30/06/09
MAIS POESIA DE MIGUEL-MANSO
Backster decidiu utilizar um detector
de mentiras para medir a velocidade com que
a água sobe da raiz de um filodendro
até às folhas
apercebeu-se então que
o desenho era em tudo semelhante
ao que acontece quando se submete o mesmo
aparelho a uma pessoa
e
mais espantoso ainda
verificou serem as plantas capazes de
adivinhar o pensamento humano
pois só assim se explica a dramática
subida do nível gráfico
apenas por ter passado pela cabeça
de Backster a hipótese de queimar
uma das folhas
entende-se melhor agora a insistência
de alguns botânicos na necessidade de se dar
mais atenção aos letreiros
«É favor não pisar a relva»
(MIGUEL-MANSO)
29/06/09
ANTES DE FÉRIAS
MADRIGAL
gosto quando pões a quinta porque me tocas na perna com o nó dos dedos
Poeta Miguel-Manso e músico B Fachada
As "Quintas de Leitura" estão quase de férias, não sem antes apresentar Miguel-Manso, o Poeta que veio agitar as águas mornas da poesia portuguesa.
A sessão, intitulada "Quando escreve descalça-se", realiza-se no auditório do TCA, no próximo dia 9 de Julho, às 22h00.
Sobre o poeta convidado o crítico literário José Mário Silva escreveu que Miguel-Manso faz dos versos "delicados actos de guerrilha" e da poesia "uma causa revolucionária".
Resta acrescentar que Miguel-Manso publicou em poucos meses dois livros muito aclamados pela crítica - "Contra a manhã burra" e "Quando escreve descalça-se"-, que lhe deram o estatuto de grande revelação da poesia portuguesa.
Na sessão, o Poeta conversará com Helena Vieira, responsável pela editora "Mariposa Azual".
As leituras, nas quais Miguel-Manso também participará, estarão a cargo de Pedro Lamares, Isaque Ferreira e do também poeta Nuno Moura. Serão lidos 20 poemas, escolhidos por Miguel-Manso para o espectáculo.
A imagem, manipulada em tempo real, será da responsabilidade do realizador Tiago Pereira.
Mas não se ficam por aqui os convidados da sessão. Elisabete Magalhães (dança) e Filipa Francisco e Bruno Cochat (performance "Nu Meio", que ironiza a relação de um casal tipicamente português)) assinarão momentos mágicos da sessão.
Refira-se, por fim, B Fachada, o músico convidado que se estreia nas "Quintas de Leitura".
Sobre este músico, escreve Samuel Úria:
"Princesa pop, palhaço pirómano, petrarquista pirata, perfeccionista patibe, porfiado e prolixo poeta - tudo adjectivos começados por "b". Literato até quando cospe, o cascalense Fachada faz canções para todos os desgostos, humor ponta-e-mola para todos os buchos".
B Fachada apresentará ao piano, à guitarra e à viola braguesa, canções do seu último disco "Um Fim-de-semana no Pónei Dourado". Nós cá estaremos para ouvir e incendiar o auditório.
Bilhetes sempre a pensar na crise: 9,00 Euros e 6,00 Euros.
AS ALDEIAS DE MIGUEL-MANSO
ALDEIA DO CADAFAZ
de ano para ano o primo Albertino tem menos dentes
e neste Agosto não haverá baile nem matraquilhos
sentei-me no coreto da Junta olhei as casas da aldeia
enquanto que atrás de mim o Ivo e os outros miúdos
alheios e ainda bem a contemplações menores
me atiram sábias merecidas pedras que só por
azar e algum desprazer me não acertam
X-X
ALDEIA DE CASTELO RODRIGO
queria recuperar o leão gravado por cima da porta
onde ninguém via mais que uma imperfeição na pedra
vender a casa estava fora de questão o amor pode ruir
mais depressa que algumas honradas edificações
para mim bastaria uma cadeira uma prancha apoiada
em dois cavaletes e tempo para anotar a aproximação dos
insectos a custosa mas precisa promoção do Inverno
X-X
ALDEIA DE CASTELO MENDO
flores de papel azuis cor-de-rosa esfiapadas contra a pedra
um vestígio de festa a que se chega sempre tarde o largo
do pelourinho austero a ponta acesa de um cigarro na ladeira
viemos dar a um belver ervado onde lembro um túmulo e
talvez uma capela num conjunto de gaélica aparência
X-X
ALDEIA DE DRAVE
excluamos a praga sazonal de escuteiros o mau vinho
maggaio comprado num lugar vizinho e temos o dom
da noite sentados na erva seca no alqueive dos socalcos
num silêncio medieval duro ingente que nos cai no vale
dos olhos abertos à progressiva combustão dos astros
(poemas de Miguel-Manso)
26/06/09
AS ALDEIAS DE MIGUEL-MANSO
são joão da ribeira
- queria pôr aqui este nome -
mãos que trazem a fruta ao fim da tarde
clero adro cal entusiasmo distrital
escolhe tu o país a mesa de café
contra este absurdo cósmico
eu pago um copo
lembrar-me-ei hoje de um verso pequeno?
