domingo, 2 de março de 2014

Circunscrevendo um Esquecimento




Num preciso instante o tempo é preciso
quando o movimento do mundo   precisamente invisível
faz convergir as horas  autónomas   os espaços  lassos   os percursos  dispersos
em circunstancial coexistência


Na simultaneidade surgem as silabas   as consoantes    as palavras
Na convergência acercam-se passos   intersectam-se traços
Irrompe o ângulo


O tempo é abreviadamente escasso
Uma breve impertinência      impermanente
Que   lentamente   se dissolve na memória
Inóspito depósito de indizíveis incongruências

 «Nunca te esquecer sem te lembrar»


As palavras estendem-se num eco errante
Escutam-se   confundem-se   enredam-se
Enleiam-se no sopro de um vento adverso
Sussurram-se como liturgia fúnebre de um mito

( Mortas   as palavras são rosas)


As palavras ateiam-se   inflamam-se    explodem
Deflagram no corpo exposto   ao passado

Todo o termo é instável movimento
Assim como oscilante é a raiz do medo   
                                                           que nos forma
                                                                                  Indefinido pêndulo
                                                                                Irregular compasso
                                                                            Inevitável fissura


E se    num acaso    um rasgo rasga o tempo
Logo uma fenda  no tempo se pretende     (amplitude)


Na palavra concreta          incerta
Na distância incerta          constante
Na palavra que aguarda        distante


Digo horas vagas vazias
Digo indefesa inerte implosão
Digo transgressão


Escrevo
Catarse circunstanciada circunscrevendo um esquecimento
(quase caminho)
Verso verso    cinza cinza   passo passo