Nas
poças de água que se encontram nos caminhos do Jardim, há lodo no fundo,
mas as
árvores vêem-se na sua superfície como se dum espelho se tratasse e
sacodem
vaidosas a cabeleira ramosa sendo-lhes
indiferente a profundidade ou
limpidez do charco. Somente lhes interessa a
imagem superficial.
Com
graça natural, agitas o cabelo solto sobre os ombros e com as mãos o esticas e
prendes num elástico formando um farto rabo-de-cavalo no alto da
cabeça que depois movimentas com a leveza e elegância duma nailarina.
E, como uma bailarina, rodopias sobre ti própria
sorrindo satisfeita com a imagem que te é devolvida pelo espelho de vidro cujo
fundo é
negro, opaco, escuro.
Só interessa o que vês na superfície - brilho, luz – e
esqueces que, tal como as
poças de água que na sua quietude conseguem ser
transparente por cima, mas têm
um fundo lodoso e sujo, assim é o vidro em que te
olhas e que te mostra uma figura luminosa mas enganosa da tua realidade.