quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Eles hadem, diz Berardo

Onde anda Joe Berardo, já se sabe o que se encontra: polémica em dose generosa. Ontem à noite cumpriu-se a premissa em mais uma edição do Prós e Contras, desta vez sobre a proposta de fusão do BPI com o Millenium BCP.
De um lado, Fernando Ulrich, do outro o comendador Berardo, e pode dizer-se que por aqui ficou o programa. A blogoesfera concorda, a ver pelos posts que encontro sobre o tema:
JCS, no blog Lobi, mete-se com a forma de falar de Berardo:
“Se você quer pôr toda a gente a falar espanhol na ibéria... - disse Joe Berardo a Fernando Ulrich, aludindo aos accionistas espanhóis presentes no capital do BPI. Até estamos com Berardo neste receio. Mas o que sugere o Joe? Que se fale aquela sua mescla de português, inglês, baba e degustação de amendoins?”
Igualmente forte, o post de Saulus Lúpus no blog Bujardas Negras:
“O tempo verbal hadem, do verbo hader, foi criado pelo Sir Joe Berardo, (...) durante a sua participação no debate do "Prós e Contras" (...). Pequenos detalhes da nossa história que o Bujardas tem o prazer de vos transmitir. Não se esqueçam: "Hadem". Muito dinheiro - pouco cérebro, é a receita ideal para fazer progredir este nosso linguajar, que em tempos foi chamado de "Língua de Camões".
Num olhar mais sério e interessado, encontro Helder no blog Insurgente:
“Não tenho um mínimo de respeito por qualquer empresário que se sirva do estado. Há dezasseis anos que sou cliente do BCP, há dez que sou accionista (...), mas se a opinião do Joe Berardo valer alguma coisa, salto fora. Não quero fazer parte de nenhum clube que tenha como sócio tal gente”.
Já Gabriel, no blog Blasfémias, pede explicações:
“O BPI e o BCP são entidades privadas. José Berardo é um accionista do BCP. O que é que estão a fazer na televisão? O que é que há ali para «peixeirar» que não tenha de ser resolvido no interior de uma administração ou de uma assembleia geral? Que interesse tem aquilo? Quem quer ver aqueles momentos de conversa de tão mau gosto? Às vezes ainda se entende que quem tem de viver da praça pública tenha de fazer e suportar certas coisas em público. Agora, Fernando Ulrich, está ali a fazer o quê?”
João Villalobos, no blog Corta Fitas, tinha adivinhado tudo umas horas antes:
“Se os senhores se portarem bem, daqui a meia-hora não há ninguém acordado ou sintonizado na RTP1. Se os senhores se portarem mal, há peixeirada de envergonhar as veteranas da Ribeira e audiências superiores às do «Casamento de Sonho». Ganhar, só ganham juízo. E mesmo assim a ver vamos.”Quando o programa chegou ao fim, parece-me que ficou a meio caminho: entre o sono e a peixeirada, ou melhor, entre o nada e o coisa nenhuma.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Crónicas em papel e em blog

A pergunta é legítima: será que ao disponibilizarem, gratuitamente, nos seus blogues, os artigos que publicam nos jornais, os cronistas não estão a esvaziar a imprensa tradicional do seu valor de mercado?
Na verdade, de Pacheco Pereira a João Miranda, passando por João Pereira Coutinho ou António Sousa Homem, cada vez mais há colunistas de imprensa que, poucas horas depois de publicarem em jornais, colocam nos blogues os textos publicados.
Ora, se eu compro, por exemplo, o Público, ao sábado, apenas para ler Pacheco Pereira, posso deixar de gastar 1,25 euros e basta-me para isso esperar umas horas até que a sua crónica apareça no blogue “Abrupto”, onde a poderei ler e guardar em papel sem gastar um cêntimo...
Esta é, naturalmente, uma reflexão que jornais e autores podem vir a fazer.
Outra, bem diferente, é aquela que vira do avesso a lógica da leitura. Exemplo: como todos os sábados, comprei o Expresso e li, ao longo do fim-de-semana, o que mais me chamou a atenção ou me interessou. Provavelmente hoje, segunda-feira, o jornal iniciaria o seu processo de falência e morte natural. Mas eis que, por causa de um blogue, 2 artigos que provavelmente me passariam ao lado, são repentinamente alvo da minha atenção.
João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos, acordou-me para os dois textos:
“O suplemento "cultural" do Expresso, escreveu ele, vale apenas porque intermitentemente insere bons artigos, coisas para pensar. O resto é sempre pequenas prosas por pequenos tartufos. Esta semana valem os textos de Nuno Crato sobre o ensino da matemática no "básico" (não adianta andar a distribuir computadores quando o sistema prepara mentecaptos através de facilitismos estéreis espelhados em regulamentos que querem dizer nada) e de Joaquim Manuel Magalhães sobre o regime, o "socratismo" da felicidade que espreita à esquina. (...) Ficam "algumas palavras" do Joaquim, de uma crónica terrivelmente intitulada "Derrocada": «(...) Destroem a classe média, precisamente aquela de onde, quando não sujeita às extremas pressões das insuficiências, quase sempre vi irromper as aberturas civilizacionais mais consistentes. Esta, não tendo para onde se voltar (já experimentou todos os partidos desta democracia), aceitará um dia politicamente o quê? Se é o espaço fundamental das conquistas democráticas, rapidamente também se torna o espaço da derrocada das próprias democracias. O nosso sistema político não estará já perigosamente em causa?»
Li o post e fui a correr recuperar o suplemento Actual do Expresso para ler os dois artigos, que são realmente relevantes e marcam os dias que passam. Poucas horas depois, no mesmo blog, eram disponibilizados na íntegra os textos originais.
O que resulta daqui?
Duas ideias: primeira, a de que a blogoesfera, quando tem credibilidade e inspira confiança, nos pode devolver aos jornais e forçar a olhar de novo para eles; segunda, a de que é essencial reflectir com precisão e rigor sobre esta relação entre jornais e blogues. Nalguns casos, por causa de um blog não lemos um jornal. Noutros, exactamente o contrário. Veremos o que o futuro nos reserva.

sábado, 27 de outubro de 2007

Domingo no rádio

No próximo domingo, entre as 11 e as 12:00, Na Antena Um, converso com Pedro Lauret, capitão de mar e guerra, membro da Associação 25 de Abril, editor do blog "Avenida da Liberdade" (http://www.avenidadaliberdade.org).

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Blog da Semana: "Da Literatura"

Chama-se Da Literatura e tudo indicaria que se trata de um blog dedicado aos livros, às letras. Redondo engano – e talvez por isso, uma escolha da semana.
“Da Literatura”, então. Poeta, ficcionista, ensaísta e crítico literário, actualmente ligado ao jornal Público, Eduardo Pitta é o autor deste blog, ainda que por lá apareça também o nome de João Paulo Sousa.
Bom, quem o alimenta é mesmo o poeta, assumo portanto que o blog é dele. Por que o integro na escolha do meu blog da semana? Bom, porque é um blog alargado na perspectiva, no horizonte, e que revela muito do seu autor. Quem goste de ler a poesia de Eduardo Pitta, ou quem acompanhe o seu percurso no jornalismo, tem aqui uma espécie de visita guiada à casa do autor. Sendo certo que é um homem com múltiplos interesses. Apesar do nome “Da Literatura”, o que lé se encontra são bons textos para ler. Seja sobre politica – ainda esta semana chamou "watergatezito" ao desabafo de Pinto Monteiro sobre as escutas telefónicas – mas também sobre o mundo internacional, a arte, o cinema, os livros, a vida.
Vale a pena, por exemplo, recuperar e ler a série de textos sobre Roma vista por Eduardo Pitta: uma cidade para lá da capital turística, uma cidade com pessoas e bairros e graffitis nas paredes e gente simpática e bonita e afável:
“Para o melhor e para o pior, a capital italiana é uma cidade do século XIX. Seria longo explicar porquê. Quem conhece, sabe do que falo. Quem não conhece, devia ir conhecer”. E entretanto ler a reportagem em partes do poeta e escritor. Fiquei com vontade de voltar a Roma…
No blog de Eduardo Pitta há espaço para o desabafo particular, o ensaio aprofundado, a reflexão ou o apontamento critico, como este que me levou a querer confirmar no cinema se faz sentido ou não:
“Jodie Foster, escreve Pitta, deu no goto à bem-pensânsia. Há muitos anos que cada novo filme seu chega envolto em tese. O mais recente, The Brave One, que entre nós se chama A Estranha em Mim, nem como telefilme da série B se safa. (…) Com boas intenções nunca se fez arte. É mesmo como cinema que a história de Erica Bain é um flop.”
“Da Literatura” se chama então este meu blog da semana – um diário, um jornal, tudo isso e um pouco mais no universo de gostos e interesses de um poeta e escritor. Vale a pena conhecer.

