sexta-feira, 15 de outubro de 2010

era uma vez....

ele olhou para ela e sorriu... não entendia como aquela doce criatura podia estar ali, dormindo nos seus braços agarrando-se a ao seu corpo como se de uma bóia se tratasse. o rubor das faces dela ainda se mantinha ao de leve contrastando com a sua pele alva.. momento de união é como conseguia descrever todos os toques, os beijos tímidos no inicio que depois se revelaram ardentes, o calor daquele corpo que teimava em não descolar do seu. a sua menina mulher... com um pequeno gesto gostaria de lhe apagar as feridas que ainda brotam do seu coração. expira o aroma que impregnou as paredes amarelas do seu quarto. cheiro de união completa para si. não consegue encontrar outra definição que não essa. ternamente murmura o seu nome no meio da escuridão e abraça-a. inconscientemente ela no meio do seu sonho deposita suavemente um beijo delicado no peito dele continuando a sua viagem pela terra encantada. mais uma vez união pensa ele...e adormece..

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Decisões...?

todos temos os nossos diálogos interiores. muitas vezes com Deus, com nós mesmos, com alguém que está longe, com alguém que já amámos, com quem já vivemos, com aqueles que partiram. em todos os locais a nossa mente viaja em mil um pensamentos muitos dos quais nem nos lembramos do seu conteudo. conversas estas que não é mais que o nosso EU em busca de respostas e orientações para seguir os caminhos que achamos mais acertados. 
estas escolhas ditam aquilo que somos perante os outros pelas atitudes que exteriorizamos que escondem aquilo que somos realmente e que nunca é receptado com o mesmo código com que enviamos a mensagem. ninguém é aquilo que mostra ser, existe sempre uma pessoa diferente por baixo da capa. pessoas essas que se revelam em privado só a um certo e determinado numero de indivíduos com os quais se sentem realmente seguros. 
hoje ando a vaguear nestes terrenos, tentando encontrar um rumo para construir, evoluir ainda mais o meu EU.. sinto a necessidade de crescer, sentir, amar... VIVER...ser o que nunca fui, experimentar o que nunca me foi mencionado, provar delicadamente cada emoção nova que a vida me pode oferecer..hoje.. apetece-me baixar o pano que cobre o meu rosto, erguer os olhos para as nuvens que acompanham este comboio.. hoje.. não me apetece resguardar de ninguém, não me apetece conter e inibir o que sou...hoje... um novo inicio aguarda-me...

(continuação da viagem de Ana Felix)

ao som de : humanos- já nao sou quem era

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Paz..

mais uma vez os pensamentos perdem-se na bruma de fumo que instalei no meu quarto a fumar cigarro atrás de cigarro. ir a casa de Eva fez-me bem. senti-la perto mesmo estando a uma eternidade finita de distancia. trouxe um relógio que muitas vezes tentei furtar-lhe sendo sempre apanhada em pleno delito..  a pele da pulseira ainda tem o seu cheiro. trouxe um pedacinho dela... descansa em paz.

ao som de: A chaga - Ornatos violeta

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Não tenho melhor titulo que este para titular isto...

noite escura só se ouvem os passos descompassados do vizinho gordo, banhado em perfume de uva fermentada do andar de cima.
o vento ecoa pela janela assobiando uma estranha melodia que se entranha nos ossos espicaçando-os..
arrepios navalhados percorrem a minha coluna vertebral quase desfazendo em pó a minha medula.
                                      não consigo dormir...
o silencio entre-cortado pelos sons nocturnos tardiamente enaltecidos pelo meu espírito corroem-me as veias gelando o percurso do sangue.
gostava de fechar os olhos e conseguir conter a respiração até as veias me saltarem bruscamente no pescoço e ver o branco.. soltar o ar quente consoante o compasso do descompasso dos passos do vizinho e perder-me na nuvem do adormecer... 
mas não adianta.. já o fiz..

(personagem de ninguém: Madalena)                   

aquele abraço "gIgAnTe"

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O Funeral de Eva

(seguimento da série de contos das personagens de ninguém)

A sala esta abafada, cheia de caras repletas das mais variadas emoções, trajadas de negro luto enaltecem a urna ornamentada por belas flores com cartões que nem me dou ao trabalho de ler, está a asfixiar-me este ar nauseabundo...


o meu olhar divaga entre os rostos sem nome cavaleiros em vultos esbatidos que insistem em abraçar-me inundando o meu ser com odores que não quero sentir, beijos secos que não quero receber, abraços dos quais quero fugir, palavras de consolação que não quero ouvir, conselhos repetidos que não me interessam para... NADA!
-oh Maria tu ve-la! agora estas sozinha, olha que eu estou aqui..
- Mariazinha esta tão grande querida.. olhe a sua imã deixou testamento?
e esta porcaria continua... bla...bla...bla...bla...bla..blA..blA..bLA..bLA..BLA...BLA!
 -CALEM-SE, CALEM-SE! VÃO EMBORA! grito para mim mesma num grito mudo que só eu consigo ouvir..
O lençol rendado que cobre o rosto de minha irmã parece mover-se como se ela respirasse. Liberto-me das mãos que me prendem e aproximo-me lentamente da urna simples mas imponente que ocupa metade da divisão. pura alucinação da minha esperança.. não aguento estar aqui.
Na rua, as nuvens cinzentas não assustam uma onda de gente que pretende adorar o cadáver, continua a oferta indesejada de sentimentos aos pacotes, beijinhos a torto e a direito e tentativas de abraços que ando a tentar evitar. vou cruzar os braços pode ser que assim não me chateiam muito.. merda lá para os beijinhos, já tenho a cara toda babada!
 não me vão tirar a minha dor, nem tão pouco devolver-me o que já me foi tirado, com a merda dos beijinhos! Estou cansada deste teatro de faz de conta onde cada um desempenha o seu papel como formiguinhas treinadas e quem escapa à linha é para abater. Entre duas passas dum silencioso cigarro observo as pessoas que ali estão. não conheço nem metade. algumas nem me conhecem a mim mas fazem de conta que sim e elaboram mil e uma perguntas sobre os pormenores da morte. AIIIIII MAS A VOCES QUE VOS INTERESSA???! volto a gritar de mim para mim em voz roucamente silenciosa...
-porque  isto tudo?
porque tão cedo?
 RESPONDE-ME CABRA!!!
podia ter passado mais tempo contigo, dar-te mais atenção, conhecer-te mais e  melhor...  AMAR-TE MAIS!!!... FODA-SE! ando em diálogos internos com as minhas vozes invisíveis que me tentam controlar e mandar nos meus actos. não consigo expressar o pesar que a tua partida me provocou e provoca!!!
  vou para tua casa sentir o teu cheiro e vestir o teu roupão só para fazer de conta que estas a trabalhar e voltas para jantar...
se ao menos conseguisse apagar esta dor...tudo era mais fácil...vá lá começou a chover...cheira a ti Eva...


texto participante no desafio com o tema "O cheiro da Chuva" proposto pela Fabrica das Letras