I. DA OBSERVAÇÃO
Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...
II. DO AMIGO
Olha! É como um vaso
De porcelana rara o teu amigo.
Nunca te sirvas dele... Que perigo!
Quebrar-se-ia, acaso...
III. DO ESTILO
Fere de leve a frase... E esquece... Nada
Convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita.
IV. DA PREOCUPAÇÃO DE ESCREVER
Escrever... Mas por quê? Por vaidade, está visto...
Pura vaidade, escrever!
Pegar da pena... Olhai que graça terá isto,
Sejá se sabe tudo o que se vai dizer!...
V. DAS BELAS FRASES
Frases felizes... Frases encantadas...
Ó festa dos ouvidos!
Sempre há tolices muito bem ornadas...
Como há pacovios bem vestidos.
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
sábado, junho 21, 2008
sexta-feira, junho 20, 2008
VI. DO CUIDADO DA FORMA
Teu verso, barro vil,
No teu casto retiro, amolga, enrija, pule...
Vê depois como brilha, entre os mais, o imbecil,
Arredondado e liso como um bule!
VII. DA VOLUPTUOSIDADE
Tudo, mesmo a velhice, mesmo a doença,
Tudo comporta o seu prazer...
E até o pobre moribundo pensa
Na maneira mais suave de morrer...
VIII. DOS MUNDOS
Deus criou este mundo. O homem, todavia,
Entrou a desconfiar, cogitabundo...
Decerto não gostou lá muito do que via...
E foi logo inventando o outro mundo.
IX. DA INQUIETA ESPERANÇA
Bem sabes Tu, Senhor, que o bem melhor é aquele
Que não passa, talvez, de um desejo ilusório.
Nunca me dês o Céu... quero é sonhar com ele
Na inquietação feliz do Purgatório...
X. DA VIDA ASCÉTICA
Não foge ao mundo o verdadeiro asceta,
Pois em si mesmo tem seu próprio asilo.
E em meio à humana turba, arrebatada e inquieta,
Só ele é simples e tranqüilo.
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Teu verso, barro vil,
No teu casto retiro, amolga, enrija, pule...
Vê depois como brilha, entre os mais, o imbecil,
Arredondado e liso como um bule!
VII. DA VOLUPTUOSIDADE
Tudo, mesmo a velhice, mesmo a doença,
Tudo comporta o seu prazer...
E até o pobre moribundo pensa
Na maneira mais suave de morrer...
VIII. DOS MUNDOS
Deus criou este mundo. O homem, todavia,
Entrou a desconfiar, cogitabundo...
Decerto não gostou lá muito do que via...
E foi logo inventando o outro mundo.
IX. DA INQUIETA ESPERANÇA
Bem sabes Tu, Senhor, que o bem melhor é aquele
Que não passa, talvez, de um desejo ilusório.
Nunca me dês o Céu... quero é sonhar com ele
Na inquietação feliz do Purgatório...
X. DA VIDA ASCÉTICA
Não foge ao mundo o verdadeiro asceta,
Pois em si mesmo tem seu próprio asilo.
E em meio à humana turba, arrebatada e inquieta,
Só ele é simples e tranqüilo.
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
quinta-feira, junho 19, 2008
XI. DAS CORCUNDAS
As costas de Polichinelo arrasas
Só porque fogem das comuns medidas?
Olha! quem sabe não serão as asas
De um Anjo, sob as vestes escondidas...
XII. DAS UTOPIAS
Se as coisas são inatingíveis.., ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!
XIII. DO BELO
Nada, no mundo, é, por si mesmo, feio.
Inda a mais vil mulher, inda o mais triste poema,
Palpita sempre neles o divino anseio
Da beleza suprema...
XIV. DO MAL E DO BEM
Todos têm seu encanto: os santos e os corruptos.
Não há coisa, na vida, inteiramente má.
Tu dizes que a verdade produz frutos...
Já viste as flores que a mentira dá?
XV. DO MAU ESTILO
Todo o bem, todo o mal que eles te dizem, nada
Seria, se soubessem expressá-lo...
O ataque de uma borboleta agrada
Mais que todos os beijos de um cavalo.
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
As costas de Polichinelo arrasas
Só porque fogem das comuns medidas?
Olha! quem sabe não serão as asas
De um Anjo, sob as vestes escondidas...
XII. DAS UTOPIAS
Se as coisas são inatingíveis.., ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A mágica presença das estrelas!
XIII. DO BELO
Nada, no mundo, é, por si mesmo, feio.
Inda a mais vil mulher, inda o mais triste poema,
Palpita sempre neles o divino anseio
Da beleza suprema...
XIV. DO MAL E DO BEM
Todos têm seu encanto: os santos e os corruptos.
Não há coisa, na vida, inteiramente má.
Tu dizes que a verdade produz frutos...
Já viste as flores que a mentira dá?
XV. DO MAU ESTILO
Todo o bem, todo o mal que eles te dizem, nada
Seria, se soubessem expressá-lo...
O ataque de uma borboleta agrada
Mais que todos os beijos de um cavalo.
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
quarta-feira, junho 18, 2008
XVI. DA DISCRETA ALEGRIA
Longe do mundo vão, goza o feliz minuto
Que arrebataste às horas distraídas.
Maior prazer não é roubar um fruto
Mas sim ir saboreá-lo às escondidas.
