Suspeito de que este não é o momento propício - M. Barroso aura bien d'autres chats à fouetter - mas há algumas coisas que precisam de ser uniformizadas com urgência ao nível da CEE (que saudades desta expressão, não é?). A primeira é a aposição de manteiga na tosta mista. Quem não teve já a experiência de pedir uma tosta mista, só assim, e receber umas fatias de pão aquecido a escorrer manteiga, vagamente separadas por películas de fiambre e queijo igualmente engorduradas? Evidentemente, a reacção natural é, no lanche seguinte, pedir uma tosta mista sem manteiga. Contudo, não importa se o café é o mesmo ou não, existe um risco elevado de que @ funcionári@ ponha uma expressão entre o ofendido e o desdenhoso e nos repreenda: "nunca pomos manteiga na tosta mista, a não ser que o cliente peça". E assim, o cidadão europeu fica entre a Berlenga e o Baleal, tendo que decidir entre o risco de comer uma tosta lambuzada e o de ser tratado como um atrasado mental. Perguntar como fazem as tostas não resolve o problema, porque, se forem da seita que não põe manteiga, continuam a olhar-nos como se fôssemos imigrantes noruegueses. Ao fim de alguns anos de recolha de dados, posso certificar que o problema é europeu e que nenhum Estado parece estar interessado em resolvê-lo. Isto é suficiente para uma intervenção padronizadora da CEE. A minha sugestão é simples e fulminante: 1. A tosta mista não leva manteiga. 2. Em derrogação ao nº 1, a tosta mista pode levar manteiga a pedido do energúmeno. 3. Quando a tosta mista trouxer manteiga não solicitada, a vítima tem o direito de se erguer e gritar tão alto quando puder: "e se fosses passar manteiga nos brincos de quem te fez?", sem temer qualquer consequência.
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terça-feira, fevereiro 22
[174] Pragas modernas: os cuecas culturais
Embora não haja ainda dados oficiais, fonte policial confirmou já o aumento abrupto, nos últimos anos, do assédio e importunação cultural, essa praga moderna que vem minando as bases da sã convivência entre as pessoas dos vários sexos. A fonte sublinhou como a internet em geral, e a blogosfera em particular, têm contribuído para o fenómeno: "Trata-se de excelentes caldos para a propagação do exibicionismo cultural, pois privilegiam o contacto breve e superficial que permite apanhar a vítima desprevenida perante referências bizarras e descontextualizadas. E quando a vítima consegue reagir, afirmando, p. ex., 'Cícero nunca escreveu isso!', o cueca cultural já está longe, mostrando lascivamente as relações entre o modo de vida dos Inuit e o gato de Schrödinger". Mas a importunação cultural também vem ganhando expressão na vida real. Há menos de um mês, foi finalmente detida a "mulher do Jardim Botânico", a que abria a gabardina branca para exibir aos passantes O Labirinto da Saudade que lhe tapava as partes pudendas, ao mesmo tempo que recitava páginas da correspondência entre Arthur E. Waugh e o seu feitor. Menos sorte teve a Menina Donzília das Neves, que nos narrou a sua traumatizante experiência: "Convidou-me para ir a casa dele, e já estávamos no sofá, meio enroscados, mão por cima, mão por baixo, quando de repente ele puxa um cordão de seda e a grande cortina de veludo vermelho no fundo da sala cai, revelando as obras completas de Abelardo e Ockham. Peguei na roupa e vesti-me, horrorizada, fugindo para a porta, mas mesmo assim ele tentou citar Musset a propósito!". Jovem: denuncia os cuecas culturais antes que seja tarde de mais.
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domingo, junho 27
[173] Snoopornographo MC rules:
Blow my vuvuzela*
come here sista_________blackberry marmalade like cockroach honey _____oozin' down my way
wet your beefy lips ______bring'em to my fella never mind the ball game__just blow my vuvuzela
(female chorus The fat black tires): ooooh-ooooh..... vuvu, vuvu, vuvuzzzzizzzazzzelaaaaahhh.... my humongous vuvuzela - gag-choke-gag)
yo... yo... there ain't no stress ___ careful with those teeth cos' the ace is back I can feel that you still feel too dark inside my vuvuzela'll do you good ____ keep your mouth open wide yo... yo..._______fuckin' mouth open wide
(female chorus The fat black tires): ooooh-ooooh..... vuvu, vuvu, vuvuzzzzizzzazzzelaaaaahhh.... my yoghurtous vuvuzela - gag-choke-gag)
A Humanidade tem progredido por causa do ditado "primeiro o dever, depois o prazer", ou noutra versão, "primeiro a obrigação, depois o alívio da tensão". Ora porque esta ideia parece a todos muito avisada, e com muita razão por si, todas as pessoas se lhe submetem de bom grado, mesmo quando a acumulação dos deveres atira os folguedos para calendas improváveis. Todas? Nem todas! Naquele dia 16 de Fevereiro de 1899, há exactamente 110 anos, Félix Faure, que presidia ao destino da França, preferiu entregar-se aos braços - ou, ao que parece, à boca: dele escreveu, deliciosamente, Clémenceau: "Il a voulu vivre César, il est mort Pompée" - de uma jovem fille de joie, em vez de se entediar com o expediente. Esse bravo Gaulês, que vivia certamente sob o adágio "as que se dão, ninguém no-las tira", percebeu que aquilo era muito mais importante do que maçar-se com correspondência. Há sempre alguém que poderá aborrecer-se por nós (como de facto deve ter ocorrido com o seu sucessor), mas um broche é intransmissível. De certa maneira, Faure deu a vida por uma ideia. Saibamos tirar daí os ensinamentos devidos e dediquemo-nos ao dever sempre que o prazer o permita.
