Estive hoje pensando como mudei. Por um tempo achei que ficaria daquele jeito para sempre: vazia e comum demais. Não conseguia olhar as coisas com sentido e nem acreditar que a vida um dia viesse a me lançar nesse redemoinho, quebrando todos os meus calços, e como num golpe violento, me pusesse tão imperfeita e frágil, nas mãos de um destino, sobre a fúria final de uma hibernação, consumindo toda minha loucura. Sem imunidade, tão crua, como um sangue que acabara de nascer, respirei entontecida por aquele olhar que me refletia pela primeira vez. Me atirei: meu mundo naquele mundo, fundiu-se compativelmente num instante único, entrelaçados nos corpos, sobre a sintonia do coro que duetava nossos beijos. Era doce como licor. Irresistível como a veste vermelha da maçã. É meu pecado, meu menino. Meu ninho, meu lugar confuso. Não questionei se aquilo pudesse ser o melhor pra minha vida, porque todas as escolhas "certas" que havia feito, na verdade, sempre foram mortas. 
Eu precisava era de algo que me reacendesse. Que desencontrasse do que eu já havia sido. 
E tudo assim mudou: por ele arrisquei, me revirei ao avesso, delirei de amor, suportei o ódio, engoli o tédio, perdoei, sonhei, sonhei... 
Nele está o poço que chorei e o jardim que sorriEle me rouba, sem sentir, e eu só queria sê-lo também, com o mesmo poder que ele tem, a qual fere e depois contém, com uma facilidade que me perturba. Tenho renascido todas as manhãs, com uma força sobrenatural, que de certo deva existir sobre as almas que amam e sofrem; que se desintegram instintivamente só para ter teu amor por inteiro, egoísta e louco. E se é que inteiro exista, continuo juntando (meus, nossos) planos, nessa guerra desenfreada de sentimentos, onde tormentas se repetem, por uma sede, so sad, de querer ser a única razão da vida dele. 
E porque acredito, ainda insisto pertencer.


Patty Vicensotti