XVII. DA INDULGÊNCIA
Não perturbes a paz da tua vida,
Acolhe a todos igualmente bem.
A indulgência é a maneira mais polida
De desprezar alguém.
XVIII. DOS PESCADORES DE ALMAS
Se Deus, tal como Satanás, procura
As almas aliciar.., por que deixa ao Pecado
Esse caminho suave, essa fatal doçura
E faz do Bem um fruto amargo e indesejado?
XIX. DOS MILAGRES
O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloqüência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!
XX. DOS SOFRIMENTOS QUOTIDIANOS
Tricas... Nadinhas mil... Ridículos extremos...
Enxame atroz que em torno à gente esvoaça.
E disto, e só por isto envelhecemos...
Nem todos podem ter uma grande desgraça!
XXI. DAS ILUSÕES
Meu saco de ilusões, bem cheio tive-o.
Com ele ia subindo a ladeira da vida.
E, no entretanto, após cada ilusão perdida...
Que extraordinária sensação de alívio!
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Longe do mundo vão, goza o feliz minuto
Que arrebataste às horas distraídas.
Maior prazer não é roubar um fruto
Mas sim ir saboreá-lo às escondidas.
XVII. DA INDULGÊNCIA
Não perturbes a paz da tua vida,
Acolhe a todos igualmente bem.
A indulgência é a maneira mais polida
De desprezar alguém.
XVIII. DOS PESCADORES DE ALMAS
Se Deus, tal como Satanás, procura
As almas aliciar.., por que deixa ao Pecado
Esse caminho suave, essa fatal doçura
E faz do Bem um fruto amargo e indesejado?
XIX. DOS MILAGRES
O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloqüência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!
XX. DOS SOFRIMENTOS QUOTIDIANOS
Tricas... Nadinhas mil... Ridículos extremos...
Enxame atroz que em torno à gente esvoaça.
E disto, e só por isto envelhecemos...
Nem todos podem ter uma grande desgraça!
XXI. DAS ILUSÕES
Meu saco de ilusões, bem cheio tive-o.
Com ele ia subindo a ladeira da vida.
E, no entretanto, após cada ilusão perdida...
Que extraordinária sensação de alívio!
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
terça-feira, junho 17, 2008
XXII. DA BOA E DA MÁ FORTUNA
É sem razão, e é sem merecimento,
Que a gente a sorte maldiz:
Quanto a mim, sempre odiei o sofrimento,
Mas nunca soube ser feliz...
XXIII. DOS NOSSOS MALES
A nós nos bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenína.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais...
XXIV. DA INFIEL COMPANHEIRA
Como um cego, grita a gente:
"Felicidade, onde estás?"
Ou vai-nos andando à frente...
Ou ficou lá para trás...
XXV. DA PAZ INTERIOR
O sossego interior, se queres atingi-lo,
Não deixes coisa alguma incompleta ou adiada.
Não há nada que dê um sono mais tranqüilo
Que uma vingança bem executada...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
É sem razão, e é sem merecimento,
Que a gente a sorte maldiz:
Quanto a mim, sempre odiei o sofrimento,
Mas nunca soube ser feliz...
XXIII. DOS NOSSOS MALES
A nós nos bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenína.
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais...
XXIV. DA INFIEL COMPANHEIRA
Como um cego, grita a gente:
"Felicidade, onde estás?"
Ou vai-nos andando à frente...
Ou ficou lá para trás...
XXV. DA PAZ INTERIOR
O sossego interior, se queres atingi-lo,
Não deixes coisa alguma incompleta ou adiada.
Não há nada que dê um sono mais tranqüilo
Que uma vingança bem executada...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
segunda-feira, junho 16, 2008
XXVI. DA MEDIOCRIDADE
Nossa alma incapaz e pequenína
Mais complacências que irrlsão merece.
Se ninguém é tão bom quanto imagina,
Também não é tão mau como parece.
XXVII. DO ESPÍRITO E DO CORPO
O espírito é variável como o vento,
Mais coerente é o corpo, e mais discreto...
Mudaste muita vez de pensamento,
Mas nunca de teu vinho predileto...
XXVIII. DO "HOMO SAPIENS"
E eis que, ante a infinita Criação,
O próprio Deus parou, desconcertado e mudo!
Num sorriso, inventou o homo sapiens, então,
Para que lhe explicasse aquilo tudo...
XXIX. DA ANÁLISE
Eis um problema! E cada sábio nele aplica
As suas lentes abismais.
Mas quem com isso ganha é o problema, que fica
Sempre com um x a mais...
XXX. DO ETERNO MISTÉRIO
"Um outro mundo existe.., uma outra vida..."
Mas de que serve ires para lá?
Bem como aqui, tu'alma atônita e perdida
Nada compreenderá...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Nossa alma incapaz e pequenína
Mais complacências que irrlsão merece.
Se ninguém é tão bom quanto imagina,
Também não é tão mau como parece.
XXVII. DO ESPÍRITO E DO CORPO
O espírito é variável como o vento,
Mais coerente é o corpo, e mais discreto...
Mudaste muita vez de pensamento,
Mas nunca de teu vinho predileto...
XXVIII. DO "HOMO SAPIENS"
E eis que, ante a infinita Criação,
O próprio Deus parou, desconcertado e mudo!
Num sorriso, inventou o homo sapiens, então,
Para que lhe explicasse aquilo tudo...
XXIX. DA ANÁLISE
Eis um problema! E cada sábio nele aplica
As suas lentes abismais.
