Fiquei chocada com a notícia da
morte do jovem David Duarte de 29 anos no Hospital de S. José por falta de
assistência. Quem não ficou? Um acontecimento terrível. Seria bom que todos nos
perguntássemos vezes sem conta como podemos aceitar e tolerar casos destes.
David Duarte morreu sem
assistência hospitalar num hospital porque teve o duplo azar de fazer um
aneurisma num fim de semana e de o terem transportado para aquele hospital que
não só não tem neurocirurgiões ao fim de semana como não dispõe de um plano de
contingência para salvar vidas. Uma falha gravíssima. Com responsabilidades a
vários níveis e de natureza distinta, certamente. Ninguém escapa: administradores e dirigentes
hospitalares, médicos e enfermeiros. E a responsabilidade também é política.
Mas lançar a ideia de que esta
falha é o resultado dos cortes cegos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) é um aproveitamento
demagógico e político que interessa a alguns, mas que não é seguramente a forma
responsável de olhar para o problema. É fácil fazer populismo com um tema
destes. Mas o problema não se resolve com populismos. A racionalização dos
recursos deve ser feita, evidentemente com a preocupação de não impedir, em
nenhuma circunstância, a assistência a quem por estar doente tem a sua vida
dependente de cuidados especializados de terceiros. E a
racionalização dos recursos não pode deixar de ser feita num quadro de melhoria
do modelo de gestão e organização tendo como preocupação central o bem-estar e a vida do
doente.
Esteve bem o ministro da saúde
Adalberto Fernandes. Agiu com razoabilidade e responsabilidade ao ter colocado
o problema no patamar da falta de gestão e organização. Resistiu à tentação de
reduzir a causa do problema aos cortes financeiros na saúde.
A falta de gestão e organização
não se resolve colocando mais dinheiro em cima do problema. Temos há muito
problemas de funcionamento do SNS. É aqui que nos temos de focar. As urgências
em Lisboa funcionam mal. Não podem ser uma lotaria. Poderia trazer aqui um caso
que se passou com um familiar muito próximo no Hospital de S. José. Um caso que
correu muito mal, com consequências penosas para o doente. Falta de assistência
foi o que aconteceu. Falha de gestão e organização mais uma vez. Tem que ser assim? Não somos capazes de fazer diferente?