Guardo numa das gavetinhas da
memória, a minha primeira experiência sexual. Tinha conhecido o rapaz num dos
cafés ao pé do liceu. Ele era engraçadito, tinha bom ar, a simpatia era o seu
ponto forte e os seus olhos verdes. Nunca soube o que ele fazia da vida, mas
tinha pinta de ser um bom vivant. Aos meus olhos era um deus grego, via nele
toda uma vida. Muitas vezes no escuro do meu quarto com Bon Jovi como banda
sonora eu pensava nele e inevitavelmente tocava-me imaginando-o a meu lado. Tinha
fantasias sexuais com ele e histórias de conto de fadas, em que projectava
ilusões e divertia-me a imaginar a nossa vida dali a 10 anos. Sonhos de criança,
é o que posso dizer. Desconhecia totalmente a vida real, o amor para mim era
como nos filmes que costumava ver às quartas ao final do dia. Durante todo o ano
lectivo andei na sua sombra, aproveitando cada pedaço que sobrava do sorriso
dele. Até que um dia, tal como nos filmes, ele cruzou o seu olhar com o meu… e
eu corei.
Sempre vi as coisas como sendo
algo natural. Meti na minha cabeça que aquele olhar tinha significado alguma
coisa, tinha de ter tido alguma mensagem que eu desesperadamente queria que
fosse a que eu ansiava. Um dia, depois de um jogo de futebol, no qual ele
sempre era a estrela e eu o olhava completamente alienado, ele veio ter comigo.
Discretamente entregou-me um papel dobrado em quatro. Não trocamos uma palavra,
nem foi preciso. Li no seu olhar que ele me queria. Tão depressa se dirigiu a
mim como foi embora. Fiquei petrificado,
sentindo o calor que a mão dele deixou no meu braço a desvanecer. Um
formigueiro invadia veloz a minha mente e o meu corpo. Sentia a excitação
a inebriar-me os sentidos. Apertei com força o bilhete para ter a certeza que
era real. Em modo automático fui
caminhando pelas ruas até à paragem de autocarro. Sentei-me no ultimo banco e
desdobrei o papel com cuidado com medo de o rasgar e perder a preciosa
mensagem.
Li a primeira vez e senti o
sangue a bombar com a intensidade de um trovão dentro do meu corpo. Li a
segunda vez muito devagarinho como os meninos da primaria, juntando as palavras
para lhes sentir o sabor. Queria encontrar-se comigo, naquela noite depois de
jantar junto ao chafariz da praça.
Nessa noite, comi pouco, consegui
mastigar dois bocados de carne e umas garfadas de arroz. O nervoso miudinho corroía-me
o estômago e apertava-me a garganta e não me deixando engolir. Nunca me tinha
sentido assim. Cobarde e corajoso. A minha mãe estranhou a minha falta de
apetite e ponderou que eu estivesse enfermo. Doce mãe a minha, sempre
preocupada com o meu bem estar. Ainda o relógio de cuco da sala não batia as
oito horas já eu rasgava o silencio da noite em direcção ao chafariz. Quando lá cheguei sussurrei o seu nome...e disse numa voz um pouco mais alta: sou eu o Diniz!