Mas quem com isso ganha é o problema, que fica
Sempre com um x a mais...
XXX. DO ETERNO MISTÉRIO
"Um outro mundo existe.., uma outra vida..."
Mas de que serve ires para lá?
Bem como aqui, tu'alma atônita e perdida
Nada compreenderá...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
domingo, junho 15, 2008
XXXI. DA POBRE ALMA
Como é que hás de poder, ó Alma, devassar
Essas da pura essência invisíveis paragens?
Tu que enfim não és mais do que um ansioso olhar!
Ó pobre Alma adoradora das Imagens...
XXXII. DAS VERDADES
A verdade mais nova, ela somente, existe!
Até que um dia, para os mais meninos,
Vai tornando esse aspecto, entre irrisório e triste,
Dos velhos figurinos...
XXXIII. DA BELEZA DAS ALMAS
Se é bela a alma em si, que importa o proceder?
Com Marco Antônio, rei da sedução,
Sentiriam os Anjos mais prazer
Do que na companhia de Catão...
XXXIV. DA PERFEIÇÃO DA VIDA
Por que prender a vida em conceitos e normas?
O Belo e o Feio.., o Bom e o Mau... Dor e Prazer...
Tudo, afinal, são formas
E não degraus do Ser!
XXXV. DA ETERNA PROCURA
Só o desejo inquieto, que não passa,
Faz o encanto da coisa desejada...
E terminamos desdenhando a caça
Pela doida aventura da caçada.
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Como é que hás de poder, ó Alma, devassar
Essas da pura essência invisíveis paragens?
Tu que enfim não és mais do que um ansioso olhar!
Ó pobre Alma adoradora das Imagens...
XXXII. DAS VERDADES
A verdade mais nova, ela somente, existe!
Até que um dia, para os mais meninos,
Vai tornando esse aspecto, entre irrisório e triste,
Dos velhos figurinos...
XXXIII. DA BELEZA DAS ALMAS
Se é bela a alma em si, que importa o proceder?
Com Marco Antônio, rei da sedução,
Sentiriam os Anjos mais prazer
Do que na companhia de Catão...
XXXIV. DA PERFEIÇÃO DA VIDA
Por que prender a vida em conceitos e normas?
O Belo e o Feio.., o Bom e o Mau... Dor e Prazer...
Tudo, afinal, são formas
E não degraus do Ser!
XXXV. DA ETERNA PROCURA
Só o desejo inquieto, que não passa,
Faz o encanto da coisa desejada...
E terminamos desdenhando a caça
Pela doida aventura da caçada.
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
sábado, junho 14, 2008
XXXVI. DA FALSIDADE
Foi tudo falso, o que ela disse?
Fecha os olhos e crê: a mentira é tão linda!
Nem ela sabe que fingir meiguice
É o mais certo sinal de que te ama ainda...
XXXVII. DA CONTRADIÇÃO
Se te contradisseste e acusam-te.., sorri.
Pois nada houve, em realidade.
Teu pensamento é que chegou, por si,
Ao outro pólo da Verdade...
XXXVIII. DO PRAZER
Quanto mais leve tanto mais sutil
O prazer que das coisas nos provém.
Escusado é beber todo um barril
Para saber que gosto o vinho tem.
XXXIX. DO PRANTO
Não tentes consolar o desgraçado
Que chora amargamente a sorte má.
Se o tirares por fim do seu estado,
Que outra consolação lhe restará?
XL. DO SABOR DAS COISAS
Por mais raro que seja, ou mais antigo,
Só um vinho é deveras excelente:
Aquele que tu bebes calmamente
Com o teu mais velho e silencioso amigo...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Foi tudo falso, o que ela disse?
Fecha os olhos e crê: a mentira é tão linda!
Nem ela sabe que fingir meiguice
É o mais certo sinal de que te ama ainda...
XXXVII. DA CONTRADIÇÃO
Se te contradisseste e acusam-te.., sorri.
Pois nada houve, em realidade.
Teu pensamento é que chegou, por si,
Ao outro pólo da Verdade...
XXXVIII. DO PRAZER
Quanto mais leve tanto mais sutil
O prazer que das coisas nos provém.
Escusado é beber todo um barril
Para saber que gosto o vinho tem.
XXXIX. DO PRANTO
Não tentes consolar o desgraçado
Que chora amargamente a sorte má.
Se o tirares por fim do seu estado,
Que outra consolação lhe restará?
XL. DO SABOR DAS COISAS
Por mais raro que seja, ou mais antigo,
Só um vinho é deveras excelente:
Aquele que tu bebes calmamente
Com o teu mais velho e silencioso amigo...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
sexta-feira, junho 13, 2008
XLI. DA ARTE DE SER BOM
Sê bom. Mas ao coração
Prudência e cautela ajunta.
Quem todo de mel se unta,
Os ursos o lamberão.
XLII. DO ESPETÁCULO DE SI MESMO
Conhecer a si mesmo é inútil, parece,
Mas sempre diverte um pouco...
Coisa assim como um louco que tivesse
Consciência de que é louco.
XLIII. DA INÚTIL SABEDORIA
"Conhece-te a ti mesmo." Dessa, agora,
O alcance não adivinho.
Muito mais útil nos fora
Conhecer nosso vizinho...
XLIV. DOS LIVROS
Não percas nunca, pelo vão saber,
A fonte viva da sabedoria.
