« Falem-me em 450 mil desempregados e direi que é uma estatística. Mostrem-me as televisões gente aglomerada à porta de fábricas, a protestar, a queixar-se, a temer o futuro, e direi que é um sinal dos tempos.Mas mostrem-me uma mulher, de expressão sofrida, a tentar com as mãos secar as lágrimas que lhe caem dos olhos - e então o drama humano ganha um rosto e um nome e queima-me na alma, como um ácido. Porque não se trata de algo um tanto abstracto, como um despedimento colectivo, mas de um caso concreto, a história de um casal, com casa para pagar e um filho para sustentar - e, sobre ele, o espectro do desemprego. Carla e António aceitaram dar a cara, ao JN, para servir de símbolo do lado negro da tão incensada globalização. Eles já ouviram, decerto, presidentes disto e daquilo dizer que para ganhar a batalha da competitividade os portugueses devem ser mais instruídos, mais cultos, se possível, e altamente especializados, nem que se limitem a fazer um trabalho puramente mecânico hora