Preto e branco

A polémica começou quando o Prémio Nobel James Watson disse acreditar que os negros são menos inteligentes do que os brancos. O “Sunday Times” publicou as declarações e daí para a frente foi o disparate dos disparates, com toda a espécie de comentários. O senhor já pediu desculpa pelo que disse, mas a festa continua… Luis M. Jorge no blogue Vida Breve analisou os diversos tipos de reacção:
“A boutade do cientista James Watson, se teve algum mérito, foi o de nos revelar mais uma vez os fundamentos simbólicos da segmentação política: a desigualdade horroriza a esquerda, mesmo que provenha (principalmente quando provém) da natureza; já o outro, o estranho, o fraco, o estrangeiro, o muçulmano, o homossexual, o negro, fazem eriçar os instintos tribais de protecção que formam a perturbadora identidade da direita. De um lado a inveja, do outro o medo. Caminhamos em territórios familiares”.
Entretanto o cientista, além das humilhações publicas, viu canceladas conferências e de alguma forma limitadas as suas palavras.
Rui Ângelo Araújo, no blog Canhões de Navarone, vai atrás das sequelas do caso. Concorda que não se deve silenciar James Watson. Só que, escreve, “ninguém silenciou o homem. Cancelaram-se conferências, o que é um bocadinho diferente. (…) Não me ocorre proibir estudos sobre a inteligência dos pretos, das mulheres, dos gordos ou até dos níveos plumitivos portugueses. Mas, por favor, deixem-me pelo menos rir à vontade de quem propõe que a inteligência é negativamente afectada pela cor da pele, a vagina ou uns quilos a mais”
Pedro Sales, no blog Zero de Conduta recoloca a questão onde ela nasceu:
“James Watson, continuando o seu historial de proclamações polémicas na véspera do lançamento dos seus livros, tentou vender a banha da cobra. Escolheu uma polémica garantida. Não existe nenhum "tabu", como insinua José Manuel Fernandes (no jornal Publico), na conclusão científica de James Watson. O problema é que ela não é científica, mas vende a ciência para se legitimar e defender o mais profundo dos estigmas racistas”.
Sobre ciência, estudos e este tema, vale a pena dar um salto ao blog Cinco Dias, onde está um bem estruturado texto de Vasco Barreto, e outro de Sérgio Lavos, no blog Autoretrato – ambos demasiado complexos para em rádio os conseguir resumir.
Já num sentido oposto aparece o filósofo Desidério Murcho no blog Rerum Natura:“Watson, escreve, pode estar a ser vítima do “politicamente correcto”. Hoje é proibido pensar que as pessoas podem ser diferentes umas das outras em capacidades cognitivas, sendo tais diferenças correlativas às suas origens genéticas. Tal como é proibido dizer que o aquecimento global não é provocado pelos seres humanos. A proibição em si é grave.”
Vai em grande a polémica...
Não tendo nada a ver com o tema, mas sendo uma nota de humor relacionada com a raça, cá vai uma das ultimas de Rodrigo Moita de Deus no blogue 31 da Armada:
“Leio no Diário de Notícias que um deputado Angolano foi eleito para o parlamento Suiço. Suiça, repito. Em Portugal, país dos pantones, a nossa assembleia é de uma assustadora lividez.”
É sim senhor. E com esta me vou, para voltar amanhã.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O povo retirado da equação?

“Teremos referendo ou o povo vai ser retirado da equação?” – a pergunta, assim colocada por Miguel Portas no blog Sem Muros, dá o mote ao amplo debate que vai na blogoesfera sobre a ratificação do Tratado de Lisboa.
Como se não bastasse a delicadeza do tema em si, chegou agora o distinto Vital Moreira no blog Causa Nossa e escreveu:
"Os que defendem o referendo sobre o Tratado de Lisboa já experimentaram
lê-lo? E acham que algum cidadão comum consegue passar da segunda página? Não será tempo de deixar de brincar aos referendos?"
E pronto: caiu-lhe meio mundo em cima. Rui Cerdeira Branco no blog Adufe chamou-lhe paternalista e comentou:
“Serve essa complexidade agora de pretexto para desvalorizar e ridicularizar o exercício político por via referendária. O caminho que cegamente se trilha levará invariavelmente a um "Fiquem lá com a Europa que nós vamos por outro lado."
E remata: “Haja referendo porque SIM é cada vez mais uma excelente razão
. Tão boa como porque NÃO”.
Paulo Pinto Mascarenhas no blog da revista Atlântico concorda:
“Sem euroexcitamentos ou eurodepressões, acho que o referendo, agora que o tratado está aprovado, seria uma belíssima oportunidade para se discutir que lugar quer ocupar Portugal. Na Europa e no Mundo. Para votar “Sim”, porque não vejo a soberania em risco.”
Procurei alguém que dissesse não ao referendo e encontrei: Sebastião, no blog o Conserto das Nações, dá 3 razões para não referendar o Tratado:
Primeira, “a proliferação de referendos não me parece muito recomendável numa democracia representativa”. Segunda, “as campanhas referendárias tendem a assumir a forma de debates partidários e não de discussões sobre o que se pretende ratificar”. Terceira, “a política externa é tradicionalmente uma área opaca, que a generalidade da população conhece mal”.
Lá está a velha teoria: deixemos o povo em paz, ele não sabe do que fala...
Sofia Loureiro dos Santos tenta, no blog “Defender o quadrado”, explicar a lógica do Governo:
“Sócrates prometeu o referendo
em campanha eleitoral; nos últimos tempos tem tentado recuar, com receio que o resultado do referendo seja desfavorável, estando aliás em acerto com o Presidente da República”. Mas depois atira-se às contradições do habitual Abrupto:
“Para Pacheco Pereira, se Sócrates não quiser referendar está mal, pois desrespeita o povo que o elegeu, diminui a democracia e afasta os cidadãos dos governantes; se Sócrates referendar também está mal, porque o faz apenas e só porque daí tirará dividendos políticos internos, ganhando pela dúbia posição do PSD. Pacheco Pereira entrou em delírio, em plena esquizofrenia (ou desonestidade?) intelectual”.
E é assim que estamos, debatendo o referendo antes mesmo de debater o tratado.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Estranhos ruídos ruidosos

Ruídos estranhos - estará o auditório da Antena Um a ouvir ruídos estranhos neste preciso momento? Esperemos que não.
Mas fica o aviso: além do Procurador Geral da Republica, a blogoesfera também anda a ouvir ruídos estranhos desde que, no sábado, numa entrevista de imprensa, o Dr. Pinto Monteiro confessou que não estava seguro de que o seu telefone não possa estar sob escuta...
José António Barreiros, no blog Revolta das palavras sugere que o Procurador se queixe... a ele próprio. E pergunta: “Mas será que ele acredita que o PGR tem força e poder para conseguir evitar que lhe ponham o telefone sob escuta?”
Mais irónico ainda, José Teófilo Duarte, no Blog operatório, não acredita na tese da escuta: “Não estará com certeza a ser escutado, escreve. Sempre é o Procurador-geral da República. Em vez de se ir queixar para a comunicação social, não fazia melhor figura se fosse pôr o telemóvel a reparar?”
Rui Costa Pinto acha da “maior gravidade”, no blog Mais actual, a declaração do procurador e escreve: “A Lei não permite que os serviços de informações, ainda que dependentes do primeiro-ministro de Portugal, façam escutas. O que quererá dizer o PGR? Que os serviços de informações fazem escutas ilegais? (...) A entrevista de Pinto Monteiro não pode cair em saco roto. Não é normal um Procurador-Geral da República vir a público manifestar tal dúvida e fazer questão de dizer que não tem medo de ninguém”.
David Dinis, no blog O Insubmisso, nota uma coincidência relevante:
“O mais estranho na entrevista de Pinto Monteiro ao "Sol" não são os duques que ele diz que lhe saíram na rifa, nem as escutas que garante não controlar. É o facto de dizer isso apenas uns dias depois de ter ido a Belém conversar com Cavaco Silva. Ninguém me convence que não há uma carta escondida neste poker à Monteiro”.
Que carta pode ser essa?
Não sei, sinceramente. Mas não posso deixar de estar de acordo com Miguel Abrantes quando, no blog Câmara Corporativa, e sobre este tema, alarga a questão às ideias gerais do Procurador e escreve;
“Maior consternação está a causar a referência do procurador-geral da República ao baronato do Ministério Público, sempre sequioso de mordomias, rebelde à hierarquia e, em muitos casos, altamente preguiçoso (...). Apesar de estar há um ano à frente do Ministério Público, foi nesta magistratura que Pinto Monteiro começou a sua carreira e certamente sabe do que fala. Feito o diagnóstico, só resta esperar pela terapêutica”.
A saber: a questão das escutas é mais soundbyte do que matéria de fundo, mas nesse caso como no do funcionamento do Ministério Publico, se o Procurador tem o diagnóstico, o povo aguarda a cura dos males maiores.

