Invadiu-me, certa vez, uma inexorável perplexidade acerca do sentido da vida. Decidi, então, peregrinar por este mundo afora, para decifrar tão profundo enigma.A todos os seres que encontrava, propunha a questão.
À frondosa árvore, enraizada no centro de grande praça, supliquei que me revelasse sua verdadeira missão. Explanou-me ela: "Em primeiro lugar, devo manter-me viva, forte, saudável, para melhor poder cumprir meu papel. Em segundo, descobrir exatamente qual seja este papel. E, por fim, desempenhá-lo diligentemente. A mim cabe proteger os peregrinos que por aqui passam, nos tórridos dias de verão, ofertando-lhes minha generosa sombra."
Segui adiante e deparei-me com um belo gato siamês.
Segredou-me ele que sua missão consistia em fazer companhia a uma velha senhora, ofertando a ela todo seu encanto e ternura.
Por muitos e muitos dias, por escabrosas veredas, feri meus pés à procura de respostas à pungente dúvida. O esforço foi sobejamente recompensado. Mas eu sentia que era preciso, ainda, ouvir uma sábia opinião de um representante do gênero humano.
Finalmente, após fatigante busca, no alto de um outeiro, encontrei um sábio anacoreta, longas barbas brancas, olhar perdido no horizonte, a meditar... Acolheu-me amavelmente. Após ouvir, todo paciência e atenção, meu relato e minhas súplicas, sentenciou gravemente:
"Meu prezado buscador. Os sábios seres da natureza propiciaram a ti as respostas. Já és possuidor do inefável segredo. Não obstante, mais posso aduzir: caso descobrires que és uma árvore, sejas realmente uma árvore; se fores um gatinho, não te constranjas em ofertar toda tua meiguice, e se um leão, coloca sempre toda tua energia em tudo que fizeres. É preciso descobrir teus verdadeiros talentos, aprimorá-los, produzir os melhores frutos, e então ofertá-los generosamente.
Ninguém habita este planeta sem objetivo, sem finalidade maior. Aquele que cultiva a terra realiza uma missão. Como aquele que governa ou que instrui."
Texto do "Momento Espírita", baseado no livro
"A Magia das Palavras", de Ramiro Sápiras.
"A Magia das Palavras", de Ramiro Sápiras.
Ah! O sentido da vida! Desde os mais remotos tempos, que a humanidade se debruça sobre esta incógnita! O que, para os que entendem e estudam a Doutrina Espírita, não é nenhum mistério. Muito antes pelo contrário, sabemos que todos estamos neste mundo com uma finalidade principal: tornar-nos cada vez mais, melhores e mais responsáveis à missão que nos foi delegada por Deus.
O que, para alguns ainda é um enigma, para muitos e muitos significa o encontro de si mesmo e de sua consciência com a universalidade cósmica. Dessa forma, o ser humano consegue interiorizar-se na busca de um conhecimento maior acerca de si, aumentando a força espiritual e oferecendo-se a paz, a harmonia e a saúde.
Uma pessoa resolvida internamente é, sem dúvida, alguém que convive com os demais, demonstrando equilíbrio e razão nas atitudes que toma na sociedade em que habita.
Sem vícios e sem mazelas, este espírito preza muito a intuição e a manifestação de princípios de honestidade e caráter, como maneira de expressão de seus valores morais. Todo aquele que prima pela forma racional em sua vida, tem como base a sabedoria e as virtudes necessárias para seu viver.
De nada adianta orgulharmo-nos de grandes feitos ou posses materiais, uma vez que nada disso levamos no final de nossas vidas. Cada ser precisa ter em mente que, assim como viemos ao mundo, voltaremos de mãos vazias. Levando, no entanto, uma bagagem que será avaliada na espiritualidade. Para cada ato positivo ou negativo que estivermos apresentando, haverá a respectiva análise. Ninguém, mesmo a pessoa mais poderosa do planeta ou um simples mendigo de rua, fugirá a esta regra.
Portanto, cabe a cada ser responsabilizar-se por seus atos. Descobrir-se filho de Deus não é somente viver num mosteiro ou num convento a rezar, acreditando-se salvo do "dito" inferno. Sabemos que isto é algo inadmissível, porquanto o inferno seria o distanciamento do bem e o céu, a proximidade de tudo o que leva a Deus.
Quando se diz que "a vida a Deus pertence", comete-se um grande erro. A vida pertence a cada um de nós, que vivemos e agimos segundo nosso interesse pessoal. Assim, a cada dia vivido, que tenhamos o ímpeto de descobrir ou redescobrir nossos talentos e utilizarmo-nos dos mesmos para revertê-los no bem, cultivando a missão que recebemos.
Vivenciar nossa missão é uma bela oportunidade de mostrar-nos como somos. A vida não é uma corrida onde são premiados aqueles que chegam primeiro ao pódio e, sim, uma verdadeira e oportuna fonte de aprendizado que à alma é dado, para que se efetive e se renove a evolução, o crescimento e o progresso que tanto almejamos.
Que assim seja!