x - x
ALDEIA DA AZINHAGA
adro campanário desolação librina
no paul da manhã dormem gatos líquen
nenhum dos velhos se alevanta da entrada da
taberna em direcção à sua Lanzarote
x - x
ALDEIA DA PALHOTA
o nomadismo é uma sucessão de sedentarismos
até se chegar ao cão voltando à margem à mulher
que dorme negra na luz de uma árvore de abismos
vê o que vai sobrando das artes dos barcos da noite
"Avieiros" 1942 e o mais grave é que nem com a escrita
ou o cinema se pode voltar ao que já está perdido
x - x
ALDEIA DO PATACÃO
podia falar dos tomatais do areal e do rio largos do renque
decrépito das casas em palafitas mas o que me ocorre mostrar
é a fotografia amarelada de dois amantes junto à morte
(Poemas de Miguel-Manso)
25/06/09
A POESIA DE MIGUEL-MANSO. DIA 9 DE JULHO NO TCA.
à memória de Jean Nicot que trouxe
tabaco para França no século dezasseis
só para eu amenizar a espera
no Le Carillon à esquina da Rue Bichat
com a Alibert
onde Véronique não entrará este século
X-X
QUATRO CIGARROS NO CAFÉ DES ANGES
de resto
cai cedo a noite na
Rue de la Roquette
a um domingo
o leitor afastará o fumo
destes versos e atentará
apenas na morena
de gorro vermelho
junto à janela
(poemas de Miguel-Manso)
23/06/09
QUANDO ESCREVE DESCALÇA-SE
CAFÉ CASTRO
com cigarros dando para altos janelões
com garrafas soturnas canções vazias
medito em esquemas falhos de viabilidade
financeira - são um descanso estas imaginações
diletantes e portuguesas na recuada
cidade de Budapeste
permitem chegar apenas a este lugar isolado
ao plano B: texto que o autor não
burila no interior do café
mas proponho-lhe:
esqueça tudo isto os cartazes cubanos a empregada
curiosa e loira e avance para o poema seguinte
sem grandes remorsos
evitará demorar-se num desenho de nuvens
no tecto de um quarto (qual?)
festejar o fim de nenhuma vindima
aperceber-se do erro juvenil que é fechar um poema
com a palavra morte
sobretudo não lhe falarei de Walt Whitman
ou David Beckham
mas depois, peço-lhe
atrase-se outra vez suspenda por um momento a leitura
num desses gestos vazios: coçar a cabeça
coçar o queixo
espere que este autor recupere de novo terreno
e partamos os dois para baixo - haverá outro sítio? -
para o poema seguinte
Miguel-Manso
20/06/09
Quando escreve descalça-se
19/06/09
A noite mais longa
ELISABETE MAGALHÃES
RUTE PIMENTA
CATARINA NUNES DE ALMEIDA
ANTÓNIO JORGE GONÇALVES
ALDINA DUARTE
DN Artes
valter hugo mãe: o escritor também canta no Governo Pois é ... foi assim... (leiam no link) |
18/06/09
Destak e Jornal de Notícias
HOJE HÁ SESSÃO DAS "QUINTAS" NO TCA. CASA CHEIA.
INÊS PEDROSA
ALDINA DUARTE
FILIPA LEAL
ISAQUE FERREIRA
PEDRO LAMARES
CATARINA NUNES DE ALMEIDA
RUTE PIMENTA
VICTOR HUGO PONTES
ELISABETE MAGALHÃES
ANTÓNIO JORGE GONÇALVES
RAÚL PEIXOTO DA COSTA
MAFALDA CAPELA
VENHA VÊ-LOS BRILHAR NA RUA DAS ESTRELAS...