"Porreiro, pá!". Porreiro, pá?

Uma busca de Internet rapidamente chegaria a essa obtusa conclusão: a expressão mais usada em língua portuguesa neste fim de semana na blogoesfera foi, obviamente, “Porreiro, pá!”.
Um descuido feliz – raro acontecer, não é? – dizia, um descuido feliz do primeiro ministro depois de uma longa maratona diplomática originou essa propagação imediata da expressão que José Sócrates segredou a Durão Barroso mas foi ouvida por todos.
Vamos ver o que encontro na blogoesfera…
Bruno Alves no blog Insurgente desvaloriza os acordos europeus:
“Sócrates quer fazer da “sua” Presidência da UE um sucesso aos olhos da “Europa”, para mais uma vez se engrandecer aos olhos dos eleitores nativos. Veja-se o que se passou esta semana: Portugal perde poderes no quadro institucional da UE, e não há uma palavra do Primeiro-Ministro sobre o assunto. A UE dá um gigantesco salto em frente, e não há uma reflexão do Primeiro-Ministro. Apenas se ouvem da sua parte (…) a sua habitual frase de que “este é um momento histórico”
Bruno Cardoso Reis no blog Amigo do Povo é mais optimista e crédulo. Escreve:
“Sinto-me tentado a acreditar (…) que Portugal nunca teve tanto peso efectivo no coração Europa como hoje. (…) Ilusões, dirão. Independência, independência - soberania mesmo face à Europa - era com Salazar. Tal seria, suponho, quando a tropa portuguesa andava a combater em África com camiões e metralhadoras alemãs e helicópteros franceses. Ou então talvez, logo depois, quando o pessoal revolucionário, que agora se reciclou em bloco, rebentou soberanamente com a economia de tal maneira que pôs o FMI a mandar cá em vez do BCE. Bons tempos, dirão! Talvez. E que tal fazer um referendinho sobre o assunto?”.
Valupi, no blog Aspirina B, certamente concordaria porque acrescenta: “A bebedeira da imbecilidade não vai conseguir entornar o facto: a presidência portuguesa esteve à altura do desafio, ou terá superado as expectativas, mostrando capacidades técnica e política irrepreensíveis”
O jornalista João Pedro Henriques, no blog Glória Facil, observa que
"José Pacheco Pereira já produziu 27 posts intitulados "A fuga em frente da Europa", mas nada de comentar o Tratado de Lisboa". Aliás, vai-se ao blog Abrupto e o que se encontra por lá são opiniões dos leitores do blog. Um exemplo, o de Telmo Martins que aproveita o blog de Pacheco para pedir de joelhos:
“Afinal alguém me aclara quantos Tratados foram assinados nestes dois últimos dias!? A julgar pela massiva difusão televisiva parece tratar-se de vários! Quais as implicações que acarretam para a vida dos povos europeus em geral, e para os portugueses em particular, para os 200 mil que estiveram na rua e para os outros que não estiveram”… Perguntas, tantas perguntas…
Na verdade, parece evidente que o Tratado de Lisboa é documento que ninguém conhece. Também parece óbvio que, ainda assim, merece palpites e opiniões de todos.
Por mim, vou estar atento à blogoesfera - a ver se por ela saberei melhor e mais claramente o que por ali se passou no Parque das Nações. Até agora, nada de nada.

domingo, 21 de outubro de 2007

Blog da semana: não um, mas três...

Não um, nem dois, mas três – três blogs que junto para a minha escolha da semana. Não é por acaso que o faço, obviamente: cada um à sua maneira, eles representam um tipo de presença na blogoesfera que demorou tempo a chegar, mas começa enfim a despertar, sem vergonha e com propriedade: falo dos blogues pessoais de políticos.
Toda a gente fala sempre de Pacheco Pereira, o piomeiro da coisa, e logo parece que mais nenhum politico anda na blogoesfera. Mas anda, andam mesmo mais, todos os dias mais. Do que observo, da qualidade e do estilo dos diversos blogs, escolhi três que se completam na sua diversidade: os de António José Seguro, do PS, Miguel Portas, do Bloco de Esquerda, e Pedro Santana Lopes, do PSD.
Para já, todos têm o nome próprio no endereço, apesar de Miguel Portas depois chamar ao seu blog “Sem Muros”. Assume que é um blog pessoal, “embora conte com outras colaborações que serão assinadas. Durante o segundo semestre de 2007 acompanhará, em registo diário, as Europas de que a Europa se faz”
E assim é efectivamente: um blog muito preocupado com a Europa no momento em que Miguel é euro-deputado – mas sem deixar de reflectir e pensar outros temas. Ainda há dois dias lá encontrei um rasgado elogio ao documentário “Guerra”, de Joaquim Furtado.
Noutro registo, porventura mais pedagógico, mas por outro lado com elementos de marketing e e imagem apurados, encontro o blog do deputado socialista António José Seguro. Faz pedagogia explicando o que faz um deputado, marca a actualidade elegendo o positivo e o negativo de cada semana (noto, por exemplo, que deu nota negativa aos dois policias que abalaram a transacta semana sindical...). Tem design - e esse design apura a imagem do politico ao lado da mensagem. Eu diria que é meio blog, meio site. Mas permite conhecer as suas ideias, o seu trabalho, e aferir da sua relação com quem o lê.
Por fim, o blog de Pedro Santana Lopes. É, na minha modesta opinião, o “mais blog” dos 3 blogs – porque reúne em si as melhores características de um meio de comunicação deste tipo: impressionista, imediatista, muito opinativo, absolutamente pessoal, escrito na primeira pessoa. É igual ao seu autor: com repentes, com ataques, com paixão. Santana Lopes pode ter muitos defeitos, mas tem essa qualidade (que na política em geral se paga cara): não vira as costas e é repentista. Um blog é um pouco isso – e nesse sentido o blog dele é exemplar. Um exemplo apenas, no fim do Congresso do PSD. Escreve Santana:
“Domingo, depois de um Congresso muito cansativo, apesar de não ter feito qualquer intervenção. Mas essa foi uma das maiores dificuldades. Explicar às pessoas o porquê dessa decisão. Não é fácil estar presente, sendo ex- Presidente. Ser um militante comum, mas, ao mesmo tempo, ter a noção da responsabilidade especial que se tem de respeitar, sempre. Falar, não falar, estar, não estar, participar, não participar. Ainda por cima, com as constantes, permanentes, solicitações dos jornalistas. Simpáticos e afáveis, mas com uma pressão tal que deve irritar quem vê".
É assim Pedro Santana Lopes, é assim o seu blog.
Os três que escolhi são fáceis de encontrar:
www.miguelportas.net
www.antoniojoseseguro.com
pedrosantanalopes.blogspot.com

São as minhas escolhas para uma semana cheia.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Domingo no rádio

No próximo domingo, entre as 11 e as 12:00, Na Antena Um, converso com Daniel Carrapa, arquitecto, autor do blog "A Barriga de um Arquitecto" (http://abarrigadeumarquitecto.blogspot.com).

