."
Caio Fernando Abreu
in , " Triângulo das Águas "
NASCER
Nascer
outra e outra vez
indefinidamente
como a planta sempre nascendo
da primeira semente;
pensar o dia bom
até criar a claridade
e nela descobrir
a primeira sílaba
da primeira canção.
Carlos Drummond de Andrade
In: Poesia Errante - 1988
PARA ONDE VOU, EU SEI...
" Para onde vou , eu sei.
Não sei por onde vou .
Ninguém sabe .
Feliz que seja assim
a estrada é a surpresa ,
a viagem é o imprevisto e o improviso
e os pés e o coração criam o caminho ."
Daniel Lima ,
in " Poemas "
segunda-feira, 25 de julho de 2016
terça-feira, 5 de abril de 2016
EXCERTO
Arte Josephine Wall
"Benditos os que conseguem se deixar em paz.
Os que não se cobram por não terem cumprido
suas resoluções, que não se culpam por terem
falhado, não se torturam por terem sido
contraditórios, não se punem por não terem
sido perfeitos.
Apenas fazem o melhor que podem.
Se é para ser mestre em alguma coisa, então
que sejamos mestres em nos libertar da
patrulha do pensamento.
De querer se adequar à sociedade e ao
mesmo tempo ser livre.''
Martha Medeiros
sábado, 12 de março de 2016
EXCERTO
"Querer fugir ao vazio e à angústia
provocada pelo sentimento de ser
livre e de ter a obrigação de tomar
decisões, como o que fazer de si
mesmo e do mundo ao redor - sobretudo
se este estiver enfrentando desafios
e dramas -, é o que suscita essa
necessidade de distração, motor
da civilização em que vivemos."
Mario Vargas Llosa,
in “A Civilização do Espetáculo, 2012”
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
MADURO PARA O CANTO
Maduro para o canto
vertes, cântaro,
a água pura
e suas sete cores
unindo lago e lago.
Barco em flor
rio correndo da prece
promessa em silêncio
da messe.
Sem pressa
o agapanto floresce.
Dora Ferreira da Silva
de ANDANÇAS 1948-1970.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016
EXCERTO LITERÁRIO
"Quando morremos? Na verdade, morremos todos os dias.
Morte são também nossas decepções, nossos projetos falidos,
nossas ideias abortadas. Morte é tudo o que nega a vida.
A morte definitiva, a que encerra todos os atos, a que nos
apresenta a vida concluída, dessa não podemos tratar
porque
ela nos excede. Restam-nos os insucessos que a anunciam,
neles acenam os signos do que não nos é dado alcançar.
Esperamos e conjeturamos. Como poderíamos, de outro
modo,
elevar-nos acima da solidez dos corpos que nos cercam,
assinalando-lhes a precariedade?"
(SCHÜLER)
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
EXCERTO LITERÁRIO
Uma árvore em flor fica despida e despojada
de suas folhas no outono.
A beleza transforma-se em feiúra,
a juventude transforma-se em velhice,
e os erros em virtudes.
As coisas não permanecem sempre as mesmas
e nada existe realmente, as aparências e
o vazio existem de forma simultânea.
Dalai Lama , in
"O livro de Dias"
EXCERTO LITERÁRIO
Descobri a doçura de ter atrás de mim
um longo passado.Não tenho o tempo de
me narrar, mas às vezes, de improviso,
eu o vejo em transparência ao fundo do
momento presente:ele lhe dá sua cor,
sua luz,como as rochas e as areias se
refletem na cintilação do mar.
Antigamente, eu me embalava com projetos,
com promessas.Agora, a sombra dos dias
mortos aveluda-me emoções e prazeres.
Simone de Beauvoir
in “A mulher desiludida”
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
EXCERTO LITERÁRIO
Comigo caminham todos os mortos que amei,
todos os amigos que se afastaram,
todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão
de que tudo podia ser meu para sempre.
Miguel de Sousa Tavares
'Eternamente'
quinta-feira, 15 de outubro de 2015
''CANÇÃO EM OUTRAS PALAVRAS''
O melhor cuidado com o amor
é deixar que floresça,
pois amor não se cultiva: é flor
selvagem
Como as estações do ano, ele se abre,
dorme, e volta a perfumar a vida.
Amor é dom que se recebe
com ternura, para que não pereça
sua delicadeza em nossa angústia.
O amor não deve encerrar a coisa possuída,
mas ser parapeito de janela, ou cais
de onde se desprendam os revôos
e partam os navios da beleza
para voltar ou não, conforme amarmos:
nem de menos
nem demais.
Lya Luft
In Secreta Mirada
sábado, 19 de setembro de 2015
VAZIO
Há certos dias
Que sinto em min’alma
Um vazio infinito,
Um vazio sem sentido,
Um vazio indefinível,
Vazio dos ventos e procelas,
Vazio que vem de longe
Cuja origem desconheço,
Maior,
Muito maior que a solidão...
Há certos momentos
Que sinto dentro de mim
Um vazio talvez originário das vagas,
Dos grandes mares
E que às vezes me inunda,
Quase me faz soçobrar...
Há certas horas
Que sinto dentro de mim
Um vazio que se agiganta,
Diante do qual me sinto pequenino
E comparo este vazio tão grande
Ao vazio da hora do adeus...
Mas existe,sim,
Um vazio,
Muito maior do que todos os vazios,
E que se alojam no âmago dos corações,
O vazio imenso da saudade!...
Olimpyades Guimarães Corrêa
Em Neblina do Tempo -1.996
quinta-feira, 17 de setembro de 2015
DO LADO MAIS CALADO DO TEMPO
Arte Margarita Sikorskaia
Do lado mais calado do tempo
podemos falar das mãos das mães,
tão frágeis, quando trazem nas costas
a febre dos filhos.
Podemos sentir o rosto perturbado
das crianças que nos mostram a boca
mordida pela fome.
Podemos querer de volta o fascínio
dos papagaios de papel e do tempo
em que não faltava ninguém
nas fotografias da família.
Graça Pires
De O silêncio: lugar habitado, 2009
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
quinta-feira, 23 de julho de 2015
FIM DE JORNADA
Caminhar ao encontro da noite.
Como o camponês regressa ao lar.
Após um longo dia de verão.
Sem pressa ou cuidado.
Na tarde ouro e cinza.
Sozinho entre os campos lavrados.
E as colinas distantes.
Caminhar, ao encontro da noite.
Sem pressa ou cuidado.
A noite é somente uma pausa de sombra.
Entre um dia e outro dia.
Helena Kolody,
in Vida Breve
EXCERTO LITERÁRIO
Viajar
no mundo é também viajar no passado do mundo.
É
descobrirmos traços visíveis do passado, em presença
de
sítios os mais diversos, tanto monumentais como
assinalados
por humildes pedras. A cada etapa,
o
viajante é convidado a fazer-se historiador.
Jean Chesneaux, L'Art du Voyage.
Jean Chesneaux, L'Art du Voyage.
Paris, Bayard, 1999. p 101
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