17/06/09
16/06/09
valter hugo mãe - a voz do novo governo
POEMA DE AMOR
em serpente, diria apenas arabesco; e esconderia
na saia a mordedura quente, a ferida, a marca
de todos os enganos, faria quase tudo
por amor: daria o sono e o sangue, a casa e a alegria,
e guardaria calados os fantasmas do medo, que são
os donos das maiores verdades. Já de outra vez mentira
e por amor haveria de sentar-se à mesa dele
e negar que o amava, porque amá-lo era um engano
ainda maior do que mentir-lhe. E, por amor, punha-se
a desenhar o tempo como uma linha tonta, sempre
a cair da folha, a prolongar o desencontro.
E fazia estrelas, ainda que pensasse em cruzes;
arabescos, ainda que só se lembrasse de serpentes.
MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA
Poema escolhido por Inês Pedrosa para a voz de Filipa Leal.
15/06/09
Pedro Lamares
SEXO ORAL
coração, num vagar de fera. Estendo
aurículas e ventrículos sobre a mesa, entre
os copos, que desaparecem. Não há mais
ninguém no bar cheio de gente. Abres-me agora os
pulmões, um para cada lado, e sopras. Respiras-
-me. O laser das tuas palavras rasga-me o lobo
frontal do cérebro. A tua boca abre-se e fecha-se,
fecha-se e abre-se, avançando
por dentro da minha cabeça. As minhas cidades
ruem como rios, correndo para o fundo dos teus olhos.
O tempo estilhaça-se no fogo
preso das nossas retinas. O empregado do bar
retira da mesa o nosso passado e arruma-o na vitrine,
ao lado dos exércitos de chumbo.
Entramos um no outro,
abrindo e fechando as pernas
das palavras, estremecendo no suor dos
olhos abraçados, fazendo sexo
com a lava incandescente dessa revolução
imprevista a que damos o nome de amor.
INÊS PEDROSA
(Este poema será lido por Filipa Leal na próxima sessão do dia 18 de Junho)
12/06/09
AS ESCOLHAS DE INÊS PEDROSA
Esta noite sonhei oferecer-te o anel de Saturno
e quase ia morrendo com o receio de que ele não
te coubesse no dedo
JORGE SOUSA BRAGA
09/06/09
AS ESCOLHAS DE INÊS PEDROSA
MÁRIO CESARINY
ANTÓNIO BOTTO
ÁLVARO DE CAMPOS
EUGÉNIO DE ANDRADE
ARMANDO SILVA CARVALHO
ANA HATHERLY
NATÁLIA CORREIA
ALEXANDRE O'NEILL (2 poemas)
FERNANDO ASSIS PACHECO
PEDRO TÁMEN
AL BERTO
MARIA TERESA HORTA (2 poemas)
NUNO JÚDICE
LUÍS MIGUEL NAVA
LUIZA NETO JORGE
MANUEL ANTÓNIO PINA
JORGE SOUSA BRAGA
MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA
FERNANDO PINTO DO AMARAL
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
HERBERTO HELDER
INÊS PEDROSA
As leituras estarão a cargo de Catarina Nunes de Almeida, Filipa Leal, Isaque Ferreira, Pedro Lamares e Rute Pimenta.
O LENTO E INCENDIÁRIO CAMINHO DO AMOR: DIA 18, NAS "QUINTAS".
DA VERDADE DO AMOR
Da verdade do amor se meditam
relatos de viagens confissões
e sempre excede a vida
esse segredo que tanto desdém
guarda de ser dito
pouco importa em quantas derrotas
te lançou
as dores os naufrágios escondidos
com eles aprendeste a navegação
dos oceanos gelados
não se deve explicar demasiado cedo
atrás das coisas
o seu brilho cresce
sem rumor
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
Este poema será lido por Rute Pimenta.
08/06/09
POEMAS DE AMOR. DIA 18 de JUNHO, NAS "QUINTAS DE LEITURA".
