quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O Rato

de amarelo sorriso entredentes
mata-rato encardindo o vão dos dedos
a sutil sentinela do alheio
rasteja entre restos de seus roubos
rodente rato roedor de gente
rapace animal que rói e que rapina
de voz melíflua que a todos amofina
só é amigo de seu próprio umbigo

o rato rói toda uma livraria
de papel e de palavra se empanzina
mas pouco aproveita o acepipe
pois só o que sua goela regurgita
é pura papa, fedegosa polpa

acossado por um vira-latas
se refugia às costas de um amigo
mas tão logo a ameaça acaba
já rouba aquele que lhe deu abrigo
nenhum remorso à consciência acossa
e rói rumores ruminando raivas
se foge à luta o literário rato
em restos, latas, lixo se aviva
e arrota seu prato putrefato
arrolando iguarias presuntivas
roubadas de supostas mesas
inatingíveis a sua vileza.

o rato rasteja arrastando amarguras
sem par sequer para amargar um mate
se faz amigos, ele os trai tão cedo
que mais ninguém vem à sua procura
não há quem se arrisque ao resgate
da vida medíocre que se pauta pelo medo.

Porto Alegre, 18/10/2012


domingo, 9 de setembro de 2012

Um convidado Ilustre: V. Maiakovski




Brincadeira gráfica que fiz sobre foto de Igor Amelkovich
com poema de Maiakovski e foto antiga do poeta.

A tradução do russo é dos irmãos campos e Bóris Schneiderman.

(a foto encontrei aqui: http://photo.net/photodb/photo?photo_id=6230723)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O Poema da Camiseta



Ontem, durante a edição 13 de Meus Poemas Sou Eu Escrito, discutíamos a relação entre forma e conteúdo, quando meu convidado, Ricardo Mainieri, citou o poema impresso na camiseta que eu vestia. Creio que ainda não o tinha publicado, então ele vai da maneira como entrou na discussão ontem... na camiseta.



segunda-feira, 20 de agosto de 2012

UNANIMIDADESUMANIDADE





"Posso não concordar com uma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-lo." (Voltaire)

me criei em um tempo
em que todo mundo
pensava igual
porque era proibido
pensar diferente.

se dizia
"Brasil, ame-o ou deixe-o"
e os que amavam
precisavam fugir.

me criei num Brazil
de unanimidades
e aprendi
que a unanimidade é burra,
que a unanimidade é bruta,
que a unanimidade é uma arma
da mediocridade
pra se fazer importante.

lutei sem armas,
fui clandestino, porque
a unanimidade era a lei
e o silêncio cresceu.

vi  a unanimidade apodrecer.
vi os medíocres caírem
porque não tinham mais
capacidade de calar  
a discórdia.

não sou exatamente cordato,
discordo com veemência,
mas não tiro de ninguém
o direito de pensar.

discordância
é vida;
unanimidade,
morte!

discordo da unanimidade.
discordo do concordismo.
discordo dos discursos bonitinhos.
discordo da concórdia
que cala os adversários.

faço minha
a fala da discórdia!
que todos acordem
e que a concórdia forçada
tenha a força de uma corda
onde os tiranos
se enforquem.

(ilustração: recriação gráfica que fiz sobre foto de Vladimir Herzog)

sábado, 11 de agosto de 2012

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

VERSO SUB VERSO







poetas não respondem
à necessidade capitalista
de produção

poetas respondem
à necessidade humanista
de emoção

poetas são
subversivos
transformam língua em lâmina
e ferem de morte o sentido

poetas são
corruptores
pegam pequenas palavras
e as obrigam a dizer muito

poetas
são loucos

por sorte
são poucos


Porto Alegre, 23/05/2012

domingo, 24 de junho de 2012

CANTO MOLEQUE


canto do pirralho pirracento
que tem bicho-carpinteiro
e um nariz melequento

canto do moleque maneiro
que leva sempre uma funda
ali no bolso da bunda

canto do mandinho medonho
traquinando na vida
como quem vive num sonho

canto que puxa trança
canto que é de criança
canto quebra-vidraça

canto do riso porteira
escrito feito trapaça
de poetagem arteira

sábado, 23 de junho de 2012

VERSOS VOADORES





versos voadores
se veem voláteis
se leem ao certo
e pelo inverso
se vão voando
pelo universo.

versos  voadores
textos transversos
versos cantores
antiperversos
versejadores
andejos versos

versos voadores
vagam ao vento
velozes asas
inolvidável
voo de ouvido
pousam no peito
apaixonado

(poema nascido em comentário a um poema de Julio Alves)

Desenho de Kestutis Kasparavicius  encontrado em http://i94.photobucket.com/albums/l86/remochka/hudozhniki/Kasparavicius%20Kestutis/Kasparavicius2_8.jpg