I.
Há no ponto final um traço conclusivo
Um peremptório termo
Um concludente absolutismo que me atormenta.
Como pausa maior da voz
O ponto é um tempo sustado num só sinal
Um lugar abrupto
Um espaço curto
Um sopro subordinado
O tom que separa o tom
Há no ponto final uma ausência
Um idioma ausente
Um silêncio cansado
É o ponto que encerra a fala ou a fala encerra o ponto?
II.
Há na vírgula um intervalo inconclusivo
Uma inflexão desconhecida
Uma inconcludente relatividade que me inquieta.
Como pausa menor da voz
A vírgula é um tempo dobrado num exíguo sinal
Um conciso sulco
Um respirar avulso
O espaço entre espaço maior
Há na vírgula uma conjugação adversa
Uma sequela perversa
Um silêncio semi-breve
É a vírgula que suspende a fala ou a fala suspende a vírgula?
III.
Há na reticência uma fala muda
Uma entoação desnuda
Uma ênfase insubordinada
Uma sensação de impunidade que me seduz
Como voz sem voz
A reticência é um indício, um vestígio, um sinal
Um tempo imprevisto
Um espaço oculto
Um lugar de culto
O rasto a desvendar
Há na reticência uma voz suspensa
Uma insinuante subjectividade
Um canto por cantar
É da reticência que nasce a fala ou da fala nasce a reticência?
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