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domingo, fevereiro 8
[170] Manual de pornosofia (fragmentos)
"(...) A operatividade do deslocamento enquanto dispositivo pornosófico mostra-se à evidência no seguinte exemplo: tratando-se de protagonistas humanos, a posição vulgarmente designada por canzana é muito apreciada pelos pornófilos, provavelmente em virtude da remissão para um registo de animalidade; todavia, e não menos curiosamente, ao porno-zoófilo quase aborrece a posição canzana na interacção humano-animal; a cena rara e procurada é a do vetusto missionário, tanto nas combinações mulher-cão (cavalo, bode, tamanduá, etc.), como nas combinações homem-cadela (cabra, tamanduá-fêmea, etc., égua é mais difícil) (...)".
A crise acaba por atingir os sectores da vida social que lhe são aparentemente mais imunes: hélas, as pessoas casam menos; e quando casam, vestem mais pronto-a-vestir; e quando casam e compram roupa decente para o casamento, já não têm idade para usar véus. Enfim, o negócio aqui na empresa assume a curva descendente da cauda do vestido de noiva, e todos temos longos períodos de tédio, dedicados a eliminar vibrissas do nariz, coçassão de virilhas (actividade unisex) e jogos de computador, e assim. Algumas das minhas colegas especializaram-se no sudoku. Eu, apesar do elevado índice semantografonológico da palavra (que nos remete para um esforço - sudo, de transpiração - associado a um pequeno buraco escuro e húmido) , e porque sou contabilista, não me sinto muito atraído pelos jogos numéricos. Se temos de nos orientalizar, prefiro ocupar estes tempos mortos no haiku - que é como quem diz: haja poesia! Deixo aqui o primeiro haiku que me saiu dos dedos, por assim dizer:
Fazendo prova de estonteante assiduidade, volto ao vosso contacto para vos prevenir, de forma desinteressada e altruísta contra uma certa e determinada publicidade possivelmente exagerada. Já aqui se fez referência (ou se não, devia ter-se feito) àquele maravilhoso reclame televisivo onde Fátima Lopes, narrando como também ela se sentia... "inchada", incitava as portuguesas a tomar Activia para melhorar o trânsito intestinal, desafiando-as a regressarem daí a uns dias para se "verificar" o resultado. Felizmente, acho que ninguém voltou, ou, pelo menos, não da maneira que se podia temer. Ora, parece que a Fátima deixou de fazer publicidade cripto-erótica para se dedicar à exagerada. Agora dá a cara por um creme anti-rugas da Garnier, ostentando um tomate lisinho na mão. Ainda que provisoriamente, sou peremptório: engano. Já experimentei e, passadas 3 horas e meia, continuam exactamente na mesma.
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terça-feira, agosto 19
[167] Alegorias populares
Agora estou com um bocadinho de pressa, mas não queria deixar de partilhar convosco um piropo que ouvi hoje um gestor de conta dirigir a uma transeunte com um trem traseiro poderoso:
... a Hillary tem potencialidades. Agradam-me aquelas bochechinhas acolhedoras. Lewinsky é um boião de perplexidades.
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quinta-feira, janeiro 31
[165] Mistérios da Humanidade
Uma discussão crucial dos nossos dias é a que se trava entre o evolucionismo e o criacionismo, quer dizer: sabermos se o Homem (e também a Mulher), são uma obra divina ou uma invenção de Darwin. Essa discussão tem reflexos brutais na mundivisão contemporânea. Chegámos todos a ser macacos (e macacas)? Ou a Mulher deriva directamente de uma clonagem falhada? Muitas são as questões, e assim. Mas nem uma nem outra destas correntes de pensamento resolve o mistério que desde sempre atormenta a Humanidade: o que surgiu primeiro - a esteatopigia ou a elefantíase peniana? Um evolucionista favorecerá, provavelmente, a esteatopigia: todo o organismo tende a perpetuar a sua espécie e, perante nádegas encombrantes, desenvolve as suas próprias estratégias para atingir o alvo (tese do priapismo necessário). Inversamente, o criacionista é mais sensível à harmonia do universo, à ordem do conforto e da adequação: o aparecimento de pénis descomunais (em virtude do ab-uso e do auto-comprazimento frequente) requer uma correcção à escala, para protecção da(s) parte(s) feminina(s). Não admira, por isso, que a esteatopigia tenha diminuído ao longo dos tempos, na proporção directa em que a canzana primeva foi sendo substituída pelo moderno missionário. Evolução que só foi possível depois da descoberta da técnica do entrançamento de fibras e da consequente produção em massa de esteiras. Mas isso já é outra história.
