segunda-feira, 25 de novembro de 2024

na alegria e na tristeza

Hoje a terapia foi de manhã. Sim, naquele horário que eu ainda não comecei a funcionar. E os meus canais lacrimais deram um show a parte. Agora só preciso tirar daqui de dentro um pouco desse caos. Talvez a questão não seja se sou difícil de amar como sempre pensei, mas sim, eu não saiba amar sem sofrer. Vivo falando e escrevendo sobre essas coisas do coração e sempre levo pro lado do romance, naquele ciclo sem fim de amor e sofrimento, como se um relacionamento não vivesse em equilíbrio se faltasse uma coisa assim. Como se a sorte de um amor tranquilo não fosse possível. Também, né? Desde sempre temos o religiosamente aceito "na alegria e na tristeza" e isso faz com que a gente pense que deve, por padrão, ter uma boa parcela de cada pra ter sucesso "até que a morte nos separe" de alguém. Mas esse é só um tipo de amor. No coração cabem tantos outros. Sempre que eu penso em amor, a primeira ideia que me abre um sorriso são os meus sobrinhos, que não precisam se esforçar pra eu amar, por exemplo, mas logo vem aquela pessoa, que nem sempre tem nome e forma, companhia que quero pra vida. Só que fiquei tanto tempo nessa de encontrar alguém algum dia (mesmo quando não queria estar com alguém) que esqueci do outro amor, o meu. Nisso, sempre me tratei mal. E, quando faço isso, é como se permitisse que os outros também façam. É uma punição pessoal, por não me achar muito digna de nada com qualidade, mesmo sabendo que mereço. Me sinto uma farsa completa em 3 atos Shakesperianos. Tati Bernardi me jogou na parede quando escreveu "tenho medos bobos e coragens absurdas". E o google, até hoje, atribui à Clarice Lispector. Nada contra Clarice, inclusive adoro a profundidade dela, que também me rasga constantemente. Mas a frase da Tati me traz de volta às ligações que eu não fiz pra pizzaria e até a sinceridade em abrir meu coração pra falar quando gosto de alguém. Qual é o medo e qual é a coragem aí?

Hoje eu saí aos prantos da terapia, e escrever SEMPRE me salva de muita coisa, inclusive de mim. Sim, ainda quero escrever por aqui sobre um fim de domingo deitada no colo de um cara sensível, escolhendo um filme terrivelmente romântico, quando isso acontecer. Mas o coração têm desses altos e baixos, e essa semana ele começou afundado. Pelo menos agora fica mais fácil pegar impulso pra voltar a subir.

domingo, 24 de novembro de 2024

nem era hora disso

Pra que santo a gente pede quando precisa desgostar de alguém? E esse pedido se faz necessário meio que urgentemente porque, depois de você, todo beijo ficou duro, todo flerte ficou sem graça, não quis mais transar e ninguém mais me chamou a atenção do mesmo jeito. A gente nem chegou a ser um nós. E eu só me dei conta que gostava (e precisava desgostar) quando senti todo o sangue do meu corpo desaparecer assim que botei meus olhos em você, 43 dias depois do nosso último beijo, que eu nem sabia que seria o último até agora (e nem queria que fosse também). Mas respeito é isso, eu sem te procurar desde que cada letra do seu "não estar disponível" chegou pra mim, como uma notificação decente de consideração, seguida de uma inevitável tristeza não programada. Não vou mentir que durou umas horas. Até que te vi pessoalmente, a pressão baixou e eu nem sei explicar o que senti depois. Você ainda mexe comigo mais gostoso que o movimento tímido da sua boca apertando e seus olhos inquietos. Queria ter trazido você pra casa pra dormir abraçada. Ao invés disso, só vim pra casa descansar, e cansar minha memória e sorriso,  lembrando, em loop infinito, de você. Talvez eu pareça mais romântica escrevendo que agindo, mas isso não importa. A Priscila sem gostar é muito mais produtiva, e é disso que preciso agora. E não é não gostar de ninguém, é não gastar tempo buscando reciprocidade onde não tem. Mas obrigada pelo seu sorriso lindo. É com ele que vou dormir na cabeça. 


* a vida é mesmo um eterno gostar sem escolher e tentar desgostar quando não é escolhida, pra não sofrer. Seguimos, que uma hora vai.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

não é sobre celulares

Quando eu tinha uns 24/25 anos, fui assaltada à caminho do trabalho. Eram umas seis e pouco da manhã, um cara me abordou, ainda dentro do bairro, com a mão dentro da camiseta, pedindo meu celular. Com sono e de fone, nem percebi o que estava acontecendo. Ele chegou tão perto de mim que eu travei, consegui puxar o celular do bolsinho lateral da mochila e entreguei. Ele só saiu andando, perdi de vista muito rápido. Virei a primeira rua, dei uma volta enorme, olhando pra trás o tempo todo, corri loucamente pra casa, bloqueei o cartão do banco, o chip do celular e avisei a empresa que ia atrasar.