A BELA DO BAIRRO
Ela era muito bonita e benza-a Deus
muito puta que era sempre à espera
dos pagantes à janela do rés-do-chão
mas eu teso e pior que isso néscio desses amores
tenho o quê? Quinze anos
tenho o quê uns olhos com que a vejo
que se debruçava mostrando os peitos
que a amei como se ama unicamente
uma vez um colo branco e até as jóias
que ela punha eram luzentes semelhando estrelas
eu bato o passeio à hora certa e amo-a
de cabelo solto e tudo não parece
senão o céu afinal um pechisbeque
ainda agora as minhas narinas fremem
turva-se o coração desmantelado
amando-a amei-a tanto e sem vergonha
oh pecar assim de jaquetão sport e um cigarro
nos queixos a admiração que eu fazia
entre a malta não é para esquecer nem lá ao fundo
como então puxo as abas da farpela
lentamente caminho para ela
a chuva cai miúda
e benza-a Deus que bonita e que puta
e que desvelos a gente
gastava em frente do amor
FERNANDO ASSIS PACHECO
Este poema será lido por Isaque Ferreira.
05/06/09
"FAZES-ME FALTA". DIA 18, INÊS PEDROSA NAS "QUINTAS DE LEITURA".
UM FADO: PALAVRAS MINHAS
Palavras que disseste e já não dizes,
palavras como um sol que me queimava,
olhos loucos de um vento que soprava
em olhos que eram meus, e mais felizes.
Palavras que disseste e que diziam
segredos que eram lentas madrugadas,
promessas imperfeitas, murmuradas
enquanto os nossos beijos permitiam.
Palavras que dizias, sem sentido,
sem as quereres, mas só porque eram elas
que traziam a calma das estrelas
à noite que assomava ao meu ouvido...
Palavras que não dizes, nem são tuas,
que morreram, que em ti já não existem
- que são minhas, só minhas, pois persistem
na memória que arrasto pelas ruas.
PEDRO TÁMEN
Este poema será lido por Rute Pimenta.
04/06/09
50.000 PÁGINA VISITADAS
Obrigado a todos os que continuam a passar os olhos e a alma pelo blogue das "Quintas".
Para comemorar condignamente as 50.000 páginas visitadas, convidamos a Ana Malhoa a posar e a pousar nua para o nosso blogue. Com um livro de Éluard tapando-lhe timidamente o seio maior. Ela não aceitou. Trocou-nos miseravelmente pela PLAYBOY...
Já refeito do desgosto, o programador do ciclo, homem prático e de fortes convicções, compensa-vos, agora, com um pensamento, (que afinal são dois), único e inédito:
versão I
Sócrates está sempre a dizer aos seus discípulos: - uma mão lava a ostra.
versão II
Sócrates está sempre a dizer aos seus discípulos: - uma mão lava a ota.
MAIS POEMAS DE AMOR
A MEU FAVOR
A meu favor
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer
A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça.
ALEXANDRE O'NEILL
*
SEGREDO
Não contes do meu
vestido
que tiro pela cabeça
nem que corro os
cortinados
para uma sombra mais espessa
Deixa que feche o
anel
em redor do teu pescoço
com as minhas longas
pernas
e a sombra do meu poço
Não contes do meu
novelo
nem da roca de fiar
nem o que faço
com eles
a fim de te ouvir gritar
MARIA TERESA HORTA
03/06/09
ESTE POEMA VAI SER LIDO PELA FILIPA LEAL NO RECITAL DO DIA 18.
POEMA DE AMOR PARA USO TÓPICO
Quero-te, como se fosses
a presa indiferente, a mais obscura
das amantes. Quero o teu rosto
de brancos cansaços, as tuas mãos
que hesitam, cada uma das palavras
que sem querer me deste. Quero
que me lembres e esqueças como eu
te lembro e esqueço: num fundo
a preto e branco, despida como
a neve matinal se despe da noite,
fria, luminosa,
voz incerta de rosa.
NUNO JÚDICE
02/06/09
Vitor Baía com antologia dos poetas das Quintas
AS ESCOLHAS DE INÊS. POEMAS DE AMOR. DIA 18, NUM TEATRO PERTO DO SEU CORAÇÃO.
Caísse a montanha e do oiro o brilho
O meigo jardim abolisse a flor
A mãe desmoesse as carnes do filho
Por botão de vídeo se fizesse amor
O livro morresse, a obra parasse
Soasse a granizo o que era alegria
A porta do ar se calafetasse
Que eu de amor apenas ressuscitaria
LUIZA NETO JORGE
Este poema será lido por Catarina Nunes de Almeida.
01/06/09
AS ESCOLHAS DE INÊS PEDROSA. DIA 18 DE JUNHO. POEMAS DE AMOR
Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor; e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.
MANUEL ANTÓNIO PINA