Há personalidades que apresentam características comuns. Quando as vejo quase que descortino o que são ou o que foram.
Mulher magra, de meia idade, voz rouca de tabaco de longa exposição, olhos pintados a risco negro, olhar inquieto, sempre atento, não escondendo a fome de ver tudo em redor, nervosismo à flor da pele, maçãs do rosto salientes, sentou-se. Antes de lhe perguntar o que quer que fosse, debitou de imediato que sofria de um cansaço terrível, o que para ela, mulher que gostava de trabalhar, era uma grande preocupação. Consegui enfiar-me na conversa perguntando-lhe se sofria de alguma doença. Disparou que teve hepatite B e que ficou imune e depois disseram-lhe que também tinha hepatite C. - Já fez tratamento para a hepatite C? - Não! A minha médica já me falou nisso. A forma com expunha dava a entender que não teria assim nada de especial. - Olhe lá.- Atrevi-me ir direito ao assunto. - Foi consumidora de drogas proibidas? - Fui, senhor doutor. Disse com a maior naturalidade. - Mas deixei. Sem ajuda e nem tive que ir ao CAT. - E o que é tomava? - Heroína. - Ai sim? E conseguiu parar sem ajuda? - Claro. Vi que me estava a fazer mal e parei. - Sim senhora! - Quando é que começou? - Devia ter perto de trinta anos. - Então, já foi há muito tempo. Como é que se meteu nisso? - Foi o meu companheiro. Foi ele que me pegou as doenças. Mas também só andei dois a três anos nessa vida. Fazia-me mal. - E o seu companheiro? - Morreu. Mas não morreu da droga, foi morto por um cunhado que lhe espetou uma faca aqui. Apontou para a zona do fígado. - Isso aconteceu há muito tempo? - Foi naquela altura. O filho era pequeno, agora já tem trinta anos. - Claro que o assassino foi preso. - Foi, mas libertaram-no ao fim de doze ou treze anos. Ninguém sabe onde para, e ainda bem. Olhe, são coisas que acontecem.
Depois continuou com o seu relato de vida pessoal, dizendo que teve outro filho de uma relação mais recente e que teve também de terminar. Era demasiado violento e um bebedolas. - Fartei-me de homens, sabe? Agora estou bem, o pior é este maldito cansaço. Dei cabo da minha vida por causa do amor. Acredita, senhor doutor? - Claro que acredito. - Maldita sorte a minha. Como é que estão as análises?
Mulher magra, de meia idade, voz rouca de tabaco de longa exposição, olhos pintados a risco negro, olhar inquieto, sempre atento, não escondendo a fome de ver tudo em redor, nervosismo à flor da pele, maçãs do rosto salientes, sentou-se. Antes de lhe perguntar o que quer que fosse, debitou de imediato que sofria de um cansaço terrível, o que para ela, mulher que gostava de trabalhar, era uma grande preocupação. Consegui enfiar-me na conversa perguntando-lhe se sofria de alguma doença. Disparou que teve hepatite B e que ficou imune e depois disseram-lhe que também tinha hepatite C. - Já fez tratamento para a hepatite C? - Não! A minha médica já me falou nisso. A forma com expunha dava a entender que não teria assim nada de especial. - Olhe lá.- Atrevi-me ir direito ao assunto. - Foi consumidora de drogas proibidas? - Fui, senhor doutor. Disse com a maior naturalidade. - Mas deixei. Sem ajuda e nem tive que ir ao CAT. - E o que é tomava? - Heroína. - Ai sim? E conseguiu parar sem ajuda? - Claro. Vi que me estava a fazer mal e parei. - Sim senhora! - Quando é que começou? - Devia ter perto de trinta anos. - Então, já foi há muito tempo. Como é que se meteu nisso? - Foi o meu companheiro. Foi ele que me pegou as doenças. Mas também só andei dois a três anos nessa vida. Fazia-me mal. - E o seu companheiro? - Morreu. Mas não morreu da droga, foi morto por um cunhado que lhe espetou uma faca aqui. Apontou para a zona do fígado. - Isso aconteceu há muito tempo? - Foi naquela altura. O filho era pequeno, agora já tem trinta anos. - Claro que o assassino foi preso. - Foi, mas libertaram-no ao fim de doze ou treze anos. Ninguém sabe onde para, e ainda bem. Olhe, são coisas que acontecem.
Depois continuou com o seu relato de vida pessoal, dizendo que teve outro filho de uma relação mais recente e que teve também de terminar. Era demasiado violento e um bebedolas. - Fartei-me de homens, sabe? Agora estou bem, o pior é este maldito cansaço. Dei cabo da minha vida por causa do amor. Acredita, senhor doutor? - Claro que acredito. - Maldita sorte a minha. Como é que estão as análises?
Tive que lhe dizer que tinha problemas no fígado e que deveria tratar-se como devia ser. Fiquei com a sensação de que desconhecia a gravidade da situação. - Ah! Então, o cansaço vem do fígado! - Sim. Tem que tratar-se como deve ser. Expliquei como deveria fazer. - Vou seguir o seu conselho. Vou mesmo. Eu gosto de trabalhar, mas este cansaço é demais, mata-me. Eu quero viver.
- Força! Viva mesmo.
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