Um amigo que vai partir para a Colômbia ofereceu-me este Natal uma colectânea de poemas “Um País que sonha – cem anos de poesia colombiana”, publicada pela Assírio e Alvim. Estamos a habituar-nos aos que partem , aos que chegam por uns dias que mal dão para matar saudades, estamos a habituar-nos a deixar de ser parte da vida deles, tentamos contar-lhes como ficámos, trazê-los de novo ao nosso quotidiano, mas foge-lhes o olhar, distrai-se a atenção, há que tecer novos fios, encontrar amarras, eles que fiquem partindo, eles que nos levem deixando-nos. Todos os dias muda o ano, que se esgota para trazer outro, o tempo atrás do tempo e nós atrás dele, tenho saudades, diz-me um cartão, ainda bem que temos as saudades para nos encher o novo ano, vamos guardá-las connosco, prolongando os afectos, é sinal de que um dia gostámos e voltaremos a gostar, ainda e sempre, assim se alargue a nossa alma, ano após ano, ausências e presenças a encher-nos os dias.
O dia que hoje existe
Viva e triunfante
a lua ergue-se
sobre a vastidão destes campos.
Sopra o vento e passa
e o seu canto traz-me à memória
a imagem de um melro,
outra lembrança não faz falta.
Pergunto-me se voltará
a ave ao jardim,
à árvora que foi sua.
Mas se duvida e não o sabe
ou se o seu voo prefere
o ar profundo de outro astro,
não importa;
a alegria que me produziu a sua presença
tem e terá sempre o seu próprio,
incessante, intenso resplendor:
toda a luz e a luz do dia.
Álvaro Rodriguez Torres
(in Um País que sonha cem anos de poesia colombiana)
Um Feliz ano de 2013!