Depois disso, fiquei algumas semanas sem telefone. Em 2012 a sociedade já dependia bem da vida online, mas eu não podia comprar outro, então o jeito foi esperar. Lamentei ter perdido as fotos que tirei com o Apanhador Só, no primeiro show que fui deles (eu ainda não tinha o costume de jogar tudo na nuvem, aliás, já era comum usar nuvem?) e a possibilidade de ouvir música enquanto tava na rua. Fora isso, não me fez tanta falta quanto pensei que fosse fazer.

Hoje eu acordei com a confirmação de um rompimento. Respondi e agradeci a sinceridade. Ele foi legal (essa história vai fazer sentido, eu juro). E, além de um pouco de choro, um tempo de qualidade com meus sobrinhos e tentar remediar a tristeza com alguma fritura, o algoritmo do instagram me arremessou um vídeo sobre como superar alguém que não te escolheu. A primeira coisa que a moça do vídeo fala é para agradecer a pessoa, mentalmente, porque ela tá te mostrando que não é a sua pessoa e tá te redirecionando pra onde você tem que ir. E conclui falando para se afastar, que é o que o meu psicólogo fala, incessantemente, desde que acabou meu último namoro.

Com vinte e poucos anos, durante aquelas semanas, cada dia que passava sem celular, sentia menos necessidade dele, até esquecia que já tinha achado tão essencial na minha vida. Ocupei meu tempo com outras coisas e, quando pude ter outro aparelho, passei a usar com mais cuidado e sabedoria. Isso, definitivamente, não é sobre celulares roubados às seis da manhã.

aceito os termos e quero continuar

- Você acha que colocou muita intensidade no começo?

- E eu sei ser de outro jeito?

Era uma sexta feira quando minha autoestima de centavos e eu contamos pra um amigo que eu tinha conhecido alguém, mas achava que já tinha estragado tudo. Eu queria não ter deixado transparecer que tava curtindo muito, porque talvez assim continuasse gostoso como era no começo, naquela fase em que ele me chamava pra sair e mandava mensagem falando que queria me ver. Então eu comecei a sentir saudade e falei que tava curtindo, aí ele explicou que não tava na mesma e preferiu se afastar. Ele foi decente e eu logo me dei por vencida porque, como diz meu psicólogo, eu suponho demais, sem saber realmente o que tá acontecendo e sem antes perguntar.

Sei que o começo não dura pra sempre, só que talvez eu seja ou esteja tão carente, e queira tanto um colo, um chamego, um romance de cinema que não existe (mas mereço), que me sinto negligenciada o tempo todo. 

Sabe aquela mentira que, de tanto que a gente conta, até a gente acredita que seja verdade? Eu falo tanto pra todo mundo que não quero namorar, que nunca quis casar ou morar junto, que comecei a acreditar nisso. E falava isso porque sempre tive medo de ninguém nunca querer qualquer dessas coisas comigo e eu ter que lidar com mais rejeição. Tinha época que não queria mesmo, mas eu nasci pra estar apaixonada e receber afeto, poxa. As coisas mudam.

Hoje li sobre o amor moderno e sua bizarra mecânica de que mostrar interesse é um ato de vergonha. Na hora passou um filminho das vezes em que eu caí nisso de tentar sentir o mínimo possível pra não perder as partes boas que já tinha. Isso não combina comigo e, de novo, eu sei ser de outro jeito?  Quanto tempo uma canequinha leva pra encher essa minha caixa d'água de emoções, pra eu poder mergulhar segura?

Falar encurta tanto o caminho. E nem acredito que eu, a maior defensora da comunicação aberta, escolhi me segurar e aceitar o mínimo de afeto, porque era "melhor que nada".

Só fala.

