"No gelo que as montanhas abrigavam, montanhas que rodeavam a imensidão do território gelado, encontrava-se ele. Erguia-se sobre o cume mais alto, em toda a arrogância da sua espécie, se bem que não fizesse verdadeiramente parte dela. Era um renegado, sempre fora. Não que alguma vez tivesse tido culpa, ou mesmo escolha. Mas assim que viera ao mundo, Kashthir fora marcado. As asas que faziam dele parte de um povo eram as mesmas que o tornavam um proscrito. As longas penas que ocupavam as suas costas, tão negras como as de um corvo, assinalavam a sua diferença. Raros, muito raros, eram aqueles que entre os laskorianos possuíam asas assim. O povo caracterizava-se pela brancura das penas que abraçava a neve como se fossem irmãos. O negro nunca teria lugar no meio deles. No entanto, o negro exercia fascínio nos restantes povos do território gelado. Fora assim que a conhecera e fora assim que a sua sorte acabara. Iannanual, senhora do território gelado, a rainha mais poderosa que até então nascera na sua casa, tinha sucumbido a esse fascínio, à sedução que o homem alado, o homem corvo, exercia sobre ela. À luxúria que libertava no corpo da rainha.
Nunca fora sua intenção ser notado, nunca quisera dar mais nas vistas do que a sua genética permitia, contudo também Kashthir fora enfeitiçado pela doçura que Ianna lançava sobre ele. Ela não fora como os outros, não o repelira pela sua cor, não manifestara repugnância ou ódio, não o apedrejara. Olhara para ele como se fosse de carne e osso, com desejo e com algo que Kash julgara ser amor. E tinham vivido uma espécie de amor, uma felicidade aparente, irreal. Uma vida escondida, dupla, cheia de enganos e vendas. Porque quando a alvorada em que o conjugue da rainha descobriu o que se passava nas suas costas chegou, a vida secreta que amava voltou-se contra ele no tempo que demora uma batida do coração. A amante, com receio ao marido, distorceu a sua história, fazendo dele um monstro. Transformando o amor que ele sentia num ódio profundo. A faca da traição ficara cravada nas suas costas, de forma permanente, tal como o castigo que se seguiu. Porque o rei não deixou o assunto cair no esquecimento. A crueldade foi levada até Kashthir pela mão do governante do território gelado, e caiu nas suas costas sob a forma de um chicote que, apenas graças a cuidados muito posteriores, não lhe dilacerou as magníficas asas negras, como o rei pretendia fazer.
Era o passado que ele recordava, o passado que acontecera há séculos, quando Kash era apenas um jovem desmiolado procurando unicamente o consolo de ser amado, de não ser diferente. Agora, enquanto olhava de cima o palácio onde Iannanual ainda habitava, ele já não era esse rapaz. Era um laskoriano no auge da sua juventude, enquanto que a rainha que em tempos possuira o seu coração, era agora uma idosa matriarca. Era alguém que nada mais significava para ele do que um ódio tão profundo como as cavernas que subsistiam no centro do mundo."
O texto acima apresentado é da minha autoria. É de uma história que estou a desenvolver e da qual gosto mais a cada dia que passa. As personagens estão a cativar-me. Este é apenas um dos fios condutores desta minha história, sendo que haverão bastantes mais fios por onde escrever. As duas personagens acima apresentadas são Kashthir, um laskoriano de asa negras, cuja raça possui longevidade prolongada, sendo que ele é ainda um jovem adulto no presente. Qaunto a Innanual, ele é uma rainha poderosa, uma mulher ambiciosa e bonita, que no presente é já uma mulher de idade avançada, ainda que também o seu povo tenha uma vida prolongada. Aquando do seu envolvimento com Kashthir, ela já não era nova, já tinha muitos anos, sendo que ela era myuito mais velha que o rapazote que Kash era.
Bem espero ter aguçado a vossa curiosidade, porque esta história está longe de ter acabado. Ainda há muito para revelar acerca dos laskorianos, e da famíliua real do território gelado e não só...
Bjinhos e comentem, gostava de saber a vossa opinião :)
Mafs