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Outras palavras

Quem navegue pela imensa blogoesfera pode apanhar regularmente ataques: de fúria, de riso, de indignação. As caixas de comentários dos blogues espelham isso mesmo – mas com o tempo, pode ganhar-se também uma outra qualidade nestas viagens: o respeito pela opinião alheia, por mais estranha e obtusa que possa parecer. E é interessante pelo menos observar ou pensar em pontos de vista que jamais nos passariam pela cabeça. É por aí que vou hoje com alguns exemplos da semana.
Estamos nos dias em que se assinala o aniversário da morte de Adriano Correia de Oliveira. Evoca-se o artista, o musico, o compositor. Ouve-se de novo Adriano. Mas há quem não o oiça. É o caso de Rui Bebiano, que no blog Terceira Noite explica:
“Ao escutá-las agora, viajo no tempo, recuando ao país-Portugal, sequestrado e em permanente luto, no qual ele viveu quase toda a sua vida. Para mim que ainda conheci esse país, ouvir hoje Adriano é como revisitar uma prisão, como ler as memórias de um torturado, como ver um documentário sobre o país que foi (..). Dói-me e evito fazê-lo. Desculpem”.
Consigo compreender esta postura, apesar de não ser a minha e a de muitos. O mesmo se passa, noutro domínio completamente diferente, com a história dos empréstimos perdoados no BCP a familiares de membros da administração do banco. Toda a gente grita que é escândalo, toda a gente pede a responsabilidade e a cabeça de quem permitiu tal facto. No meio do barulho das luzes encontro um longo texto assinado por Nuno Pombo, no blog Incontinentes Verbais, que de alguma forma contraria a tendência generalizada para arrasar o BCP. Não o vou resumir aqui, é longo, vale a pena ler para ver o tema de outro ponto de vista, mas deixo uma frase que já abre o apetite:
“Considerar uma dívida incobrável não é sinónimo de perdoar uma dívida. O perdão reflecte-se no devedor, ao passo que a insusceptibilidade de cobrança é uma constatação, meramente interna, do credor”.
Mudando novamente de tema, a Cimeira da União Europeia em Lisboa também motiva muitos cmentários. À margem de todos eles, encontro no blog do advogado José Maria Martins uma absolutamente inesperada ideia:
“José Sócrates tem o dever, tem a obrigação de mostrar aos seus homólogos da União Europeia , a miséria que grassa em Portugal. Deve ir mostrar os bairros de lata ainda existentes na Grande Lisboa, deve ir mostrar os bairros onde os idosos vivem arrastando-se, deve ir mostrar o interior, decrépito, paupérrimo". E sugere mais visitas por aquilo a que chama "miséria de Portugal, país que entende ser”enfezado, que se abotoa com os subsídios que a França, a Alemanha, Reino Unido nos mandam , e depois são delapidados, quando deveriam ser aproveitados para nos alavancar para o desenvolvimento”.
Se eu estou de acordo? Não estou. Se acho que faz sentido? Não faz. Mas eu acho um escândalo o que se passou no BCP, e oiço Adriano pensando no país que ele sonhou, e acho que a Europa nos fez bem e nos fará melhor.
O que daqui resulta e é a minha ideia forte de hoje é apenas isto: a blogoesfera, pela sua liberdade total, obriga-nos a pensar noutros pontos de vista. E respeitá-los. E muitas vezes descobrir verdades onde só víamos nuvens, mentiras ou não víamos mesmo nada.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Guerra aberta

O lançamento foi bem feito: debates, reportagens de imprensa, fóruns de rádio: o documentário “Guerra”, que Joaquim Furtado preparou na última dezena de anos, dedicado à Guerra ultramarina portuguesa dos anos 60 e 70, criou enorme expectativa e foi seguramente um recordista de audiência na noite de ontem:
Shyznogud, no blog Womenage a trois, confessava-se expectante, e como ela muitos outros blogs por onde passei. Aliás, a polémica nasceu antes da estreia, com o nome do programa e com o debate no “Prós e Contras” de segunda-feira. Exemplo, que encontrei no blog Grande Loja do Queijo Limiano num texto assinado por José:
“A linguagem em Portugal continua a ser a da Esquerda. E para não se notar muito, Joaquim Furtado capou o termo. Em vez de Ultramar, chamou-se simplesmente Guerra. Não chega. É tempo de perceber que os termos usados para designar as coisas, são os que as designavam no devido tempo. E nesse tempo, era efectivamente Guerra do Ultramar, o termo certo para o acontecimento. Guerra colonial, foi termo apócrifo, divulgado logo depois do 25 de Abril de 1974, pela Esquerda, toda a esquerda, a reboque do PCP e do PS.
Pergunta-se: qual o termo certo, para designar a Guerra em África? A do tempo em que ela decorreu, ou seja, Guerra do Ultramar, ou a do tempo em que se procurou acabar com a mesma, de qualquer maneira, como de facto aconteceu?”
Lançada a polémica, arrancou a exibição do documentário. Vai dar muito que falar, não tenham duvidas. A amostra inicial já diz coisas...
“Vi o primeiro episódio e gostei, escreve Carlos Abreu Amorim no Blasfémias. A série promete. Imagens hiper-realistas, testemunhos credíveis e um fio narrativo fiel aos factos mas muito interessante. O retrato de um país alheado, com uma liderança impreparada que nunca percebeu o ultramar e os seus problemas”.
José António Barreiros no blog Revolta das Palavras adivinha o que aí vem:
“O Joaquim Furtado fez em televisão uma série de episódios que vão rasgar feridas que estão ainda mal saradas na pele dos portugueses. Trata-se da guerra, a do Ultramar, a colonial, a de libertação, a guerra. Uma guerra em que ele procurou não glorificar um dos campos contendores, o que corre o risco de desagradar a todos, aos que sentem merecer em troca do sofrimento os louros de uma medalha, para que tudo não haja sido em vão”.
João Vasconcelos Costa, no Bloco de notas, não perdeu tempo na análise ao arranque da série:
“ Devia esperar, reflectir, amadurecer a escrita, mas não resisto, escreve. Há alturas em que não se pode travar a alma. Parabéns, RTP, parabéns, Joaquim Furtado. Já não era sem tempo. Exorcismo, catarse, informação, cada um verá estes documentários à sua maneira, mas certamente sem a frieza de olhar de revés para telelixo, entre coca cola e pastilha elástica”A guerra colonial apaixona, mexe connosco, mexe com o passado e as convicções e as paixões. Esta série vai mexer com o país – e a primeira amostra aqui ficou.

Modas... e um gato

Com o passar do tempo – já lá vai ano e meio de atenta observação da blogoesfera – noto que há claramente diversas classes de bloggers no activo: os principiantes, os amadores, os profissionais, os esforçados, os veteranos.
Noto esta ideia de veterano, por exemplo, quando leio um post de Rui Cerdeira Branco no blog Adufe em que o autor já recorda os tempos em que a blogoesfera era de poucos e bons e solidários. Escreve ele, sob o título "Leopardos, chacais e marranos":
“Se os tempos fossem outros viria aqui, fazendo eco do post do Leonel Vicente, anunciar a novidade: o Pedro Mexia e o Pedro Lomba atiram-se à política a quatro mãos formando um Gattopardo, mas os tempos são estes e hoje linkar não está a dar.”
Não tarda lerei algures a clássica frase “isto já não é como era dantes”. Na verdade, por causa do post do Adufe lá fui conhecer o novo blog de Pedro Lomba e Pedro Mexia, o Gatto Pardo, cujo estatuto editorial é claro:
“Gattopardo é um blogue sobre política. Não representa ninguém nem presta contas. Não tem as quotas em dia nem pretende. Estuda com fé e realiza com dúvida. Usa consoante dobrada porque é italiano. É tão depressa leopardo como gato pardo. Não confunde um Churchill com um charuto. Não está de acordo com quem concorda connosco.”
O blog promete, claro. Logo ao primeiro take, explica ao novo líder do PSD algo em que ele obviamente não pensara:
“Não precisamos de uma nova Constituição porque esta é a Constituição saída do 25 de Abril. Há quem compreensivelmente não goste disso, quem preferisse desligar o documento da data, quem ache que a democracia podia ter vindo de outra maneira. História virtual é história virtual. A democracia aconteceu com o processo iniciado a 25 de Abril de 1974 e depois concretizado na eleição de uma assembleia constituinte, a aprovação de uma constituição e a realização de eleições legislativas e presidenciais”.
Estarei atento ao Gato Pardo. Mas em dia de novidades, anoto aqui mais uma: já não é só no mundo político que a blogoesfera faz concorrência aos meios de comunicação clássicos na cobertura de eventos. Depois dos Congressos dos Partidos, a moda alastra. E bem. A ultima edição da Moda Lisboa, que se chama Estoril mas ocorreu em Cascais, foi acompanhada dia a dia, com charme e estilo e bom humor, pelo blog Corta-Fitas, através do olhar apurado de Miss Pearls. Queixou-se do calor, recebeu porta-chaves e jornais e revistas, viu bons e maus desfiles, entrevistou estilistas, viu tudo. E contou. Melhor do que a generalidade dos jornais que li. Sem fretes nem enefeites.
Com estas 3 notas faço o dia – entre a moda literal, a moda dos blogues e um blog que vai ser moda à nascença...