"...se a reação da pessoa for a mesma que a sua, veremos a Priscila em um domingo à tarde, abraçadinha no sofá vendo um filme terrível de romance". Chorei quando o meu amigo mandou essa mensagem. É isso. É justo comigo e com o outro.

domingo, 27 de outubro de 2024

5 quarteirões

Fui votar. Mas esse texto não é sobre política. Teve segundo turno nas eleições municipais na minha cidade. Meu local de votação fica 5 quarteirões de onde moro. Saindo de casa, o céu tava limpinho no meu bloco e logo na esquina de cima já tava todo escuro. Comecei a subir, dessa vez nem celular levei e logo me veio um pensamento: se acontecer alguma coisa comigo, quais números de telefone eu tenho decorados? Quatro. O de uma das minhas irmãs e de três ex-namorados. Logo em seguida, ainda no caminho, veio uma ventania que levantou folhas e algumas começaram a grudar nas minhas pernas. Tinha um cara xingando muito alto no telefone do outro lado da rua. Uma colega passou do meu lado e eu só vi quando ela me cumprimentou, quase encostada em mim. Saindo da escola era só descida, me bateu aquela angústia dos domingos e percebi algumas coisas aleatórias. Já tinha bar aberto (não eram nem 15h); parou uma ambulância do samu (sem aquelas sirenes altas) do outro lado da rua, mas não fiquei pra ver; a maior quantidades de placas no meu bairro diz para recolher as fezes do seu cão, e, apesar de ser um bairro cheio de repúblicas, por causa da faculdade, existe um número considerável de casas de repouso. Quase toda rua tem uma. A chuva começou quando eu estava a uns 30 passos de casa. Agora tá caindo com força lá fora. E por aqui a gente agradece muito, porque não acontece o ano todo.


(Hoje é dia de preguiça, mas eu vou voltar a falar do coração. É que ele tá vazio agora. Romanticamente falando)

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

um pouquinho de conversa

Faz quase um mês que não passo por aqui. E não é porque não tenho o que escrever. Só não deu tempo mesmo. Já comentei que escrevo mais quando tô angustiada, e quando tô feliz eu sumo, né? Mas não foi o caso. Tive muitas boas ideias, bastante trabalho, altas bads, choros descontrolados, terapia. E, pra quem ficou pensando se arrumei um amor e não vim contar, por isso sumi, sinto informar, mas isso também não aconteceu ainda. Quando acontecer, prometo que conto tudo.

É que tá meio difícil apaixonar, sabe? Daquele jeito que me pegava antes. E nem é porque me falta sensibilidade, só não tá acontecendo mesmo. Paciência.

Hoje um amigo postou um vídeo tocando uma música que desbloqueou um milhão de coisas na minha cabeça. Fiquei tão emocionada, botei a música no spotify e ouvi muitas vezes em sequência. Nunca faço isso. Tenho playlists, gosto de ouvir álbuns inteiros, aí sim repetir talvez. Mas nunca a mesma música várias vezes. Aí lembrei de outro amigo, de quando a gente conversa e fala que sem música não dá pra viver bem, que falta trilha sonora pra nossa vida.

Esses dias não consegui segurar o choro em público. Eu nem sei o motivo. Aí pessoas que eu não imaginava o tamanho da conexão que a gente tinha construído, me acolheram de uma forma tão boa, me senti tão importante.

Eu acho que o amor dos amigos tá fluindo de um jeito ultimamente que o amor romântico não tá conseguindo ser relevante. Deve ser isso. Mas continuo querendo. Acho que, mesmo que eu não me sinta tão pronta (será que alguém tá?), sei que tô disposta. Eu mereço um chamego. Pode vir.


*a música chama "Trem do Pantanal" e eu gosto na voz do Almir Sater. Talvez muita gente não imagine que eu também gosto de música assim. Principalmente quem leu os posts bem antigos desse blog, que tem músicas junto com os textos. Mas é aquela coisa, uma trilha sonora diferente para cada momento da vida.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

desvinculos

Nunca quis ser daquelas pessoas raivosas, que saem de relacionamentos odiando a outra pessoa, que perdem a confiança em todo mundo, a esperança nas relações. E ainda não sou. Mesmo com tanta história que já escutei e passei. Eu até achava um absurdo não manter amizade com quem se compartilhou tantos anos bons. Foi então que percebi que meu nível de tolerância é que beira o absurdo. Chega a ser ridículo o tanto de perdão que distribuí sem que alguém, ao menos, pedisse. Pessoas mentem, Pri. E mentiras doem.

Não tive filhos, animais de estimação ou qualquer ser que pudesse gerar guarda compartilhada e, portanto, um vínculo com alguém. Nunca nem quis morar junto, casar, formar família. O medo de alguém nunca querer nada disso comigo já fez com que eu passasse longe de ter vontade. Por não precisar manter contato, eu não preciso ter amizade quando me faz mal. Simples, né? Mas doeu até eu aceitar e aplicar isso.

Realmente, o que será que eu perdi pra buscar o amor com tanta intensidade? E quem vai querer o amor de uma pessoa tão danificada?


*esse não é apenas sobre os ex e pessoas que significaram muita coisa, mas também sobre pessoas que nem chegaram a ser alguém na minha vida, porque já começaram mentindo.

**bads de domingo são as mais reflexivas.