Por mais que estudes, que te adiantaria,
Se a teu amigo tu não sabes ler?
XLV. DA SABEDORIA DOS LIVROS
Não penses compreender a vida nos autores.
Nenhum disto é capaz.
Mas, à medida que vivendo fores,
Melhor os compreenderás.
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Sê bom. Mas ao coração
Prudência e cautela ajunta.
Quem todo de mel se unta,
Os ursos o lamberão.
XLII. DO ESPETÁCULO DE SI MESMO
Conhecer a si mesmo é inútil, parece,
Mas sempre diverte um pouco...
Coisa assim como um louco que tivesse
Consciência de que é louco.
XLIII. DA INÚTIL SABEDORIA
"Conhece-te a ti mesmo." Dessa, agora,
O alcance não adivinho.
Muito mais útil nos fora
Conhecer nosso vizinho...
XLIV. DOS LIVROS
Não percas nunca, pelo vão saber,
A fonte viva da sabedoria.
Por mais que estudes, que te adiantaria,
Se a teu amigo tu não sabes ler?
XLV. DA SABEDORIA DOS LIVROS
Não penses compreender a vida nos autores.
Nenhum disto é capaz.
Mas, à medida que vivendo fores,
Melhor os compreenderás.
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
quinta-feira, junho 12, 2008
XLVI. DOS SISTEMAS
Já trazes, ao nascer, tua filosofia.
As razões? Essas vêm posteriormente
Tal como escolhes, na chapelaria,
A fôrma que mais te assente...
XLVII. DO EXERCÍCIO DA FILOSOFIA
Como o burrico mourejando a nora,
A mente humana sempre as mesmas voltas da...
Tolice alguma nos ocorrerá
Que não a tenha dito um sábio grego outrora...
XLVIII. DAS IDÉIAS
Qualquer idéia que te agrade,
Por isso mesmo... é tua.
O autor nada mais fez que vestir a verdade
Que dentro em ti se achava inteiramente nua...
XLIX. Dos PEQUENOS RIDÍCULOS
Nunca faças escândalos. Ao menos,
Visto que tanto ousas,
Não os faças pequenos...
O ridículo está é nas pequenas cousas.
L. DA AMIZADE ENTRE MULHERES
Dizem-se amigas... Beijam-se... Mas qual!
Haverá quem nisso creia?
Salvo se uma das duas, por sinal,
For muito velha, ou muito feia...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Já trazes, ao nascer, tua filosofia.
As razões? Essas vêm posteriormente
Tal como escolhes, na chapelaria,
A fôrma que mais te assente...
XLVII. DO EXERCÍCIO DA FILOSOFIA
Como o burrico mourejando a nora,
A mente humana sempre as mesmas voltas da...
Tolice alguma nos ocorrerá
Que não a tenha dito um sábio grego outrora...
XLVIII. DAS IDÉIAS
Qualquer idéia que te agrade,
Por isso mesmo... é tua.
O autor nada mais fez que vestir a verdade
Que dentro em ti se achava inteiramente nua...
XLIX. Dos PEQUENOS RIDÍCULOS
Nunca faças escândalos. Ao menos,
Visto que tanto ousas,
Não os faças pequenos...
O ridículo está é nas pequenas cousas.
L. DA AMIZADE ENTRE MULHERES
Dizem-se amigas... Beijam-se... Mas qual!
Haverá quem nisso creia?
Salvo se uma das duas, por sinal,
For muito velha, ou muito feia...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
quarta-feira, junho 11, 2008
LI. DA INCONSTÂNCIA DAS MULHERES
Deixaram-te por outro.., e te arrelias
Contra esse antigo, feminil defeito.
Outro refrão, porém, me cantarias,
Se ela traisse a alguém em teu proveito...
LII. DO QUE ELAS DIZEM
O que elas dizem nunca tem sentido?
Que importa? Escuta-as um momento.
Como quem ouve, entre encantado e distraído,
A voz das águas... o rumor do vento...
LIII. DAS LEIS DA NATUREZA
FaLar contra as mulheres...
Que ingenuidade a tua!
Diz-me, acaso queres
Ironizar as variações da lua?
LIV. DO GOLPE DE VISTA
Quem me dera, ante o espetáculo do mundo,
mais hesitações e sem maior fadiga,
instantâneo olhar, incisivo e profundo,
ai que julga a mulher as toilettes da amiga!
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Deixaram-te por outro.., e te arrelias
Contra esse antigo, feminil defeito.
Outro refrão, porém, me cantarias,
Se ela traisse a alguém em teu proveito...
LII. DO QUE ELAS DIZEM
O que elas dizem nunca tem sentido?
Que importa? Escuta-as um momento.
Como quem ouve, entre encantado e distraído,
A voz das águas... o rumor do vento...
LIII. DAS LEIS DA NATUREZA
FaLar contra as mulheres...
Que ingenuidade a tua!
Diz-me, acaso queres
Ironizar as variações da lua?
LIV. DO GOLPE DE VISTA
Quem me dera, ante o espetáculo do mundo,
mais hesitações e sem maior fadiga,
instantâneo olhar, incisivo e profundo,
ai que julga a mulher as toilettes da amiga!
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
terça-feira, junho 10, 2008
LV. DO ESPETÁCULO DESTA VIDA
Impossível será que melhor vida exista,
Enquanto o mundo assim se distribuir:
No palco a Estupidez, para ser vista,
E a Inteligência na platéia, a rir...