[163] As Divas de O Pornographo: Charlotte Rampling
Na minha qualidade de Vice-Presidente para as Animações Culturais e Assim (noto que sou o único sem título académico, mas em compensação a única Excelência, e isso parece-me uma posição realista no actual conspecto da situação político-financeira), trago-vos a segunda diva de O Pornographo. Ela já tinha ameaçado no Porteiro da Noite. Mas a razão definitiva acontece aqui entre os -00'22 e os -00'15. São 7 segundos que, à bon entendeur... salut. É como se diz na música, aliás cantada pela Gibbons (nada é deixado ao acaso), "so strong my desire". (Clicai no vídeo e, uma vez penetrados no youtube, vêde aqueles 7 segundos - aqui, entre os 00'53 e os 01'00 - em écran inteiro)
A semantografonologia é uma ciência que se dedica ao estudo da congruência entre o sentido, a grafia e o som das palavras. O seu objectivo é estabelecer o índice semantografónico de cada vocábulo, que conhece cinco graduações, a saber: nulo, vestigial, marquesmédio, impressionante e brutal. A ambição de todo o semantografonólogo é identificar e coleccionar, como borboletas perfuradas na esferovite, palavras com índice brutal. No meu top pessoal, de momento, encontra-se badalhoca, por razões que explicarei a pedido. Hoje reflectirei apenas sobre o potencial semantografónico do vocábulo pachacha, adiantando desde já que lhe atribuo um índice brutal. Preliminarmente, notareis que é unissémico, e isso é muito importante para a nossa ciência. Signos polissémicos angariados no reino animal, como pussy, chatte, minou, pito, parreca, rata ou passarinha, ou no domínio minero-geológico, como cave, greta, caverna, gruta, racha, fenda, grand canyon ou o aliás interessante morcegueiro, não têm a necessária precisão semântica para se proceder ao exame da congruência gráfica e fonética. O mesmo sucede com o saboroso orquídea salmonada. Entrando na matéria, pachacha é graficamente sugestivo. A insistência no "h", com sua forma de receptáculo carnento (e sua hastezinha de pegar), é muito mais marcante do que o "x" normalmente utilizado para designar o cromossoma feminino, e nem serviria trocá-lo pelo "y", que supõe já a mulher vista numa certa posição (e insinua, até, um cordãozinho de tampão a espreitar). Não por acaso, o "h" é sistematicamente colocado ao lado do "c", letra que possui, de per si, um índice semantografónico impressionante, já como inicial de cu, já pelo seu formato semi-nadegal lateralizado. Além disso, a visualização da repetição "cha-cha" (relevante também como aliteração no plano fonético: vd. infra) sugere um movimento pendular, vai-e-vem, dentro-e-fora, tira-e-mete, numa palavra, lubbilubbing oh my brothers and only droogs. Pachacha é também prenhe de sugestões fonéticas. Não designa qualquer vulva, mas apenas as algo gorduchas e majestosas: as que têm chicha e parecem pachás refastelados num cochim. Chucháveis. Uma pachacha pede, no mínimo, 38º C e camelos por perto, e lembra o ruído de uma cachoeira (ch-ch) onde se pode chapinhar ou mesmo chafurdar. Num registo plebeísta, é o choço onde o chopim descamisa o chouriço. Não se conjuga com pénis, nem pichota, nem piça - pachacha pede picha. Como podeis ver, pachacha tem um elevado índice semantografónico. Nas poucas relações de cariz sexual que mantive com outras pessoas, só pude presenciar uma verdadeira pachacha, cheirosa de patchuli; cheia de chatos, porém.
Uma das virtudes mais exuberantes do homem português é a sua preocupação com a saúde genital. Não me refiro a coisas mais ou menos corriqueiras, tais como corrimentos, esquentamentos, micoses, herpes, e assim - ser titular de uma, ao menos uma vez na vida, é uma medalha, faz parte da própria condição humana do próprio homem - mas de coisas potencialmente graves. Na realidade, em todo o mundo a norte de Cape Town as mulheres são ensinadas a fazer a prevenção do cancro da mama através da auto-palpação. Mas muitas desleixam-se muito, e só a fazem, e esporadicamente, em momentos em que já não conseguem concentrar-se nas pontas dos dedos. O homem português não. O homem português, como nenhum outro, cuida diariamente da sua saúde genital através da auto-palpação do testículo. E várias vezes ao dia, e esteja onde estiver: na paragem do autocarro, a falar com o chefe, na missa, à passagem de uma mulher (qualquer uma), quando pede a bica com ou sem cheirinho, na missa, no futebol (dentro e fora do relvado), na missa, etc. Ora bem. O Pornographo dá este conselho completamente gratuito aos governantes: se fizerdes uma campanha de prevenção do cancro da próstata, explicai bem ao pessoal que se requer a intervenção de um médico. Por favor.