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O "novo" PSD ainda mais velho

Seria óbvio, claro, começar a semana olhando o Congresso do PSD do ponto de vista da blogoesfera. Desta vez houve pelo menos 2 blogues a acompanhar o evento – Blasfémias e 31 da Armada. Em texto e em vídeo, fizeram a sua cobertura para quem passou o fim de semana ligado à net. Não foi o meu caso, por isso vou picar boas ideias soltas. Começo justamente no 31 da Armada com Rui Castro:
“Menezes deu indicações inequívocas de que vai fazer oposição ao governo pela esquerda. É a fobia que muitos ainda têm em afirmar-se de direita, como se de uma doença se tratasse. Fica, assim, órfã uma fatia considerável do eleitorado”
Paulo Pinto Mascarenhas também apanhou esta ideia no blog da Atlântico: “Segundo repetiu Luís Filipe Menezes, o PSD é “o partido da esquerda democrática”. Depois do PS - o partido da “esquerda moderna” -, do Bloco de Esquerda - o grupo da “esquerda socialista” -; e do PCP - o partido da esquerda comunista -; está explicado o atraso de um país em que só um dos cinco partidos com representação parlamentar diz que não é de esquerda”.
Ainda no 31 da Armada, Alexandre Borges repara que Menezes “fala com um olhar quase tão perdido como o de Bush, de quem não sabe exactamente do que está a falar, mas decorou muito bem”. João Nazaré, no blog Sortido Fino, notou igualmente o olhar de Menezes, que caracterizou como “Salman Rushdie style”.
Fernando Moreira de Sá, no blog Intervenção Maia, viu um líder do PSD “nervoso. Nem parecia que tinha ganho as directas. A sombra de Santana pairou sobre ele”.
Vendo a coisa pelo prisma optimista, que também faz falta, encontro João Miranda no Blasfémias a descobrir algumas boas ideias de Menezes:
“Privatização das águas, autonomia das escolas e controlo por conselhos municipais de educação, separação da saúde privada da pública, programação das obras públicas a muito longo prazo por consenso, acabar com a ERC”, entre outras que ali se registam...
Enquanto isso, Pacheco Pereira manteve o silêncio durante todo o fim-de-semana e promoveu no Abrupto o seu novo livro que reúne justamente textos sobre o PSD. “É a minha contribuição para o Congresso do PSD, escreveu. Pouco me importa se essa contribuição é desejada ou é um incómodo”.
Para contrabalançar a tendência, leio Rui Costa Pinto no blog Mais Actual:
“Luís Filipe Menezes fez um excelente discurso no encerramento do Congresso do PSD. Claro, frontal e com ideias alternativas”.
Luiz Carvalho, fotógrafo que viveu o Congresso por dentro, acha que há ali potencial, mas não no melhor sentido. Escreveu no seu blog Instante Fatal:
“Meneses vai dar cabo da cabeça a Sócrates e vai haver oposição cerrada ao engenheiro. Mas não consigo imaginar esta gente de novo no governo. Algumas destas figuras fazem parte do pesadelo recente de Portugal”.
No fim do Congresso, perece-me que a síntese está com Luís M. Jorge no blog A Vida Breve. Escreve ele:
“O PS deixará de ganhar eleições apenas quando houver, no outro lado, alguém com um pouco de credibilidade. Infelizmente, as bases do Partido Social Democrata não sabem, há muitos anos, o que significa essa palavra. E mal por mal, o povo sempre preferiu um ditador a um desnorteado. Sócrates perderá a maioria absoluta, mas não vai perder o país”.
Por mais voltas que queiramos dar, é algures por aqui, por entre todas estas ideias soltas, que anda a opinião sobre o momento politico que sai deste congresso do PSD.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Domingo no rádio

A partir de agora, e tanto quanto a minha caótica organização o permitir, vou anunciar aqui os meus convidados do prgrama "Pedro Rolo Duarte", que passa ao domingo de manhã, entre as 11:00 e as 12:00, na Antena 1 (e que fica em arquivo sonoro audível, não importável, durante mais ou menos um mês no site http://www.rtp.pt/).

Este domingo, 14 de Outubro, converso com Joáo Pedro Diniz, o autor do blog culinário/gastronómico "Ardeu a Padaria" (http://ardeu-padaria.blogspot.com).

Blog da Semana: "Visto da Economia"

(Excepcionalmente, crónica radiofónica em antestreia aqui, no blog, 17 horas antes de estar no ar...)
Hoje é o dia do Orçamento Geral do Estado – e por essa via achei que a minha escolha para Blog da Semana teria de recair sobre um sitio que se dedicasse à economia, ao mundo das contas e dos números. Infelizmente, este é um universo que, do ponto de vista jornalístico, está minado pelos interesses, pelas relações entre empresas, empresários e jornalistas, e obviamente também pela conjugação de empresas de media e títulos. Por isso, é difícil encontrar uma visão mais independente, ou pelo menos clara.
Encontro-a, então, no blog que escolhi para esta sexta-feira: Visto da Economia. Autora: a jornalista Helena Garrido. Assinatura: “Olhar, reflectir e debater Portugal e o mundo com a visão da economia”
Tem pouco tempo de vida, começou em Julho passado, coincidindo com a Presidência Portuguesa. Helena escreveu então:
“No dia em que se inicia a terceira presidência portuguesa da União Europeia nasce o Visto da Economia. Não podia ser melhor. (...) Vamos ter seis meses muito interessantes pela frente. O governo português tem o sonho de conseguir concretizar o Tratado Reformador, o sonho de ter um Tratado chamado Lisboa. Não é impossível.”
E explicou: “Podemos sempre tentar encontrar regularidades estatísticas para reforçar a expectativa de que é possível. Com excepção de Nice - o último e que é uma das grandes raízes dos actuais problemas na revisão dos tratados - os dois outros, Maastricht e Amesterdão foram assinados em pequenos países. Antes disso, com excepção do tratado fundador em Roma, o Acto Único Europeu que nos deu o mercado único não mereceu o nome de uma cidade mas também tem a sua assinatura ligada a pequenos países.
Independentemente do sonho, a verdade é que Helena Garrido comenta diariamente os passos e o estado da economia, de forma clara, inteligente e simples. E com as ligações que estabelece acaba por conseguir dar ao leitor comum uma perspectiva do que se passa.
Sobre este Orçamento que hoje chega a todo o lado, e que será debatido profundamente nos próximos dias, diz: “Enfrenta uma conjuntura muito mais difícil que o previsto”. E reenvia-nos para outro artigo onde escreve:
“O Orçamento do Estado vai prever um défice inferior aos 3% exigidos por Bruxelas. Mas aquelas que deveriam ser as contas públicas que relançavam a economia e preparavam o PS para a campanha eleitoral de 2009 perspectivam-se bem mais difíceis”.
Entre colaborações noutros meios de informação e os seus próprios posts, Helena constrói quase de raiz um jornal de economia sob a forma de blog. Um olhar inteligente e útil – por isso, naturalmente, o meu blog da semana.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Catalina