LVI. DA COMPREENSÃO
Uns dizem mal de nós, mas sempre existe alguém
Que nos estime, afinal...
E todo o bem que diz, esse precioso bem...
Meu Deus!.., como o diz mal!
LVII. DA SINCERIDADE
Tens um amigo que fala bem
E um cão que nada explica.
Um jura-te amizade.., O outro, porém,
Seus bons serviços te dedica.
LVIII. DO DIREITO DE CONTRADIZER-ME
Que eu tenha um juízo ab-eterno
E sempre a mesma opinião?
Mas por que devo suar no inverno
Só porque o fiz no verão?
LIX. DO RISO
As setas de ouro de teu riso inflige
À sombra que te quer amedrontar.
Um canto muros erige:
Um riso os faz desabar.
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Impossível será que melhor vida exista,
Enquanto o mundo assim se distribuir:
No palco a Estupidez, para ser vista,
E a Inteligência na platéia, a rir...
LVI. DA COMPREENSÃO
Uns dizem mal de nós, mas sempre existe alguém
Que nos estime, afinal...
E todo o bem que diz, esse precioso bem...
Meu Deus!.., como o diz mal!
LVII. DA SINCERIDADE
Tens um amigo que fala bem
E um cão que nada explica.
Um jura-te amizade.., O outro, porém,
Seus bons serviços te dedica.
LVIII. DO DIREITO DE CONTRADIZER-ME
Que eu tenha um juízo ab-eterno
E sempre a mesma opinião?
Mas por que devo suar no inverno
Só porque o fiz no verão?
LIX. DO RISO
As setas de ouro de teu riso inflige
À sombra que te quer amedrontar.
Um canto muros erige:
Um riso os faz desabar.
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
segunda-feira, junho 09, 2008
LX. DA INTERMINÁVEL DESPEDIDA
Ó Mocidade, adeus! Já vai chegar a hora!
Adeus, adeus... Oh! essa longa despedida...
E sem notar que há muito ela se foi embora,
Ficamos a acenar-lhe toda a vida...
LXI. DOS TITULOS DO LEÃO
Ele que é força pura, ele que é puro egoísmo,
No entanto é o Nobre, é o Justo... é Sua Alteza o Leão!
Pois que só um consolo resta à escravidão:
Idealizar o despotismo...
LXII. DOS PONTOS DE VISTA
A mosca, a debater-se: "Não! Deus não existe!
Somente o Acaso rege a terrena existência."
A Aranha: "Glória a Ti, Divina Providência,
Que à minha humilde teia essa mosca atraíste!"
LXIII. DAS FALSAS POSIÇÕES
Com a pele do leão vestiu-se o burro um dia.
Porém no seu encalço, a cada instante e hora,
"Olha o burro! Fiau! Fiau!" gritava a bicharia...
Tinha o parvo esquecido as orelhas de fora!
LXIV. DOS MALES
Mono Velho, a gemer de gota, avista um leão.
Qual gota! Qual o quê! Logo trepa a um coqueiro.
Nada, para esquecer uma aflição,
Como um grande tormento verdadeiro...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Ó Mocidade, adeus! Já vai chegar a hora!
Adeus, adeus... Oh! essa longa despedida...
E sem notar que há muito ela se foi embora,
Ficamos a acenar-lhe toda a vida...
LXI. DOS TITULOS DO LEÃO
Ele que é força pura, ele que é puro egoísmo,
No entanto é o Nobre, é o Justo... é Sua Alteza o Leão!
Pois que só um consolo resta à escravidão:
Idealizar o despotismo...
LXII. DOS PONTOS DE VISTA
A mosca, a debater-se: "Não! Deus não existe!
Somente o Acaso rege a terrena existência."
A Aranha: "Glória a Ti, Divina Providência,
Que à minha humilde teia essa mosca atraíste!"
LXIII. DAS FALSAS POSIÇÕES
Com a pele do leão vestiu-se o burro um dia.
Porém no seu encalço, a cada instante e hora,
"Olha o burro! Fiau! Fiau!" gritava a bicharia...
Tinha o parvo esquecido as orelhas de fora!
LXIV. DOS MALES
Mono Velho, a gemer de gota, avista um leão.
Qual gota! Qual o quê! Logo trepa a um coqueiro.
Nada, para esquecer uma aflição,
Como um grande tormento verdadeiro...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
domingo, junho 08, 2008
LXV. DAS ALIANÇAS DESIGUAIS
Gato do Mato e Leão, conforme o combinado,
Juntos caçavam corças pelo mato.
As corças escaparam... Resultado:
Não escapou o gato.
LXVI. DOS DEFEITOS E DAS QUALIDADES
Diz o Elefante às Rãs que em torno dele saltam:
"Mais compostura! Ó Céus! Que piruetas incríveis!"
Pois são sempre, nos outros, desprezíveis
As qualidades que nos faltam...
LXVII. DO CAPÍTULO PRIMEIRO DO GÊNESIS
Sesteava Adão. Quando, sem mais aquela,
Se achega Jeová e diz-lhe, malicioso:
"Dorme, que este é o teu último repouso."
E retirou-lhe Eva da costela.
LXVIII. DA FELICIDADE
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura,
Tendo-os na ponta do nariz!
