Nelson Mandela faz hoje 92 anos. Em 1990, o líder histórico da luta contra o apartheid era libertado após 28 anos de prisão. Dez anos antes, numa carta aberta enviada à direcção do Congresso Nacional Africano (ANC), Mandela fazia um apelo: "Unam-se! Mobilizem-se! Lutem! Entre a bigorna que é a acção da união das massas e o martelo que é a luta armada, devemos esmagar o apartheid!" Cinco anos depois, em 1985, recusava negociar o fim da luta armada em troca da sua libertação.
Como Nelson Mandela, muitos outros sacrificaram uma boa parte das suas vidas nas prisões. E, infelizmente, as prisões nunca deixaram de receber os heróis que lutam contra a opressão. Por exemplo, em 1981, quando faltavam ainda nove anos para a libertação de Nelson Mandela, foi preso, nos Estados Unidos, Mumia Abu-Jamal. Vai cumprir este ano 29 anos de prisão. Mas há pior. No ano anterior à prisão do jornalista e activista negro, era detido Jose Mari Sagardui, mais conhecido como Gatza. Como independentista basco, já experimentou 13 prisões e encontra-se há 30 anos privado de liberdade.
Mas há muitos outros casos de prisões por motivos políticos. A somar a Mumia recordemos os cinco cubanos presos nos Estados Unidos em 1998. Para aí foram extraditados os dois membros das FARC Sonia e Simón Trinidad. Também é importante lembrar Leonard Peltier, um activista pelos direitos dos povos originários dos Estados Unidos, que está preso desde 1976. Há 34 anos, imagine-se! A data prevista para a sua libertação é em 2040, quando tiver 96 anos. Mas estes são uma pequena parte da maioria dos presos políticos nos Estados Unidos.
Mas na Europa também os há. Para além do caso mais grave que referimos em relação ao independentista basco Gatza, temos o famoso Ilich Ramirez. No início dos anos 90, exilou-se no Sudão. Mas em 1994, não se sabe a que preço, o governo sudanês permitiu uma operação de sequestro dos serviços secretos franceses que o levaram para Paris. Em 1997, foi condenado a prisão perpétua. Apesar de ser uma figura controversa e, certamente, em muitos aspectos, questionável, o governo venezuelano tem pedido a sua extradição. A título de curiosidade, deixamos a resposta que deu na primeira audiência quando o juiz lhe perguntou a profissão. "Sou um revolucionário profissional na velha tradição leninista", disse.
Apesar de o imperialismo ser protagonizado pelos Estados Unidos e pela Europa, também na América Latina há presos políticos. A Colômbia é, certamente, o país que mais se destaca. Mas há outros. No Peru, a norte-americana Lori Berenson foi libertada este ano após 15 anos de prisão por militar no Movimento Revolucionário Tupac Amaru. Muitos outros continuam nas prisões peruanas. No caso das Honduras, o golpe de Estado lançou uma vaga repressiva sobre os movimentos populares e as detenções e os assassinatos sucedem-se. No Chile, dá-se o caso menos conhecido dos presos mapuche. Os mapuche são um povo que vive em território chileno e argentino e que lutam pelo reconhecimento pelo seu direito à terra.
Em África, para dar um exemplo, centenas de sarauís enchem as prisões marroquinas e na Ásia temos vários países, entre os quais a Turquia que mantém os independentistas curdos, entre outros, encarcerados. É assim com Abdullah Ocalan, preso desde 1999.
Infelizmente, a realidade das prisões por motivos políticos não acabou. É o silenciamento dos media que faz com que pareça ter acabado. Hoje, falar-se-á muito de Nelson Mandela nos telejornais enquanto milhares apodrecem nos cárceres. É uma realidade que não acabou e não vai acabar enquanto persistirem os motivos que levam milhões de seres humanos a lutar: o reconhecimento do direito à autodeterminação, o fim da opressão e da exploração do homem pelo homem e a igualdade entre todos os seres humanos. É uma luta pela qual vale a pena dar o melhor das suas vidas e pela qual a prisão não tem qualquer signo de culpa ou de peso na consciência. É um orgulho lutar-se por tais motivos!