Qualquer cidadão comum que tenha acompanhado, de início de forma diária, e depois mais espaçadamente, o caso Casa Pia, acha sem grandes dificuldades que nada, rigorosamente nada vai suceder, e nunca vamos entender o que ali se passou, ou melhor dito, quem era o quê nos óbvios abusos sobre menores. Até aqui tudo é lamentavelmente pacífico.
Mas do nada nasceu uma entrevista da Catalina Pestana, e depois disso Cavaco Silva abordou o tema, e a actual provedora da Casa Pia veio dizer que não sabia de nada sobre continuados abusos até aos dias de hoje. Repentinamente voltou a Casa Pia às existências em cima do balcão.
Opiniões, vamos a elas, João Miranda, Blasfémias:
“A provedora da Casa Pia declarou hoje que não tem indícios da continuação da pedofilia na instituição. O que deixa em aberto duas hipóteses: ou não existe pedofilia na Casa Pia, ou a direcção da instituição é incapaz de a detectar. Ou seja, ficamos a saber o mesmo”
Antes, já João Gonçalves tinha deixado no Portugal dos Pequeninos uma excelente imagem do tema:
“Catalina Pestana dirigiu a Casa Pia e chegou ao fim concluindo que os abusos continuam, coisa que até um deficiente profundo imagina que acontece. Se assim é, a senhora não foi uma boa dirigente porque não exerceu o adequado controlo interno e descurou o mando. Não basta deitar lama para a ventoinha”
Esta imagem da lama na ventoinha bem podia ser a imagem global do processo Casa Pia – lama sobre lama sobre lama... na ventoinha...
Luiz Carvalho, no blog “Instante fatal”, sintetiza uma ideia que deve andar nas bocas de toda a gente: “A velha senhora indignada faz lembra o orelhas: denúncia no timing certo, quando já não pode ser vítima da sua verdade. Se sabe tanto porque não fez nada enquanto lá esteve? Não era também para limpar a podridão que para lá foi?”
No Blog “Papiro” encontro perguntas pertinentes colocada pelo pseudónimo Maremoto:”A antiga provedora da Casa Pia diz que continuam a existir abusos sexuais de menores na Instituição. A actual - provedora? - diz que é mentira. O Presidente da Republica diz que se deve investigar o caso. Será que as pessoas não sabem dizer a verdade apresentando provas?”Paira sobre Catalina Pestada essa suspeita: agora que saiu, fala. Enquanto lá esteve, o que terá feito? É nesse sentido que vai o blog “Ovelha Perdida”: “Ficou muito mal vir denunciar que continua a existir pedofilia na Casa Pia, um ou dois dias depois de ter abandonado a instituição. Era quando lá estava que devia ter falado e agido. Para criticar é preciso alguma moral”.
Resultado: em vez de contribuir para esclarecer, como deveria ser seu desígnio, Catalina Pestana ocupou os últimos anos no acto heróico de confundir. As autoridades, a Casa Pia, a Opinião Pública. Deixou-se fotografar na praia para aliviar a carga. Mas pela blogoesfera fora fica essa ideia duvidosa e pouco clara sobre a mulher que tinha nas mãos o papel mais simples de todos neste processo: ser água limpa e cristalina em pessoa. Não foi.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Polícias à solta

História resumida e rápida: dois polícias à paisana entraram na sede do Sindicato dos Professores da Região Centro e levaram alguns documentos, tendo interrogado sindicalistas sobre o tipo de manifestação que se preparavam para fazer durante a visita de José Sócrates a uma escola.
É óbvio que a coisa não podia correr bem aos polícias, e logo a seguir ao Governo. Comecemos por um comentário de um socialista, Medeiros Ferreira, no blog “Bicho Carpinteiro”:
“Lé-se e não se acredita.”
Realmente, não se percebe o chamado excesso de zelo, como lhe chamou Raimundo Narciso, no blog “Puxa Palavra”, acrescentando:
“Talvez por falta de experiência em manifestações e cordões humanos procuraram informações junto dos organizadores. Uma idiotice, obviamente. E tal idiotice deve ser tratada no quadro da corporação policial para que não se volte a repetir. Agora, dizer que o Governo praticou um «atentado à democracia»? Haja bom senso. E não se esqueçam do provérbio popular: «com quem ferro mata, com ferro morre».”
O comunista Vítor Dias, no blog “Tempo das Cerejas”, não tem as contemplações do seu ex-camarada e escreve:
“Não vale a pena estar com punhos de renda. Toda a gente percebe que os factos se apuram com dois ou três telefonemas e no máximo de duas horas. Portanto, insisto: o «processo de averiguações» é só para dar tempo às partes envolvidas para pensarem se é melhor ser o mexilhão a pagar, se é melhor ter o atrevimento de dizer que se tratou de uma inocente recolha de informação com carácter público, se é melhor dizer que se tratou de uma iniciativa legítima do ponto de vista de assegurar a ordem pública”.
Francisco José Viegas amansa as feras no blog “Origem das Espécies”:
“Durante todo o dia, pela rádio, ouvi falar do direito à indignação. Uma grande união nacional lutava pelo direito à manifestação. Que a democracia estava em perigo, que isto não podia ser, e que as liberdades estavam em perigo. Uma pessoa comove-se facilmente, mas volta à razão quando vê o espectáculo. Como se percebeu com algum bom-senso, a jogada saiu em favor de José Sócrates. A história de Pedro e o Lobo em mais uma variante.”
A montanha parece que pariu um rato apesar de serem preocupantes estes excessivos e permanentes excessos de zelo, desculpem lá as redundâncias... Aligeiro a coisa no final, com o humor do “Blog dos Marretas” sobre este tema. Titulo: “Novas Rotinas Policiais”
Texto: “A propósito da visita de agentes da PSP às instalações de um sindicato, a governadora civil de Castelo Branco diz que é um procedimento "habitual e rotineiro". Lá está: com ministros em acção pelo país, e centenas de sindicatos para todos os gostos, a polícia só tem tempo para as já "rotineiras" visitas aos sindicatos. E depois admiram-se com a quantidade de assaltos que acontecem todos os dias.”

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Vem aí o Congresso

O PSD não tem sossego: depois da eleição de Menezes, tem no próximo fim-de-semana um Congresso em Torres Vedras que pode recuperar o melhor do espectáculo do Partido: noitadas de faca na liga, bastidores e barões e bases e Santana Lopes ao rubro.
Tudo pode acontecer. Tudo? Bom, Marcelo Rebelo de Sousa já disse que não ia ao congresso. Pedro Correia, no blog "Corta Fitas", não entende:
“A ver se percebo, escreve ele: Marcelo Rebelo de Sousa não vai ao congresso social-democrata do próximo fim de semana porque acha "um erro o PSD debruçar-se sobre si próprio em vez de criticar o Governo". De caminho, considera "errada" a eleição de Luís Filipe Menezes, garante que Duarte Lima "não é a pessoa ideal para liderar" a bancada laranja no Parlamento, mostra-se convicto de que o partido "não aprendeu nada com as lições de 2004" e acusa Manuela Ferreira Leite de ter deixado Menezes utilizar o nome dela na recente campanha interna. Tudo isto na emissão de ontem do seu programa, em que uma vez mais aproveitou para fazer longuíssimas considerações sobre o PSD em vez de criticar o Governo. Virado para dentro do lado de fora.
Perceberam? Eu também não.”
Rui Costa Pinto, no blog "Mais Actual", também estava atento a Marcelo:
“Esteve ao mais alto nível, na RTP, a desconstruir Manuela Ferreira Leite. Com elegância e inteligência. A ”baronesa“ do PSD já prometeu responder no próximo Congresso. Será em português, tipo Gaia, ou em espanhol? “
Fica no ar a pergunta. Rodrigo Moita de Deus, no "31 da armada", prefere observar o regresso de Santana Lopes:
“Com o "número" na SIC Notícias e a vitória de Menezes, Santana ganhou novo fôlego. O "número" vai valer a ovação da noite no congresso. A vitória de Menezes vai valer o estatuto de reserva do partido. Santana tem mais “vidas” que Paulo Portas”.
Aliás, João Gonçalves no Portugal dos Pequeninos”, também recupera Portas à luz do renovado PSD:
«O dr. Menezes, consta, forneceu um suplemento de alma ao dr. Portas. Aliás, basta ler os amigos do dr. Portas para se entender que vamos passar por mais um "momento do fato às riscas". Portas vai espremer-se por se comportar, se não como um putativo "homem de Estado", pelo menos como um verdadeiro homenzinho ao pé de Menezes. Intervala e deixa para este o "povo que lavas no rio"».
Mas, há sempre um mas e João nota-o, “ambos correm sempre o risco de se encontrar entre uma fábrica e um mercado. E, até, de se atropelarem. Há pulsões que são tão irreprimíveis quanto irresistíveis.”
Rui Paula Matos, no “Macroscópio”, é demolidor para com o novo líder:
“A avaliar pelas aparições e desaparições (de Luís Filipe Menezes), nada de bom a conjuntura intermédia do PSD suscita - entre as Directas e o Congresso. Com efeito, Meneses tem rosto, mas ninguém sabe o que ele pensa acerca de nada; ele aparece de quando em vez, mas é para elogiar a quinquilharia santanista que ainda transformará a Lapa num baile de máscaras”.
Assim vai a blogoesfera que observa a laranja quando faltam quatro dias para o Congresso do PSD…