LXIX. DA VIRTUDE
Com que tenacidade
Vai seguindo a Virtude a dolorosa Via!
Olhai! passo a passo, a Vaidade
Lhe serve de companhia...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Gato do Mato e Leão, conforme o combinado,
Juntos caçavam corças pelo mato.
As corças escaparam... Resultado:
Não escapou o gato.
LXVI. DOS DEFEITOS E DAS QUALIDADES
Diz o Elefante às Rãs que em torno dele saltam:
"Mais compostura! Ó Céus! Que piruetas incríveis!"
Pois são sempre, nos outros, desprezíveis
As qualidades que nos faltam...
LXVII. DO CAPÍTULO PRIMEIRO DO GÊNESIS
Sesteava Adão. Quando, sem mais aquela,
Se achega Jeová e diz-lhe, malicioso:
"Dorme, que este é o teu último repouso."
E retirou-lhe Eva da costela.
LXVIII. DA FELICIDADE
Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura,
Tendo-os na ponta do nariz!
LXIX. DA VIRTUDE
Com que tenacidade
Vai seguindo a Virtude a dolorosa Via!
Olhai! passo a passo, a Vaidade
Lhe serve de companhia...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
sábado, junho 07, 2008
LXX. DA CARIDADE
Se se pudesse dar, indefinidamente,
Mas sem, do que se deu, nada perder, em suma,
Ainda assim, muita gente
Nunca daria coisa alguma...
LXXI. DAS PENAS DE AMOR
É só por teu egoísmo impenitente
Que o sentimento se transforma em dor.
O que julgas, assim, penas de amor,
São penas de amor-próprio, simplesmente...
LXXII. DO OBJETO AMADO
Impossível que a gente haja nascido
Com os encantos que um no outro vê!
E um belo dia se descobre que
Houvera apenas um mal- entendido...
LXXIII. DA REALIDADE
O sumo bem só no ideal perdura...
Ah! quanta vez a vida nos revela
Que "a saudade da amada criatura"
É bem melhor do que a presença dela...
LXXIV. DO AMOROSO ESQUECIMENTO
Eu, agora - que desfecho! -,
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixa
De lembrar que te esqueci?
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Se se pudesse dar, indefinidamente,
Mas sem, do que se deu, nada perder, em suma,
Ainda assim, muita gente
Nunca daria coisa alguma...
LXXI. DAS PENAS DE AMOR
É só por teu egoísmo impenitente
Que o sentimento se transforma em dor.
O que julgas, assim, penas de amor,
São penas de amor-próprio, simplesmente...
LXXII. DO OBJETO AMADO
Impossível que a gente haja nascido
Com os encantos que um no outro vê!
E um belo dia se descobre que
Houvera apenas um mal- entendido...
LXXIII. DA REALIDADE
O sumo bem só no ideal perdura...
Ah! quanta vez a vida nos revela
Que "a saudade da amada criatura"
É bem melhor do que a presença dela...
LXXIV. DO AMOROSO ESQUECIMENTO
Eu, agora - que desfecho! -,
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixa
De lembrar que te esqueci?
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
sexta-feira, junho 06, 2008
LXXV. DAS CONFIDÊNCIAS
Quiseste expor teu coração a nu...
E assim, ouvi-lhe todo o amoroso enleio.
Ah, pobre amigo, nunca saibas tu
Como é ridículo o amor... alheio...
LXXVI. DA DISCRIÇÃO
Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
Eo amigo de teu amigo
Possui amigos também...
LXXVII. DA INDISCRIÇÃO
Passível é de judicial sentença
O que na casa alheia se intromete.
Só nos falta é uma lei que aos importunos vete
A entrada em nossas almas, sem licença...
LXXVIII. DA PREGUIÇA
Suave Preguiça, que do mal-querer
E de tolices mil ao abrigo nos pões...
Por causa tua, quantas más ações
Deixei de cometer!
LXXIX. DA CONTRAÇÃO AO TRABALHO
Forcejares assim dessa maneira...
Olha! Só aos basbaques impressiona,
A esses que vão espiar, nos barracões, de lona,
A ingênua exibição dos hércules de feira...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Quiseste expor teu coração a nu...
E assim, ouvi-lhe todo o amoroso enleio.
Ah, pobre amigo, nunca saibas tu
Como é ridículo o amor... alheio...
LXXVI. DA DISCRIÇÃO
Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
Eo amigo de teu amigo
Possui amigos também...
LXXVII. DA INDISCRIÇÃO
Passível é de judicial sentença
O que na casa alheia se intromete.
Só nos falta é uma lei que aos importunos vete
A entrada em nossas almas, sem licença...
LXXVIII. DA PREGUIÇA
Suave Preguiça, que do mal-querer
E de tolices mil ao abrigo nos pões...
Por causa tua, quantas más ações
Deixei de cometer!
LXXIX. DA CONTRAÇÃO AO TRABALHO
Forcejares assim dessa maneira...
Olha! Só aos basbaques impressiona,
A esses que vão espiar, nos barracões, de lona,
A ingênua exibição dos hércules de feira...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
quinta-feira, junho 05, 2008
LXXX. DO OVO DE COLOMBO
Nos acontecimentos, sim, é que há Destino:
Nos homens, não - espuma de um segundo...
Se Colombo morresse em pequenino,
O Neves descobria o Novo Mundo!
LXXXI. DA AÇÃO
Ante o Herói, num sorriso o teu pasmo transforma:
Ele que faça História, e a desfaça, à vontade...
