
Quando o grupo se juntava e se punha o convite para uma tarde de cinema, a resposta da Cocas era sempre a mesma:
-Hoje não, talvez amanhã
E, entretanto o filme era substituído na sala do cinema.
Se a todos apetecia fazer um pic-nic no pinhal, ela não ia e respondia o que era seu hábito:
-Agora não me apetece. Fica para amanhã.
-Preciso pôr uma certa ordem nestes papeis. Dizia ela, ao ver a confusão que ia na sua mesa de trabalho. Mas esse acto era constantemente adiado para o dia seguinte que nunca chegava a ser hoje, pois o seguinte é sempre seguinte e tudo continuava a amontoar-se desordenadamente.
Desde o simples passeio, à organização das linhas da caixa da costura sempre empeçadas umas nas outras, nada era feito na ocasião devida.
Nada se fazia no momento certo.
Mas um dia, sem aviso prévio, vieram buscá-la para uma viagem e, Cocas não pode adiar. Não pode esquivar-se, não pode dizer:
-Não me apetece ir, fica para amanhã.
Naquele momento ela teria mesmo de partir, contrariando a sua vontade.
A Cocas não soube aproveitar o presente. Não foi capaz de saborear a felicidade dum viver construído no momento, no HOJE/AGORA.
As calmas tardes passadas na sala de um cinema, os agradáveis pic-nics no pinhal a respirar o forte e saudável odor da mata ouvindo o vento roçar-se por entre os ramos dos pinheiros atirando pinhas ao chão nas suas brincadeiras loucas, sim, porque o vento é louco, nada disto a Cocas sentiu.
O MOMENTO ÚNICO levou-a pela estrada dum só sentido. A Cocas não terá mais AMANHÃ