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Ser Benfiquista

A blogoesfera, como qualquer estrutura aberta a toda a gente, é palco privilegiado para o encontro de grupos de pessoas com os mesmos interesses, as mesmas obsessões. Basta por isso entrar num blog de um apaixonado por qualquer coisa para imediatamente nos linkarmos – isto é, ligarmos – a toda a comunidade que partilha o mesmo tipo de interesses.
Eis o que fiz hoje quando decidi procurar blogues ligados ao futebol, e especificamente ao Benfica, para aferir do estado de alma dos adeptos, agora que finalmente voltaram a ver uma vitória do seu clube, neste caso na liga.
O que se descobre então? Que a comunidade benfiquista presente na blogoesfera, apesar de satisfeita com o resultado, quer mais e melhor do treinador Camacho – ou Camatcho, como gostam de dizer. Ai de quem diga mal do glorioso Benfica, mas eles, os benfiquistas, podem...
D’Arc, blog Tertúlia Benfiquista:”Não me pareceu que o Benfica hoje tivesse mostrado estar muito melhor do que esteve na passada quarta-feira, por exemplo. A diferença foi que a bola entrou na baliza. O maior problema que a nossa equipa parece ter ultimamente é falta de confiança. Espero que esta vitória sirva de ajuda nesse campo”.
Bom, neste blog encontro links para outros e aterro no blog “Um zero basta”:
«Jogo fraquinho e sem garra, ali se escreve. Vá lá que ganhamos... se bem que se fosse pelo homem de negro não o teríamos feito. (...) De qualquer forma acredito que tenha acabado a pré-época por esses lados e colocando a malapata de lado, a partir de agora é sempre "salir a ganar"».E daqui salto para o blog “Bola na Rede B”:”Vá, ainda não estamos bem, não me interprete mal, mas o senhor está melhor, está melhor, é continuar neste caminho. Ganhe juízo, nada de recaídas”, aconselha o blogger anónimo.
Outro pseudónimo, Karadas, assina o blog “Ser benfiquista” e escreve, pessimista:
“De jogo para jogo o nível exibicional – amigo Karadas, exibicional não existe...! - tem vindo a decair. Exceptuando a partida com o Nacional, a verdade é que Camacho não trouxe, até ao momento, qualquer acréscimo de qualidade à equipa. E conta com um melhor naipe de jogadores do que aquele que foi colocado ao dispor de Fernando Santos”
Segue-se um arraso total ao treinador Camacho e os clássicos palpites de quem saberia dar a volta ao clube.
O que resulta desta amostra, no momento em que o Benfica volta a ter uma vitória, é esta ideia a um tempo feliz e triste: haver pessoas que se podem juntar, aproximar, trocar ideias e melhorar, por essa via, toda a comunidade a que pertencem, é um ganho feliz da blogoesfera. Perceber que, no fundo, nem por isso a atitude é mais positiva e menos “eu é que sei, o resto é conversa” – bom, essa é a parte triste deste olhar rápido que hoje dediquei, ok, eu confesso... ao meu clube...

domingo, 7 de outubro de 2007

Julgamentos populares

Se há coisinha que a blogoesfera faz com imenso jeito é julgar. Julgamentos, condenações, absolvições, basta dar uma voltinha pelos Blogs e logo se percebe para que lado pende o mundo. Não é excepção o caso da raptora de um bebé no Hospital de Penafiel, bem resumido por Carlos Abreu Amorim no “Blasfémias” a partir do relato do “Correio da Manhã”. A saber:
“Alice Ferreira saiu do Hospital de Penafiel com uma bebé que não era sua, passando por seguranças que nada lhe perguntaram. Alice não confessou o mal que tinha feito: se uma familiar não a tivesse denunciado, provavelmente aquela criança nunca conheceria a sua verdadeira mãe.Entretanto, a Inspecção-Geral da Saúde assegurou que o Hospital não teve qualquer culpa no sucedido e acusou a mãe de negligência – como sempre, o Estado defende o Estado e culpa as pessoas.No julgamento que agora decorre, o procurador disse que “os motivos que levaram ao crime são compreensíveis”. E não pede prisão para a raptora. Alice diz que procurava um milagre quando cometeu o crime. Afinal, encontrou-o: a Justiça portuguesa, que gasta milhões à procura de uma criança inglesa, aqui conclui que “foi um drama para toda a gente”. Pois foi. Sobretudo para o País com uma Justiça destas.”Eduardo, no blog “Bitaitadas”, estranha a indemnização em causa:”A criança foi bem tratada durante o período de rapto, a família assim que recuperou a bebé ganhou uma casa nova, roupa, comida, apoios financeiros, reconhecimento, solidariedade e acima de tudo... respeito. Agora, indignados com a sentença proferida pela Sra. Juíza, a família lesada reclama uma quantia na ordem dos 30 mil euros... Bem... cá pra mim deve ter sido o raio do empreiteiro que pediu mais uns trocos para acabar a marquise”.O julgamento continua, como bem se vê no blog “360 Graus” com a pergunta que se segue:
“Este tipo de sentença está bem longe do meu conceito de justiça! Será que se fosse uma menina inglesa desaparecida de um resort de luxo, teria o mesmo desfecho?”
Outras perguntas, bem mais pertinentes, deixa Pandora no blog “O Lado B da Vida”:
“Haverá dinheiro que pague impedirem um pai e uma mãe de assistirem aos primeiros sorrisos e gestos de um filho? Como reagiria o Juiz que decretou a sentença ou mesmo qualquer um de nós, a quem raptassem um filho? Não será altura de termos uma Justiça que seja mais justa e com penas mais severas?”
Emoções à flor da pele, desconfiança na justiça. Fecho com o comentário de Pacheco Pereira no blog “Abrupto”.
“Se a senhora que raptou uma "menina" num hospital e que foi descoberta um ano depois, tivesse mais dois ou três anos de convívio com a criança, passaria a ser "mãe do coração"? E que diriam os pedopsiquiatras, esta nova categoria jurídico-mediática?”
Volto ao começo: na blogoesfera julga-se demais. Mas por outro lado sente-se – e não é demais sentir – como pulsa o coração de quem olha para Portugal e nem sempre gosta do que vê.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

"Bloguitica" fora do carreiro da formiga...