Pobre bárbaro, entregue à mais grosseira forma
Da múltipla e infinita Realidade!
LXXXII. DA AGITAÇÃO DA VIDA
Lida no doido afã!
Vamos! Investe, vai contra os moinhos de vento!
Um dia tu verás que tudo é sombra vã,
Tênue fumo que a morte assopra num momento...
LXXXIII. DO MAL DA VELHICE
Chega a velhice um dia... E a gente ainda pensa
Que vive... E adora ainda mais a vida!
Como o enfermo que em vez de dar combate à doença
Busca torná-la ainda mais comprida...
LXXXIV. DA MODERAÇÃO
Cuidado! Muito cuidado...
Mesmo no bom caminho urge medida e jeito.
Pois ninguém se parece tanto a um celerado
Como um santo perfeito...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Nos acontecimentos, sim, é que há Destino:
Nos homens, não - espuma de um segundo...
Se Colombo morresse em pequenino,
O Neves descobria o Novo Mundo!
LXXXI. DA AÇÃO
Ante o Herói, num sorriso o teu pasmo transforma:
Ele que faça História, e a desfaça, à vontade...
Pobre bárbaro, entregue à mais grosseira forma
Da múltipla e infinita Realidade!
LXXXII. DA AGITAÇÃO DA VIDA
Lida no doido afã!
Vamos! Investe, vai contra os moinhos de vento!
Um dia tu verás que tudo é sombra vã,
Tênue fumo que a morte assopra num momento...
LXXXIII. DO MAL DA VELHICE
Chega a velhice um dia... E a gente ainda pensa
Que vive... E adora ainda mais a vida!
Como o enfermo que em vez de dar combate à doença
Busca torná-la ainda mais comprida...
LXXXIV. DA MODERAÇÃO
Cuidado! Muito cuidado...
Mesmo no bom caminho urge medida e jeito.
Pois ninguém se parece tanto a um celerado
Como um santo perfeito...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
quarta-feira, junho 04, 2008
LXXXV. DA VIUVEZ
Ele está morto. Ela, aos ais.
Mas, neste lúgubre assunto,
Quem fica viúvo é o defunto...
Porque esse não casa mais.
LXXXVI. Do Outro MUNDO
Mandou chamar um moribundo
Seus inimigos e abraçá-los quis.
"Bem se vê (um então lhe diz)
Que já não és deste mundo..."
LXXXVII. Dos BENEFÍCIOS DA POBREZA
Pobreza invejas não traz
A ninguém...
Diz-me, acaso lhe descobrirás
Um outro bem?
LXXXVIII. DA RIQUEZA
O dinheiro não traz venturas, certamente.
Mas dá algum conforto... E em verdade te digo:
Sempre é melhor chorar junto à lareira quente
Do que na rua, ao desabrigo.
LXXXIX. DA ALEGRIA NAS ATRIBULAÇÕES
"Olha! o melhor é sorrires!"
Mas já se viu que lembrança!
Dá-me primeiro a bonança,
Que eu te darei o arco íris...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Ele está morto. Ela, aos ais.
Mas, neste lúgubre assunto,
Quem fica viúvo é o defunto...
Porque esse não casa mais.
LXXXVI. Do Outro MUNDO
Mandou chamar um moribundo
Seus inimigos e abraçá-los quis.
"Bem se vê (um então lhe diz)
Que já não és deste mundo..."
LXXXVII. Dos BENEFÍCIOS DA POBREZA
Pobreza invejas não traz
A ninguém...
Diz-me, acaso lhe descobrirás
Um outro bem?
LXXXVIII. DA RIQUEZA
O dinheiro não traz venturas, certamente.
Mas dá algum conforto... E em verdade te digo:
Sempre é melhor chorar junto à lareira quente
Do que na rua, ao desabrigo.
LXXXIX. DA ALEGRIA NAS ATRIBULAÇÕES
"Olha! o melhor é sorrires!"
Mas já se viu que lembrança!
Dá-me primeiro a bonança,
Que eu te darei o arco íris...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
terça-feira, junho 03, 2008
XC. DOS DEFEITOS ALHEIOS
Do pródigo sorris Coitado! é um bom sujeito...
Mas o avarento Ui! que sórdido animal!
Pudera não! se por sinal
Não tiras deste um só proveito...
XCI. DAS INCLINAÇÕES E DO ESTÔMAGO
Se do lado de Deus ou do Diabo te pões,
Isto são coisas intestinas...
No sábado de noite: álcool e bailarinas...
Domingo de manhã: limonada e sermões...
XCII. DA PLENITUDE
Um dia, ao Zé Caipora e ao Zé Feliz,
Apresentou-se um génio benfazejo.
E, para espanto seu, "Eu nada mais desejo..."
Cada um lhe diz.
XCIII. DA VELHA HISTÓRIA
A história de Pia e Pio
Deste modo se passou:
Tanto ele a perseguiu
Que ela um dia o apanhou...
XCIV. DA RAZÃO
Que de tolices, talvez,
Tem evitado a Razão!
O triste é que até hoje nunca fez
Nenhuma grande ação...
XCV. DA SÁTIRA
A sátira é um espelho: em sua face nua,
Fielmente refletidas,
Descobres, de uma em uma, as caras conhecidas,
E nunca vês a tua...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Do pródigo sorris Coitado! é um bom sujeito...
