30 de nov. de 2012
Cacos
“Os cacos da vida, colados, formam uma estranha xícara.
Sem uso,
ela nos espia do aparador”
Carlos Drummond de Andrade
Juntei meus cacos, meus trapos, meus laços
e refiz minha história.
Mas sobraram pedaços
que não se encaixavam em lugar algum.
Com eles, tentei me reinventar
numa outra história
Deixando de lado
os velhos cacos, e trapos, e laços
Guardados, intactos
em algum lugar do meu passado.
regina ragazzi
Vítimas de guerra
de restos humanos.
Corpos mutilados,
sobras do que tinham sido,
dias antes,
homens de bem,
cheios de ideais,
sonhadores...
Todos
barbaramente executados,
estraçalhados.
Os que ficaram
se tornaram presas
de tormentos,
de pesadelos
que não se acabaram nunca.
Perderam sua dignidade,
sua alegria de viver.
Outros ficaram loucos.
Pobres mortais.
Alguns nem sabiam
o que estavam fazendo lá.
29 de nov. de 2012
Insano
E viajaste com ele
Para além do infinito
Enveredaste por
Todos os caminhos
Todos os caminhos
Viste todos os mundos
Se banhaste na luxúria
Saciaste todos os teus desejos
Mais insanos
Mais insanos
Tomaste tudo pra si
Na ânsia de tudo ter
Mas esqueceste que
Já não se pertencia mais
Sua alma fora vendida
Presa
Rendida
Perdida...
Alto preço tiveste que pagar
Tudo tiveste e
Nada te sobraste
Oh, infeliz!
Sacrificaste quem mais te amou
Tingiste de sangue tuas vestes
Sorveste o puro veneno
Que tu próprio preparaste
Tarde descobriste
Que o preço era bem maior
Do que imaginaste...
regina ragazzi
Do que imaginaste...
Doce recordação
A viver entre os pobres mortais
Mas alguém lá de cima te disse:
-Venha, tu mereces mais!
Foi então que uma linda estrela
Veio a terra para lhe buscar
A levou ainda tão pequena
Numa noite banhada de luar.
Desde então virastes um anjo
E passastes a me acompanhar
De dia caminhas comigo
À noite sentas e me vê sonhar.
Eras antes uma rainha
Hoje és anjo do céu
És a minha estrela guia
És a poesia
Escrita em papel.
regina ragazzi
Diálogo com a dor
-Passa dor, passa
-Não quero te deixar
-Não lhe causo nenhum pesar?
-A mim nenhum, com certeza
-Já me viste tantas vezes,
em versos, chorar
em versos, chorar
-Pare de se lamuriar
-Tenha pena do meu penar.
-Tenha pena do seu penar.
-Me deixe ao menos sonhar.
-Até quando vais se esquivar?
-Quero apenas descansar.
-Então deixe a morte te levar.
-Estais sendo dura comigo
-A vida vai te ensinar.
-Já não tenho o que aprender
-Então gostas de sofrer
-Não sei mais o que fazer
-Você pode escolher
- Escolher? O quê?
- Morrer ou viver!
28 de nov. de 2012
Parcialmente nublado
Esse meu céu de sol e chuva
Minha alma de sombra e luz
Hoje sou o contrário, o avesso
Nada quero...mas tudo me seduz....
regina ragazzi
Ébrio
Esse olhar de madrugada
Bêbado olhar
Adormecido e cansado
Névoa e chuva a lhe ofuscar
O brilho das estrelas
E o corpo se entregando
Caindo a qualquer vento
A mente, insanamente ausente
Sem olhos, sem corpo, sem mente
Só a alma a vagar
Muda e indiferente...
regina ragazzi
Venenos
"Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!
Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre"
Clarice Lispector
Venenos
Quero provar venenos mais fortes
Daqueles que fervem o sangue
e causam a morte
Mas que dão prazer enquanto agem
Ah... mas que bobagem!
Nenhuma dose será suficiente
pra matar quem já morreu
Mas a sensação de prazer é tão forte
que quero morrer mais mil mortes ...
regina ragazzi
Mórbida felicidade
Abriu-se a cova
e lá estava você
Não, era pó
Mas ainda havia o cordão
com o chinelinho pendurado
e pedaços de tecido
da sua camisa
Eu chorei,
de alegria
Mórbida felicidade
Mas era tudo que eu tinha
Depois de tanto tempo
poder rever-te
Queria ter guardado tudo
como lembrança,
mas não me deixaram
Foi tudo prá dentro de um saco
e levado não sei pra onde
Você e todos os teus sonhos
regina ragazzi
Alinhavos
Sentimentos, eu os tenho
Em alinhavos no peito
Jamais presos ao coração
São como linhas finas, delicadas
Que se arrancam com um puxão
Foi a vida que me ensinou
Amargamente essa lição
regina ragazzi
Folhas secas
Por onde andei as vi caídas
Secas...sem cor...sem vida...
Um dia foram tão lindas
E enfeitaram tanto o jardim...
Daqui a pouco serão varridas
Deixadas num canto...esquecidas
As folhas secas...caídas...
Agora enegrecidas
Completamente sem vida...
regina ragazzi
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