Em ano e meio de Janela Indiscreta habituei-me a uma rotina na blogoesfera. Estou atento aos novos blogues, a blogues fora do formato comum, mas há sempre uma espécie de caminho das pedras que percorro invariavelmente todos os dias. Desse caminho fazia parte o blog “Bloguitica”, de Paulo Gorjão, seguramente um dos que mais citei nestas crónicas diárias. Porquê? Bom, basicamente porque o blog deste professor universitário vivia num registo de rigor e de uma observação muito incisiva da vida politica portuguesa. Era uma espécie de, ao mesmo tempo, agenda politica e registo de interesses (evidentemente desinteressado). Analisava, interpretava, e dava ordem à desordem do mundo político nacional.
No dia 30, Paulo Gorjão fechou o blog. Por “coincidência”... No mesmo dia em que Pacheco Pereira virou ao contrário o símbolo do PSD e Menezes se tornou líder do partido.
Como escreveu João Gonçalves, Paulo Gorjão faz falta à blogoesfera e não há politico nem politica que justifiquem o seu afastamento. Assino por baixo.
Dito isto, fico um bocado como as formigas sem carreiro, ando aos papéis pela blogoesfera encontrando, aqui e ali, posts que valem a pena, pequenas pérolas... Um, com ironia, ainda no âmbito do PSD, de João Villalobos no “Corta-fitas”:
“Enganam-se os que escrevem que agora «Marques Mendes vai iniciar uma travessia do deserto». Não percebem que isso foi justamente aquilo que acabou de fazer”.
Outra bem observada nota de Victor Abreu no blog “Jantar das quartas”:
“Aqui há uns tempos, a RTP fez uma publicidade em que apareciam caras "da casa" e espectadores anónimos a dizer que a RTP era "o canal da Judite", "o canal da D. Genoveva", "o canal do Malato", "o canal do Sr. Costa", e por aí adiante. Ontem, liguei para a SIC Notícias, e apanhei mais uma vez com Mário Soares a ser entrevistado pelo inevitável Mário Crespo. Decididamente, a SIC Notícias é o canal do Mário”
Ainda no campo do jornalismo, algo que também notei ontem e que Vital Moreira sublinhou no “Causa Nossa” a propósito da manif dos policias:
“A televisão mostrou umas centenas de manifestantes. Os próprios organizadores reivindicam apenas uns equívocos “mais de mil”. Mas alguns jornais conseguiram ver “mais de 3000 elementos”. É o "milagre da multiplicação dos polícias", a acrescentar à Bíblia...”
E por fim, um daqueles notáveis bocadinhos de vida que Pedro Mexia nos oferece regularmente no blog “Estado Civil”.
Intitula-se “O verbo «descontinuar»”. Ei-lo:
“Agora os jornais não fecham e as empresas já não encerram. Agora os projectos são «descontinuados». Há quem estranhe o estranho eufemismo. Mas eu conheço esse verbo há muitos anos. Nunca nenhuma mulher me disse: «És um estupor e nunca mais te quero ver à frente». Geralmente elas dizem com voz meiguinha: «Acho que esta relação deve ser descontinuada».”
Pedro Mexia no seu melhor. Pronto, foi um dia em que abri a Janela a pérolas soltas na blogoesfera já com saudades do agora extinto Bloguitica.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Menezes líder (Parte II)

As eleições directas no PSD trouxeram para a praça pública uma palavra, um adjectivo: populista. Diz-se que Luís Filipe Menezes ganhou a liderança do Partido com o seu estilo populista. E dizer isto é obviamente pouco simpático para o novo líder. Insisto no tema nesta terça-feira, porque há um post absolutamente genial no blog “Blasfémias”, assinado por João Miranda, que decidiu iluminar-nos a todos sobre o significado da palavra populista. Em 18 pontos, aqui vai na íntegra...
“Populista é
1. Fulano que agrada aos seus eleitores.
2. Outsider (Pessoa que não pertence ao grupo de amigos de X).
3. Fulano que promete 150 mil empregos.
4. Pessoa que exibe o neto na televisão.
5. Candidato que mergulha no Tejo.
6. Candidato que promete que não vai aumentar os impostos.
7. Político que não é de Lisboa.
8. Político de Lisboa que gosta de futebol.
9. Pessoa que oferece frigoríficos em vez de computadores e telemóveis.
10. Pessoa que compra os seus eleitores com fundos de campanha em vez de os comprar com o orçamento de estado.
11. Autarca (excepto Rui Rio).
12. Político que governa para os bairros sociais (excepto Rui Rio).
13. Pessoa sem o direito divino a governar.
14. Indivíduo que não pertence à Maçonaria nem à Opus.
15. Pessoa sem relações com o eixo Lisboa-Cascais.
16. Pessoa que não andou no Liceu Pedro Nunes.
17. Pessoa fora do círculo de amigos de Paula Teixeira da Cruz.
18. Político sem "caras conhecidas" na sede de campanha.”
... Ou seja, de populismo e populistas está a politica portuguesa cheia. Filipe Menezes é apenas mais um. É notável esta demonstração clara e inequívoca de como muitas vezes nos precipitamos a analisar os factos e a crucificar pessoas sem antes olhar à volta e ver quem nos rodeia. João Miranda viu, só por isso valia a pena voltar ao PSD e a estes dias difíceis que atravessa.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Menezes líder (parte I)

O problema é mais este: por onde começar? Não houve cão nem gato que não tivesse uma palavrinha a dizer sobre a surpreendente eleição de Luís Filipe Menezes para a liderança do PSD. Dos mais notáveis aos mais anónimos, há opiniões para todos os gostos e a palavra populista entrou no top 10 das mais usadas.
Vamos então viajar nesse maionese de ideias, começando pelo incontornável Pacheco Pereira no blog “Abrupto”. Para já, notar que ele virou o símbolo do PSD ao contrário - agora naquele blog só se encontra a seta virada para o chão. O soundbyte de Pacheco é este:”Na lista dos pecados mortais inclui-se a "preguiça" e muita gente pensa que o pecado é mesmo a preguiça. Não é: o pecado mortal é a acédia. (...) a acédia é a indiferença face ao mal, uma "tristeza" face ao bem que mata a acção, um torpor perante uma obrigação presumida. Um dos grandes e eficazes eleitores de Menezes foi a acédia”
Outro notável, Pedro Santana Lopes. Escreve no seu blog:
“Na política, há perder e há ganhar. Embora muitos, por eles, nunca tenham ganho nada. Por isso mesmo, alguns já queriam pôr em causa as directas. Ficou provado que não há método mais adequado, para "as bases" fazerem prevalecer a sua vontade soberana”.
Outras ideias e opiniões soltas e concisas... Francis Afonso no blog “Berra boi”, diz: “Ninguém no seu perfeito juízo emprestava um automóvel a Luis Filipe Menezes, a não ser que lhe dessem um carro sem travões no topo da serra. Foi precisamente isso que fizeram. Digam lá o que disserem, isto das bases é gente sensata. Agora é só esperar”.
José Medeiros Ferreira recorda, no blog “Bicho Carpinteiro”, que a “vitória de Filipe Menezes não é inédita nos anais do PSD. Quem era Cavaco Silva em 85 senão um populista com umas luzes de economia global que ganhou aos notáveis da altura o congresso da Figueira?”E no blog “Zero de Conduta”, Pedro Sales analisa a situação da seguinte forma:
“O PSD que nós vemos nesta desgraçada campanha é o PSD que existe. E não me parece que vá desaparecer para dar espaço a novos personagens. O PSD vai seguir o seu caminho, entregue a actores secundários, enquanto não vislumbrar o tempo para tomar o poder. O seu termo de comparação não é a refundação francesa, mas a travessia do deserto dos conservadores britânicos”.
Adolfo Mesquita Nunes no blog “Arte da fuga” prefere falar directamente para o Partido: “Não se sabe bem o que pode agora acontecer ao PSD. Sobretudo a estes baronetes habituados à távola redonda dos destinos do país e da social-democracia lusa. Mas temos alguns sinais do que podem estes baronetes fazer quando se sentem ameaçados ou postos fora da linha da frente da sucessão. São até capazes de ser os primeiros soldados de ataque a um governo do seu próprio partido. Serão pois, por maioria de razão, capazes de dar conta desta liderança que lhes aconteceu”No meio de tantas opiniões, sublinho a de João Gonçalves no blog “Portugal dos pequeninos”. Directo, critico, incisivo – sempre com um recorte de humor admirável - ei-lo:
“As "elites", as eternas "elites" do PSD fariam bem em meditar nesta vitória da "feira do relógio" sobre a "loja das meias". Cavaco Silva, o "noivo" de Sócrates, também. No meio disto tudo (do "tudo doido") pode ser que Santana Lopes aceite ser líder parlamentar como aqui já defendi. Afinal, foram "os seus" que ganharam. Agora não tem desculpa para ficar a ver passar os comboios”.
Um comboio, foi mesmo um grande comboio passou por cima do PSD este fim de semana...