Mas o avarento Ui! que sórdido animal!
Pudera não! se por sinal
Não tiras deste um só proveito...
XCI. DAS INCLINAÇÕES E DO ESTÔMAGO
Se do lado de Deus ou do Diabo te pões,
Isto são coisas intestinas...
No sábado de noite: álcool e bailarinas...
Domingo de manhã: limonada e sermões...
XCII. DA PLENITUDE
Um dia, ao Zé Caipora e ao Zé Feliz,
Apresentou-se um génio benfazejo.
E, para espanto seu, "Eu nada mais desejo..."
Cada um lhe diz.
XCIII. DA VELHA HISTÓRIA
A história de Pia e Pio
Deste modo se passou:
Tanto ele a perseguiu
Que ela um dia o apanhou...
XCIV. DA RAZÃO
Que de tolices, talvez,
Tem evitado a Razão!
O triste é que até hoje nunca fez
Nenhuma grande ação...
XCV. DA SÁTIRA
A sátira é um espelho: em sua face nua,
Fielmente refletidas,
Descobres, de uma em uma, as caras conhecidas,
E nunca vês a tua...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
segunda-feira, junho 02, 2008
XCVI. DOS HÓSPEDES
Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia...
XCVII. DA CALÚNIA
Sorri com tranqüilidade
Quando alguém te calunia.
Quem sabe o que não seria
Se ele dissesse a verdade...
XCVIII. DA EXPERIÊNCIA
A experiência de nada serve à gente.
um médico tardio, distraído:
Põe-se à forjar receitas quando o doente
Já está perdido...
XCIX. DAS DEVOTAS
Depois de todos os encantos idos,
Lhes chega a Devoção, em vôo silencioso,
Coruja triste que só faz o pouso
No oco dos velhos troncos carcomidos...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia...
XCVII. DA CALÚNIA
Sorri com tranqüilidade
Quando alguém te calunia.
Quem sabe o que não seria
Se ele dissesse a verdade...
XCVIII. DA EXPERIÊNCIA
A experiência de nada serve à gente.
um médico tardio, distraído:
Põe-se à forjar receitas quando o doente
Já está perdido...
XCIX. DAS DEVOTAS
Depois de todos os encantos idos,
Lhes chega a Devoção, em vôo silencioso,
Coruja triste que só faz o pouso
No oco dos velhos troncos carcomidos...
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
domingo, junho 01, 2008
C. DA CONFORMIDADE
Isto de idéias singulares...
Um grande escolho!
Se em meio aos tortos por acaso andares,
Fecha um olho.
CI. DA HUMANA CONDIÇÃO
Custa o rico a entrar no Céu
(Afirma o povo e não erra).
Porém muito mais difícil
É um pobre ficar na terra...
CII. DA VERGONHA
Ora, o que sentes é puro
Receio de seres visto.
Não, vergonha não é isto:
Vergonha é a que tens no escuro...
CIII. DE COMO PERDOAR AOS INIMIGOS
Perdoas... és cristão.., bem o compreendo...
E é mais cômodo, em suma.
Não desculpes, porém, coisa nenhuma,
Que eles bem sabem o que estão fazendo...
CIV. DA AMIGA ASSISTÊNCIA
Um novo amigo tens? Não te cause alegria
Essa afeição de todos os momentos.
Mais um que há de trazer, para os teus sofrimentos,
A sua inócua simpatia...
CV. DA MANEIRA DE AMAR OS INIMIGOS
Novo inimigo tens? Não te cause pesar
Tão risonho motivo...
No dia em que triunfes, hás de achar
Na cara dele o teu prazer mais vivo.
CVI. DO VERDADEIRO MÉRITO
Esse talento que te faz tão altaneiro
Não vem de ti: é um dom, como a beleza ou a graça.
Mais te orgulhe, se o tens, teu cavalo de raça...
Pois foi comprado com o teu dinheiro.
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
Isto de idéias singulares...
Um grande escolho!
Se em meio aos tortos por acaso andares,
Fecha um olho.
CI. DA HUMANA CONDIÇÃO
Custa o rico a entrar no Céu
(Afirma o povo e não erra).
Porém muito mais difícil
É um pobre ficar na terra...
CII. DA VERGONHA
Ora, o que sentes é puro
Receio de seres visto.
Não, vergonha não é isto:
Vergonha é a que tens no escuro...
CIII. DE COMO PERDOAR AOS INIMIGOS
Perdoas... és cristão.., bem o compreendo...
E é mais cômodo, em suma.
Não desculpes, porém, coisa nenhuma,
Que eles bem sabem o que estão fazendo...
CIV. DA AMIGA ASSISTÊNCIA
Um novo amigo tens? Não te cause alegria
Essa afeição de todos os momentos.
Mais um que há de trazer, para os teus sofrimentos,
A sua inócua simpatia...
CV. DA MANEIRA DE AMAR OS INIMIGOS
Novo inimigo tens? Não te cause pesar
Tão risonho motivo...
No dia em que triunfes, hás de achar
Na cara dele o teu prazer mais vivo.
CVI. DO VERDADEIRO MÉRITO
Esse talento que te faz tão altaneiro
Não vem de ti: é um dom, como a beleza ou a graça.
Mais te orgulhe, se o tens, teu cavalo de raça...
Pois foi comprado com o teu dinheiro.
[Mario Quintana; Espelho Mágico, 1945]
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